A VISÃO TEOSOFICA DAS ORIGENS DO HOMEM - Agronegócio (2024)

Agronegócio

Eeefm Doutor Francisco De Albuquerque Montenegro

josivaldoeokara Bezerra 14/10/2024

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<p>DIAGRAMA 4</p><p>SUMÁRIO</p><p>Prólogo</p><p>Introdução</p><p>1 — Preliminares</p><p>2 — Primeira e Segunda Cadeias</p><p>3 — Tempos Primitivos da Cadeia Lunar</p><p>4 — A Sexta Ronda da Cadeia Lunar</p><p>5 — A Sétima Ronda da Cadeia Lunar</p><p>6 — Tempos Primitivos da Cadeia Terrestre</p><p>7 — Primeiras Etapas da Quarta Ronda</p><p>8 — A Quarta Raça Raiz</p><p>9 — A Magia Negra entre os Atlantes</p><p>10 — A Civilização dos Atlantes</p><p>11 — Duas Civilizações Atlantes</p><p>12 — Duas Civilizações Atlantes</p><p>13 — Duas Civilizações Atlantes</p><p>14 — Primórdios da Quinta Raça Raiz</p><p>15 — A Edificação da Grande Cidade</p><p>16 — Primórdios da Civilização e Império Ários</p><p>17 — Segunda Sub-Raça – A Árabe</p><p>18 — Terceira Sub-Raça – A Irânia</p><p>19 — Quarta Sub-Raça – A Céltica</p><p>20 — Quinta Sub-Raça – A Teutônica</p><p>21 — A Invasão da Índia pela Raiz Troncal Ariana</p><p>O HOMEM – PARA ONDE VAI?</p><p>Prefácio</p><p>22 — Primórdios da Sexta Raça Raiz</p><p>23 — Os Começos da Sexta Raça Raiz</p><p>24 — Religião e Templos</p><p>25 — A Educação e a Família</p><p>26 — Edifícios e Costumes</p><p>27 — Conclusão</p><p>28 — Epílogo</p><p>Apêndices</p><p>Notas</p><p>PRÓLOGO</p><p>Já não se considera totalmente fantástica a ideia de que é possível a</p><p>capacidade de clarividência. Não a aceita a maioria das pessoas, nem é</p><p>aceita de maneira ampla. Contudo, uma minoria cada vez mais numerosa de</p><p>pessoas inteligentes crê que a clarividência é um fato, e a considera como</p><p>faculdade natural, que chegará a ser comum a todos os homens no</p><p>transcorrer da evolução. Não a tem por graça milagrosa, nem como</p><p>necessária prova de elevada espiritualidade, superior inteligência e pureza</p><p>de caráter, já que todas ou algumas dessas qualidades podem manifestarse</p><p>em pessoas que nada tenham de clarividentes. Sabe que é um poder oculto</p><p>em todo homem, que poderá ser desenvolvido por quem for capaz disso e</p><p>não recusar o preço exigido por seus esforços em colocar-se na vanguarda</p><p>da evolução geral.</p><p>Se for ou não merecedora de crédito a obra assim concluída, terão de o</p><p>dizer as gerações futuras, que possuirão a faculdade empregada hoje com</p><p>esse propósito.</p><p>Não é novo o emprego da clarividência na investigação do passado, pois</p><p>dela temos permanente exemplo na Doutrina Secreta de H. P. Blavatsky.</p><p>Sabemos que muitos leitores, estudantes de ocultismo, convencidos da</p><p>realidade da clarividência e seguros de nossa retidão, acharão este livro</p><p>interessante e esclarecedor. Foi escrito para esses. À medida que cresça o</p><p>número de estudantes, aumentará o de leitores. Mais do que isso não</p><p>podemos esperar. Séculos adiante, quando houver mentes capazes de</p><p>escrever livros muito melhores, baseados em investigações semelhantes,</p><p>será este livro considerado como um curioso explorador, se se levar em</p><p>conta a época em que foi escrito. Não é possível dar provas categóricas da</p><p>veracidade deste livro, ainda que eventualmente venham futuros</p><p>descobrimentos confirmar umas ou outras de suas afirmações. A verdade da</p><p>investigação clarividente é tão impossível de provar à grande maioria das</p><p>pessoas como as cores do céu. O leitor alheio ou vulgar receberá este livro</p><p>com rude incredulidade. Uns o julgarão hábil artifício, outros o encararão</p><p>como uma estupidez; muitos dirão que os autores são iludidos ou</p><p>impostores, segundo a boa ou má vontade de seus julgadores. Mas aos</p><p>estudantes diremos: aceite este livro em proporção à ajuda que lhe preste</p><p>em seus estudos e na medida em que esclareça tudo quanto já conhece. O</p><p>futuro poderá ampliá-lo e corrigi-lo, pois nós só publicamos alguns</p><p>fragmentos de uma extensa história, e mesmo assim foi muito pesada a</p><p>nossa tarefa.</p><p>Efetuamos os trabalhos de investigação em Adyar, durante o verão de</p><p>1910. O calor dispersou muitos estudantes e nós nos recolhíamos cinco</p><p>tardes por semana para, sem que ninguém nos interrompesse, observar e</p><p>dizer rigorosamente o verificado em nossa observação. Dois membros, a</p><p>Senhora Van Hook e Dom Francisco Ruspoli, tiveram a gentileza de ir</p><p>transcrevendo exatamente o que dizíamos. De ambos conservamos os</p><p>apontamentos que formam o texto deste relato, escrito, em parte, durante</p><p>umas tantas semanas dedicadas a esta tarefa no verão de 1911, e completado</p><p>em abril e maio de 1912, nos intervalos das obrigações cotidianas. Não são</p><p>possíveis trabalhos desta natureza entre contínuas interrupções, e o único</p><p>modo de levá-los a cabo é se distanciar do mundo e permanecer, durante</p><p>aquele tempo, em retirada solidão, como dizem os católicos.</p><p>Seguimos o amplo esboço teosófico da evolução, e o expomos entre as</p><p>Preliminares, no Primeiro Capítulo. Esse esboço domina o conjunto e é o</p><p>fundamento básico da obra. É completamente aceita a existência de uma</p><p>Hierarquia oculta que guia e modela a evolução, e alguns de seus membros</p><p>aparecem necessariamente no desenrolar deste relato.</p><p>A fim de nos referirmos às etapas primitivas, procuramos retroceder até</p><p>elas a nossa própria consciência, pois nos seria mais fácil partir deste ponto</p><p>do que de outro qualquer, porque além dele nada mais nos era possível</p><p>reconhecermos. Aquelas primeiras etapas nos forneceram, por assim dizer,</p><p>uma pista nas primeira e segunda Cadeias. Desde a última porção da</p><p>terceira Cadeia em diante, traçamos a história da humanidade seguindo um</p><p>grupo de indivíduos, exceto quando este grupo esteve ocupado durante</p><p>importantes etapas da evolução, como as correspondentes aos começos das</p><p>sub-raças terceira e quarta da quinta Raça Raiz. Em tais casos deixamos tal</p><p>grupo e seguimos a corrente principal do progresso. Poucos pormenores</p><p>referentes a pessoas podemos dar neste relato, pela grande extensão do</p><p>quadro em que se movem. No entanto, algumas vidas foram publicadas</p><p>biograficamente em The Theosophist, sob o título geral de Rasgaduras no</p><p>Véu do Tempo, através das quais se pode vislumbrar o passado dos</p><p>indivíduos. Logo se publicará um volume destas biografias, intitulado Vidas</p><p>de Alcione, com tábuas genealógicas completas, que assinalam o parentesco</p><p>em cada vida dos personagens cuja identificação foi possível. Trabalhos</p><p>desta classe poderão ser concluídos livremente, se houver quem estiver</p><p>capacitado para empreendê-los.</p><p>Como todo relato exige que se deem nomes aos personagens e como,</p><p>por ser a reencarnação um fato, reaparece um mesmo personagem em</p><p>épocas sucessivas, com diferente nome próprio em cada existência, demos a</p><p>muitos destes personagens um nome característico, pelo qual possam ser</p><p>reconhecidos em todos os dramas em que intervieram. Assim como, por</p><p>exemplo, Irving é sempre Irving para nós, quer represente Macbeth,</p><p>Ricardo III, Shylock, Carlos I, Fausto, Romeu ou Matias, e em sua vida de</p><p>ator se chama sempre Irving e por toda a parte reconhecemos a sua</p><p>personalidade, seja qual for o papel que represente nos palcos assim</p><p>também um ser humano, na longa história em que as vidas são dias,</p><p>desempenha cem papéis sem que deixe de ser ele mesmo em seus aspectos</p><p>de homem, mulher, aldeão, príncipe ou sacerdote. A este ele mesmo demos</p><p>um nome característico com que possa ser reconhecido sob todos os</p><p>disfarces adequados à representação do papel que tomou. Para a maioria</p><p>escolhemos tais nomes dentre os dos astros e constelações; assim, por</p><p>exemplo, demos o nome de Corona a Júlio César, o de Palas a Platão e o de</p><p>Lira a Lao-Tsé. Com isso veremos quão distintas são as modalidades</p><p>evolutivas ou vidas prévias que têm de engendrar um César ou um Platão, e,</p><p>por outro lado, terá o relato um interesse mais humano, ao mesmo tempo</p><p>em que instrui o estudante sobre a reencarnação.</p><p>Os nomes d’Aqueles que constantemente aparecem neste relato como</p><p>homens e mulheres, porém que já são Mestres1, darão maior realidade a</p><p>esses grandes Seres aos olhos de alguns leitores. Subiram aos pontos</p><p>culminantes em que se erguem pela mesma escada de vidas por onde</p><p>estamos subindo agora. Passaram pelas contingências da cotidiana vida</p><p>doméstica, com as penas e alegrias, êxitos e fracassos de que se nutre a</p><p>experiência humana. Não têm sido deuses perfeitos desde ilimitadas épocas,</p><p>mas homens e mulheres que manifestaram seu Deus interno e, após longo e</p><p>penoso caminho, ultrapassaram a etapa super-humana. São promessa plena</p><p>do que seremos no</p><p>não</p><p>por ânsia de se sobrepor a seus companheiros, mas porque reconhece a</p><p>superioridade dos homens e deseja se assemelhar a eles. Embora por eles</p><p>não sinta nem vivo amor nem desejo de os servir, anseia, no entanto,</p><p>receber seus ensinamentos, e os obedecem facilmente, por causa da</p><p>admiração que a seres superiores professam. Seus amos os adestram</p><p>primeiro em brincadeiras astuciosas e depois os acostumam a prestar</p><p>serviços pequenos, com o que se lhes desperta o sentido de cooperação com</p><p>os seus donos, aos quais procuram comprazer para receber sua aprovação,</p><p>não precisamente pelo cuidado em que os têm, senão porque esta aprovação</p><p>os aproxima dos seres superiores e lhes permite cooperar com eles. Quando</p><p>se individualizam a favor do desenvolvimento da inteligência, o intelecto se</p><p>disciplina facilmente, muito logo está disposto à cooperação e começa a ver</p><p>as vantagens do esforço unido e a necessidade da obediência. Levam então</p><p>para a sua existência intermediária o sentimento da unidade do trabalho, e</p><p>gostosamente se submetem à direção, com muita vantagem para eles no</p><p>futuro.</p><p>Outro tipo se desenvolve debaixo de uma menos afortunada</p><p>modalidade, que é a da mente despertada e aguçada pelo temor. Os animais</p><p>perseguidos pelos caçadores ou sujeitos ao domínio de homens selvagens</p><p>que costumam tratá-los cruelmente, podem individualizar-se por seus</p><p>esforços para escapar desse tratamento cruel, e pelas artimanhas de que têm</p><p>de se valer para iludir as perseguições dos caçadores. Assim desenvolvem a</p><p>astúcia, a picardia e outras qualidades equivalentes, que produzem neles</p><p>uma reproduzida ingenuidade alimentada pelo medo, com grande parte de</p><p>receio, desconfiança e ânsia de vingar-se. Depois de fortalecida assim a</p><p>mente até certo grau, em contato com o homem, enquanto pelos meios mais</p><p>inconvenientes, sobrevém a individualização. Observamos certa vez que um</p><p>animal, cuja parelha mataram, se individualizou por efeito do passional</p><p>arrebatamento de ódio e vingança a que o moveu a perda. Em outro caso,</p><p>outro animal parecido com o lince se individualizou pelo impetuoso desejo</p><p>de causar dor, como que cedendo a um sentimento de domínio sobre os</p><p>demais; mas também, neste caso, foi estimulado pela maligna influência e</p><p>pernicioso exemplo do homem.</p><p>O longo intervalo entre a individualização e o renascimento está</p><p>ocupado, nestes casos, por sonhos de bem afortunadas fugas e escapatórias,</p><p>de traiçoeiras vinganças e de crueldades infligidas àqueles que os</p><p>oprimiram durante a sua última vida animal. É responsável por tão infeliz</p><p>resultado o homem que o causou e que criou um laço para vidas futuras.</p><p>Não será fora de propósito considerar todas essas individualizações como</p><p>prematuras, isto é, por “terem tomado demasiado cedo a forma humana”.</p><p>Voltaremos a encontrar esses tipos na sexta Ronda, elaborando a sua nova</p><p>humanidade segundo os processos determinados pela sua respectiva ordem</p><p>de individualização. Parece como se apenas pertencessem ao Esquema</p><p>evolutivo os três métodos de individualização determinados pelo fluxo</p><p>descendente do alto, e que o forçado arranco de baixo para cima provém</p><p>das injustiças do homem.</p><p>Antes de seguirmos essas entidades e nossos amigos de outros tipos em</p><p>suas vidas sobre o globo D, durante a sexta Ronda, podemos lançar uma</p><p>vista pelas civilizações mais adiantadas das cidades da Cadeia Lunar na</p><p>quinta Ronda. Pelo globo estavam disseminadas muitas comunidades, cujo</p><p>gênero de vida era claramente primitivo. Alguns, como os da choça antes</p><p>mencionada, ainda que de condição pacífica e pouco desenvolvidos,</p><p>lutavam esforçadamente quando se viam atacados; mas outros, de natureza</p><p>selvagem e briguenta, andavam continuamente em guerra sem mais motivo</p><p>que o gosto cruel de verter sangue.</p><p>Além dessas diversas comunidades, grandes umas, pequenas outras,</p><p>umas nômades, outras sedentárias e pastoris, havia gente muito mais</p><p>civilizada que vivia em cidades, empregava-se no comércio e era dirigida</p><p>por governos estabelecidos, ainda que sem chegar a constituir o que nós</p><p>chamamos Nação, pois uma cidade, com sua considerável e muitas vezes</p><p>vasta periferia, em que se esparramavam as aldeias, formava um Estado</p><p>independente, que se federava circunstancial e temporariamente com os</p><p>vizinhos para sua mútua defesa, comércio, etc.</p><p>Um exemplo servirá de ilustração. Perto da zona correspondente ao</p><p>Equador observamos uma grande cidade, mais semelhante a um cemitério,</p><p>com uma vasta extensão de terra de cultivo ao seu redor. Está construída de</p><p>bairros separados, segundo as categorias de seus habitantes. Os pobres</p><p>vivem extramuros durante o dia, e, durante a noite, ou quando chove,</p><p>aglomeram-se sob tetos chatos, lembrando os dólmens, sobrepostos a umas</p><p>cavidades ou câmaras oblongas, abertas na rocha. Estas parecem cavas</p><p>profundas, com intercomunicações em toda a sua extensão, como um</p><p>labirinto regular, e tendo como porta de entrada uma enorme lousa de pedra</p><p>apoiada sobre pequenos pilares. Essas câmaras, que se contam aos milhares,</p><p>estão maciçamente unidas e alinhadas de ambos os lados de uma rua</p><p>circular que circunda externamente a cidade.</p><p>As classes superiores vivem em casas de cúpula, construídas no interior</p><p>do recinto, mas num nível superior, com um amplo terraço adiante, e</p><p>alinhadas em circuito exatamente superposto à rua de baixo. As cúpulas</p><p>estão sustentadas por curtos e severos pilares de superfície inteiramente</p><p>entalhada, cujo trabalho denota civilização muito adiantada. Multidão</p><p>destas cúpulas aparecem unidas pela borda inferior, e formam uma espécie</p><p>de cidade comunal disposta em circuito com outro terraço circular sobre seu</p><p>passeio interno. O centro é a parte mais elevada da cidade e ali as casas são</p><p>de maior altura, com três cúpulas, uma sobre outra. A casa central tem</p><p>cinco cúpulas superpostas, de modo que cada uma delas é menor que a de</p><p>baixo. Às cúpulas superiores se sobe por degraus dispostos no interior de</p><p>um dos pilares encravados no solo e que rodeiam o pilar central. Parece</p><p>como se estes pilares tivessem sido lavrados em uma saliência de rocha</p><p>viva. Nas cúpulas superiores não há abertura para a luz nem para o ar, e a de</p><p>cima de todas tem pendente do centro uma espécie de maca. É o oratório,</p><p>pois segundo indícios, o orante não deve tocar o solo enquanto ora.</p><p>Esta é, sem dúvida alguma, a humanidade mais adiantada da Lua, que</p><p>com o tempo foram os Senhores da Lua por haverem alcançado o nível de</p><p>Arhat, meta assinalada para a evolução lunar. Já estão civilizados e</p><p>observamos entre eles um menino que em seu aposento escreve com</p><p>caracteres completamente desconhecidos para nós.</p><p>Os homens lunares que na quinta Ronda daquela Cadeia entraram na</p><p>Senda, estiveram em contato com um grupo superior de Seres que</p><p>formavam a Hierarquia daquele tempo, pois tinham vindo da segunda</p><p>Cadeia para auxiliar a evolução da terceira. Viviam esses Seres em uma</p><p>elevadíssima e inacessível montanha, mas reconheceram Sua presença os</p><p>que estavam na Senda, e no geral creram nela os homens mais inteligentes</p><p>da época. Seus discípulos se reuniam com Eles ao se desprenderem do</p><p>corpo físico, e de quando em quando baixava um desses Seres à planície</p><p>para residir temporariamente entre os homens. Os moradores da antes</p><p>descrita casa central da cidade estavam relacionados com Eles, dos quais</p><p>recebiam instruções nos assuntos de grave importância.</p><p>CAPÍTULO 4</p><p>A SEXTA RONDA DA CADEIA LUNAR</p><p>Voltamos ao globo D, já na sexta Ronda, onde nossos individualizados</p><p>animais nasceram como homens simples e primitivos, mas não selvagens</p><p>nem brutais. Não são belos no conceito que temos hoje da beleza, pois têm</p><p>o cabelo áspero, os lábios grossos, nariz achatado e largo na base. Habitam</p><p>uma ilha onde escasseia o alimento, e assim vemos que, em sua primeira</p><p>vida completamente humana, aparece Héracles em cena, empenhado em</p><p>vigorosa luta com outro selvagem, em disputa do cadáver de um animal</p><p>extremamente repugnante. Não parecem muito frequentes os conflitos entre</p><p>os ilhéus, pois só sobrevêm por escassez de alimento; mas precisam repelir</p><p>de vez em quando os invasores vindos da terra</p><p>firme, onde os selvagens são</p><p>brutalmente canibais, de cruel ferocidade e muito temidos pelos pacíficos</p><p>ilhéus. Esses perversos vizinhos atravessam o estreito numa espécie de</p><p>primitivas jangadas, e invadem a ilha destruindo tudo quanto encontram em</p><p>sua passagem. Os ilhéus os tinham por demônios, e todavia lutam</p><p>bravamente contra eles em defesa própria e matam quantos lhes caem nas</p><p>mãos; mas não os torturam vivos nem os comem depois de mortos, como o</p><p>fazem os selvagens de terra firme com os seus prisioneiros.</p><p>Esses selvagens são os que se individualizaram por temor na quinta</p><p>Ronda, e entre eles descobrimos Escorpião, cujo ódio a Héracles, tão</p><p>intenso em futuras vidas, pode se ter originado daqui, pois naquela iniciante</p><p>humanidade os vemos em tribos hostis, lutando furiosamente um contra o</p><p>outro. Na segunda vida de Héracles, naquela comunidade, comandou</p><p>Escorpião o ataque a uma das tribos da ilha que logo mencionaremos, e</p><p>Héracles ia numa expedição de socorro, que acometeu os selvagens quando</p><p>já estes regressavam para seu país, e os destruiu por completo, salvando um</p><p>prisioneiro ferido, de raça superior, que reservavam para torturálo. Pela</p><p>mesma época descobrimos entre os ilhéus a Sírio, Alcione e Mizar, sem que</p><p>os ligue especial parentesco, pois a vida é ali comum e as pessoas andam</p><p>em promiscuidade, que sobrepuja as relações estabelecidas pela atração</p><p>pessoal criada em qualquer vida. Os intervalos entre a morte e o</p><p>renascimento são muito curtos, uns poucos anos apenas, e nossos selvagens</p><p>renascem na mesma comunidade. Na segunda vida já denotam algum</p><p>progresso, porque recebem auxílio externo, que lhes apressa a evolução.</p><p>Desembarca na ilha um homem estrangeiro, de tipo muito superior, e</p><p>mais delicada compleição, de um azul claro e brilhante, em vez do moreno</p><p>escuro dos ilhéus, que o rodearam com muita curiosidade e admiração. Vem</p><p>civilizar os dóceis e doutrináveis ilhéus, com o propósito de os incorporar</p><p>ao Império cuja capital é a cidade de onde vem. Começa por lhes causar</p><p>surpresas. Enche de água uma concha fabricada com a casca de uma fruta, e</p><p>deita nela uma bolinha à maneira de semente que tira de um bolsinho. Pega</p><p>fogo e acende umas tantas folhas secas que ardem em cintilante fogueira. É</p><p>o primeiro fogo que veem os selvagens, os quais fogem velozmente e</p><p>trepam nas árvores, de onde contemplam com aterrorizados olhos tão</p><p>estranha e deslumbrante criatura. O estrangeiro lhes faz sucessivas</p><p>demonstrações de carinho, e eles se lhe vão aproximando timidamente, até</p><p>que, ao verem que nada de mau ocorre e que o fogo é agradável para a</p><p>noite, tomam o recém-vindo como um deus e lhe tributam adoração, assim</p><p>como também ao fogo. Estabelecida desta maneira a sua influência, lhes</p><p>ensina depois a cultivar a terra, e plantar vegetal parecido com o cacto, mas</p><p>de folhas vermelhas, que produz tubérculos subterrâneos, algo semelhantes</p><p>a inhames. O instrutor racha os grossos talos e as folhas, os seca ao sol e</p><p>lhes ensina a preparar com isso uma espécie de sopa espessa. A medula dos</p><p>talos é um tanto parecida com o pó nutritivo de araruta, e o suco que dela se</p><p>extrai, ao espremê-la, produz um açúcar doce ainda que rústico. Héracles e</p><p>Sírio são íntimos amigos, e à sua tosca e ignorante maneira discutem os</p><p>processos empregados pelo estrangeiro, pelo qual sentem ambos muita</p><p>inclinação.</p><p>Entretanto, uma expedição de selvagens de terra firme havia atacado</p><p>uma tribo residente a certa distância do acampamento de nossa tribo,</p><p>matando a maior parte dos homens e as mulheres velhas, e levando</p><p>prisioneiros uns tantos varões com todas as mulheres casadouras e as</p><p>crianças. Estes últimos eram levados como se levassem animais de carne</p><p>esquisitamente saborosa. Um ferido fugitivo chegou ao povoado com a</p><p>notícia, implorando um contingente de guerreiros para resgatar os infelizes</p><p>cativos.</p><p>Saiu então Héracles à frente de uma expedição, disposto à briga, e</p><p>caindo sobre os selvagens enquanto estavam se regalando com o festim,</p><p>exterminou todo o bando, livrando-se somente Escorpião, por achar-se</p><p>ausente. Os vencedores encontram na choça um homem ferido, cuja pele</p><p>denotava que pertencia à mesma raça do estrangeiro desembarcado na ilha,</p><p>e seguramente o destinavam ao tormento para gozar depois de suas posses.</p><p>Acomodaram-no sobre uma liteira de lanças cruzadas, se cabe dar este</p><p>nome a umas achas pontiagudas, e o levaram para a ilha com dois ou três</p><p>cativos resgatados e as jovens que ainda apanharam vivas. Embora o estado</p><p>do ferido fosse grave, exalou um grito de gozo ao chegar à ilha e reconhecer</p><p>no estrangeiro um amigo muito estimado de sua própria cidade, pelo que o</p><p>deixaram na choça deste, onde permaneceu até se restabelecer. Referiu</p><p>então que o haviam enviado para exterminar os selvagens na costa da terra</p><p>firme, mas que a sorte havia mudado, de modo que os selvagens cercaram e</p><p>aniquilaram o seu exército, caindo ele prisioneiro com alguns oficiais e</p><p>soldados. Todos foram condenados a morrer entre horríveis tormentos, mas</p><p>a ele lhe perdoaram a vida por algum tempo, para que recuperasse forças,</p><p>pois estava demasiado fraco e não teriam podido gozar em seu tormento.</p><p>Isto havia determinado a sua salvação.</p><p>Héracles cuidou dele à sua rude maneira: com fidelidade de cão,</p><p>passava as horas mortas escutando como os dois amigos (Marte e Mercúrio)</p><p>conversavam em idioma para ele completamente estranho. Mercúrio sabia</p><p>algo de medicina, e seu amigo progrediu rapidamente na cura sob seu</p><p>cuidado, de modo que sarou das feridas e recuperou as forças perdidas.</p><p>Graças à influência de Mercúrio, civilizaram-se um tanto aquelas</p><p>pessoas e quando Marte se restabeleceu, resolveu regressar à sua cidade,</p><p>enquanto Mercúrio decidiu permanecer por mais tempo na tribo que</p><p>instruía. Organizou-se uma expedição para acompanhar Marte através do</p><p>perigoso círculo habitado pelos selvagens antropófagos, e uma escolta</p><p>destacada para esse fim o protegeu até entrar na cidade. Héracles insistiu</p><p>em acompanhá-lo como criado, e de modo algum quis separar-se dele.</p><p>Muito alvoroço houve na cidade por causa do regresso de Marte, pois os</p><p>vizinhos o acreditavam morto, e as notícias que trouxe do aniquilamento do</p><p>seu exército e de sua penosa salvação excitaram os ânimos até o ponto de</p><p>prepararem sem demora outra expedição.</p><p>A cidade estava notavelmente civilizada, e tinha grandes e formosos</p><p>edifícios nos bairros principais, com imenso número de lojas. Viam-se</p><p>muitos animais domésticos, alguns deles destinados ao tiro e montaria.</p><p>Mantinha-se o comércio com outras cidades, e um sistema de canais a</p><p>comunicava com as mais distantes. A cidade estava dividida em bairros,</p><p>cada qual habitado por uma diferente classe social. Os habitantes dos</p><p>bairros centrais eram de estatura mais elevada e pele azulada, e o</p><p>governador e sua corte estavam em contato com um grupo de homens</p><p>residentes em certo distrito inacessível. Esses homens, alguns dos quais</p><p>serão mais tarde os Senhores da Lua, eram por sua vez discípulos de outros</p><p>Seres ainda mais sublimes, que procediam de outra esfera. Parte da</p><p>comunidade lunar transpôs a iniciação de Arhat, e os mais adiantados deles</p><p>pertenciam evidentemente a uma humanidade que havia alcançado nível</p><p>muito superior.</p><p>Desses recebeu o governador da cidade (capital de um vasto Império) a</p><p>ordem de exterminar os selvagens da costa continental. A expedição, de</p><p>esmagadora força, ia comandada por Viraj (cujo aspecto se assemelhava</p><p>muito ao de um índio norte-americano), com Marte sob suas ordens. Contra</p><p>forças tão poderosas não tinham probabilidade alguma de vencer os mal</p><p>armados e indisciplinados selvagens, cuja aniquilação foi total. De novo</p><p>esteve Escorpião à frente de uma parte do exército selvagem, e tanto ele</p><p>como os seus lutaram desesperadamente até o último extremo. Héracles</p><p>seguiu a Marte na qualidade de criado e lutou sob suas ordens. Terminada a</p><p>guerra, resolveram os chefes transportar para o continente os dóceis</p><p>selvagens da ilha e incorporá-los ao Império, como colônia. Voltaram a</p><p>encontrar-se Sírio e Héracles com muito deleite, tão intenso em proporção à</p><p>sua capacidade</p><p>inferior como o profundo júbilo de Marte e Mercúrio em</p><p>seu nível superior. Mercúrio conduziu seu povo para o continente, e depois</p><p>de os estabelecer ali para cultivar a terra, regressou para a cidade com</p><p>Marte. Então Héracles persuadiu Sírio (que não era nada relutante) a</p><p>acompanhá-los, e desta maneira foram vizinhos da cidade, onde viveram até</p><p>idade muito avançada, extremamente apegados aos seus respectivos</p><p>senhores, encarados por eles como divindades, isto é, como que</p><p>pertencentes a uma raça divina e onipotente.</p><p>Ainda que o extermínio dos selvagens se tenha levado a efeito em</p><p>obediência a uma ordem que ninguém teria ousado recusar, os soldados e</p><p>mesmo muitos oficiais o interpretaram como um plano de conquista com o</p><p>propósito de expandir os limites do Império, e como aquelas tribos se</p><p>interpunham no caminho, foi preciso desfazer-se delas. Mas do superior</p><p>ponto de vista, havia-se chegado a uma etapa mais além da qual era</p><p>impossível aqueles selvagens progredirem na Cadeia Lunar, e, portanto, já</p><p>não encontrariam corpos adequados à sua inferior etapa evolutiva. Daí que,</p><p>ao morrerem, não renasceram, mas passaram para a condição de sonho.</p><p>Outros muitos corpos de semelhante inferioridade de tipo foram aniquilados</p><p>por catástrofes sísmicas que despovoaram jurisdições inteiras, e assim</p><p>diminuiu consideravelmente a povoação do globo lunar. Aquela época foi o</p><p>“Dia do Juízo” para a Cadeia Lunar, a separação entre os capazes e os</p><p>incapazes de progresso futuro nessa Cadeia, e desde aquele ponto se</p><p>orientou no sentido de acelerar o mais possível a evolução dos</p><p>remanescentes, os que desse modo se prepararam para evoluir em outra</p><p>Cadeia.</p><p>Convém notar que então o ano durava pouco mais ou menos o mesmo</p><p>que agora, e a relação entre o globo e o Sol era semelhante, embora</p><p>diferisse quanto às constelações.</p><p>Toda a tribo parcialmente civilizada por Mercúrio se salvou da</p><p>eliminação, assim como Héracles e Sírio com os domésticos e dependentes</p><p>de Marte e Mercúrio,30 que viviam na cidade e transpuseram a linha</p><p>divisória em virtude de sua adesão aos seus respectivos donos. Contraíram</p><p>matrimônio (se este nome calhar às livres concessões daquele tempo) com</p><p>mulheres de baixa classe, e encarnação após encarnação pertenceram às</p><p>insignificantes camadas do povo mais civilizado da época, com escasso</p><p>progresso, pois a inteligência era muito pobre e muito lento o</p><p>desenvolvimento. Numa de suas vidas Sírio foi um pequeno comerciante,</p><p>cuja tenda consistia numa toca de dez pés quadrados, onde vendia objetos</p><p>de diversas classes. Doze vidas mais adiante foi Héracles uma aldeã</p><p>bastante adiantada, para cozinhar os ratos e outros comestíveis, em vez de</p><p>os comer crus. Tinha vários irmãos (Capela, Píndaro, Beatriz e Lutécia) que</p><p>ao mesmo tempo lhe serviam de maridos. Por então escasseavam as</p><p>mulheres, e era muito frequente a união conjugal destas com mais de um</p><p>homem.</p><p>Muitas existências mais tarde era já visível o adiantamento. Os</p><p>indivíduos do grupo antes mencionado deixaram de ser tão primitivos, e já</p><p>tinham atrás de si outros que, no entanto, na ocasião eram apenas modestos</p><p>aldeões, vendeiros e colonos, sem passar muito mais além dessa condição</p><p>na Lua. Numa vida que chamou a atenção pelo curioso dos processos</p><p>agrícolas, Sírio era a esposa de um pequeno fazendeiro, que tinha outros</p><p>homens a seu serviço. A colheita era um verdadeiro pesadelo, porque a</p><p>maior parte da vegetação pertencia à hoje família dos cogumelos, se bem</p><p>que monstruosos e gigantescos. Havia árvores que num ano alcançavam</p><p>muita altura e eram semianimais, pois os ramos cortados se enroscavam</p><p>como cobras em torno do tronco que as sustentara antes, e se contraíam ao</p><p>morrer. A seiva, vermelha como sangue, brotava de certos cortes do tronco;</p><p>a contextura da árvore era carnosa, e a sua alimentação era carnívora,</p><p>porque durante o crescimento prendia o animal que a tocava, enroscando-</p><p>lhe seus ramos como tentáculos de um octópode e chupando-o até secá-lo.</p><p>A colheita desta plantação era tida como muito perigosa e nela tomavam</p><p>parte apenas homens robustos e hábeis. Ao abaterem a árvore, e lhe</p><p>podarem os galhos, os colheiteiros esperavam que morresse, e quando</p><p>cessava todo movimento, arrancavam a casca para fabricar uma espécie de</p><p>couro, e, depois de cozida, a carne vegetal lhes servia de alimento. Muitas</p><p>das culturas que devemos chamar plantas eram meio animais e meio</p><p>vegetais. Uma delas tinha como acabamento uma espécie de amplo guarda-</p><p>sol, com uma fenda central, cujas duas metades armadas de dentes podiam</p><p>abrir-se e inclinar-se para o solo e prender entre elas, com um movimento</p><p>de fechar, qualquer animal que as roçasse. Naquele ponto se endireitava o</p><p>encurvado tronco e as fechadas mandíbulas formavam de novo a sombrinha</p><p>em cujo interior ficava o animal que era chupado lentamente. Abatiam-se</p><p>essas árvores enquanto mantinham erguidas e fechadas as mandíbulas, e a</p><p>habilidade da operação se baseava em evitar de um salto o alcance da</p><p>sombrinha que se encurvava para prender o agressor.</p><p>Os insetos eram de tamanho gigantesco e serviam de frequente alimento</p><p>às árvores carnívoras. Alguns mediam sessenta centímetros de</p><p>comprimento, e por seu aspecto muito formidável despertavam profundo</p><p>temor nos habitantes humanos.</p><p>As casas eram de construção quadrangular, com amplas varandas em</p><p>seu recinto, de cobertas fortes e reticulares, e nas estações do ano em que</p><p>pululavam os insetos monstruosos, não se permitia que as crianças saíssem</p><p>à varanda.</p><p>Nasceu nas cidades a maioria das entidades individualizadas na quinta</p><p>Ronda por vaidade, e vida após vida se atraíram mutuamente por afinidade</p><p>de gostos e menosprezo aos demais, embora sua dominante idiossincrasia</p><p>de vaidade suscitasse entre eles frequentes divergências e rompimentos.</p><p>Intensificou-se extremamente a separatividade, e ao fortalecer-se de viciosa</p><p>maneira o corpo mental formou uma concha que os separava do resto do</p><p>povo. Segundo foram reprimindo as paixões animais, decresceu a potência</p><p>do corpo emocional, porque essas paixões se aplacaram em consequência</p><p>de um duro e frio ascetismo, em vez de transformá-las em emoções</p><p>humanas. Assim, por exemplo, a paixão sexual se aniquilou em vez de</p><p>converter-se em amor, dando como resultado que vida após vida foi se</p><p>debilitando o sentimento, e o organismo físico inclinou-se à assexualidade</p><p>até o extremo de conduzi-la a contínuas e alvoroçadas pendências.</p><p>Constituíram comunidades que se desuniam em pouco tempo, porque</p><p>ninguém gostava de obedecer e todos queriam mandar. Pessoas de maior</p><p>cultura tentaram lhes dar orientação auxiliadora, mas isto ocasionou uma</p><p>explosão de receio e rancor, porque lhes atribuíram propósitos de os</p><p>pretender dominar e depreciar. O orgulho se intensificou cada vez mais, de</p><p>sorte que chegaram a ser frios calculadores, sem piedade nem remorsos.</p><p>Quando o fluxo de vida ascendeu ao quinto globo (de matéria emocional),</p><p>permaneceram algum tempo em atividade, e o corpo emocional foi se</p><p>debilitando até a atrofia, ao passo que no sexto globo se endureceu o corpo</p><p>mental com perda de sua plasticidade, produzindo-se um curioso mas</p><p>repulsivo efeito de mutilação, algo parecido a um homem que houvesse</p><p>perdido as pernas dos joelhos para baixo e costurasse as calças nas coxas.</p><p>Os do tipo individualizado por admiração na Ronda precedente eram</p><p>dóceis e doutrináveis, e também em sua maioria renasceram nas cidades,</p><p>onde no princípio formaram a classe de trabalhadores idôneos que através</p><p>das camadas inferiores da classe alcançaram a superior com notável</p><p>desenvolvimento de sua inteligência. Estiveram livres do excessivo orgulho</p><p>do tipo anterior – orgulho esse que lhes tingia as auras de um profundo</p><p>alaranjado – e mostravam, por sua vez, um claro e brilhante matiz amarelo</p><p>de ouro. Não careciam de emoções, mas eram essas de índole mais egoísta</p><p>que amorosa, ainda que os movesse à cooperação entre si e a obedecer aos</p><p>superiores em sabedoria. Claramente viam que a cooperação lhes era mais</p><p>proveitosa que a luta, e assim se combinavam cooperativamente mais em</p><p>proveito próprio do que com o desejo de difundir</p><p>a felicidade entre os</p><p>demais. Eram muito mais inteligentes que os indivíduos que temos seguido</p><p>especialmente, e seu método e disciplina aceleraram a sua evolução.</p><p>Contudo, pareceu como se houvessem desenvolvido em seu corpo mental</p><p>(pela clara percepção do que era mais conveniente ao seu próprio proveito)</p><p>as qualidades radicadas no corpo emocional, ali plantadas pelo amor e</p><p>nutridas pela devoção. Daí que o corpo emocional se desenvolvesse</p><p>insuficientemente, embora sem se atrofiar como no tipo antes mencionado.</p><p>Tampouco lhes aproveitou grande coisa sua permanência no globo E,</p><p>enquanto melhoraram consideravelmente o seu corpo mental no globo F.</p><p>Os globos E, F e G foram muito proveitosos para os grupos de egos que</p><p>haviam se individualizado por qualquer um dos três “processos retos”, e,</p><p>portanto, se desenvolveram harmônica e não unilateralmente, como sucedeu</p><p>aos individualizados segundo os “processos viciosos”, no referente à</p><p>inteligência. Contudo, mais tarde esses egos se verão necessitados de</p><p>desenvolver as emoções que primitivamente negligenciaram ou reprimiram.</p><p>No decurso do caminho todas as potencialidades têm que ser</p><p>completamente desenvolvidas, e ao contemplar o enorme curso evolutivo</p><p>desde a nesciência até a onisciência, o processo de progresso em</p><p>determinada etapa perde a imensa importância que parece ter quando o</p><p>olhamos através da névoa de nossa ignorância e limitado ponto de vista.</p><p>Conforme os três globos do arco ascendente se foram pondo em</p><p>atividade um após outro, os egos mais adiantados progrediram muito em</p><p>seus corpos emocional e mental. Como unicamente se revestiram deles os</p><p>que haviam transposto o período crítico do “Dia do Juízo” na Cadeia Lunar,</p><p>não houve retardados que entorpecessem a evolução, e o desenvolvimento</p><p>foi assim mais rápido e constante que antes. Ao terminar a sexta Ronda,</p><p>começaram os preparativos para as condições excepcionais da sétima e</p><p>última Ronda, durante a qual todos os habitantes e grande parte da</p><p>substância da Cadeia Lunar se transferiram para a imediata Cadeia</p><p>sucessora, em que a nossa Terra é o quarto e central globo.</p><p>CAPÍTULO 5</p><p>A SÉTIMA RONDA DA CADEIA LUNAR</p><p>A sétima Ronda de uma Cadeia difere das Rondas precedentes, pois os seus</p><p>globos vão passando um após outro para a quietude, em vias de</p><p>desintegração, à medida que pela última vez os deixam os seus habitantes.</p><p>Ao chegar o tempo dessa última partida de cada globo, todos os seus</p><p>habitantes, que são capazes de futura evolução na Cadeia, passam para o</p><p>globo imediato, como nas primeiras Rondas, enquanto aqueles, aos quais</p><p>não convêm as condições dos demais globos, saem da Cadeia ao deixarem o</p><p>globo, e permanecem num estado, que logo descreveremos, à espera de</p><p>renascimento na próxima Cadeia. Ali, a corrente de saída de cada globo</p><p>nesta Ronda (prescindindo dos que alcançaram o nível de Arhat), se bifurca</p><p>de modo que uns vão como de costume para o globo sucessivamente</p><p>imediato, enquanto outros se vão para navegar num oceano cuja longínqua</p><p>orla é a Cadeia seguinte.</p><p>Normalmente, o homem não fica em liberdade de deixar a Cadeia (a</p><p>menos que temporariamente fracasse) até alcançar o nível assinalado para a</p><p>humanidade evolucionada na mesma Cadeia. Na Lunar, segundo já</p><p>dissemos, foi este nível equivalente ao que agora chamamos de quarta</p><p>Iniciação, ou seja o de Arhat. Mas com muita surpresa vemos que, na</p><p>sétima Ronda, partem grupos de imigrantes dos globos A, B e C, ao passo</p><p>que o grosso da povoação do globo D deixa definitivamente a Cadeia Lunar</p><p>quando a onda de vida sai deste globo para envolver progressivamente o</p><p>globo E. Apenas um número relativamente exíguo fica atrás para prosseguir</p><p>sua evolução nos três globos restantes, e ainda desse número saem alguns</p><p>definitivamente da Cadeia, segundo cada globo vá caindo em inatividade.</p><p>Parece que em toda a sétima Ronda o poderoso Ser chamado “Manu-</p><p>Semente de uma Cadeia” toma a Seu cargo a humanidade e as formas</p><p>inferiores dos seres viventes que têm feito ali a sua evolução. O Manu-</p><p>Semente de uma Cadeia reúne e acumula em Si, em Sua potente e ampliada</p><p>aura, os frutos da evolução na Cadeia, transportando-os para uma esfera</p><p>intercatenária, o Nirvana para os habitantes de nossa Cadeia, e os nutre em</p><p>Si Mesmo até que em seu devido tempo os transmite ao Manu-Raiz da</p><p>Cadeia seguinte, o qual, de acordo com o plano do Manu-Semente,</p><p>determina o tempo e o lugar do ingresso em Seu reino.</p><p>Parece que o Manu-Semente da Cadeia Lunar traçou um vasto plano</p><p>segundo o qual agrupou as criaturas lunares, dividindo-as depois de sua</p><p>última morte em classes, subclasses e re-subclasses, de conformidade com</p><p>um meio definido, que sem dúvida foi certa espécie de magnetização, por</p><p>cujo efeito estabeleceu particulares tonalidades vibratórias, e os seres</p><p>capazes de atuar melhor em determinada tonalidade formaram um mesmo</p><p>grupo. Procedeu desta maneira quando, como no globo D, teve que intervir</p><p>em enormes multidões.</p><p>Estes grupos se formaram automaticamente no mundo celeste do globo</p><p>D, como num disco vibrante se formam as figuras ao impulso de uma nota</p><p>musical; mas nos três primeiros globos da Cadeia apareceram ajustes de</p><p>mais fácil distinção, e as entidades foram expedidas por um oficial superior</p><p>que evidentemente obedecia a um plano fixo. Ajudaram o Manu-Semente</p><p>em Sua obra gigantesca vários Seres principais que executavam as Suas</p><p>ordens; e o vasto plano foi levado a cabo com ordem e exatidão</p><p>indizivelmente maravilhosos.</p><p>Entre outros pormenores observamos que o Manu-Semente escolheu</p><p>para oficiais da Cadeia seguinte os que no extenso curso da evolução</p><p>haviam de se colocar à frente de seus companheiros e Ser Mestres, Manus e</p><p>Bodhisattvas nas várias Rondas e Raças. Evidentemente escolheu muito</p><p>mais do que necessitava, assim como um jardineiro escolhe diversidade de</p><p>plantas para as culturas especiais, entre as quais efetua mais tarde outra</p><p>seleção. A maior parte, senão todos os escolhidos, o foram no globo D, e</p><p>logo voltaremos a falar desta seleção quando chegarmos ao referido mundo.</p><p>Enquanto isso, consideraremos os globos A, B e C.</p><p>No globo A da Cadeia Lunar vemos que uma parte da humanidade não</p><p>passa para o globo B, senão que é obrigada a sair da Cadeia, por não lhe ser</p><p>possível progredir mais nela. O oficial superior que tinha o globo a seu</p><p>cargo não foi capaz de desenvolver alguns de seus habitantes segundo Ele</p><p>desejava, por haver encontrado seus materiais humanos demasiado rígidos</p><p>para evoluir posteriormente, e em consequência, os despachou ao terminar a</p><p>vida do globo. Este carregamento de chalupa (assim o chamamos porque</p><p>não era muito numeroso) compreendia nossos amigos de aura alaranjada,</p><p>que haviam desenvolvido seu corpo mental até um ponto além do qual não</p><p>podiam mais desenvolvê-lo na Cadeia Lunar, sob pena de caírem na</p><p>malignidade. Portanto, tiveram que se encerrar em sua concha mental e</p><p>esgotar de tal sorte os germes de seu corpo emocional, que com segurança</p><p>não puderam descer de grau, e por outro lado eram excessivamente</p><p>orgulhosos para desejá-lo. Neles o corpo causal é um rígido envoltório, mas</p><p>não uma forma elástica e vivente, e, por isso, se se lhes permitissem passar</p><p>para o globo B, lhes teria endurecido perigosamente o mental inferior. São</p><p>muito manhosos e extremamente egoístas, e se incapacitaram</p><p>temporariamente para todo progresso normal, de maneira que lhes seria</p><p>prejudicial o que lhes fosse feito. O oficial está muito claramente</p><p>descontente com essas entidades, e o melhor que por elas pode fazer é</p><p>despachá-las. Ao contemplar mais adiante, vemos que alguns desses seres</p><p>serão entre os atlantes os “Senhores da Face Sombria”, os “Sacerdotes do</p><p>culto tenebroso”, os inimigos do “Imperador Branco”, etc. Entretanto,</p><p>permaneceram na esfera intercatenária tão egoístas como sempre.</p><p>O outro grupo de entidades antes mencionado, cujas auras matizava o</p><p>amarelo dourado da inteligência disciplinada, passaram para o globo B com</p><p>o resto dos habitantes da Cadeia, incluindo entre eles alguns que no globo A</p><p>haviam alcançado o nível de Arhat, e chegaram ao Adeptado no globo B,</p><p>onde o grupo</p><p>de aura dourada foi expedido, porque tampouco tinha em seu</p><p>aspecto emocional suficiente desenvolvimento para formar um corpo</p><p>emocional adequado à sua evolução no globo C. Sua espontânea obediência</p><p>lhes preparava um futuro muito mais belo que o das entidades alaranjadas, e</p><p>voltaremos a encontrá-los na Atlântida como sacerdotes dos templos</p><p>brancos, e pouco a pouco iam formando para si corpos emocionais de tipo</p><p>vantajoso. As duas expedições humanas se incorporaram à evolução</p><p>terrestre na quarta Ronda, porque estavam demasiado adiantadas para tomar</p><p>parte nas primeiras etapas. Parece que é condição indispensável</p><p>desenvolver em cada globo as qualidades que, futuramente, para sua plena</p><p>manifestação, necessitarão de um corpo formado pela matéria do próximo</p><p>globo. E, assim, como as entidades de aura dourada não podiam seguir</p><p>adiante na Cadeia Lunar, foram expedidas com destino à esfera</p><p>intercatenária.</p><p>Do globo C saiu um reduzido número que havia alcançado o nível</p><p>Arhat, e desenvolvido a inteligência e a emoção até muito alto grau. Não</p><p>necessitavam por isso evoluir posteriormente na Cadeia Lunar, tendo saído</p><p>dela por uma das habituais sete Sendas. Um grupo dessas entidades tem</p><p>especial interesse para nós porque formaram parte da classe de Senhores da</p><p>Lua, chamados Pitris Barishad em A Doutrina Secreta, os quais presidiram</p><p>a evolução das formas em nossa Cadeia Terrestre. Ao deixarem o globo C,</p><p>dirigiram-se para a região em que se estava construindo a Cadeia Terrestre,</p><p>onde posteriormente se reuniram a eles outras entidades que também se</p><p>aplicaram ao mesmo trabalho. O globo A da Cadeia Terrestre começou a se</p><p>formar quando a onda de vida saiu do globo A da Cadeia Lunar. Ao fim da</p><p>vida de um globo, o seu Espírito Planetário se reencarna, e, por assim dizer,</p><p>transfere consigo a vida ao globo correspondente da Cadeia seguinte.</p><p>Depois de sair dela, seus habitantes tiveram que esperar longo tempo que</p><p>sua nova morada estivesse pronta; mas a preparação dessa morada começa</p><p>quando o Espírito do primeiro globo o abandona e tal globo se converte</p><p>num corpo morto, ao passo que o Espírito entra num novo ciclo de vida, e</p><p>ao seu redor começa a formar-se um novo globo. As moléculas se vão</p><p>agrupando sob a direção dos Devas, pois a humanidade não está de todo</p><p>evoluída. O Espírito de um globo pertence provavelmente a esta categoria</p><p>de Devas, cujos membros levam a cabo a tarefa de construir globos em todo</p><p>o Sistema.</p><p>Uma grande onda de vida procedente do LOGOS condensa os átomos</p><p>num Sistema por intermédio do Deva planetário, e sucessivamente se vão</p><p>agrupando as moléculas e formando células, etc. As criaturas viventes são</p><p>como parasitas na superfície do Espírito da Terra, mas não se relaciona com</p><p>eles nem talvez se apercebe de sua existência, ainda que se possa senti-los</p><p>levemente quando produzem minas parasitárias muito profundas.</p><p>Os Arhats, que ao saírem da Cadeia Lunar escolheram a Senda que</p><p>conduz à Cadeia Terrestre, passaram, segundo dissemos, para a região onde</p><p>se estava formando o globo A da Cadeia Terrestre. Principiou pelo primeiro</p><p>reino elemental, que fluiu para cima desde o meio do globo (a oficina do</p><p>Terceiro LOGOS), tal como brota a água de um poço artesiano e sobre suas</p><p>bordas flui em todas as direções. Emana do coração do Lótus como a seiva</p><p>ascende por uma folha. Aqueles Senhores da Lua não tomam parte ativa</p><p>nesta etapa, mas parece como se contemplassem a construção do futuro</p><p>mundo. Anos mais tarde se reuniram alguns dos Senhores da Lua</p><p>procedentes do globo G da Cadeia Lunar, que modelaram no globo A as</p><p>formas originárias, proporcionando para esse fim sombras e châyâs,</p><p>segundo as chama a Doutrina Secreta. Depois as Vidas vêm ocupar</p><p>sucessivamente as formas. De maneira semelhante se formaram os globos B</p><p>e C em torno de seus respectivos Espíritos, ao abandonarem estes os</p><p>precedentes globos lunares.</p><p>Nossa Terra física se formou quando os habitantes saíram do globo D da</p><p>Cadeia Lunar. O Espírito do globo abandonou a Lua, que então começa a</p><p>desintegrar-se, de modo que grande parte de sua substância serve de</p><p>material para a construção da Terra. Quando os habitantes começaram a sair</p><p>definitivamente da Lua, estavam já formados os globos A, B e C da Cadeia</p><p>Terrestre; mas o globo D, ou seja a nossa Terra, não podia ir mais longe em</p><p>sua formação até que houvesse morrido seu semelhante, a Lua, ou seja, o</p><p>globo D da Cadeia Lunar.</p><p>Como já se disse, os poucos grupos que saíram da Cadeia Lunar desde</p><p>os globos A e B eram, segundo vimos, entidades muito destacadas por sua</p><p>inteligência, mas que se haviam individualizado na quinta Ronda. Os</p><p>Arhats saídos do globo C se individualizaram durante a quarta Ronda em</p><p>sua população urbana, e por isso se incorporaram a uma civilização onde a</p><p>pressão acelerou sua evolução, pelo estímulo que neles despertava seu trato</p><p>com as entidades mais adiantadas que os rodeavam. Para estar em</p><p>disposição de se aproveitar dessas condições, é evidente que sua evolução</p><p>no reino animal da Cadeia anterior devia alcançar ponto mais alto que o dos</p><p>individualizados nos primitivos distritos rurais da mesma Cadeia. Parece</p><p>como se a humanidade de uma Cadeia só possa avançar para a entrada na</p><p>Senda quando praticamente houver cessado a individualização de animais</p><p>na mesma Cadeia, de modo que unicamente se individualiza um ou outro</p><p>em casos excepcionais. Fechada a porta do reino humano para os animais,</p><p>abre-se a porta da Senda para os homens.</p><p>Segundo dissemos, poucos foram os grupos que deixaram a Cadeia</p><p>Lunar desde os globos A, B e C, pois a massa geral da povoação de cada</p><p>globo passou do modo ordinário ao imediato seguinte. Mas no globo D foi</p><p>muito diferente o processo, pois estando já próxima a morte do globo, a</p><p>massa geral da população, ao deixar pela última vez o seu corpo físico, não</p><p>estava ainda disposta para transferir-se ao globo E, e, portanto, foram</p><p>expedidos com destino à esfera intercatenária ou Nirvana Lunar, na</p><p>expectativa de ingresso na nova Cadeia que se preparava para eles. Se</p><p>compararmos a carregamentos de chalupa os outros grupos lançados no</p><p>oceano do espaço, teremos agora uma enorme frota de barcos lançados no</p><p>mesmo oceano. O grosso da frota zarpa da Lua, onde, por motivos que logo</p><p>se dirão, só resta uma diminuta povoação que deixa os globos E, F e G em</p><p>pequenos grupos, semelhantes a carregamentos de chalupa, segundo nossa</p><p>metáfora.</p><p>O grupo de egos que estamos seguindo, como exemplos da humanidade</p><p>inferior da Lua, apresenta sinais de evidente progresso no globo D. O corpo</p><p>causal está definido, a inteligência mais desenvolvida e o afeto pelos</p><p>superiores se fortaleceu e intensificou. À paixão sucedeu a emoção como</p><p>sua característica mais distintiva. A este grupo podemos chamar de</p><p>Servidores, porque, se bem que o instinto seja ainda cego e semiconsciente,</p><p>o predominante motivo de suas vidas é servir e comprazer as entidades</p><p>superiores às quais têm se consagrado. Olhando adiante, vemos que esta</p><p>característica lhes perdura através de longa série de existências que têm de</p><p>passar na Terra, levam a cabo o trabalho muito árduo de pioneiros no</p><p>futuro. Amam seus superiores e estão prontos a obedecer-lhes, “sem</p><p>vacilação nem demora”.</p><p>Durante esta Ronda lhes sobreveio uma notável modificação no corpo</p><p>físico, porque sua pele é de cor azul-clara, em vez de morena suja como</p><p>antes. Encarnaram-se simultaneamente durante suas últimas vidas na Lua;</p><p>mas antes houve muitos ajustes entre eles, pois os laços que ligam uns egos</p><p>com outros servem para conduzi-los a renascer em comunidade.</p><p>Aqui aparece a maioria dos personagens de Rasgaduras no Véu do</p><p>Tempo; e se pudéssemos reconhecer os restantes, os veríamos entre os</p><p>companheiros de última época, pois todos são Servidores prontos para fazer</p><p>tudo que se lhes mande e a ir aonde quer que se lhes ordene. Estão</p><p>caracterizados por um ligeiro fluxo da vida superior, que determina uma</p><p>leve expansão de um fio de matéria intuicional para enlaçar os átomos</p><p>permanentes intuicional e mental, dando-lhe uma forma um pouco mais</p><p>ampla em cima do que embaixo, à maneira de um pequeno</p><p>funil. Muitas</p><p>outras entidades mais inteligentes que eles não apresentam esta</p><p>característica, própria de seu desejo congênito de servir, de que carecem as</p><p>entidades de maior adiantamento em outros aspectos. O grupo compreende</p><p>diversidade de tipos, porque contra o que se pudesse esperar, não são todos</p><p>do mesmo Raio ou temperamento espiritual. São entidades que se</p><p>individualizaram por uma das três “retas vias”, ou seja, através dos aspectos</p><p>de Vontade, Sabedoria e Inteligência ativa,31 determinando-se à ação por</p><p>devoção a um superior.</p><p>O grupo se subdivide segundo os respectivos métodos de</p><p>individualização das entidades que o compõem, e de acordo com o método,</p><p>assim é a duração do intervalo entre a morte e o renascimento, ainda que</p><p>nada influa na característica de ser serviçal, a qual, por outro lado,</p><p>determina a tônica vibratória do corpo causal, cuja formação está</p><p>determinada por um esforço em servir, segundo os três casos seguintes:</p><p>1º) Um ato de devoção;</p><p>2º) Uma intensa explosão de pura devoção;</p><p>3º) O esforço de compreender e estimar, engendrado pela devoção.</p><p>A formação do corpo causal é sempre súbita, pois vem à existência</p><p>como um relâmpago; mas as circunstâncias precedentes determinam a</p><p>modalidade vibratória do corpo assim formado. Um ato de sacrifício no</p><p>corpo físico atrai a Vontade e determina uma pulsação na matéria espiritual.</p><p>A devoção opera no corpo emocional,32 atrai a Sabedoria e determina uma</p><p>pulsação na matéria intuicional. A atividade na mente inferior desperta a</p><p>Inteligência ativa e determina uma pulsação na matéria mental superior.</p><p>Muito breve encontraremos dividido em dois o nosso grupo de</p><p>Servidores por causa dessas diferenças. As duas primeiras diferenças</p><p>formam um subgrupo cujo período médio entre os nascimentos é de sete</p><p>séculos, e a terceira diferença forma um segundo subgrupo cuja vida</p><p>extraterrena dura doze séculos em média. Esta diferença aparecerá na</p><p>Cadeia Terrestre como um maior grau de evolução e os dois subgrupos</p><p>alcançarão a Terra na quarta Ronda, num intervalo de 400.000 anos entre</p><p>um e outro, com o evidente fim de que em determinado período se</p><p>reencarnem simultaneamente quando forem necessários seus serviços</p><p>coordenados. Tão minuciosos em seus pormenores é o Grande Plano! A</p><p>referida divisão não influi nada nas relações entre Mestres e discípulos, pois</p><p>em ambos os subgrupos vemos discípulos dos Mestres que serão o Manu e</p><p>o Bodhisattva da sexta Raça Raiz. Assim temos que o congênito anseio de</p><p>serviço, notado pelas Autoridades superiores, é a característica de todo o</p><p>grupo, cuja divisão em dois grupos vem das diferenças de individualização,</p><p>que por sua vez determinam os intervalos entre a morte e o renascimento.33</p><p>À frente do grupo vão muitos dos que agora são Mestres, e sobre Eles</p><p>estão muitos outros que já haviam sido Arhats, e transmitiram aos seus</p><p>subordinados as ordens recebidas de Seres incomparavelmente mais</p><p>poderosos. O Manu da sétima Raça do globo lunar tem a seu cargo a</p><p>execução do Plano, e a obediência e cumprimento das ordens do Manu-</p><p>Semente, que dirige os preparativos para transferir a massa geral da</p><p>povoação. Alguns dos indivíduos mais adiantados pressentem vagamente a</p><p>aproximação de profundas mudanças, que, por longínquas e lentas, não lhes</p><p>chamam muito a atenção, enquanto outros cooperam inconsciente mas</p><p>efetivamente na realização do Plano, embora crentes de que estão levando a</p><p>cabo grandes esquemas seus. Assim, por exemplo, há quem concebeu em</p><p>sua mente uma comunidade ideal, e anda reunindo pessoas com as quais</p><p>possa construí-la, para comprazer deste modo a um Mestre que chegou a ser</p><p>Arhat na Lua. As pessoas congregadas em torno do convocador formam um</p><p>grupo definido com um propósito comum, que deste modo favorece a</p><p>execução do Grande Plano. De nosso nível inferior encaramos como deuses</p><p>os Arhats e entidades superiores, e à nossa muito humilde maneira</p><p>procuramos obedecer todas as indicações que notamos em seus desejos.</p><p>Quando os indivíduos deste grupo de Servidores, ao morrerem pela</p><p>última vez na Lua, alcançam o nível assinalado a esse globo, passam todos</p><p>para o plano mental ou mundo celeste, onde permanecem durante longo</p><p>período, tendo sempre diante de si a imagem dos Seres amados, e mais</p><p>vívida ainda a dos egos avançados aos quais se entregaram com especial</p><p>devoção. Precisamente esta arrebatadora devoção os ajuda muito em seu</p><p>progresso, e desenvolve-lhes as qualidades superiores, de modo que os</p><p>tornam mais receptivos às influências que sobre eles pairam na esfera</p><p>intercatenária. Estes egos formam o grupo denominado por Blavatsky Pitris</p><p>Solares, e por Sinnett, Primeira Classe de Pitris.</p><p>Outras densas multidões alcançam também o mundo mental sem que se</p><p>reencarne nenhum dos que chegaram ao nível prefixado. Parece que estes</p><p>possuem já completamente formado o corpo causal e vão constituindo</p><p>grandes grupos sob a ação da poderosa força magnética antes mencionada,</p><p>que sobre eles derrama o Manu-Semente. Como cordas que, segundo sua</p><p>tensão, dão notas distintas, assim o corpo causal deste grupo de egos34</p><p>responde à corda que o Manu-Semente vibra, e deste modo ficam separados</p><p>em grupos definidos, pois não pertencem a um mesmo grupo nem os egos</p><p>procedentes de um mesmo Governador Planetário, nem os amigos, como se</p><p>nenhum dos laços ordinários influísse na agrupação. Os egos ficam</p><p>automaticamente classificados e aguardam em seu respectivo lugar, como</p><p>os passageiros aguardam nas salas de espera a chegada de seu trem, ou para</p><p>servir-nos do acostumado semelhante, do navio em que têm de embarcar.</p><p>Observamos especialmente dois destes carregamentos, porque formávamos</p><p>parte dele. Num estavam os futuros Manu e Bodhisattva, e os que agora são</p><p>já Chohans e Mestres, com muitos dos Servidores que atualmente estão no</p><p>Discipulado ou muito próximos a alcançá-lo. Todos os deste carregamento</p><p>pertenciam, evidentemente, ao subgrupo cujo intervalo entre a morte e o</p><p>renascimento foi de sete séculos. O outro carregamento continha muitos dos</p><p>atuais Mestres e discípulos, com a metade, talvez, dos personagens</p><p>mencionados em Rasgaduras no Véu do Tempo, pertencentes todos ao</p><p>subgrupo de doze séculos de intervalo entre as encarnações. Ambos os</p><p>carregamentos continham muitos, senão todos, dos que hão de formar o</p><p>Homem Celeste, e ficaram na ocasião classificados em dois subgrupos. O</p><p>Manu-Vaivasvata e o atual Bodhisattva estiveram juntos no globo D, mas</p><p>passaram para os globos superiores da Cadeia Lunar.</p><p>Esta grande massa de egos compreende sete grupos, a saber:</p><p>1º) Os Servidores a que já nos referimos, verdadeira mistura de</p><p>diversos graus de evolução, unidos por uma característica comum.</p><p>2º) Um robusto grupo de egos extremamente evoluídos, que, se bem</p><p>que se aproximem da Senda,35 não poderão entrar nela antes do</p><p>fim da Cadeia.</p><p>3º) Um numeroso grupo de egos de boa Índole, mas sem desejos de</p><p>servir, e que, portanto, não se converteram ainda para a Senda.</p><p>Formarão o núcleo da população da Atlântida nos bons tempos do</p><p>continente.</p><p>4º) Uma admirável minoria de egos unidos pela característica comum</p><p>de sua poderosa força intelectual, que no futuro se manifestará em</p><p>gênio, mas muito discrepantes em relação ao caráter e costumes. É</p><p>um grupo destinado a capitanear expedições humanas no porvir,</p><p>sem se entregar ao Serviço nem voltar seu rosto para a Senda.</p><p>5º) Certo número de egos bons e com frequência religiosos, entre os</p><p>quais se contam comerciantes, militares, etc., de agudo</p><p>entendimento, mas concentrados em si mesmos, de sorte que antes</p><p>de tudo pensam em seu próprio desenvolvimento e adiantamento,</p><p>sem saberem nada da Senda, e, portanto, sem anseios de entrar</p><p>nela.</p><p>6º) Grupo muito numeroso de pessoas da burguesia vulgar e incapaz,</p><p>cujo tipo fica descrito por sua própria denominação.</p><p>7º) Também numeroso grupo de pessoas de bons sentimentos, mas</p><p>faltas de educação e desenvolvimento. É a classe inferior das que</p><p>têm já completamente formado o corpo causal.</p><p>Todos estes grupos aguardam no mundo celeste da Lua sua saída para a</p><p>esfera intercatenária. À medida que</p><p>as convulsões sísmicas começam a</p><p>esfacelar a Lua, como começo do rompimento de sua crosta, passa também</p><p>para o mundo celeste um número muito considerável de “Pitris Solares”, ou</p><p>“Primeira Classe de Pitris”, que por estarem em condições de progredir nos</p><p>mundos restantes da Cadeia, onde voltaremos a encontrá-los, esperam ao</p><p>ciclo lunar a oportunidade de sua passagem para o globo E.</p><p>Imediatamente depois dos Pitris Solares vem um imenso número de</p><p>egos que ainda não têm de todo formado o corpo causal. São os que Sinnett</p><p>chama “Segunda Classe de Pitris”, e nós chamaremos cestoides, devido à</p><p>semelhança com a reticular obra de cestaria que neles oferece a conexão</p><p>entre o ego e a mente inferior. Esta massa de egos cestoides se desencarnam</p><p>pela última vez na Cadeia Lunar ao se aproximar a morte da Lua, e ficam</p><p>congregados no mundo emocional, onde, por não poderem atuar, caem no</p><p>sono. E quando este mundo emocional da Lua já é inabitável, perdem esses</p><p>egos o seu corpo emocional e permanecem voltados para baixo como</p><p>bulbos, à espera de embarque para outro destino, e em seu devido tempo</p><p>serem expedidos para a esfera intercatenária, onde dormirão durante</p><p>séculos, até que a terceira Ronda da Cadeia Terrestre lhes ofereça campo</p><p>adequado ao seu desenvolvimento. Contudo, alguns egos cestoides</p><p>demonstram capacidade para realizar evolução posterior na Cadeia Lunar,</p><p>pelo que passam para os globos superiores ao se porem estes em atividade,</p><p>e ali formam seu corpo causal para reforçar depois o grupo de Pitris Solares</p><p>ou de Primeira Classe.</p><p>A insiginificante classe de homens, que precede imediatamente aos</p><p>animais, são os animais-homens, chamados por Blavatsky “Primeira Classe</p><p>de Pitris” e por Sinnett “Terceira Classe de Pitris”.</p><p>Distinguem-se esses egos pelas delicadas linhas de matéria que ligam o</p><p>germinante ego com o insipiente mental inferior. Como os egos cestoides,</p><p>ficam também estes outros congregados no mundo emocional que pela</p><p>última vez se desencarnam na Lua, sem que tenham consciência no mundo</p><p>mental. A seu devido tempo são eles expedidos com destino à esfera</p><p>intercatenária, onde permanecem adormecidos durante imensas idades, e</p><p>por fim entram na Cadeia Terrestre e empreendem no globo A o longo</p><p>trabalho de construção através de todos os reinos, até chegarem ao humano,</p><p>no qual têm de permanecer sobre os globos sucessivos da Ronda e nas</p><p>Rondas seguintes. Distinguiremos esses egos com a denominação de</p><p>lineares, e entre eles também há alguns que ficam retidos ao ser enviada a</p><p>massa geral, e passam ao globo E para a sua evolução posterior,</p><p>incorporando-se assim à classe dos cestoides que imediatamente os</p><p>precederam.</p><p>Temos assim seguido o destino das diversas classes da humanidade</p><p>lunar. Parte dela (os fracassados) ficou eliminada na sexta Ronda,</p><p>permanecendo “suspensa” até que a Cadeia seguinte lhe proporcionou</p><p>campo adequado para sua próxima evolução. Os de matriz alaranjada</p><p>saíram do globo A na sétima Ronda, e os de cor áurea saíram do globo B.</p><p>Alguns Arhats deixaram a Cadeia Lunar desde os globos A, B e C, e deste</p><p>último passaram uns tantos para a Cadeia Terrestre, porque então estava em</p><p>formação. Temos depois as classes que saíram do globo D, ou sejam: os</p><p>egos de corpo causal completamente formado, os cestoides e os lineares. Os</p><p>dentre estas três classes que ficam no globo D, passam sucessivamente aos</p><p>globos E, F e G, para sair deles quando tiverem efetuado todo o progresso</p><p>de que são capazes. Alguns cestoides, a classe superior de Pitris e os Arhats</p><p>saem assim de cada globo. A maior parte dos animais marcha para o</p><p>Nirvana intercatenário, semelhante à arca de Noé. Uns tantos animais</p><p>capazes de converter-se em animais-homens, foram transferidos para os</p><p>globos posteriores.</p><p>As diferenças entre os corpos causais têm como fator determinante a</p><p>etapa em que ocorreu a individualização. Nas camadas inferiores do reino</p><p>animal, multidão de animais está animada por uma só alma grupo; mas seu</p><p>número vai diminuindo à medida que ascendem para a humanidade, até que</p><p>nas espécies superiores não há senão de dez a vinte animais com uma</p><p>mesma alma grupo. A companhia e contato do homem pode provocar a</p><p>individualização de um animal em etapa relativamente inferior. Se o animal,</p><p>um cão, por exemplo, esteve durante muito tempo em contato com o</p><p>homem e pertence a um grupo de dez ou vinte, fica completamente formado</p><p>o corpo causal no ato da individualização. Se o animal pertence a um grupo</p><p>de cem (como na etapa dos cães de gado), se formará um corpo causal</p><p>cestoide; e se for de um grupo de alguns centenares (como os cães</p><p>vagabundos de Constantinopla ou da Índia), o esboço do corpo causal</p><p>redundaria numa forma de linhas conectivas.</p><p>Essas etapas nos recordam diferenças semelhantes no reino vegetal,</p><p>cujos membros mais adiantados passam diretamente para a ordem dos</p><p>mamíferos do reino animal, assim como o animal de índole suave não se</p><p>transforma em brutal e cruel selvagem, senão em pacífico homem</p><p>primitivo. Se estendermos nossa observação de um reino para outro,</p><p>veremos que um delicado animal pode ser mais agradável companheiro do</p><p>que muitos seres humanos.</p><p>Calha também uma entidade permanecer um tempo muito curto na</p><p>etapa animal e tempo muito longo na etapa humana, ou vice-versa. Isto</p><p>parece que não tem importância real, pois no fim de tudo o resultado é o</p><p>mesmo, assim como a permanência mais ou menos longa no mundo celeste</p><p>conduz a igual estado de progresso entre os homens. Provavelmente é uma</p><p>extravagância humana o imaginar-se haver sido o melhor de sua espécie em</p><p>cada época, e que houvesse alguém que tenha preferido ser árvore baniana</p><p>ou carvalho, em vez de bando de mosquitos, ou um soberbo mastim em vez</p><p>de um selvagem comedor de argila ou antropófago.</p><p>Mas voltemos ao assunto. Parece que os globos E, F e G serviram de</p><p>uma espécie de estufas para culturas especiais, como a habilitar alguns para</p><p>entrar na Senda ou alcançar o Arhatado, o que não teriam podido conseguir</p><p>no globo D, ainda que já se encarnassem para tal fim. Também serviram</p><p>para que alguns outros chegassem a uma etapa evolutiva mais elevada, da</p><p>qual já se aproximavam.</p><p>Estes globos E, F e G merecem, melhor que o nome de mundos, o de</p><p>centros. Sua população era pequena, pois que a massa geral de homens e</p><p>animais havia sido levada do globo D, e por outro lado foi diminuindo cada</p><p>vez mais pelo sucessivo envio de uma expedição de cada um dos globos à</p><p>medida que estes caíam na indiferença. A expedição saída do globo E se</p><p>compunha: 1º) de alguns que já estavam na Senda e que nesse globo</p><p>alcançaram o Arhatado; 2º) de alguns cestoides que haviam completado seu</p><p>corpo causal; 3º) de alguns lineares convertidos já em cestoides. Ao saírem</p><p>essas categorias do globo E, a população restante, composta dos que não</p><p>havendo chegado ainda ao Arhatado, eram no entanto capazes de esforços</p><p>posteriores, se transferiu para o globo F. Os que saíram do globo E</p><p>passaram para o Nirvana intercatenário, onde ficaram distribuídos entre as</p><p>classes que haviam alcançado, da mesma maneira que as letras de uma</p><p>composição tipográfica são distribuídas em suas respectivas caixas logo</p><p>depois da impressão.</p><p>Processo semelhante ocorre no globo F, sendo de profundo interesse</p><p>assinalar que o Senhor Gautama Buda e o Senhor Maitreya estavam entre</p><p>os que sucessivamente passaram para os globos E e F, até alcançarem a</p><p>primeira grande Iniciação no globo G. Ambos haviam sido excluídos na</p><p>sétima Ronda da Segunda Cadeia, por não estarem capacitados para</p><p>continuar seus esforços nos globos E, F e G dessa Cadeia, cujas condições</p><p>eram demasiado árduas e somente acessíveis àqueles que podiam alcançar o</p><p>nível de êxito assinalado para a Cadeia, ou da categoria em que se achavam</p><p>passar para a superior. Entraram no globo D da Cadeia Lunar durante a</p><p>quarta Ronda, em estado de homens primitivos, com os animais da segunda</p><p>Cadeia já próximos da individualização.</p><p>No globo F Gautama e Maitreya fizeram juntos o voto de ser Budas;</p><p>mas o ritual desse voto era diferente do de nossa Terra. No mundo celeste</p><p>havia uma espécie de Conselho (o</p><p>Sukhavati dos budistas), e ambos</p><p>depuseram seus votos ante o grande Ser chamado Dipânkara nos livros, que</p><p>os aceitou na qualidade de Buda. Alcançaram o Arhatado no globo G antes</p><p>de deixar a Cadeia Lunar.</p><p>O Senhor Buda Dipânkara procedia da Quarta Cadeia do Esquema de</p><p>Vênus, cujo globo físico era o satélite de Vênus descoberto por Herschel36 e</p><p>desaparecido desde então. Pertencia Dipânkara ao Estado-Maior, cujos</p><p>membros podiam ser enviados a qualquer Cadeia necessitada de auxílio. O</p><p>Senhor Dipânkara foi sucedido em seu elevado cargo de Buda pelos Budas</p><p>da Cadeia Terrestre, entre os quais se contam, por exemplo, o Senhor</p><p>Kashyapa, o Bodhisattva da Terceira Raça Raiz, que alcançou o Budado na</p><p>quarta, e o Senhor Gautama, o Bodhisattva da quarta Raça Raiz, que foi</p><p>Buda na quinta, sucedendo-o o Senhor Maitreya, Bodhisattva da quinta</p><p>Raça Raiz, que tem de alcançar o Budado na sexta. O atual Mestre K. H.</p><p>será Bodhisattva da sexta Raça Raiz e Buda da sétima.</p><p>Convém recordar que um Buda não só tem a seu cargo uma</p><p>humanidade, senão que além de ser instrutor de homens o é também de</p><p>anjos e Devas; e assim, por muito atrasada que uma humanidade esteja em</p><p>evolução, sempre é necessário o cargo superior de Buda.</p><p>Também vemos o Mestre Júpiter entre os que entraram na Senda no</p><p>globo G da Cadeia Lunar.</p><p>O Nirvana Intercatenário</p><p>A mente humana se abisma ante os enormes períodos de tempo referentes à</p><p>evolução, pelo que não há mais remédio do que ater-se ao antigo e moderno</p><p>conceito, segundo o qual o tempo não tem existência determinada, mas é</p><p>curto ou longo segundo a atuação da consciência do ser a que se refere.37</p><p>No Nirvana Intercatenário as consciências verdadeiramente ativas foram as</p><p>do Manu-Semente da Cadeia Lunar e do Manu-Raiz da Terrestre. Quem</p><p>será capaz de supor o tempo computado à consciência destes Seres?</p><p>O Grande Plano está na mente do Manu-Semente, de quem o recebe o</p><p>Manu-Raiz e o executa na nova Cadeia confiada à Sua direção. Ao fim da</p><p>Cadeia, os resultados da evolução nela prosseguida se resumem na aura do</p><p>Manu-Semente, onde, se se nos permite empregar a terminologia da vida</p><p>comum, ficam classificados, encaixados e catalogados em perfeita ordem.</p><p>O Manu-Semente derrama intermitentes fluxos de Seu magnetismo</p><p>estimulador sobre as inteligências de diversidade de graus, que,</p><p>concentradas em si mesmas, vivem lenta e subjetivamente sem noção</p><p>alguma de tempo. Se a corrente fosse contínua, as faria em pedaços, e por</p><p>isso se interrompe logo após havê-lo influído, para que lentamente a</p><p>assimilem “cochilando” durante um milhão de anos. Então o Manu-</p><p>Semente lhes derrama outro fluxo de corrente, e assim repetidamente</p><p>durante milhões e milhões de anos.</p><p>A observação dessa curiosa cena nos sugere diversas analogias, como,</p><p>por exemplo, a dos bulbos que de quando em quando o jardineiro</p><p>inspeciona, e a dos enfermos de um hospital que o médico visita</p><p>diariamente. Aproxima-se cada vez mais o tempo em que o grande</p><p>Jardineiro havia de entregar seus bulbos para a plantação. O solo foi a Ceia</p><p>Terrestre e os bulbos se converteram em almas viventes.</p><p>CAPÍTULO 6</p><p>TEMPOS PRIMITIVOS DA CADEIA</p><p>TERRESTRE</p><p>Durante todo esse intervalo foi se formando, lentamente, a Cadeia Terrestre,</p><p>cuja construção presenciaram, segundo vimos, os Senhores da Lua. Chegou</p><p>o tempo de mandar para a nova Cadeia os primeiros dos que haviam de</p><p>evoluir nela durante as idades futuras. O Manu-Semente determinou o</p><p>conteúdo de cada expedição e a ordem de sua partida, ao passo que o Manu-</p><p>Raiz os ia distribuindo à medida que chegavam, uns após outros, ao globo</p><p>A da Cadeia Terrestre.</p><p>Aqui podemos esboçar brevemente o Governo da Cadeia, de modo que</p><p>o estudante compreenda algo do Plano Evolucionário que tem de</p><p>considerar.</p><p>Preside esse Governo Chakshushas, o Manu-Semente da Cadeia</p><p>anterior, de cuja vasta obra temos visto algo na Cadeia Lunar. Tem oficiais</p><p>ajudantes que o informam de como os membros de um ou de outro grupo</p><p>têm respondido às influências que derramou sobre eles durante sua</p><p>permanência no Nirvana Intercatenário. Assim como os menores em</p><p>“idade” são enviados a incorporar-se nas formas mais primitivas e depois</p><p>seguem mais adiante quando as formas evoluem até um grau superior,</p><p>assim também dentre determinado grupo trazido da Lua e estacionado no</p><p>Nirvana Intercatenário, vão primeiramente ao mundo novo os que menos</p><p>progrediram sob a influência do Manu-Semente durante o período</p><p>nirvânico.</p><p>Vaivasvata,38 o Manu-Raiz da Cadeia Terrestre, que preside todo o</p><p>ordenamento de sua evolução, é uma poderosa Entidade procedente da</p><p>quarta Cadeia do Esquema de Vênus. De seus três ajudantes, dois vieram da</p><p>mesma Cadeia, e o terceiro é um elevado Adepto que chegou</p><p>primitivamente à Cadeia Lunar.39</p><p>O Manu-Raiz de uma Cadeia deve alcançar o nível fixado para a Cadeia</p><p>ou Cadeias em que evoluiu como homem, até chegar a ser um dos Senhores</p><p>dessa Cadeia, e então ascende à categoria de Manu de uma Raça, para ser</p><p>sucessivamente Pratyeka Buda, Senhor do Mundo, Manu-Raiz e Manu-</p><p>Semente de uma Ronda, pois só depois de passar por todos esses graus pode</p><p>ser Manu-Raiz de uma Cadeia e governar os Manus das Rondas, que por</p><p>sua vez distribuem o trabalho entre os Manus das Raças. Além disso, cada</p><p>Cadeia proporciona um número de triunfantes seres humanos, os “Senhores</p><p>da Cadeia”, alguns dos quais se dedicam ao trabalho da Nova Cadeia sob a</p><p>direção de seu Manu-Raiz. Assim temos para a nossa Cadeia Terrestre sete</p><p>categorias de Senhores da Lua, vindos dos sete globos da Cadeia Lunar, que</p><p>trabalham sob as ordens de nosso Manu-Raiz e constituem uma das grandes</p><p>classes de Protetores externos, aos quais incumbe a liderança da evolução</p><p>geral da Cadeia Terrestre. A segunda classe de Protetores externos são os</p><p>Senhores da Chama, que no meio da terceira Raça Raiz, durante a quarta</p><p>Ronda, chegaram ao quarto globo vindos de Vênus, para apressar a</p><p>evolução mental e constituir a Hierarquia Oculta da Terra, a cujo cargo está</p><p>desde então o Governo do globo. Sua prodigiosa influência avivou de tal</p><p>maneira os germes da viela mental, que brotaram em crescimento,</p><p>seguindo-se disso o grande fluxo descendente através da Mônada, chamado</p><p>terceira onda de Vida, cujo efeito foi a formação do corpo causal, isto é, o</p><p>“nascimento” ou “descida do Ego” em todas as entidades procedentes do</p><p>reino animal. Tão instantaneamente responderam as miríades de habitantes</p><p>da Terra ao influxo dos Senhores da Chama, que d’Eles se disse que</p><p>“deram” ou “projetaram” a chispa da mente. Mas “avivaram”, não</p><p>“projetaram” essa chispa, e a natureza da “dádiva” foi a excitação do germe</p><p>já oculto na infantil humanidade, isto é, que produziram nela efeito</p><p>semelhante ao do raio de sol na semente, mas não deram a semente.40 Os</p><p>Senhores da Chama concentraram nas Mônadas a energia do LOGOS, da</p><p>mesma maneira que uma lente concentra os raios solares, e sob essa</p><p>influência apareceu a chispa que responde. Esses Senhores da Chama são os</p><p>verdadeiros Mâna-saputras,41 os Filhos da Mente ou Filhos do Fogo,</p><p>provenientes da quinta Ronda ou Ronda mental de Vênus.</p><p>O Manu-Raiz distribuiu pela Cadeia Terrestre as sete classes de</p><p>Senhores da Lua, encarregando-os das Rondas e globos, enquanto os Manus</p><p>das Raças tomaram a seu cuidado especial a evolução das raças, um para</p><p>cada Raça Raiz.</p><p>Primeira Ronda</p><p>Os Senhores da Lua, procedentes dos globos A, B e C da Cadeia Lunar,</p><p>foram as três classes que, conforme dissemos antes, presenciaram, sem</p><p>tomar parte nela, a construção material dos globos de nossa Cadeia, à</p><p>medida que ia sucessivamente se formando em torno do Espírito de cada</p><p>globo, e presidiram o pormenorizado trabalho dos Senhores que chegaram</p><p>depois. A classe inferior, procedente do globo G, plasmou no globo A da</p><p>Cadeia Terrestre, durante a primeira Ronda, as primitivas formas</p><p>arquetípicas e guiaram os lineares que vieram ocupá-las e evolucionar</p><p>nelas. A classe imeditamente superior, procedente do globo F, presidiu a</p><p>evolução das formas na segunda Ronda; os do globo E presidiram idêntica</p><p>evolução na terceira Ronda, e os do globo D fizeram trabalho</p><p>semelhante na</p><p>quarta.42</p><p>Além disso, vemos que alguns Senhores vindos do globo E atuam em</p><p>Marte durante a quarta Ronda, enquanto mais tarde operam na Terra os que</p><p>vieram do globo D.</p><p>Ao iniciar-se a expedição das primeiras entidades do Nirvana</p><p>Intercatenário, os primeiros enviados são os lineares, a grande massa de</p><p>animais pertencentes ao globo D da Cadeia Lunar. Os primeiros</p><p>carregamentos ou expedições se sucedem uns aos outros em intervalos de</p><p>cerca de cem mil anos, e então se interrompe a expedição para dar tempo a</p><p>que, durante um extenso período, os recém-chegados, os soldados de</p><p>trincheira de nossa Cadeia Terrestre, prossigam sua longa jornada na</p><p>primeira, segunda e parte da terceira Ronda.</p><p>Os mundos oferecem um aspecto estranho, semelhante ao de inquietos</p><p>torvelinhos. Nossa Terra, o torvelinho mais sólido, é uma massa de lama</p><p>quente e viscosa, sem que na maior parte de sua superfície haja lugar</p><p>apropriado para desembarcar com firmeza. Está fervente, e sua consistência</p><p>muda sem cessar. Enormes cataclismos engolem de quando em quando as</p><p>multidões que, dado o seu estado embrionário, não se importam com o</p><p>engolimento, mas crescem e se multiplicam em vastas covas e cavernas,</p><p>tanto quanto se vivessem na superfície.</p><p>Os globos da primeira Ronda da Cadeia Terrestre estiveram nos mesmos</p><p>níveis que os da sétima Ronda da Cadeia Lunar. O globo A estava no plano</p><p>mental superior com alguma de sua matéria componente precariamente</p><p>ativa; o globo B estava no mental inferior; o C no emocional; o D no físico;</p><p>o E no emocional; o F no mental inferior, e o G no mental superior.</p><p>Na segunda Ronda desce a Cadeia inteira, e os globos C, D e E se</p><p>tornaram físicos, mas os seres neles viventes eram de substância etérica e</p><p>parecidos com “sacos de pudim”, para servir-me de um epíteto gráfico de</p><p>H. B. Blavatsky. Os globos C e E são os que agora chamamos Marte e</p><p>Mercúrio, e tinham então matéria física, contudo em estado de gases</p><p>ardentes.</p><p>Durante a primeira Ronda, os corpos humanos existentes na Terra eram</p><p>ameboides, nebulosos, flutuantes, em sua maior parte etéricos, e, portanto,</p><p>indiferentes ao calor. Reproduziam-se por separação e iam se sucedendo em</p><p>raças sem encarnações separadas, pois cada forma durava todo o tempo de</p><p>uma raça. Não havia nascimentos nem mortes, porque os corpos</p><p>desfrutavam de imortalidade amébica e estavam ao cuidado dos Senhores</p><p>da Lua, que haviam conseguido o Arhatado no globo G. Alguns flutuantes</p><p>corpos etéricos pareciam estar se esforçando, sem muito êxito, para ser</p><p>esboços de vegetais.</p><p>Os minerais eram um tanto mais sólidos, pois a Lua os lançou na Terra</p><p>em estado de fusão. A temperatura seria algo maior que 8.500°C, pois o</p><p>cobre estava em vapor, e sabido é que este metal se volatiliza nos fornos a</p><p>essa temperatura. O silício era visível, mas a maior parte das substâncias se</p><p>achava em estado de protoelementos, não de elementos, pois apenas se</p><p>conheciam as atuais combinações. A Terra estava rodeada de enormes</p><p>massas de vapor, cujas incalculáveis calorias demoravam muito lentamente</p><p>o seu esfriamento. No polo havia pântano fervente, o qual pouco a pouco</p><p>foi se sedimentando, e ao fim de alguns milhares de anos apareceu uma</p><p>espuma verde de natureza vegetal, ou para dizer com mais precisão, que</p><p>seriam vegetal em tempos futuros.</p><p>Segunda Ronda</p><p>Na segunda Ronda havia descido consideravelmente a temperatura do</p><p>globo; o cobre já frio era líquido e em algumas partes sólido. Havia algo de</p><p>terra perto dos polos, mas teriam saído chamas caso houvesse nela um</p><p>orifício, como agora sucede em alguns pontos laterais da extremidade do</p><p>Vesúvio. As criaturas parecidas com “sacos de pudim” flutuavam sobre</p><p>aquela ardente superfície, aparentemente insensíveis ao calor, e suas formas</p><p>lembravam soldados de pernas amputadas com o uniforme cozido ao redor</p><p>do tronco. Um golpe produzia naquele corpo uma fenda que logo se enchia</p><p>como carne de uma pessoa hidrópica. Na parte anterior, o corpo tinha uma</p><p>espécie de boca sugadora, pela qual tomava o alimento, cravando-a</p><p>rapidamente em outro corpo e sorvendo-o à maneira como agora sorvemos</p><p>um ovo, com o simples abrir de um pequeno orifício em sua casca. O corpo</p><p>chupado se amolecia pela sucção do outro, e deixava de existir, não sem</p><p>ocorrer uma luta entre ambos. Tinham uma espécie de mão em forma de</p><p>remo, como pata de foca e produziam um agradável ruído semelhante ao de</p><p>uma trombetinha com que expressavam suas sensações de prazer e dor. O</p><p>prazer se reduzia para eles no bem-estar geral de seu ser, e a dor era um</p><p>pesado incômodo, não muito intenso, mas de débil gosto e desgosto. A pele</p><p>era às vezes adentada, com tonalidades de cor.</p><p>Mais tarde esses corpos foram se tornando menos amorfos e mais</p><p>humanos, e se arrastavam pelo solo como lagartas. Ainda mais tarde, perto</p><p>do Polo Norte, no promontório ali existente, lhes nasceram mãos e pés,</p><p>embora sem que essas criaturas pudessem valer-se deles em posição</p><p>bipedal, e deram mostras de maior inteligência. Observamos que um Senhor</p><p>da Lua, um Arhat do globo F da Cadeia Lunar, magnetizou uma ilha e</p><p>conduziu para ela um rebanho dessas criaturas, parecidas então a bezerros</p><p>ou porcos marinhos, mas sem cabeça definida. Ali se lhes ensinou a morder</p><p>em vez de chupar, e quando se atacavam uns aos outros, preferiam certas</p><p>partes da vítima, como se já lhes houvesse despertado o sentido do gosto. A</p><p>depressão que lhes servia de boca foi tomando figura de funil, e começou a</p><p>formar-se neles um estômago que se invertia rapidamente enquanto lhe</p><p>penetrava alguma substância estranha e inconveniente, sem que tal inversão</p><p>produzisse qualquer dano.</p><p>Como a superfície terrestre não se achava ainda definitivamente</p><p>assentada, costumavam essas criaturas se queimar ou cozinhar em parte, o</p><p>qual, como pode se compreender, os desgostava, e se o acidente era grave,</p><p>desapareciam num colapso. Por causa da muita densidade da atmosfera,</p><p>transferiam-se de um ponto para outro, o que contrastava com o</p><p>serpenteante movimento sobre o solo, parecido com o da “miserável</p><p>lagarta”. A reprodução era feita por meio de gemas, isto é, aparecia no</p><p>corpo uma protuberância que ia crescendo até dele se separar com vida</p><p>independente.</p><p>Sua inteligência era muito embrionária. Vimos um deles apontar sua</p><p>boca contra o vizinho, e havendo errado o golpe, deu com a boca no</p><p>extremo inferior de seu próprio corpo e começou a chupar muito</p><p>gostosamente, crendo que fosse o da vítima, até notar pela sensação de</p><p>desgosto o erro cometido. Outra dessas criaturas percebeu que enrolando a</p><p>extremidade de seu corpo no seio, podia flutuar verticalmente em vez de</p><p>horizontalmente, e com isso pareceu muito orgulhoso de si mesmo.</p><p>Gradualmente, o extremo em que se continha o funil se tornou algo cônico</p><p>e apareceu nele um pequeno centro que em remoto futuro poderia</p><p>converter-se em cérebro. Saiu uma pequena protuberância e as criaturas</p><p>adquiriram o costume de mover-se para diante, dirigindo sempre a boca</p><p>onde havia provisões, e assim se fomentou o desenvolvimento do corpo.</p><p>A vida vegetal se desenvolveu durante todo esse período a favor da</p><p>pesada e sufocante atmosfera. Havia vegetação de natureza florestal e</p><p>tessitura muito semelhante à erva, porém de mais de doze metros de altura,</p><p>com espessura proporcional. Cresciam no pântano quente e floresciam com</p><p>muito vigor.</p><p>Pelo fim desse período, já estavam completamente solidificadas</p><p>algumas porções da superfície, e o calor havia diminuído</p><p>consideravelmente. Ocorreram muitas e tumultuosas rachaduras,</p><p>ocasionadas sem dúvida pela contração da crista, e cada colina era um</p><p>vulcão em erupção.</p><p>O globo Marte se solidificou mais ainda, esfriando-se com maior</p><p>rapidez por causa de seu tamanho menor, e a vida nele era muito</p><p>semelhante à da Terra.</p><p>Terceira Ronda</p><p>Na terceira Ronda estava Marte já inteiramente solidificado e firme, e</p><p>começavam a desenvolver-se alguns animais, embora no princípio mais</p><p>parecessem espessos pedaços de madeira serrada de um lenho ou algo</p><p>semelhante aos esboços que as crianças fazem quando ainda não sabem</p><p>desenhar; mas com o tempo foram tomando</p><p>forma distintamente humana,</p><p>se bem que mais parecida a gorilas do que a homens.</p><p>A configuração de Marte era então muito diferente da que conhecemos</p><p>hoje em dia, porque a água ocupava umas três quartas partes da sua</p><p>superfície e só uma quarta parte era terra firme. Daí que não houvesse</p><p>canais como agora, e suas condições físicas fossem muito semelhantes às da</p><p>Terra atual.</p><p>As pessoas que começaram com a indicação linear do corpo causal</p><p>tinham por essa época desenvolvido contextura cestoide de espécie mais</p><p>tosca, conforme observamos, do que a que havia sido desenvolvida na Lua.</p><p>Ao atingir essa etapa, chegaram em corrente a Marte os cestoides</p><p>procedentes da Lua, e o Manu-Semente expediu novos carregamentos</p><p>humanos para a Terra.</p><p>Ao deter a vista no Nirvana Intercatenário para assinalar a chegada dos</p><p>cestoides a Marte, encontramo-nos num ponto extremamente interessante.</p><p>Os “invólucros” em que estavam acumulados os “bulbos” eram,</p><p>evidentemente, de matéria mental superior; mas ao se transportarem para a</p><p>aura do Manu-Semente, passaram pela esfera espiritual e se desintegrou o</p><p>cestoide formado de matéria mental lunar, de modo que era preciso</p><p>reconstituí-lo antes que aquelas entidades começassem sua evolução</p><p>terrestre. Durante séculos haviam estado adormecidas na esfera espiritual,</p><p>até que se revestiu de um cestoide formado pela equivalente matéria mental</p><p>da Cadeia Terrestre. Pois convém notar que não há continuidade de matéria</p><p>mental entre as Cadeias. A distância não é elemento estimável, pois a</p><p>Cadeia Terrestre ocupa quase a mesma posição que ocupou a Lunar; mas a</p><p>descontinuidade da matéria mental exige a desintegração e reintegração dos</p><p>corpos causais de contextura cestoide.</p><p>Vemos um Manu que chegava a Marte com uma legião de cestoides, e</p><p>esse espetáculo nos recordou o episódio dos Puranas hinduístas, em que o</p><p>Manu atravessa o oceano numa nave onde leva as sementes de um novo</p><p>mundo; assim como nos trouxe também à memória o Noé hebreu, que</p><p>conservou na arca todo o necessário para repovoar a terra depois do dilúvio.</p><p>As lendas contidas nas escrituras religiosas são com frequência relatos</p><p>históricos do passado, e assim temos que o Manu iria realmente a Marte</p><p>para dar um novo impulso à evolução, estabelecendo ali uma colônia de</p><p>cestoides.</p><p>Olhando mais para trás, vemos que os primeiros cestoides chegados à</p><p>Cadeia Terrestre vieram do globo G da Cadeia Lunar, no qual haviam</p><p>conseguido aquele estado. De toda a multidão de cestoides estes eram os</p><p>menos desenvolvidos, tendo sido os últimos a alcançar aquele estágio. O</p><p>Manu os conduziu para se encarnarem nas mais distintas famílias da</p><p>Terceira Raça de Marte, e à medida que iam se desenvolvendo, os conduzia</p><p>para a Sua colônia, para que evoluíssem mais rapidamente entre indivíduos</p><p>da Quarta Raça. Todos os membros dessa colônia eram movidos pela</p><p>vontade central do Manu, como as abelhas na colmeia, pois Ele dirigia tudo</p><p>com as correntes de Sua energia.</p><p>Também chegaram em Marte outros dois enxames de cestoides, que</p><p>alcançaram esse estágio nos globos E e F da Cadeia Lunar; mas chegaram</p><p>em ordem inversa à que saíram da Lua, pois os procedentes do globo F</p><p>formaram a quarta Raça de Marte e os do globo E a quinta. Desenvolveram</p><p>algo de afeto e inteligência sob o educativo cuidado do Manu. No princípio</p><p>viveram em cavernas, mas muito logo começaram a edificar, e instruíram os</p><p>aborígines na arte da construção, e mesmo se tornaram guias naquele</p><p>estágio de evolução.</p><p>Os indivíduos eram então hermafroditas, ainda que no geral tinham</p><p>mais desenvolvido um sexo que outro, e a reprodução requeria o</p><p>ajuntamento de dois seres. Contudo, nos tipos inferiores se notavam os</p><p>processos distintos de reprodução, e havia alguns embrionários seres</p><p>humanos, semelhantes à hidra, que se reproduziam uns por gemas, outros</p><p>por transpiração e outros por geração ovípara. Mas entre os cestoides não</p><p>ocorria nenhum desses processos inferiores de reprodução.</p><p>Na quinta Raça foi se modificando a organização social à proporção que</p><p>se desenvolvia a inteligência. Desapareceu o regime de colmeia; mas como</p><p>ainda tinham muito pouca individualidade, reuniram-se em rebanhos e</p><p>manadas alimentados pelo Manu. A tessitura dos cestoides se tornou mais</p><p>compacta, e demonstraram com isso o que pôde conseguir o</p><p>desenvolvimento da vida naqueles que resolutamente evoluíam para a</p><p>humanidade, sem a ajuda do potente estímulo dado na quarta Ronda pelos</p><p>Senhores da Chama.</p><p>O tipo congregado em rebanhos tem ainda reminiscências muito</p><p>intensas nas pessoas cujo pensamento se acomoda à opinião alheia e estão</p><p>completamente dominadas pela rotina. São em geral boas, mas muito</p><p>simplórias e espantosamente monótonas. Não havia entre elas outras</p><p>diferenças senão as que possa haver entre aqueles que, por exemplo,</p><p>compram chá ao peso de um quarto de libra ou de uma onça, notadas entre</p><p>eles mesmos.</p><p>Observamos um tipo feroz de cestoides que não viviam em comunidade,</p><p>mas vagavam aos pares pelas selvas. A parte superior da cabeça era de osso</p><p>duro, pelo que lutavam entre si a cabeçadas como cabritos. Também havia</p><p>tipos inferiores de forma estranha, semelhantes a répteis, que viviam nas</p><p>árvores. Eram mais corpulentos do que os lineares, mas muito menos</p><p>inteligentes, e os devoravam sempre que tinham oportunidade.</p><p>Além disso, havia em Marte alguns animais carnívoros. Vimos um</p><p>enorme bruto parecido com um homem, que se defendia com uma espécie</p><p>de clava, cujos golpes não pareciam ferir grande coisa o monstro, entre</p><p>cujas mandíbulas caiu por fim o homem, de ponta-cabeça, por haver</p><p>tropeçado numa rocha.</p><p>A terceira Ronda terrestre foi muito semelhante à marciana, e ainda que</p><p>os habitantes fossem menores e mais grosseiros, pareciam enormes gorilas,</p><p>de nosso atual ponto de vista. Durante essa Ronda chegou à Terra o grosso</p><p>dos cestoides procedentes do globo D da Cadeia Lunar, para guiar a</p><p>evolução humana. Após eles vieram os cestoides de Marte, e uns e outros</p><p>ofereciam em conjunto o aspecto de inteligentes gorilas. Os animais eram</p><p>muito escamosos, e ainda os seres a que hoje chamamos aves estavam</p><p>recobertos de escamas em vez de penas, como se os houvessem formado de</p><p>retalhos, cuja costura dera como resultado um corpo metade ave, metade</p><p>réptil, mas de aspecto repulsivo. Contudo, esse globo era um pouco mais</p><p>mundo que os globos anteriores, pelo menos de tudo que vimos desde que</p><p>deixamos a Lua, e posteriormente começaram a edificar-se cidades. A obra</p><p>dos Senhores da Lua (nesta Ronda Arhats vindos do globo F) assemelhava-</p><p>se mais à domesticação de animais do que à evolução de homens; mas</p><p>convém notar que, por assim dizer, atuavam em seções dos corpos físico e</p><p>sutil. Elaboravam especialmente os terceiros subplanos das esferas física,</p><p>astral e mental, reanimando as formas espiraladas dos átomos desses</p><p>subplanos.</p><p>Durante a terceira Ronda terrestre os processos de reprodução foram os</p><p>mesmos que agora se limitam aos reinos inferiores da natureza. Nas</p><p>primeira e segunda Raças se reproduziram ainda os indivíduos por</p><p>separação; mas desde a terceira Raça em diante se observam os seguintes</p><p>processos:</p><p>1º) A gemação ao estilo de hidra nos seres menos organizados.</p><p>2º) A transpiração de células em diferentes órgãos do corpo, que</p><p>reproduzem outros órgãos similares e crescem como duplicação</p><p>em miniatura do órgão pater.</p><p>3º) A desovação ou postura de ovos em cujo interior se desenvolve o</p><p>novo ser humano.</p><p>Os indivíduos eram hermafroditas e gradualmente foi predominando um</p><p>sexo, mas nunca o suficiente para definir o macho ou a fêmea.</p><p>A passagem da onda de vida de um para outro globo é gradual, com</p><p>intervalos notáveis. Convém recordar que o globo A da Cadeia Terrestre</p><p>começou a formar-se quando seu correspondente da Cadeia Lunar estava</p><p>em processo de desintegração, e a mudança do Espírito determinou a</p><p>transferência da atividade.43 Assim a vida ativa é contínua, ainda que os</p><p>egos tenham longos períodos de repouso. Um globo se “obscurece” quando</p><p>o LOGOS desvia dele a Sua atenção, e lhe retira a Sua Luz. Cai numa</p><p>espécie de estado comático e deixa atrás de si</p><p>futuro. São as gloriosas flores da planta cujos botões</p><p>somos.</p><p>E assim lançamos nosso pequeno barco no tormentoso oceano da</p><p>publicidade para que encare sua sorte e encontre seu destino.</p><p>ALGUNS PERSONAGENS DO RELATO</p><p>OS QUATRO</p><p>KUMARAS</p><p>Quatro Senhores da Chama, ainda viventes em</p><p>Shamballa.</p><p>MAHAGURU O Bodhisattva da época que aparece nas</p><p>personalidades de Vyása, Thoth (Hermes),</p><p>Zarathustra, Orfeu, e, finalmente, Gautama, que</p><p>chegou a ser o Senhor Buda.</p><p>SÚRYA O Senhor Maitreya, atual Bodhisattva, o Supremo</p><p>Instrutor do mundo.</p><p>MANU Chefe de uma Raça Raiz. Com os nomes de Manu-</p><p>Raiz ou Manu-Semente, designa-se um ministro de</p><p>categoria ainda mais elevada, que preside um ciclo</p><p>maior de evolução, como uma Ronda ou uma</p><p>Cadeia. Os livros hindus chamam Vaivasvata</p><p>indistintamente ao Manu-Raiz de nossa Cadeia e ao</p><p>Manu da Quinta Raça Raiz, ou seja, a Raça Ária.</p><p>VIRAJ O Maha-Chohan, Hierarca de categoria igual à de</p><p>Manu e Bodhisattva.</p><p>SATURNO É atualmente um Mestre, ao qual se dá em alguns</p><p>livros teosóficos o sobrenome de “O Veneziano”.</p><p>JÚPITER O Mestre residente nas montanhas de Nilgiri.</p><p>MARTE O Mestre M. do livro O Mundo Oculto, de A. P.</p><p>Sinnett.</p><p>MERCÚRIO O Mestre K. H. do mesmo livro acima.</p><p>NETUNO O Mestre Hilarião.</p><p>OSÍRIS O Mestre Serapis.</p><p>BRHASPATI O Mestre Jesus.</p><p>VÊNUS O Mestre Râgozci (ou Rakovzky); o “Adepto</p><p>húngaro”; o Conde de St. Germain do século XVIII.</p><p>URANO O Mestre D. K.</p><p>VULCANO Um Mestre que em sua última vida terrena foi sir</p><p>Thomas More.</p><p>ATHENA Um Mestre que na Terra teve o nome de Thomas</p><p>Vaughan, como o sobrenome de “Eugênio</p><p>Filaletes”.</p><p>ALBA Ethel White</p><p>ALBIREU Maria Luísa Kirby</p><p>ALCIONE J. Krishnamurti</p><p>ALETEIA João de Manen</p><p>ALTAIR Herbert White</p><p>ARCOR A. J. Wilson</p><p>ATLAS Filha de Charles Blech</p><p>AURORA Conde Bubna-Licics</p><p>CAPELA S. Maud Sharpe</p><p>CORONA Júlio César</p><p>CRUZ O Hon. Otway Cuffe</p><p>DENER Lorde Cócrane (Décimo conde de Dundonal)</p><p>ESPIGA Francisca Arundale</p><p>EUDÓXIA Luísa Shaw</p><p>FÊNIX Tomas Pascal</p><p>FIDES G. S. Arundale</p><p>FOCEA W. Q. Judge</p><p>GÊMINI E. Maud Green</p><p>HEITOR W. H. Kirby</p><p>HÉLIOS Maria Russak</p><p>HÉRACLES Annie Besant</p><p>LEO Fabrício Ruspoli</p><p>LILI Filha de Charles Blech</p><p>LIRA Lao-Tsé</p><p>LOMIA J. I. Wedgwood</p><p>LUTÉCIA Charles Bradlaugh</p><p>MIRA Charles Hilbrook</p><p>MIZAR J. Nityananda</p><p>MONA Piet Meuleman</p><p>NORMA Margarida Ruspoli</p><p>OLÍMPIA Damodar K. Mavalankar</p><p>PALAS Platão</p><p>POLARIS B. P. Wadia</p><p>PROTEU O Lama Teshu</p><p>SELENE C. Jinarajadasa</p><p>SÍRIO C. W. Leadbeater</p><p>SIVA T. Subba Rao</p><p>TAURO Jerônimo Anderson</p><p>ULISSES H. S. Olcott</p><p>VAJRA H. P. Blavatsky</p><p>VESTA Minnie C. Holdbrook</p><p>Alguns membros da Sociedade Teosófica permitiram, corajosamente, o</p><p>aparecimento de seus nomes na lista acima, a despeito do ridículo que</p><p>pudesse cair sobre eles. Numerosos de nossos amigos estão atualmente</p><p>encarnados em corpos hindus; mas não podemos expô-los ao desdém e à</p><p>perseguição que sofreriam se os indicássemos, e por isso não lhes</p><p>solicitamos sua permissão.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O problema da origem, evolução e destino do homem não deixa nunca de</p><p>ser interessante. De onde vem esta gloriosa Inteligência que, pelo menos,</p><p>neste planeta é coroa dos seres visíveis? Desceu repentinamente do alto,</p><p>como um anjo radiante, para ser temporário morador de uma mansão de</p><p>barro, ou tem se elevado ao longo de obscuras idades, tirando sua humilde</p><p>linhagem do lodo primitivo através do peixe, réptil e mamífero, até o reino</p><p>humano? E qual é o seu destino situado além? Evolui progressivamente e</p><p>eleva-se mais e mais, tão só para descer pelo longo declive da degeneração</p><p>até cair no precipício da morte, deixando para trás um gelado planeta como</p><p>túmulo de incontáveis civilizações? Ou sua elevação atual nada mais é que</p><p>o adestramento de um Poder espiritual e eterno, destinado em sua plenitude</p><p>a empunhar o cetro de um mundo, de um sistema, de um conjunto de</p><p>sistemas, com a atuação de um verdadeiro Deus?</p><p>Muitas respostas têm sido dadas total ou parcialmente a estas perguntas,</p><p>nas Escrituras das antigas religiões, nas obscuras tradições deixadas pelos</p><p>poderosos homens da antiguidade, nas explorações dos arqueólogos</p><p>modernos e nas investigações dos geólogos, físicos, biólogos e astrônomos,</p><p>nossos contemporâneos.</p><p>Os conhecimentos recentes têm confirmado os registros mais antigos,</p><p>ao confirmarem ao nosso planeta e seus habitantes um período de existência</p><p>de vasta extensão e maravilhosa complexidade. Centenas de milhões de</p><p>anos se acumularam para dar tempo ao lento e trabalhoso processo da</p><p>Natureza, em que cada vez mais e mais para trás fica o “homem primitivo”.</p><p>Vemos a Lemúria, onde agora ondeia o Pacífico; e a Austrália, apesar de</p><p>seu descobrimento relativamente recente, é uma das terras mais antigas. A</p><p>Atlântida esteve onde agora se estende o Atlântico, e a África se uniu com a</p><p>América por meio de um sólido istmo, que tira o mérito de descobridor de</p><p>Cristovão Colombo, que vemos seguindo as pegadas de gerações há longo</p><p>tempo desaparecidas, que encontraram o caminho da Europa para as terras</p><p>do Sol poente. Já não é Poseidonis por mais tempo o fantástico conto</p><p>relatado pelos supersticiosos sacerdotes egípcios ao filósofo grego. Minos</p><p>de Creta ressurge de sua velha tumba como homem e não como mito.</p><p>Babilônia, computada como antiga, passa a ser a moderna sucessora de uma</p><p>série de cultíssimas cidades sepultadas, camada sob camada, até</p><p>desaparecer na noite dos tempos. A tradição convida o explorador a escavar</p><p>o Turquestão no centro da Ásia, e lhe sussurra ao ouvido sobre colossais</p><p>ruínas que só esperam o seu enxadão para serem exumadas.</p><p>Neste entrechoque de opiniões, neste conflito de teorias, nesta</p><p>afirmação e negação de sempre renovadas hipóteses, talvez achem alguma</p><p>probabilidade de leitura o relato dos observadores, dos exploradores que</p><p>têm percorrido o caminho muito antigo por onde poucos andam hoje, apesar</p><p>de cada vez mais, apressados estudantes o trilharão, segundo o tempo</p><p>comprove sua estabilidade.</p><p>A ciência está explorando hoje em dia as maravilhas da chamada</p><p>“mente subjetiva”, e descobre nela curiosíssimas forças, impulsos e</p><p>reminiscências. A essa mente subjetiva e equilibrada, dominadora do</p><p>cérebro, chamam gênio. À mente subjetiva desencaixada do cérebro, vaga e</p><p>errante, chamam loucura. Algum dia acabará vendo a ciência que a religião</p><p>chama de “alma” o que ela chama de “mente subjetiva”, e que a atualização</p><p>de suas forças depende dos instrumentos, físico e suprafísico, de que</p><p>dispõe. Se esses instrumentos estão bem construídos, flexíveis e íntegros, e</p><p>obedecem docilmente e por completo ao seu controle, as faculdades de</p><p>visão, audição e memória, irregularmente brotadas da mente subjetiva,</p><p>chegarão a ser as faculdades normais e ativas da alma. E se a alma, em vez</p><p>de unir-se ao corpo, se esforça por ascender ao Espírito, ao divino Eu</p><p>velado na matéria de nosso Sistema, então o homem verdadeiro e interno</p><p>acrescenta suas forças, até alcançar o conhecimento que de outro modo</p><p>seria impossível obter.</p><p>Os metafísicos antigos e modernos declaram que o passado, o presente e</p><p>o futuro existem sempre, simultaneamente, na divina Consciência, e que são</p><p>sucessivos apenas em sua manifestação, isto é, condicionados pelo tempo,</p><p>que inteiramente consiste na sucessão de estados de consciência. Como</p><p>nossa limitada consciência existe no tempo, está inevitavelmente ligada por</p><p>esta sucessão, e assim só podemos pensar sucessivamente. Mas todos</p><p>sabemos, pela experiência dos estados do sonho, que a medida do tempo</p><p>não é a mesma durante os mesmos, ainda que persista a sucessão. Também</p><p>sabemos que a medida do tempo varia muito mais ainda no mundo do</p><p>pensamento, pois quando forjamos imagens mentais, podemos retardá-las,</p><p>apressá-las e repeti-las à vontade, embora ainda ligadas pela sucessão.</p><p>Raciocinando deste modo, não será difícil formar uma mente de</p><p>transcendental poder, a mente de um LOGOS, ou VERBO, de um Ser tal</p><p>como o representado no quarto Evangelho,2 que contenha em Si todas as</p><p>imagens mentais incorporadas num Sistema Solar, dispostas na ordem</p><p>sucessiva de sua manifestação projetada, mas todas ali passíveis de exame</p><p>atento, assim como nós investigamos e revisamos nossas imagens mentais,</p><p>um resíduo de criaturas</p><p>viventes, cujo número não aumenta durante esse período. Mas, enquanto as</p><p>raças perecem, os egos que as habitaram continuam adiante e o globo se</p><p>converte em campo de atividade para a Ronda interna, ou seja, o lugar</p><p>aonde vão os egos em estado de transição para se submeterem a um</p><p>tratamento especial que acelere seu progresso. O globo para o qual se</p><p>converte a atenção do LOGOS desperta-se para a atividade e recebe as</p><p>frotas de egos dispostos a prosseguir em sua jornada.</p><p>Outro ponto digno de nota é o retorno de tipos a nível superior de</p><p>evolução, em que só formam etapas transitórias. Assim como no atual</p><p>embrião humano aparecem os tipos de peixe, réptil e mamífero, de sorte</p><p>que em poucos meses repetem a cônica evolução do passado, assim também</p><p>vemos que em cada Ronda precede um período de repetição ao do novo</p><p>avanço. A terceira Ronda elaborou pormenorizadamente o que as terceira e</p><p>quarta Raças reproduziram com relativa velocidade, enquanto a segunda</p><p>Raça refletiria semelhantemente a segunda Ronda e a primeira Raça a</p><p>primeira Ronda.</p><p>Uma vez compreendido este princípio capital, é já mais fácil o estudo, e</p><p>torna-se claro o esboço em que têm de se enquadrar os pormenores.</p><p>CAPÍTULO 7</p><p>PRIMEIRAS ETAPAS DA QUARTA RONDA</p><p>Ao fazer uma rápida observação preliminar da quarta Ronda, nota-se uma</p><p>importante e transcendental mudança no ambiente em que se desenvolve a</p><p>evolução humana. Nas três Rondas precedentes o homem chegou a tocar a</p><p>essência elemental, que só foi afetada pelos devas ou anjos sob cuja</p><p>influência evoluía. O homem não estava bastante desenvolvido para afetá-la</p><p>de maneira notável. Mas na quarta Ronda, a influência do homem toma</p><p>parte muito importante, e seus pensamentos concentrados levantam nuvens</p><p>densas na essência elemental circundante. Também os elementais começam</p><p>a mostrar-se hostis, segundo vão saindo do estado animal para entrar no</p><p>humano, pois do ponto de vista dos elementais, o homem já não é um</p><p>animal entre os animais, mas uma entidade independente e dominante, com</p><p>propensão a hostilizar e agredir.</p><p>Outra característica importante da quarta Ronda, a intermediária das</p><p>sete, é que nela ficou fechada a porta para o reino animal e se abriu a da</p><p>Senda. Contudo, ambas as afirmações devem ser entendidas em linhas</p><p>gerais, porque, de quando em quando, aqui e ali, pode um animal, por ajuda</p><p>particular, evoluir até um ponto onde seja capaz de encarnar em forma</p><p>humana, embora quase nunca a encontrem em suficientemente inferior</p><p>desenvolvimento para isso. O homem que alcançou o Arhatado, ou um grau</p><p>mais elevado, na Cadeia Lunar, pode escalar alturas ainda maiores; mas</p><p>todos os de nível inferior, que haviam de completar seus corpos causais, não</p><p>entraram na evolução da Cadeia Terrestre até os fins da terceira e o começo</p><p>da quarta Raças Raízes.</p><p>Na quarta Ronda de Marte vemos certo número de selvagens, que ainda</p><p>não estavam bastante avançados para passar daquele globo para a Terra,</p><p>quando a massa de egos o fez na Ronda precedente. Em cada globo houve</p><p>alguns fracassados que permaneceram estacionários ao começar o</p><p>obscurecimento do globo, mas que, retomados a ele quando este recobrou a</p><p>sua plena atividade, formaram uma classe muito retardada. Estes foram</p><p>cestoides de índole pobre, os selvagens de tipo brutal e cruel, alguns dos</p><p>quais se haviam individualizado pelo temor e pela cólera.</p><p>Na quarta Ronda, Marte sentiu as angústias da escassez de água e os</p><p>Senhores da Lua (Arhats que haviam alcançado este nível no globo E)</p><p>projetaram o sistema de canalização que sob suas ordens os cestoides</p><p>executaram. Os mares de Marte não são salubres, e, ao se derreterem as</p><p>neves polares, fornecem a água necessária para o vale que fertiliza os</p><p>terrenos de cultivo onde crescem os cereais.</p><p>A quinta Raça Raiz Marciana foi branca e progrediu consideravelmente,</p><p>até converter sua forma de cesta em completo corpo causal. Eram de</p><p>natureza bondosa, ingênuos e afáveis, embora incapazes de ideias vastas e</p><p>de amplos sentimentos de afeto e sacrifício. Muito logo começaram a</p><p>repartir entre si o alimento em vez de pelejarem por ele, e atualizaram até</p><p>certo ponto o sentimento de sociabilidade.</p><p>As primeira e segunda Raças Raízes da Terra apareceram antes da</p><p>despovoação de Marte, pois as últimas etapas desse globo eram demasiado</p><p>avançadas para que a elas se acomodassem algumas entidades a cujo estado</p><p>convinham as primitivas condições terrestres, ainda que naqueles</p><p>prematuros tempos o LOGOS não dirigisse plenamente sua atenção para a</p><p>Terra. Os Senhores da Lua (Arhats que haviam alcançado este nível no</p><p>globo D da Cadeia Lunar) trouxeram para essas primitivas raças certo</p><p>número de entidades retardadas que serviram de estímulo para os</p><p>preguiçosos, que de sua parte pagaram a boa vontade que se teve com eles</p><p>ao formarem os tipos inferiores da primeira sub-raça da terceira Raça Raiz.</p><p>Tinham a cabeça ovoide, com um só olho na parte superior, uma espiral</p><p>arredondada representando a fronte, e mandíbulas proeminentes. A</p><p>configuração ovoide da cabeça persistiu durante longo tempo, embora</p><p>muito modificada nas últimas sub-raças da terceira Raça, encontraram-se</p><p>alguns exemplares desse tipo na última época lemuriana. Os indivíduos de</p><p>pele azul que constituíram a poderosa sexta sub-raça, e as de pele branca</p><p>que formaram a sétima, foram os tipos mais belos, mas ainda com as</p><p>características lemurianas e vestígios de cabeça ovoide por causa de suas</p><p>testas achatadas.44</p><p>Durante as primeira e segunda Raças, foi muito limitada a povoação da</p><p>Terra, e parece que se lhe deu essa ajuda especial porque no quarto globo da</p><p>quarta Cadeia “a porta estava fechada”. Mas adiante se fez todo o possível</p><p>para incentivar o progresso dos capazes de receber esse impulso, antes que</p><p>a vinda dos Senhores da Chama na metade da terceira Raça Raiz impedisse</p><p>quase por completo saltar o abismo entre o reino animal e o humano.</p><p>No fim da sua sétima Raça Raiz, tinha Marte uma população muito</p><p>considerável a transferir-se para a Terra, a fim de encabeçar nela a terceira</p><p>Raça até que os egos mais adiantados da Cadeia Lunar viessem tomar a</p><p>direção. Esses cestoides, que já então haviam completado o seu corpo</p><p>causal, tinham progredido consideravelmente em Marte e eram os</p><p>precursores de outros egos mais adiantados, cuja chegada se aproximava.</p><p>Eles lutaram com os viscosos e invertebrados répteis selvagens a que as</p><p>paragens de Dzyân chamam “terríveis e malvados homens aquáticos”, isto</p><p>é, os reencarnados remanescentes das rondas anteriores, que haviam sido</p><p>em Marte “homens aquáticos”, ou sejam, animais anfíbios e escamosos de</p><p>aspecto semi-humano.</p><p>Os diversos processos de reprodução característicos da terceira Ronda,</p><p>reaparecem nessa terceira Raça e também simultaneamente em vários</p><p>pontos da Terra. A massa geral da povoação passou pelas sucessivas etapas</p><p>até chegar a ser em sua maior parte ovípara, pois houve alguns poucos</p><p>aspectos em que persistiram os processos primitivos. Parece como se as</p><p>diversas ordens de reprodução conviessem aos egos segundo a sua etapa</p><p>evolutiva, e assim persistiram nos retardados depois de os haver</p><p>transcendido a massa geral da povoação. O processo ovíparo desapareceu</p><p>muito lentamente.</p><p>A casca foi se afinando cada vez mais, e o ser humano nela contido teve</p><p>caráter hermafrodita, ainda que depois tenha predominado em cada</p><p>indivíduo um dos dois sexos e, por último, se definiu a unissexualidade.</p><p>Essas transformações principiaram há uns 16.500.000 anos e durou seu</p><p>processo cerca de cinco e meio a seis milhões de anos, pois os corpos</p><p>físicos foram se alterando muito lentamente e de vez em quando sofriam</p><p>algumas regressões. Além do que, o primitivo número de habitantes era</p><p>pequeno e necessitou de tempo para se multiplicar. Ao estabilizar-se</p><p>definitivamente o último tipo, ficou o ovo mantido dentro do corpo</p><p>feminino, assumindo a reprodução a atual modalidade ovípara que ainda</p><p>persiste.</p><p>Em resumo, temos a primeira Raça Raiz, repetição da primeira Ronda,</p><p>em formas de nuvens etéricas, flutuantes de cá para lá numa cálida e pesada</p><p>atmosfera, que</p><p>envolvia um mundo desmembrado por cataclismos</p><p>periódicos. Os indivíduos dessa primeira Raça se reproduziram por</p><p>fendidura. A segunda Raça, repetição da segunda Ronda, era do tipo saco</p><p>descrito na segunda Ronda e se reproduziu por brote. O princípio da terceira</p><p>Raça Raiz, repetição da terceira Ronda, tinha forma de gorila antropoide e</p><p>se reproduziu no princípio por excrescência celular, ou sejam, as “gotas de</p><p>suor” da Doutrina Secreta. Depois veio a etapa ovípara e por último a</p><p>unissexual.</p><p>Alguns ovos humanos foram objeto de um tratamento especial, pois os</p><p>Senhores da Lua os levavam para magnetizá-los cuidadosamente e mantê-</p><p>los sob temperatura uniforme até que o ser humano rompia a casca, na</p><p>ocasião de sexualidade hermafrodita. Depois o alimentavam com um</p><p>regime especial, e atendiam solicitamente ao seu crescimento, para que,</p><p>uma vez disposto, se apossasse dele um dos Senhores da Lua, muitos dos</p><p>quais se encarnavam com o fim de atuar no plano físico, para cujo efeito</p><p>utilizavam esses corpos cuidadosamente preparados, de que também se</p><p>serviram com o mesmo propósito alguns devas. Isto parece que ocorreu</p><p>unicamente uns tantos séculos antes do desdobramento dos sexos.</p><p>Enquanto os últimos nascidos oviparamente estiveram sob o cuidado</p><p>dos Senhores da Lua, chegou diretamente do Nirvana Intercatenário o mais</p><p>escolhido dos cestoides, ao qual logo se seguiram as entidades mais</p><p>inferiores das que haviam completado seu corpo causal na Lua, embora</p><p>entre os mais adiantados dos primeiros e os mais atrasados dos segundos</p><p>mediasse pouca diferença. O primeiro carregamento dos últimos esteve</p><p>formado por aqueles que haviam respondido fracamente à influência do</p><p>Manu-Semente nos globos G, F e E da Cadeia Lunar. A maior parte deles</p><p>vinha do globo G e eram os mais lerdos de todos que haviam completado o</p><p>seu corpo causal. O segundo carregamento se compôs de um grande</p><p>número do globo G, um menor contingente do F e outro menor ainda do</p><p>globo E. O terceiro carregamento continha o ótimo do globo G, alguns dos</p><p>melhores do globo F e o bom do globo E. O quarto carregamento constava</p><p>do melhor do globo F e de tudo, menos o ótimo, do globo E. O quinto</p><p>carregamento conduziu o melhor do globo E com algo do globo D. Os</p><p>indivíduos desses carregamentos estavam classificados mais por “idade”</p><p>que por “tipo”, pois se viam ali todos os tipos. Entre eles estava o que,</p><p>individualizado pelo temor, havia sido chefe da tribo continental da Lua, em</p><p>cujo poder caíra Marte prisioneiro. Todos esses carregamentos encarnaram</p><p>nos nascidos oviparamente em número de algumas centenas de milhares.</p><p>Posteriormente, fazendo já de dez a onze milhões de anos, depois de</p><p>separados definitivamente os sexos, veio a importante etapa em que alguns</p><p>desses encarnados Senhores da Lua desceram à heptagonal estrela polar</p><p>lemuriana e formaram suas próprias imagens etéricas, que depois se</p><p>densificaram e multiplicaram para o uso dos egos viventes. Os Senhores da</p><p>Lua eram de diferentes tipos, segundo expressa a frase: “Sete homens, cada</p><p>qual em sua partilha”, e proporcionaram corpos adequados aos sete raios ou</p><p>modalidades idiossincráticas da humanidade, construindo as formas nas</p><p>pontas da estrela.</p><p>Nesta etapa houve quatro classes de entidades que se influíram</p><p>mutuamente para o aperfeiçoamento da forma humana. Essas quatro classes</p><p>foram:</p><p>1ª) O contingente dos melhores cestoides, com o corpo causal</p><p>completo, que formaram os cinco já referidos carregamentos</p><p>procedentes dos globos G, F e E da Cadeia Lunar.</p><p>2ª) Os cestoides procedentes de Marte.</p><p>3ª) Os lineares que haviam estado na Terra todo o tempo.</p><p>4ª) Os recentemente saídos do reino animal.</p><p>Por baixo dessas quatro classes estavam os animais, vegetais e minerais,</p><p>dos quais não nos convém dizer nada.</p><p>A encarnação dessas quatro classes nas formas etéricas, dispostas pelos</p><p>Senhores da Lua, teve certo caráter de luta, porque com frequência havia</p><p>vários aspirantes a uma mesma forma, e quem conseguia apoderar-se dela</p><p>só podia conservá-la por poucos instantes. Essa cena nos recorda a fábula</p><p>grega que atribui aos deuses a formação do mundo entre ruidosas</p><p>gargalhadas, pois tinham a sua parte cômica as brigas dos egos para</p><p>apoderar-se de uma forma que os demais não deixavam utilizá-la quem a</p><p>conseguisse. Esta etapa é uma das descidas na matéria, a definitiva</p><p>materialização do corpo humano, o complemento da “queda do homem”.</p><p>Pouco a pouco se foram acostumando os egos às novas “túnicas de pele” e</p><p>se dispuseram a reproduzir os sete tipos idiossincráticos.</p><p>Em diversas partes da Terra subsistiram ainda por longo tempo os</p><p>demais processos de reprodução; as etapas sucessivas demasiado extensas,</p><p>por causa dos notáveis desníveis de evolução. Porque as entidades vindas</p><p>de outras Rondas não haviam estado nas duas primeiras Raças terrestres, e</p><p>as tribos em que persistiam os primitivos processos de reprodução se</p><p>tornavam gradualmente estéreis, enquanto os tipos vivíparos se</p><p>multiplicaram em grande número, até ficar definitivamente estabelecida na</p><p>Terra a espécie humana tal qual a conhecemos agora.</p><p>As formas plasmadas pelos Senhores da Lua tinham aspecto formoso;</p><p>mas como eram etéricas e, portanto, facilmente alteráveis, as aleijaram</p><p>bastante os egos nelas encarnados. Os filhos nascidos dessas formas foram</p><p>em verdade horríveis, pois seus procriadores estariam provavelmente</p><p>acostumados a pensar na cabeça ovoide e na testa com depressão, do que</p><p>proveio o reaparecimento dessa forma.</p><p>Após haver evoluído várias gerações de seres definidamente humanos,</p><p>descendentes das materializadas formas etéricas, os Arhats incitaram as</p><p>entidades saídas dos globos A, B e C da Cadeia Lunar, a encarnarem-se nos</p><p>corpos já dispostos então para sua morada, porque não lhes era possível</p><p>continuarem ali a sua evolução. Deste contingente houve três</p><p>carregamentos:</p><p>1º) Mais de dois milhões de indivíduos de cor alaranjada, procedentes</p><p>do globo A.</p><p>2º) Pouco menos de três milhões de indivíduos de cor dourada,</p><p>procedentes do globo C.</p><p>3º) Mais de três milhões de indivíduos de cor rosada, procedentes do</p><p>globo C.</p><p>Em conjunto somavam uns nove milhões, e foram conduzidos para</p><p>diferentes paragens da superfície do globo, com o propósito de formarem</p><p>tribos. Os de cor alaranjada, ao verem os corpos que lhes eram oferecidos</p><p>para se encarnarem, se recusaram a entrar neles, não por maldade, mas por</p><p>orgulho, pois lhes pareceram desprezíveis tão repulsivas formas, e talvez</p><p>também porque ainda conservavam sua repugnância pelo ajuntamento</p><p>sexual. Em troca, os de cor amarela e os rosados obedeceram docilmente, e</p><p>pouco a pouco melhoraram os corpos em que moravam. Esses indivíduos</p><p>de cor rosada e os amarelos constituíram a quarta sub-raça lemuriana, a</p><p>primeira que em todos os aspectos, menos no embriônico, se pôde chamar</p><p>humana e cuja origem cabe remontar à doação das formas. Convém notar</p><p>que em A Doutrina Secreta Blavatsky pinta esta sub-raça de cor amarela,</p><p>embora, evidentemente, se referisse às entidades de cor dourada, vindas do</p><p>globo B da Cadeia Lunar, pois não é possível que mencionasse a coloração</p><p>própria da quarta sub-raça, porque esta era negra, como o foram também,</p><p>posteriormente, as classes inferiores da sexta sub-raça, em que as classes</p><p>superiores eram de cor azul, embora com um ligeiro fundo negro.</p><p>Devido à recusa dos alaranjados, ficou em descoberto a área designada</p><p>para eles, e os corpos em que teriam de morar caíram gostosamente em</p><p>poder das entidades recém-saídas do reino animal, isto é, a mais ínfima das</p><p>classes antes mencionadas, cujo tipo era pauperrimamente humano. Essas</p><p>entidades não notaram grande diferença entre elas e as fileiras de que</p><p>acabavam de sair, e daí proveio o pecado dos amantes.</p><p>Convém frisar que os alaranjados criaram carma ao se negarem a ocupar</p><p>seu devido lugar na obra de povoar a Terra, pois posteriormente a lei da</p><p>evolução os compeliu a encarnar-se, e tiveram de servir-se de corpos ainda</p><p>piores e mais grosseiros que os recusados, já que os Senhores da Lua</p><p>estavam nessa ocasião empregados em outro trabalho. Desta maneira foram</p><p>uma raça tardia, mas não de boa índole, que teve de passar por experiências</p><p>desagradáveis, e o número de seus indivíduos escasseou por causa da</p><p>constante colisão em que estiveram com a ordem comum, e foram</p><p>amaciados pelos muitos sofrimentos que experimentaram entre as pessoas</p><p>comuns. Uns tantos, de severo temperamento, insensíveis e sem escrúpulos,</p><p>chegaram a ser os “Senhores da Face Tenebrosa” na Atlântida; outros</p><p>apareceram entre os índios norte-americanos de rosto duro, ainda que</p><p>refinado; e alguns poucos têm persistido até nossos dias entre os reis das</p><p>finanças, estadistas como Bismarck e conquistadores como Napoleão.</p><p>Contudo, vão desaparecendo pouco a pouco, porque aprenderam lições</p><p>muitas amargas. Os homens sem coração que sempre estão na luta, e por</p><p>tudo e em toda a parte se opõem aos princípios gerais, têm de mudar, por</p><p>fim, no reino da lei, o seu modo de ser. Alguns, muito poucos, poderão</p><p>valerse da magia negra; mas a maioria não pode resistir à constante pressão</p><p>que os encobre. É um caminho demasiado áspero para o progresso!</p><p>Advento dos Senhores da Chama</p><p>A grande Estrela Polar Lemuriana estava ainda perfeita, e o enorme</p><p>Crescente se estendia ao longo do Equador, incluindo Madagascar. O mar</p><p>cujo leito era o atual deserto de Gobi, quebrava suas ondas nas ásperas</p><p>costas formadas pelas encostas setentrionais do Himalaia, e tudo se ia</p><p>preparando para o mais dramático instante da história da Terra: o advento</p><p>dos SENHORES DA CHAMA.</p><p>Os Senhores da Lua e o Manu da terceira Raça Raiz haviam feito todo o</p><p>possível para colocar os homens no ponto adequado para que, estimulado o</p><p>germe de sua mente, pudesse descer o seu ego. Receberam impulso todos os</p><p>retardados e já não havia nas fileiras animais quem pudesse ascender então</p><p>à categoria humana. A porta por onde os imigrantes vindos do reino animal</p><p>entravam no reino humano, fechou-se quando já não acudia ninguém a ela,</p><p>nem teria sido possível alcançá-la sem que se repetisse o formidável</p><p>impulso que se dá pela única vez na metade de cada Esquema de Evolução.</p><p>Para o advento dos Senhores da Chama se escolheu a época coincidente</p><p>com o insólito fenômeno astronômico de uma conjunção especial de</p><p>planetas, que colocava a Terra em condições magnéticas mais favoráveis.</p><p>Isso aconteceu há uns seis e meio milhões de anos, quando já não restava</p><p>por cumprir outra obra senão a que unicamente podiam levar a cabo os</p><p>Senhores da Chama.</p><p>Com o estrondoso bramido de uma torrente e envolta em ardentes</p><p>nuvens que cobriam o firmamento de extensas línguas de fogo, descendo</p><p>então de inconcebíveis alturas, relampejou através do espaço a carruagem</p><p>dos Filhos do Fogo, dos Senhores da Chama, que, vindos de Vênus,</p><p>pousaram sobre a “Ilha Branca” risonhamente estendida no seio do mar de</p><p>Gobi. Achava-se a ilha verdejante de folhagem e radiante colorida floração,</p><p>como se a Terra oferecesse a mais amorosa e gentil bem-vinda ao seu</p><p>chegado Rei. Ali permaneceu Ele, “o Donzel de dezesseis estios”, Sanat</p><p>Kumara, a “Eterna e Virginal Juventude”, o novo Governador da Terra, que</p><p>veio a Seu reino acompanhado de Seus Discípulos, os três Kumaras, Seus</p><p>Auxiliares imediatos. Ali estavam trinta poderosos Seres, demasiado</p><p>grandes para que a Terra os reconhecesse, embora graduados em ordem e</p><p>revestidos dos gloriosos corpos que Eles haviam criado pelo poder de</p><p>Kriyashakti. Constituíram a primeira Hierarquia Oculta. Eles, os ramos da</p><p>única Árvore Baniana em expansão, viveiro de futuros Adeptos e centro de</p><p>toda a vida oculta. A morada desses Seres foi e é a imperecível Terra</p><p>Sagrada, em que brilha a eterna Estrela Refulgente, símbolo do Monarca da</p><p>Terra, o imutável Polo em cujo torno está sempre girando a vida de nossa</p><p>Terra.45</p><p>Diz um Catecismo:</p><p>Dos sete Kumaras, sacrificaram-se quatro pelos pecados do mundo e</p><p>instrução dos ignorantes, a fim de permanecerem até o fim do atual</p><p>manvantara. Estes quatro Kumaras são a Cabeça, o Coração, a Alma e</p><p>a Semente do conhecimento imortal.</p><p>E acrescenta Blavatsky:</p><p>Maior que os “Quatro” existe somente UM, assim na terra como no</p><p>céu. É o ainda mais misterioso Ser chamado o “Vigilante</p><p>Silencioso”.46</p><p>Até a vinda dos Senhores da Chama haviam chegado separadamente os</p><p>carregamentos vindos do Nirvana Intercatenário; mas com o formidável</p><p>impulso recebido neste ponto, intensificou-se rapidamente a fecundidade,</p><p>como tudo o mais, e foram necessárias frotas inteiras para trazer os egos</p><p>que haviam de encarnar-se nos corpos. Enquanto estes se infundiam nos</p><p>corpos, os de tipo inferior se apossaram de todos os animais com germes</p><p>mentais que se individualizaram por ocasião da Vinda, e assim os Senhores</p><p>da Chama fizeram num momento por milhões o que agora com muito</p><p>trabalho fazemos por unidades.</p><p>E então encarnaram os Arhats dos globos A, B e C para ajudar o Manu</p><p>no estabelecimento e civilização das quinta, sexta e sétima sub-raças</p><p>lemurianas. A quarta sub-raça continuou sendo de cabeça ovoide, estatura</p><p>de 7,40 m a 8,30 m, constituição frouxa e tosca e de cor preta; um que</p><p>medimos tinha 8,25 m de altura.47 Seus edifícios eram proporcionais à sua</p><p>altura, de construção ciclópica, feita de enormes pedras.</p><p>Os Arhats foram, nas últimas sub-raças, os reis iniciados de que nos</p><p>falaram os mitos, mais verídicos neste ponto do que a própria história.</p><p>Esses reis iniciados se rodeavam de certo número de escolhidos, com os</p><p>quais formavam uma casta; ensinavam-lhes alguma arte de civilização e os</p><p>dirigiam e ajudavam a construir cidades. Segundo essas instruções,</p><p>levantou-se uma grande cidade na atual ilha de Madagáscar, e muitas obras</p><p>se edificaram sobre o grande Crescente. Como já dissemos, o estilo</p><p>arquitetônico foi colossal e de imponente grandiosidade.</p><p>Durante esse longo período mudou o aspecto físico dos lemurianos. O</p><p>olho central da parte superior da cabeça, à medida que cessava de funcionar,</p><p>foi se retirando da superfície para o interior, até formar a glândula pineal, ao</p><p>passo que os dois olhos (no princípio um de cada lado da cabeça),</p><p>começaram a se pôr em atividade. A fábula grega dos ciclopes é</p><p>evidentemente uma tradição da primitiva época lemuriana.</p><p>Havia então alguns animais domésticos, e vimos um lemuriano de</p><p>cabeça ovoide que conduzia um monstro escamoso, de aparência quase tão</p><p>repulsiva como a de seu amo. Comiam-se animais crus de toda espécie, pois</p><p>a algumas tribos humanas não lhes repugnava a carne; e certos bichos como</p><p>as nossas lesmas, caracóis e lagartas, porém muito maiores que seus</p><p>degenerados descendentes, eram um saboroso bocado para os lemurianos.</p><p>Durante o desenvolvimento da sexta sub-raça, foram enviados para a</p><p>Terra,48 do Nirvana Intercatenário, numerosos Iniciados com seus</p><p>discípulos, para se encarnarem nos melhores corpos que até então</p><p>houvessem sido formados pelo Manu da quarta Raça Raiz, a quem deviam</p><p>ajudar. Nos melhores desses corpos se encarnaram os que haviam esgotado</p><p>o carma, e seus ocupantes foram capazes de aperfeiçoá-los e obter deles</p><p>quanto lhes foi possível pedir. Esses Arhats e seus discípulos atuaram sob a</p><p>direção dos Senhores da Lua e dos Manus das terceira e quarta Raças</p><p>Raízes, e por sua ajuda evoluiu a sétima sub-raça, de cor branca-azulada,</p><p>que proporcionou homens e mulheres de tipo mais aperfeiçoado para servir</p><p>de posterior modelo ao Manu da quarta Raça.</p><p>CAPÍTULO 8</p><p>A QUARTA RAÇA RAIZ</p><p>Quase imediatamente após Sua chegada, começou o Chefe da Hierarquia a</p><p>tomar Suas disposições para o estabelecimento da quarta Raça Raiz,</p><p>valendo-se do futuro Manu para escolher os menores, mais densos e</p><p>melhores dos tipos lemurianos aproveitáveis. Enquanto o estabelecimento e</p><p>desenvolvimento da civilização sob a direção dos Reis Iniciados</p><p>prosseguiam entre os lemurianos, o Manu da futura Raça buscava</p><p>diligentemente os egos mais adequados ao Seu propósito, e lhes escolhia</p><p>encarnações apropriadas. Primeiro reuniu milhares de indivíduos, e por fim</p><p>escolheu um dentre eles, após provas que duravam vários anos, com muita</p><p>dificuldade, sem dúvida, em achar dignos progenitores da Raça que tinha de</p><p>estabelecer. Separou tribos inteiras, cujos indivíduos se cruzaram</p><p>em</p><p>matrimônio durante longos períodos, e escolheu os exemplares que lhe</p><p>pareceram mais adequados para serem transplantados, entrando Ele e Seus</p><p>discípulos na ascendência desses escolhidos, a fim de realçar o nível físico</p><p>do tipo humano.</p><p>Efetuou o Manu, simultaneamente, diversas experiências nas pontas da</p><p>Estrela, aproveitando as diferenças de clima. A princípio pareceu tarefa</p><p>impossível fazer nascer uma Raça branca do matrimônio de negros e</p><p>mulatos; porém, depois de gerações de seleção dentro de uma tribo, o Manu</p><p>logrou escolher um ou dois indivíduos e emparelhá-los com um ou dois</p><p>semelhantemente selecionados de outra tribo. O Manu da terceira Raça</p><p>havia desenvolvido um tipo de cor azul para Sua sexta sub-raça e outro</p><p>branco-azulado para a sétima sub-raça, embora a massa geral dos</p><p>lemurianos continuasse sendo negra. Parte da quarta sub-raça se misturou</p><p>com a azul, e muito lentamente foi se aperfeiçoando o tipo comum</p><p>lemuriano. Convém assinalar que ao aparecer em outras partes do mundo</p><p>um tipo ligeiramente colorido ou de melhor qualidade, era enviado ao Manu</p><p>e posto à Sua disposição, e o Manu lhe escolhia um marido ou mulher</p><p>adequados. Observamos um indivíduo que fora enviado ao Manu, da cidade</p><p>de Madagáscar, e também chegaram outros semelhantes de diversos pontos.</p><p>Com a chegada dos Iniciados a que nos referimos no capítulo anterior,</p><p>acelerou-se o progresso da espécie humana, pois o Manu aproveitou para a</p><p>modelação de Sua primeira sub-raça os corpos que os Iniciados</p><p>aperfeiçoaram ao morar neles. A quarta Raça teve, por fim, deste modo, um</p><p>refinado estabelecimento e excelente nutrição, graças ao grande número de</p><p>indivíduos evoluídos que guiaram e impeliram o progresso. Finalmente</p><p>pôde o Manu dispor dos corpos da sétima sub-raça lemuriana,</p><p>aperfeiçoados pelos Iniciados que os utilizavam, e os empregou como</p><p>núcleo da sub-raça ramohal, a primeira da quarta Raça, cujos indivíduos</p><p>foram os Iniciados e discípulos encarnados nos referidos corpos, sem que</p><p>entrasse a formar parte dessa etapa qualquer indivíduo dos que haviam</p><p>evoluído previamente na Cadeia Terrestre.</p><p>Subba Rao afirma que os lemurianos eram de cor negro-azulada, os</p><p>atlantes de vermelho-amarelada, e os ários branco-morenos. Vemos que o</p><p>Manu da quarta Raça elimina o azul da cor de Seu povo e através da cor</p><p>púrpura passa para o vermelho da sub-raça ramohal, para misturá-lo com o</p><p>branco-azulado da sétima sub-raça lemuriana e obter a primeira sub-raça</p><p>com aspecto já completamente humano, de sorte que poderia conviver entre</p><p>nós.</p><p>Uma vez completamente estabelecida a Raça-Tipo, o Manu dispôs dos</p><p>materiais necessários para o intenso vermelho-escuro dos toltecas, a terceira</p><p>sub-raça, que constituiu o povo mais esplêndido e imperial da Atlântida e</p><p>reteve por muitos milhares de anos o governo do mundo. Após longo</p><p>período de paciente trabalho e cerca de um milhão de anos de inquietudes e</p><p>cuidados, conseguiu o Manu produzir uma formosa semelhança do tipo que</p><p>Lhe havia sido encomendado. Fundou então, definitivamente, a Raça; Ele</p><p>próprio tomou corpo, e em Sua própria família se encarnaram os Seus</p><p>discípulos, para que desta forma constituísse Sua posteridade a Raça por</p><p>Ele estabelecida. Em sentido estritamente liberal, o Manu de uma Raça é o</p><p>seu progenitor, pois toda ela descende fisicamente de seu Manu.</p><p>No entanto, os descendentes imediatos do Manu não eram de aspecto</p><p>muito agradável, se o julgarmos por nosso padrão atual, embora valessem</p><p>muito mais que o resto dos povos. Eram de estatura menor e de organização</p><p>nervosa rudimentar, com o corpo astral ainda imperfeito. Foi</p><p>verdadeiramente extraordinária a obra realizada pelo Manu, não só para</p><p>modelar semelhante corpo de maneira que se ajustasse aos Seus próprios</p><p>astral e mental, mas também para modificar o pigmento da pele até darlhe a</p><p>cor desejada para Sua Raça.</p><p>Desde então se sucederam muitas gerações antes que a jovem Raça</p><p>tomasse posse do continente atlante destinado para sua morada; mas uma</p><p>vez ali assentada, começaram a chegar carregamentos de egos procedentes</p><p>do Nirvana Intercatenário, para se encarnarem nos corpos da quarta Raça. O</p><p>Manu combinou com o Manu-Raiz que Lhe enviasse grande número de</p><p>egos dispostos para a encarnação, isto é, os do globo D da Cadeia Lunar,</p><p>que haviam completado o corpo causal e se individualizado durante a quarta</p><p>e quinta Rondas Lunares. Alguns desses egos se encarnaram na sub-raça</p><p>tlavatli, e outros, mais tarde, na tolteca, quando já se achava florescente.</p><p>Então se reencarnou o Manu nesta última, para fundar a cidade das Portas</p><p>de Ouro, primeira das várias que sucessivamente usaram este nome. A</p><p>fundação da citada cidade data de um milhão de anos, ou seja, 150.000</p><p>antes do primeiro cataclismo que desmembrou o continente atlante.</p><p>Por essa época os toltecas constituíram a raça governante por causa de</p><p>sua grande superioridade, pois eram de índole guerreira e se estenderam</p><p>pelo mundo para subjugar todos os povos, ainda que sem se misturarem</p><p>jamais em parte alguma com as classes inferiores. Ainda na mesma cidade</p><p>das Portas de Ouro só eram toltecas a aristocracia e a classe média; mas o</p><p>povo tinha o sangue adulterado pelo cruzamento com os prisioneiros de</p><p>guerra pertencentes a outras sub-raças, que os conquistadores haviam</p><p>reduzido à escravidão.</p><p>Por esse tempo chegou à Terra um carregamento de egos em um de</p><p>cujos grupos, que se mantinha muito unido, figuravam vários de nossos</p><p>antigos amigos, como Sírio, Órion, Leo e outros. Vaivasvata, o Manu da</p><p>quinta Raça, marcou alguns destes egos na orelha, para que formassem</p><p>parte de Seus futuros materiais. Apoiada nesta seleção, Blavatsky remonta o</p><p>estabelecimento da quinta Raça a um milhão de anos atrás, por mais que</p><p>sua saída da Atlântida tenha ocorrido no ano 79997 a.C. Os escolhidos</p><p>constituíram mais tarde um grupo cujo intervalo entre a morte e o</p><p>nascimento foi de 1.000 a 1.200 anos.49</p><p>Contudo, na época de que tratamos, os intervalos entre morte e</p><p>nascimento eram algo mais curtos, porque os materiais reunidos naquelas</p><p>primeiras existências não bastavam para determinar longos intervalos, por</p><p>mais longas que fossem. Os homens não eram ainda capazes de sentir</p><p>profundamente, se bem que realizassem algo peculiar da vida celeste, em</p><p>cujo mundo os egos permaneciam juntos, e os seres sutis da esfera</p><p>intuicional, com eles relacionados, demonstravam fortíssima afinidade entre</p><p>si.</p><p>Nas esferas inferiores se experimentava evidentemente um deprimente e</p><p>indeciso sentimento de “saudade”, como se estivessem muito vagamente</p><p>sentindo a ausência dos velhos amigos de anteriores existências e do</p><p>intervalo intercatenário, os quais permaneciam ainda adormecidos no</p><p>Nirvana Intercatenário, e não chegariam à Terra até 400.000 anos mais</p><p>tarde.</p><p>Na esfera intuicional, o grupo de 700 anos de intervalo estava</p><p>relacionado com o grupo de 1.200 anos; mas, quando o primeiro grupo</p><p>chegou à Terra, houve uma época de geral regozijo entre os egos da esfera</p><p>mental superior, porque iam com eles os futuros Mestres a quem amavam e</p><p>veneravam profundamente. Os diretamente relacionados com alguns</p><p>indivíduos do primitivo grupo estavam ainda no Nirvana, e outros haviam</p><p>chegado à Terra com o grupo dos 1.200 anos, contando-se entre eles os dois</p><p>futuros Mestres que na última encarnação foram de nacionalidade inglesa.50</p><p>A fim de que todos os indivíduos estivessem juntos numa mesma</p><p>encarnação, foi preciso retardar em uns e adiantar em outros o</p><p>renascimento.</p><p>Em uma daquelas vidas primitivas, um guerreiro chamado Corona,51</p><p>procedente da cidade das Portas de Ouro, submeteu a tribo tlavatli em que</p><p>nossos amigos haviam se encarnado; e ainda que inconscientes dos laços</p><p>que a eles o ligavam, recebeu a influência e os tratou com doçura, de modo</p><p>que em vez de os escravizar, lhes outorgou várias melhoras e incorporou a</p><p>tribo ao império tolteca. Sírio renasceu umas tantas vezes na sub-raça</p><p>tlavatli até passar para a tolteca. Mais adiante o vemos encarnado entre os</p><p>remohais, a fim de se relacionar com Ursa e outros companheiros. Depois</p><p>passa várias existências na quarta sub-raça,</p><p>a turânia (etapa chinesa) e</p><p>outras tantas na sexta sub-raça, ou acadiana. Posteriormente o vemos</p><p>dedicado ao comércio num povo semelhante aos futuros fenícios. Não se</p><p>encarnou nas sub-raças por ordem sucessiva; mas é atualmente muito difícil</p><p>generalizar sobre essa questão.</p><p>Continuavam chegando à Terra carregamentos de egos, e a causa</p><p>principal de sua separação parece que foi a maneira de se individualizarem.</p><p>Estavam misturados egos de todos os raios e temperamentos, embora de</p><p>semelhante grau de desenvolvimento geral; mas não o estavam aqueles egos</p><p>que diferiam nos intervalos entre a morte e o renascimento, nem tampouco</p><p>se misturavam as numerosas classes de homens lunares e animaishomens.</p><p>Ao passar o indivíduo de uma classe para outra superior, persistiam os</p><p>caracteres fundamentais distintivos, sem confundir umas classes com</p><p>outras, a menos que o indivíduo houvesse sido tomado da Ronda Interna e</p><p>submetido à especial compulsão. Mesmo os próprios cestoides, ao</p><p>completarem o seu corpo causal conservaram o rasgo distintivo de sua</p><p>origem.</p><p>O primeiro carregamento que conduzia o grupo dos 700 anos de</p><p>intervalo, chegou à Terra pelo ano 600000 a.C., ou seja, uns 250.000 anos</p><p>antes do primeiro cataclismo que desmembrou o continente atlante. Iam</p><p>nesse grupo os futuros Mestres Marte, Mercúrio e outros. Marte nasceu no</p><p>norte do território que ocupava a sub-raça tlavatli, e foi Súrya seu pai e</p><p>Mercúrio sua mãe, tendo Héracles por irmã maior. Era Súrya o Chefe de</p><p>tribo, da qual muito logo Marte, seu filho mais velho, se tornou o principal</p><p>guerreiro.52 Aos quinze anos de idade, este foi deixado como morto num</p><p>campo de batalha, mas foi procurado e encontrado por sua irmã, que lhe era</p><p>apaixonadamente dedicada e dele cuidou até o seu restabelecimento.</p><p>Sucedeu a seu pai como Chefe, e teve então a sua primeira experiência de</p><p>governo terrestre.</p><p>Houve um grupo pequeno mas interessante, composto somente de 105</p><p>indivíduos, que chegou à Terra por aquele mesmo ano 600000 a.C., embora</p><p>não vindo da Lua, mas de uma expedição composta de propósito pelo Chefe</p><p>da Hierarquia. Parece que esteve formada por alguns indivíduos que em</p><p>Vênus haviam sido animais prediletos dos Senhores da Chama, e tão</p><p>firmemente ligados a Estes pelo carinho, que não teriam podido evoluir sem</p><p>Eles. Haviam se individualizado em Vênus, de onde os tirou o Chefe da</p><p>Hierarquia, colocando-os nos primeiro e segundo raios.</p><p>Houve outros pequenos grupos de evolução anormal, e um dentre eles,</p><p>correspondente à terceira Ronda, foi enviado ao planeta Mercúrio, de onde</p><p>voltou a sair depois de submetido às condições especiais desse planeta.</p><p>Alguns passaram por tratamentos dessa espécie, com o fim de prepará-los</p><p>para a quinta Raça Raiz.53</p><p>O terceiro nascimento terrestre de Héracles teve por lugar a mesma tribo</p><p>em que se viram reunidos alguns indivíduos do grupo. Estavam algo</p><p>civilizados, mas as casas eram simplesmente choças, e o clima quente os</p><p>obrigava a usar roupas leves. Esta vida de Héracles teve por característica o</p><p>reatamento dos repulsivos laços com Escorpião, que se revestiram de certa</p><p>importância. A tribo em que militava Héracles foi atacada por outra</p><p>completamente selvagem a que pertencia Escorpião. Era plano deste</p><p>surpreender a tribo inimiga e exterminá-la em sacrifício à divindade, ou do</p><p>contrário suicidar-se para deste modo atormentar os inimigos do outro</p><p>mundo. A tribo de Escorpião praticava ritos de natureza pitônica, que,</p><p>embora secretos, eram conhecidos de Héracles. O suicídio era indispensável</p><p>para realizar o projeto da atividade post-mortem, e os feitiços com terríveis</p><p>maldições e conjuros chegaram a ser então efetivos, com resultado tanto</p><p>mais temido dos inimigos, por isso conheciam as suas consequências.</p><p>Fracassado o ataque, começaram os selvagens a suicidar-se entre grosseiros</p><p>ritos; mas Héracles, em parte porque sua religião proibia o suicídio, em</p><p>parte porque o animavam temores supersticiosos e também porque os</p><p>selvagens podiam servir de musculosos escravos, interveio para salvar do</p><p>suicídio muitos deles, mantendo-os prisioneiros. Mais tarde, esses tramaram</p><p>uma invocação de magia contra a vida de Héracles, que os condenou à</p><p>morte, e desde então se reproduziu na Terra a prolongada série de</p><p>antagonismos, não extinta ainda.</p><p>Convém ter em conta, para explicar a intimidade dos laços estabelecidos</p><p>entre diversos indivíduos e mantidos durante centenas de vidas, que desta</p><p>época em diante certo número de seres dentre os grandes grupos de 1.200 e</p><p>700 anos, constituiu a que podemos chamar “Tribo”, cujos membros</p><p>conservaram suas recíprocas relações de parentesco na multidão de países</p><p>onde se encarnaram; e especialmente Sírio raramente contraiu matrimônio</p><p>fora desse reduzido grupo. Numa rápida visão, vemos que algumas vezes</p><p>esteve reunida toda a tribo, como, por exemplo, quando Marte era rei da</p><p>cidade das Portas de Ouro; quando foi imperador no Peru; no continente,</p><p>perto da Ilha Branca, sob o mando do Manu; e nos começos da segunda e</p><p>terceira sub-raças arianas, na época das emigrações, para citar só uns</p><p>poucos exemplos.</p><p>Héracles se converteu em combatente soldado, estreitamente ligado a</p><p>Marte; Sírio, de temperamento mais pacífico, seguiu continuamente</p><p>Mercúrio; Alcione e Mizar pertenceram também a esse grupo. Contudo,</p><p>bom número de indivíduos pertencentes aos grupos mais extensos, com os</p><p>quais estivemos muito familiarizados naqueles primitivos tempos, ficou</p><p>pelo caminho e não o encontramos nesta vida. Alguns estarão precisamente</p><p>agora no mundo celeste.</p><p>A Sociedade Teosófica é outro exemplo da reunião dessa mesma tribo, e</p><p>nela ingressaram continuamente pessoas que com o tempo voltarão a ser</p><p>antigos amigos. Há os que, como Corona, estão precisamente agora</p><p>esperando uma conjuntura favorável de reencarnação.</p><p>Por longo tempo continuaram chegando carregamentos à Terra, até que</p><p>cessou a remessa ao ocorrer a catástrofe de 75000 anos a.C., de modo que a</p><p>frase porta fechada se aplica unicamente à passagem do reino animal para o</p><p>reino humano, mas não às entidades cujo corpo causal estava já</p><p>desenvolvido. Os monos antropoides cujos corpos são humanos, segundo</p><p>afirma Blavatsky, pertencem ao reino animal da Lua, mas não ao da Terra,</p><p>pois se encarnaram nos corpos engendrados pelo “pecado dos amantes”, e</p><p>são os gorilas, chimpanzés, orangotangos, cinocéfalos e longímanos.</p><p>Habitam na África, onde se podem encarnar entre as ainda existentes</p><p>insignificantes raças humanas do tipo lemuriano.</p><p>No ano 220000 a.C. vemos Marte no trono imperial da cidade das</p><p>Portas de Ouro, com o título hereditário de “Rei Divino”, transmitido pelos</p><p>grandes Iniciados dos primeiros tempos, que haviam governado no passado.</p><p>Mercúrio era o hierofante maior, ou Sumo Pontífice da religião do Estado.</p><p>Cabe notar que esses dois personagens aparecem unidos através dos</p><p>séculos; um sempre como governante e guerreiro, e o outro sempre como</p><p>instrutor e sacerdote. Também é notável que nunca vejamos Marte em corpo</p><p>feminino, ao passo que Mercúrio o toma de quando em quando.</p><p>A tribo ou grupo estava totalmente reunida naquela época. Vajra era o</p><p>herdeiro da coroa; e Ulisses, que havia alcançado vitórias na fronteira,</p><p>comandava a Guarda Imperial, formada por soldados escolhidos que,</p><p>mesmo os rasos, pertenciam à nobreza e lhes estava confiada a guarda do</p><p>palácio. Não saíam para as campanhas e somente rodeavam a pessoa do</p><p>monarca nas cerimônias da corte, cujo esplendor aumentavam com seus</p><p>soberbos uniformes. Contudo, morto Ulisses, recebeu Vajra o comando da</p><p>Guarda Imperial e pela persuasão pôde conseguir que seu pai lhe permitisse</p><p>entrar em campanha com sua gente. Como era homem de caráter inquieto e</p><p>turbulento, não lhe satisfazia aquela vida sedentária de luxo e ostentação,</p><p>além do que os soldados o adoravam por seu intrépido valor e lhes apetecia</p><p>trocar seus dourados peitos pelo severo armamento do guerreiro. Entre os</p><p>soldados da Guarda Imperial estavam alguns de nossa tribo, como Héracles,</p><p>Píndaro, Beatriz, Gêmini, Capela, Lutécia, Belona, Ápis, Arcor,</p><p>Capricórnio, Teodoro, Escoto e Safo. Héracles</p><p>tinha a seu serviço, na</p><p>qualidade de pagens, três jovens tlavatlis (Hygeia, Bootes e Alcmene), que</p><p>seu pai havia capturado numa batalha e lhe dado de presente. Os soldados</p><p>eram notoriamente desordeiros, muito inclinados a comilanças e bebedeiras,</p><p>com escândalo da cidade; mas tinham a virtude de respeitar os eruditos,</p><p>reverenciar os sacerdotes e assistir às cerimônias religiosas em</p><p>cumprimento dos seus deveres palacianos. Regiam-se por certo código de</p><p>honra, severamente observado, cujas regras incluíam a proteção do débil.</p><p>Não careciam de refinamentos, segundo a moda, mas não se adaptavam às</p><p>ideias modernas.</p><p>Não devemos passar por alto pela morte de Ulisses, o capitão da</p><p>Guarda, porque se ligou com indissolúveis laços aos três personagens que</p><p>intervieram naquela cena. O imperador Marte havia posto ao cuidado do</p><p>capitão da Guarda seu filho Vajra, moço atrevido e inquieto; e como então</p><p>se maquinavam perigosas conjuras na cidade das Portas de Ouro, e teria</p><p>sido um grande triunfo para os conspiradores apoderarem-se da pessoa do</p><p>príncipe herdeiro, não queria Ulisses deixá-lo sair sozinho do palácio, ainda</p><p>que lhe desgostasse a proibição. Estavam um dia o capitão e o príncipe</p><p>sentados fora do palácio, quando um bando de audazes conspiradores</p><p>surgidos repentinamente dentre os arbustos, onde espreitavam ocultos, se</p><p>atiraram contra ambos e os agrediram. O príncipe caiu sem sentidos; mas</p><p>Ulisses, escudando-o com seu corpo, defendeu-se destemidamente contra os</p><p>agressores enquanto gritava por auxílio, ao que, ouvido do palácio,</p><p>acudiram alguns soldados da Guarda, no momento em que o capitão,</p><p>crivado de feridas, caía sobre o corpo do príncipe e escapavam os</p><p>conspiradores. Os soldados carregaram os corpos desmaiados em direção ao</p><p>palácio e os colocaram no salão do trono, aos pés do imperador ali sentado.</p><p>Então, o moribundo capitão entreabriu os olhos e, voltando-os para o</p><p>soberano, exclamou: “Perdoai-me, senhor; fiz tudo quanto pude”. O</p><p>imperador se aproximou dele e, banhando o dedo no sangue que lhe</p><p>escorria do peito, assinalou-lhe a fronte com ele, e depois à sua própria e a</p><p>seus pés, ao mesmo tempo que sua harmoniosa voz quebrava o silêncio da</p><p>cena, dizendo: “Pelo sangue derramado em minha defesa e a dos meus,</p><p>nunca jamais se romperão os laços entre nós. Vai em paz, fiel servidor e</p><p>amigo”.</p><p>Os ouvidos apagados do moribundo puderam ainda escutar aquelas</p><p>palavras. Ulisses sorriu e expirou. O jovem príncipe, que somente estava</p><p>desmaiado, recuperou os sentidos. O vínculo perdurou milênio após</p><p>milênio, e tornou-se o laço inquebrantável entre Mestre e discípulos.</p><p>As vidas de Héracles não ofereceram nada de notável durante longo</p><p>tempo, pois quando se encarnava em corpo masculino, sua ocupação era a</p><p>guerra, e quando em corpo feminino, era ter numerosa prole.</p><p>A propagação da magia negra entre os atlantes motivou o segundo</p><p>grande cataclismo do ano 200000 a.C., que deixou as vastas ilhas de Ruta e</p><p>Daitya como restos do vasto continente que havia unido a Europa e África</p><p>com a América. Subsistiram estas ilhas até que a catástrofe do ano 75025</p><p>a.C.54 as submergiu nas águas do atual Oceano Atlântico.</p><p>Durante os cem mil anos seguintes, o povo atlante prosperou</p><p>abundantemente, até formar uma poderosa e superexuberante civilização,</p><p>cujo foco era a cidade das Portas de Ouro, de onde foi se difundindo por</p><p>toda a África e Ocidente.</p><p>Mas, infelizmente, com a civilização se propagou também o</p><p>conhecimento do domínio da natureza, que aplicado para fins egoístas, é</p><p>magia negra. Nela caíram em maior ou menor grau alguns indivíduos de</p><p>nosso grupo, umas vezes por haver nascido no seio de famílias magonegras</p><p>e outras porque a praticaram em brincadeiras e ficaram algo contaminados</p><p>com suas práticas. Podemos recordar agora que essas práticas de magia</p><p>negra foram a causa dos sonhos que atormentaram Alcione55 numa vida</p><p>posterior. Tiveram lugar numa existência cerca de 100000 a.C. Corona era</p><p>imperador branco da cidade das Portas de Ouro; Marte era um de seus</p><p>generais, e Héracles era esposa de Marte. Rebentou uma formidável</p><p>rebelião capitaneada por um homem de estranhos e malignos</p><p>conhecimentos, um “Senhor da Face Tenebrosa”. Aliado com os sombrios</p><p>espíritos da Terra,56 que formam o “Reino de Pã”, foi reunindo ao redor de</p><p>si um poderoso exército, que o aclamou como imperador do Sol da Meia-</p><p>Noite, o imperador tenebroso em oposição ao imperador Branco.</p><p>Estabeleceu um culto de si mesmo como ídolo central, com enormes</p><p>imagens suas erguidas nos templos e cerimônias desenfreadamente</p><p>sensuais, que atraíam os homens pela satisfação de suas paixões animais.</p><p>Opostamente à branca cripta de iniciação na cidade das Portas de Ouro,</p><p>estabeleceu-se a cripta tenebrosa para celebrar os mistérios de Pã, o deus da</p><p>Terra. Tudo se encaminhava para outro tremendo cataclismo.</p><p>Umas cento e vinte vidas atrás, era Alcione filho de um seguidor dos</p><p>abomináveis ritos desse tenebroso culto; mas ainda que no princípio se</p><p>mantivesse muito afastado deles e se retraísse das selvagens orgias de</p><p>bestialidade que avassalavam a maioria dos adoradores, acabou, como</p><p>vulgarmente acontece, por prender-se à beleza de uma mulher e nisso</p><p>encontrou um destino adverso. Aquele sucesso nos faz conhecer as</p><p>condições que posteriormente descarregaram sobre os atlantes a pesada</p><p>sentença pronunciada pela Hierarquia Oculta.</p><p>CAPÍTULO 9</p><p>A MAGIA NEGRA ENTRE OS ATLANTES</p><p>Episódio</p><p>Alcione está meio adormecido, meio desperto, na musgosa e inclinada</p><p>margem de um tumultuoso curso d’água. Seu rosto, mais ansioso que</p><p>perplexo, reflete a perturbação de sua mente. É filho de uma rica e poderosa</p><p>família pertencente ao “Sacerdócio do Sol de Meia-Noite”, dedicado ao</p><p>serviço dos deuses do mundo inferior, cujos sacerdotes buscavam na</p><p>escuridão da noite, nas tenebrosas cavernas subterrâneas, a passagem para</p><p>abismos cada vez mais profundos e desconhecidos.</p><p>Então, as principais nações cultas da Atlântida se haviam dividido em</p><p>dois campos opostos. Um deles tinha por metrópole sagrada a antiga cidade</p><p>das Portas de Ouro, e conservava o tradicional culto de sua raça, o culto do</p><p>Sol, já na beleza do horto revestido das brilhantes cores da aurora e rodeado</p><p>dos radiantes mancebos e donzelas de sua corte; já no auge de sua glória,</p><p>em seu deslumbrante resplendor meridiano, quando difunde por toda parte</p><p>seus cintilantes raios de luz e calor; já no esplêndido leito de seu ocaso,</p><p>quando se colore de suavíssimos e esquisitos tons as nuvens, que atrás de si</p><p>deixa como promessa de sua volta.</p><p>O povo adorava o Sol com danças, corais, incenso, flores, alegres</p><p>cantos, trovas e baladas, oferendas de ouro e joias, e divertidos jogos e</p><p>desportos. O Imperador Branco governava os filhos do Refulgente Sol, e</p><p>sua estirpe havia mantido sobre eles durante milhares de anos indisputável</p><p>senhorio. Mas, pouco a pouco, os distantes reinos governados por vice-reis</p><p>se declararam independentes e estabeleceram uma confederação encabeçada</p><p>por um homem de sinistra influência que apareceu entre eles. Esse homem,</p><p>chamado Oduarpa, de caráter ambicioso e astuto, concebeu que, para</p><p>consolidar a Federação e fazer oposição ao Imperador Branco, era</p><p>necessário recorrer à magia negra, pactuar com os moradores do mundo</p><p>inferior e estabelecer um culto que atraísse o povo por meio dos prazeres</p><p>sensuais e dos impiedosos poderes mágicos colocados em mãos de seus</p><p>adeptos. Em consequência do pacto com as potências tenebrosas, havia</p><p>Oduarpa prolongado a sua vida mais além do término normal e tornou seu</p><p>corpo invulnerável aos golpes de lança e pontas de espada, mercê da</p><p>materialização de uma couraça metálica que o escudava dos pés à cabeça</p><p>como uma cota de malha. Aspirava Oduarpa ao poder supremo e estava a</p><p>caminho de alcançá-lo, com a presunção de coroar-se no palácio da cidade</p><p>das Portas de Ouro.</p><p>O pai de Alcione era um dos mais íntimos amigos de Oduarpa, cujos</p><p>ocultos projetos conhecia, e ambos esperavam que o rapaz os ajudasse</p><p>resolutamente na realização de suas ambições. Mas Alcione tinha desejos e</p><p>esperanças distintos, que caladamente alimentava em</p><p>seu coração. Havia</p><p>visto em sonhos a majestosa figura de Marte, um dos generais de Corona, o</p><p>Imperador Branco; havia recebido o influxo de sua profunda e dominante</p><p>vista e escutado como se ao longe ressoassem estas palavras: “Alcione; és</p><p>meu e dos meus, e certamente virás a mim e te reconhecerás como meu.</p><p>Não te comprometas com meus inimigos, porque és meu”. E Alcione havia</p><p>prometido ser súdito de Marte, como os subordinados de seu senhor.</p><p>Nisto pensava Alcione, embalado pelo rumor do pequeno curso d’água,</p><p>porque sentia em si outra influência e seu sangue circulava ardente em suas</p><p>veias. Desgostoso Oduarpa da indiferença, ou melhor, do retraimento de</p><p>Alcione no tocante ao culto religioso, mesmo em seus ritos externos de</p><p>sacrifícios animais e excitantes bebedeiras, pensou em atraílo para os ritos</p><p>secretos pelos agrados de uma jovem (Cisne), bela como o estrelado céu da</p><p>meia-noite, que o amava profundamente sem lhe haver conseguido cativar o</p><p>coração. Entre o fosco brilho e a semifascinadora vista dos olhos de Cisne,</p><p>flutuava a esplêndida visão, e de novo ouvia as comoventes e murmurantes</p><p>palavras: “És meu”.</p><p>A mãe de Cisne, velha bruxa da pior espécie, sugeriu à sua filha o único</p><p>meio possível para conquistar o coração de Alcione, que foi o de obter dele</p><p>a promessa de que a acompanharia às criptas em que se celebravam os ritos</p><p>mágicos trazidos de seus antros pelos moradores do mundo inferior, para</p><p>adquirir mediante esses ritos o proibido conhecimento de mudar a figura</p><p>humana em animal, e dar com isso rédeas soltas às brutais paixões da</p><p>luxúria e crueldade ocultas no homem.</p><p>Movida por sua própria paixão, Cisne influiu habilmente no coração de</p><p>Alcione, até converter-lhe em fogo a indiferença; não em fogo permanente,</p><p>mas que realmente ardia enquanto durava. Então sua paixão se inflamou, e</p><p>acabou por abalá-lo o poder sedutor dela. Pois mal havia ela se despedido</p><p>dele, após arrancar-lhe a promessa de se encontrar com ela logo depois do</p><p>sol posto, nas imediações da cripta onde se celebravam os mistérios, sentia-</p><p>se ele em luta entre as ânsias de segui-la e sua repugnância pelas supostas</p><p>cenas em que o esperariam para tomar parte. O Sol mergulhou no horizonte</p><p>e a noite envolveu o céu em seu manto, enquanto Alcione ainda permanecia</p><p>pensativo; mas bruscamente se pôs de pé, agora com mente decidida, e</p><p>dirigiu seus passos para o rendez-vous.</p><p>Com surpresa sua, estava reunido naquele lugar um número</p><p>considerável de pessoas. Ali se achava seu pai com sacerdotes amigos, e</p><p>enfeitada com uma meia-lua na cabeça, em sinal de noivado, viu Cisne</p><p>rodeada de um grupo de donzelas vestidas em traje de gaze coalhada de</p><p>estrelas, que deixava entrever confusamente as faces morenas. Também o</p><p>aguardava um grupo de jovens de sua idade, entre os quais reconheceu seus</p><p>mais íntimos amigos que, vestidos de malhadas peles de animais e levando</p><p>leves címbalos que entrechocavam, dançavam ao redor de Alcione como</p><p>faunos.</p><p>Ao vê-lo, exclamaram: “Salve! Alcione, favorito do Sol Tenebroso,</p><p>filho da Noite. Olha onde te esperam tua Lua e suas Estrelas; mas antes</p><p>deves conquistá-la de nós, seus defensores”.</p><p>Subitamente foi Cisne lançada no meio dos dançarinos, e desapareceu</p><p>na escuridão da cripta escancarada em frente, ao mesmo tempo que alguns</p><p>pegaram Alcione, o despiram de suas vestimentas e lhe puseram uma pele</p><p>semelhante à que vestiam. Transtornado e fora de si, lançou-se então</p><p>Alcione na sequência de Cisne, enquanto aquele tropel exclamava entre</p><p>risos e vozes: “Eia! Jovem caçador; sê célere, antes que os sabujos abatam</p><p>tua querida”.</p><p>Após rápidos minutos, Alcione, seguido muito de perto pelo tropel de</p><p>jovens uivantes, correu para a cripta e se viu num espaçoso salão iluminado</p><p>de luz avermelhada. No centro se erguia um enorme dossel vermelho</p><p>matizado de grandes carbúnculos que refletiam para trás a luz, como</p><p>borbotões de sangue aceso. Sob o dossel havia um trono de cobre</p><p>marchetado de ouro, e diante dele uma entreaberta cratera da qual brotavam</p><p>sinistras e brilhantes línguas de fogo. Pesadas nuvens de incenso enchiam o</p><p>ar, intoxicando e enlouquecendo.</p><p>O tropel empurrou Alcione para diante, até metê-lo num desenfreado e</p><p>tumultuoso torvelinho de dançarinos, que rodeando o encoberto trono,</p><p>vociferavam, uivavam, atiravam-se ao ar em saltos selvagens e gritavam:</p><p>“Oduarpa! Oduarpa! Vem, que estamos ansiosos por ti!”</p><p>Ao redor da cripta ressoou um surdo rumor de trovão cada vez mais</p><p>alto, até dar horroríssimo estalo precisamente acima das cabeças. As</p><p>chamas saltaram então com maior violência, e entre elas apareceu a</p><p>poderosa figura de Oduarpa, semelhante à de um Arcanjo caído, com a</p><p>magia de sua postura severa e majestática e seu semblante mais triste do</p><p>que grave, mas robustecido por seu indomável orgulho e férrea resolução.</p><p>Sentado Oduarpa no trono e acomodados por toda parte todos que o</p><p>seguiam, os quais, tristes e silenciosos, não participaram do desenfreio, ele</p><p>levantou a mão em sinal de que continuassem a insensata orgia. E os</p><p>selvagens saíam dentre as bordas da cratera.</p><p>Alcione, ao ver Cisne em meio dos mancebos e donzelas, atirou-se para</p><p>ela como um louco; mas ela esquivou o encontro e sua comitiva zombou</p><p>dele, de modo que só pôde tocá-la para convencer-se de que a haviam</p><p>arrebatado para fora de seu alcance. Por último, fora de si e ofegante, deu</p><p>um desesperado empurrão e os do cortejo escaparam então cada qual com</p><p>uma rapariga, deixando que Alcione se arremessasse sobre Cisne para</p><p>estreitá-la em seus braços.</p><p>Naquele ponto cresceu a orgia desenfreada, e entraram os escravos; uns</p><p>com enormes cântaros de licores ardentes e outros com copos para distribuí-</p><p>los. A embriaguez da bebida se acrescentou à do baile, e as sinistras luzes</p><p>tomaram as vermelhas tintas do crepúsculo. Sobre o resto da orgia é</p><p>preferível calar a escrever.</p><p>Mas eis que do mesmo lugar por onde havia aparecido Oduarpa chega</p><p>uma estranha procissão de peludos bípedes de longos braços e garras nos</p><p>pés e mãos, com cabeça de bruto e cobertos de crinas que lhes caíam sobre</p><p>os ombros; horrorosas e assustadoras figuras que, sem serem de todo</p><p>definidas, eram horrivelmente humanas. Nas recurvadas mãos levavam</p><p>caixas e redomas, e ao se unirem aos mais desenfreados dançantes,</p><p>aumentaram com embriaguez e luxúria a loucura daqueles dissolutos, cujos</p><p>corpos os monstros lambuzaram com a gordura que levavam nas caixas, e</p><p>lhes deram a beber o conteúdo das redomas. Então caem sem sentidos ao</p><p>solo, em confusa mistura, e de cada montão surge uma forma animal de</p><p>arreganhado e furioso semblante, que desaparece da cripta para sumirse nas</p><p>negruras da noite.</p><p>Os resplandecentes deuses acodem em auxílio dos caminhantes que</p><p>encontram essas diabólicas materializações astrais, ferozes e sem</p><p>consciência em seu aspecto animal, e cruéis e astutas no humano; mas nessa</p><p>ocasião os resplandecentes deuses estão adormecidos e só saíram de seus</p><p>antros as hostes do Sol de Meia-Noite, os trasgos, duendes e demais</p><p>entidades malignas. Com as queixadas jorrando sangue e a pele enlameada</p><p>de imundícies, se vão essas criaturas antes que aponte o dia, e agachando-se</p><p>sobre os corpos amontoados no solo da cripta, neles se fundem e</p><p>desaparecem.</p><p>De vez em quando se celebravam orgias como a descrita, que Oduarpa</p><p>aproveitava para aumentar seu influxo no povo. Ele estabeleceu ritos</p><p>semelhantes em diversos pontos e em todos se erigiu em ídolo principal, de</p><p>modo que pouco a pouco foi objeto de adoração, até que conseguiu fazer</p><p>que o povo unisse sua vontade à dele no seu reconhecimento como</p><p>imperador. As relações de Oduarpa com os habitantes do mundo inferior57</p><p>lhe acrescentaram o poderio, e teve lugar-tenentes de confiança sempre</p><p>dispostos a lhe obedecer as ordens, ligados a ele por seu comum</p><p>conhecimento e cumplicidade nas horríveis abominações daquele reino.</p><p>Por fim conseguiu Oduarpa reunir um exército muito numeroso e</p><p>marchou contra o Imperador Branco, encaminhando-se diretamente para a</p><p>cidade das Portas de Ouro, com a esperança de intimidar e vencer não só</p><p>pela força das armas, como também pelo terror que</p><p>infundiriam seus magos</p><p>negros em figuras de animais. Tinha ele uma guarda especial formada</p><p>desses brutos de feitiçaria que, materializados por potentes formas de desejo</p><p>em corpos físicos, devoravam todos quantos traziam contra ele tentativas</p><p>hostis. Quando era incerto o êxito de uma batalha, Oduarpa soltava logo sua</p><p>horda de diabólicos aliados que, misturando-se na luta, semeavam a</p><p>dentadas e rasgões o pânico nas fileiras do sobressaltado inimigo, em cuja</p><p>fuga o perseguiam aqueles velozes demônios, com o acréscimo de que o</p><p>tropel de feiticeiros tomava igualmente formas animais para se infundirem</p><p>nos cadáveres.</p><p>Deste modo Oduarpa foi abrindo caminho sem desviar-se de sua direção</p><p>para o norte, até chegar próximo da cidade das Portas de Ouro, onde o</p><p>último exército do Imperador Branco o aguardava em ordem de batalha.</p><p>Alcione ia meio enfeitiçado nas fileiras de Oduarpa, mas com suficiente</p><p>conhecimento para sentir o coração magoado pelo ambiente que o rodeava,</p><p>ainda que Cisne com outras mulheres seguissem o exército em sua marcha.</p><p>Amanheceu o dia da batalha decisiva. Corona, o Imperador Branco,</p><p>comandava pessoalmente o exército imperial, e à frente da ala direita ia</p><p>Marte, o general de sua maior confiança. Na noite da véspera apareceu a</p><p>Alcione a visão de outrora, e ele voltou a escutar a amante voz que lhe</p><p>dizia: “Alcione; estás pelejando contra teu verdadeiro Senhor, e amanhã te</p><p>verás comigo cara a cara. Quebra tua rebelde espada e entrega-te a mim.</p><p>Morrerás a meu lado, e contudo, bom te será”.</p><p>Assim sucedeu de fato, porque no mais inflamado da luta, quando, já</p><p>morto o Imperador, retrocediam as tropas, viu Alcione, em sua investida</p><p>contra desproporcionado número de inimigos, o general Marte em cujo</p><p>rosto reconheceu o da visão. Deu então um grito, e quebrando a espada,</p><p>atira-se para Marte, empunha uma lança e atravessa com ela um soldado</p><p>que ia ferir o general pelas costas. Naquele momento arremete Oduarpa</p><p>furiosamente contra ambos, derruba Marte e com um grito que ressoa por</p><p>todo o campo, chama Cisne, transforma-a após rápido feitiço em besta feroz</p><p>que se atira com afiadas garras contra Alcione já desfalecido. Mas, no</p><p>mesmo instante, o amor que havia sido a vida de Cisne lhe gritou na alma e</p><p>a redimiu, e seu poderoso fluxo transfigurou a forma modelada pelo ódio</p><p>devorador na da amante mulher, que exalou o último suspiro ao beijar a</p><p>moribunda face de Alcione.</p><p>No assalto à cidade das Portas de Ouro, com que Oduarpa completou</p><p>sua vitória, ficou prisioneira Héracles, esposa de Marte, a qual, repelindo</p><p>indignada as solicitações do vencedor, lhe direcionou uma punhalada com</p><p>toda a sua força; mas a arma resvalou contra a cota de malha, e então</p><p>Oduarpa, com riso debochado, se atirou sobre ela, que meio desmaiada não</p><p>pôde resistir à violação. Ao recobrar Héracles o sentido, lançou Oduarpa</p><p>contra ela seus horríveis animais, que a despedaçaram e devoraram.</p><p>Entronizado Oduarpa sobre um monturo de cadáveres e rodeado de seus</p><p>guardas, de animais e semianimais, cingiu a coroa imperial na cidade das</p><p>Portas de Ouro e tomou o profanado título de “Rei Divino”. Mas seu triunfo</p><p>não foi de muita duração, porque o Manu Vaivasvata marchou contra ele</p><p>com poderoso exército. Sua só presença pôs em fuga os súditos do reino de</p><p>Pã e desvaneceu as enganosas formas mentais plasmadas pela magia negra.</p><p>Uma esmagadora vitória desbaratou o exército de Oduarpa, que se encerrou</p><p>numa torre para onde voou na derrota. O edifício foi incendiado, e ele</p><p>pereceu miseravelmente, torrado dentro de sua couraça metálica</p><p>materializada.</p><p>O Manu Vaivasvata purificou a cidade e restabeleceu nela o governo do</p><p>Imperador Branco na pessoa de um fiel servidor da Hierarquia. Tudo</p><p>marchou bem por algum tempo, até que pouco a pouco a malignidade foi</p><p>readquirindo poderio e tomou novo incremento no centro meridional. Por</p><p>último, o mesmo “Senhor da Face Tenebrosa” apareceu reencarnado, e</p><p>outra vez se pôs em luta contra o Imperador Branco de então, erigindo trono</p><p>contra trono. Então pronunciou o Hierarca a sentença de que nos fala o</p><p>Comentário Oculto:</p><p>O grande Rei da deslumbrante Face (o Imperador Branco) disse</p><p>aos seus principais irmãos: Preparai-vos. Alcem-se os homens da Boa</p><p>Lei e atravessem a terra enquanto está seca. Os Quatro (os Kumaras)</p><p>levantaram Sua vara. Soou a hora e a negra noite se aproxima. Os</p><p>servos dos Quatro Grandes avisaram seu povo e alguns escaparam.</p><p>Seus reis os colocaram em seus Vimanas58 e os conduziram para as</p><p>terras de fogo e metal (Oriente e Norte).59</p><p>Erupções de gases, dilúvios e terremotos destruíram as vastas ilhas</p><p>atlantes de Ruta e Daitya, que o cataclismo do ano 200000 a.C. havia</p><p>deixado, ficando apenas a ilha de Poseidonis, último resto do, há um</p><p>tempo, extenso continente da Atlântida. Aquelas duas ilhas pereceram</p><p>no ano 75025 a.C., e Poseidonis subsistiu até 9564 a.C., quando</p><p>também caiu sepultada no Oceano.60</p><p>CAPÍTULO 10</p><p>A CIVILIZAÇÃO DOS ATLANTES</p><p>Os atlantes com as suas sub-raças correspondentes povoaram muitos países</p><p>e fundaram esplêndidas civilizações. Estiveram no Egito, Mesopotâmia,</p><p>Índia e Américas do Norte e Sul. Os impérios por eles erigidos subsistiram</p><p>durante muito tempo e chegaram a um cume de glória que a raça ária não</p><p>superou ainda. Embora nos capítulos XI e XIII da presente obra, que tratam</p><p>do Peru e Caldeia, descrevêssemos os restos da grandeza atlante, podem</p><p>servir de complemento a essa descrição alguns pormenores adicionais.</p><p>Ouçamos como Scott-Elliot descreve a famosa cidade das Portas de Ouro:</p><p>O terreno que circunda a cidade estava formosamente arborizado em</p><p>estilo de parque, e dispersas em sua vasta área, erguiam-se as quintas</p><p>dos ricos. Ao ocidente se via uma cadeia de montanhas, de onde se</p><p>tirava a água para o abastecimento da povoação.</p><p>Assentava-se a cidade nas encostas de uma colina, com uns 154</p><p>metros de altura sobre o nível do planalto. No cume dessa colina</p><p>estava o palácio imperial, com seus jardins, em cujo centro brotava da</p><p>terra um inesgotável manancial, que depois de abastecer o palácio e as</p><p>fontes dos jardins, se desviava nas quatro direções cardinais, para cair,</p><p>formando cascatas, no fosso que, cercando os terrenos do palácio, o</p><p>isolava da cidade, estendida lá embaixo, a um e outro lado.</p><p>Desse fosso ou canal saíam outros quatro para conduzir a água às</p><p>cascatas, que em cada um dos quatro distritos da cidade alimentava</p><p>outro fosso ou canal circundante, aberto em nível inferior.</p><p>Havia três desses canais, concentricamente dispostos, dos quais, o</p><p>exterior, de nível mais baixo, estava a maior altura que o rés do solo.</p><p>Um quarto canal, cujo leito se abria ao mesmo nível da planície,</p><p>recebia o fluxo constante das águas e as derramava no mar. A cidade</p><p>se estendia por parte da planície, até a margem deste grande fosso</p><p>externo, que rodeava e defendia com suas águas em uma extensão de</p><p>cerca de cento e vinte milhas quadradas (uns 311 quilômetros</p><p>quadrados).</p><p>Disto se deduz que a cidade estava dividida em três grandes</p><p>recintos, cada um deles cercado por seu respectivo canal ou fosso. A</p><p>característica do recinto superior, que se estendia no nível</p><p>imediatamente inferior aos terrenos do palácio, era um estádio circular</p><p>para corridas esportivas e vastos jardins públicos. Nesse recinto</p><p>também viviam os oficiais da corte, e existia, além disso, uma</p><p>instituição sem igual em nossos tempos: era a “Casa dos</p><p>Estrangeiros”. Entre nós teria ela pobre aparência e miserável</p><p>vizinhança, mas era um verdadeiro palácio, onde os estrangeiros</p><p>chegados à cidade recebiam hospedagem, à custa do governo, durante</p><p>todo o tempo que lhes conviesse permanecer ali.</p><p>As separadas casas dos vizinhos e os vários templos distribuídos</p><p>pela cidade, ocupavam os outros dois recintos. Nos dias do poderio</p><p>tolteca, parece que não se conhecia a pobreza, pois mesmo os escravos</p><p>limitados ao serviço doméstico eram bem alimentados e vestidos.</p><p>Contudo, havia umas tantas casas relativamente pobres na parte</p><p>setentrional do recinto inferior, assim como fora, junto ao canal que</p><p>desaguava no mar. Os vizinhos desse bairro se dedicavam em</p><p>sua</p><p>maior parte a funções marítimas, e suas casas, embora também</p><p>separadas, estavam mais próximas umas de outras do que as dos</p><p>demais distritos.</p><p>Na planície se erguiam grandes subúrbios protegidos por enormes</p><p>muralhas de terra, alguns com terraço, em declive para a cidade por um</p><p>lado, enquanto pelo oposto estavam encouraçados com pranchas metálicas,</p><p>juntas em séries e sustentadas por grandes arcos de madeira, cujas pontas</p><p>estavam profundamente fincadas no solo. Uma vez colocados os arcos,</p><p>entrelaçados com fortes travessões, se lhes aplicavam as placas em</p><p>disposição escalonada, e depois se tornava a encher de terra,</p><p>compactamente comprimido o espaço compreendido entre o solo e a</p><p>armação, formando em conjunto uma inexpugnável trincheira contra as</p><p>lanças, espadas e flechas, que eram as armas usuais da época. Mas, apesar</p><p>desta defesa, a cidade ficava exposta ao assalto pelo ar, pois os atlantes</p><p>levaram a muito excelente ponto a construção de navios aéreos ou aves de</p><p>guerra,61 que voavam sobre a cidade em pequenas frotas de ataque, e</p><p>descarregavam sobre ela uma chuva de densos e nocivos gases que</p><p>semeavam a morte. Os Puranas e epopeias da Índia aludem a estas</p><p>máquinas aéreas de guerra, dos conflitos ali relatados. Possuíam também</p><p>armas que projetavam salvas de flechas acesas nas pontas, que, percorrendo</p><p>o ar, espalhavam-se como foguetes, bem como muitas outras espécies de</p><p>armas similares, construídas todas por homens muito versados nos ramos</p><p>superiores do conhecimento científico. Muitas dessas armas vêm descritas</p><p>nos antiquíssimos livros acima mencionados, que a elas se referem como</p><p>tendo sido dados por algum Ser superior. Nunca se divulgavam os</p><p>conhecimentos necessários à sua fabricação.</p><p>Nos capítulos referentes ao Peru descreveremos o sistema agrário dos</p><p>toltecas, cujo bem-estar geral e ausência de mendigos eram em grande parte</p><p>devidos à universalização da educação primária. Os Sábios traçaram o</p><p>plano de governo político em benefício da coletividade, e não no exclusivo</p><p>de determinada classe social. Daí que o bem-estar geral se avantajasse</p><p>imensamente ao das civilizações modernas.</p><p>A ciência progredira muitíssimo, pois como a clarividência era habitual</p><p>entre eles, podiam observar facilmente os processos da Natureza, hoje</p><p>invisíveis para a maioria das pessoas. Também foram numerosas e úteis as</p><p>aplicações científicas às artes e ofícios. Os raios solares, focalizados por</p><p>meio de cristais coloridos, ativavam o crescimento de plantas e animais,</p><p>cuja criação e cruzamento, condicionados a princípios científicos, eram</p><p>fomentados para o melhoramento das espécies mais notáveis. Assim, por</p><p>exemplo, o cruzamento do trigo com diversas ervas produziu várias</p><p>categorias de grãos. Menos satisfatórias foram as experiências que das</p><p>abelhas produziram as vespas, e formigas brancas das formigas</p><p>propriamente ditas.62</p><p>A banana sem semente se derivou de uma espécie anterior semelhante</p><p>ao melão, e que, como esse fruto, continha muitas sementes. A ciência</p><p>daqueles tempos conheceu forças hoje ignoradas. Uma delas servia para a</p><p>propulsão das naves aéreas e marinhas; outra, para alterar de tal modo o</p><p>peso dos corpos, que a terra os repelia em vez de os atrair, tornando assim</p><p>possível levantar facilmente pedras enormes a alturas muito elevadas. A</p><p>mais sutil dessas forças não tinha aplicações mecânicas, mas era controlada</p><p>pela vontade, mediante o emprego do inteiramente conhecido e</p><p>desenvolvido mecanismo do corpo humano, “o viná63 de mil cordas”.</p><p>Os metais eram muito usados e admiravelmente trabalhados, sendo o</p><p>ouro, a prata e o cobre os mais empregados na decoração e utensílios</p><p>domésticos. Obtinham-nos com frequência mais por processos alquímicos</p><p>do que procurando-os nas minas, e costumavam combiná-los muito</p><p>artisticamente para enriquecer os planos decorativos, realçados de</p><p>brilhantes cores. As armas eram soberbamente incrustadas desses metais</p><p>preciosos; e as de gala, que só se ostentavam nas festas e cerimônias</p><p>públicas, eram todas de ouro ou prata, sendo que em tais solenidades</p><p>usavam elmos, peitorais e caneleiras de ouro sobre túnicas e calças de</p><p>formosas cores: vermelha, laranja e uma púrpura muito esquisita.</p><p>A alimentação diferia segundo a classe social. A plebe comia carne,</p><p>pescado e ainda répteis.64 O animal morto, com o seu conteúdo, depois de</p><p>abertos o peito e o ventre, era dependurado sobre um fogo intenso. Quando</p><p>estava bem assado, era todo retirado do fogo; o conteúdo era extraído e,</p><p>entre os mais educados, colocado em travessas. Ao passo que a gente mais</p><p>rústica se reunia ao redor do animal morto, e enfiando-lhe as mãos no</p><p>interior, escolhiam os bocados gostosos, pelo que às vezes havia disputas;</p><p>os restos eram jogados fora ou dados aos animais domésticos, sendo que a</p><p>carne propriamente dita era considerada refugo. As classes mais elevadas</p><p>apreciavam os mesmos alimentos, mas a aristocracia palaciana saboreava-</p><p>os em segredo. O Rei Divino e os intimamente ligados a ele comiam</p><p>somente alimento composto de grãos cozidos de várias maneiras: verduras,</p><p>frutas e leite, este último tomado como líquido ou preparado em quitutes.</p><p>Também tomavam suco de frutas. Alguns cortesãos e dignatários</p><p>observavam publicamente esse suave regime dietético; no entanto, foram</p><p>notados escondendo-se em seus aposentos com manjares mais apetitosos,</p><p>entre os quais, como hoje, a caça e o pescado gozavam de muito apreço.</p><p>O sistema de governo era autocrático, e nenhum outro poderia ter</p><p>aproveitado melhor a felicidade do povo, nos florescentes dias da</p><p>civilização tolteca, sob os Reis Divinos. Mas quando seu poder absoluto</p><p>passou para mãos de almas mais jovens, começaram os abusos, que geraram</p><p>distúrbios, pois ali, como em todas as partes, a decadência tem por ponto</p><p>inicial a corrupção das classes superiores. Os governadores das províncias</p><p>deviam velar pelo bem-estar e felicidade de seus governados, sendo que à</p><p>sua inaptidão se atribuíam os crimes cometidos e as fomes sobrevindas no</p><p>território de sua jurisdição. No geral, os governadores pertenciam às classes</p><p>elevadas da sociedade; mas as crianças mais promissoras e inteligentes</p><p>ingressavam nas escolas superiores, onde eram educadas para o serviço do</p><p>Estado. O sexo não constituía impedimento, como o é agora, para o</p><p>desempenho de cargos oficiais.65</p><p>O enorme acréscimo da riqueza e o luxo foram arruinando</p><p>gradualmente a civilização mais esplêndida até agora vista no mundo.</p><p>Desprezouse o conhecimento subordinando-o ao proveito individual, e o</p><p>domínio das forças da Natureza foi colocado a serviço da opressão. Daí a</p><p>queda dos atlantes, a despeito da glória de suas conquistas e do poderio de</p><p>seus impérios, e tendo a liderança do mundo passado para as mãos da Raça</p><p>filha da atlante, a ariana, a qual, embora tenha a seu crédito magníficas</p><p>conquistas no passado, não atingiu ainda o auge de sua glória e poderio, e</p><p>dentro de alguns séculos superará a atlante de seus mais florescentes dias.</p><p>A fim de dar uma descrição mais vívida e detalhada do nível a que</p><p>chegaram os atlantes, escolhemos duas civilizações, originadas da atlante,</p><p>que se desenvolveram nos últimos tempos, longe do centro principal da</p><p>quarta Raça Raiz. Uma delas descendia da terceira sub-raça, a tolteca, e a</p><p>outra, da quarta sub-raça, a turânia.</p><p>As investigações a ela referentes não formaram parte das realizadas no</p><p>verão de 1910, e contidas na presente obra, porém seus mesmos autores as</p><p>concluíram durante a última década do século XIX, em colaboração com</p><p>outros membros da Sociedade Teosófica, cujos nomes não devemos</p><p>publicar. Um dos autores condensou essas investigações em The</p><p>Theosophical Review, que agora aparecem como parte de um trabalho</p><p>muito mais extenso.</p><p>CAPÍTULO 11</p><p>DUAS CIVILIZAÇÕES ATLANTES</p><p>(OS TOLTECAS DO ANTIGO PERU, 12000 ANOS A.C.)</p><p>A civilização do Peru,66 no décimo terceiro milênio antes de Cristo,</p><p>assemelhou-se tão estreitamente à do império tolteca em seu auge, que,</p><p>tendo-o estudado detidamente, o utilizamos aqui como um exemplo da</p><p>civilização atlante. Em seus períodos atlanteanos, o Egito e a Índia</p><p>ofereceram outros</p><p>exemplos, mas, no conjunto, os traços principais do</p><p>império tolteca se acham melhor reproduzidos no Peru aqui descrito. O</p><p>governo era autocrático, e naqueles dias não seria possível nenhuma outra</p><p>forma de governo.</p><p>Para mostrar a razão disso, temos que retroceder em pensamento a um</p><p>período muito primitivo, à segregação surgida da grande quarta Raça Raiz.</p><p>É evidente que, quando o Manu e Seus lugar-tenentes (grandes Adeptos</p><p>provindos de uma evolução muito superior) se encarnavam entre a juvenil</p><p>Raça que trabalhavam por desenvolver, Eles eram para esses povos como</p><p>Deuses absolutos em poder e conhecimento, tão mais adiantados Se</p><p>achavam em todos os aspectos concebíveis. Sob tais circunstâncias, não</p><p>cabia outra forma governamental senão a autocracia, pois sendo o Monarca</p><p>a única pessoa que realmente sabia tudo, a ele competia dirigir tudo. Esses</p><p>grandes Seres foram, por isso, os naturais monarcas e diretores da infantil</p><p>humanidade, e o povo os obedecia facilmente, porque todos consideravam</p><p>que a sabedoria lhes dava autoridade, e que a coisa mais valiosa que podia</p><p>receber deles o ignorante, era a de seu governo e guia. Assim é que a</p><p>organização da sociedade proveio, como deve provir toda a boa</p><p>organização, de cima e não de baixo, e conquanto fosse se expandindo a</p><p>nova Raça, persistiu este princípio de governo, sobre o qual se fundaram as</p><p>poderosas monarquias da remota antiguidade, na maioria dos casos</p><p>começadas sob o mandato de grandes Reis-Iniciados, cujo poder e</p><p>sabedoria guiavam Seus infantis Estados através das primeiras dificuldades.</p><p>Sucedeu com isso que, embora os verdadeiros Monarcas Divinos</p><p>transmitissem Sua autoridade para as mãos de Seus discípulos, subsistiu o</p><p>mesmo regime político, e, portanto, os fundadores de um novo reinado se</p><p>esforçavam sempre por imitar, tão fielmente quanto lhes era possível, as</p><p>esplêndidas instituições dadas já ao mundo pela Sabedoria Divina. Somente</p><p>quando o egoísmo se interpôs entre o povo e o rei, sobrevieram alterações</p><p>do regime estabelecido, com imprudentes ensaios de governos, cujo</p><p>estímulo foram a ambição e a cobiça, em vez do cumprimento do dever.</p><p>No período que vamos descrever (12000 anos a.C.), fazia já muitos</p><p>milhares de anos que as primitivas cidades das Portas de Ouro estavam</p><p>sepultadas sob as ondas. E embora o mais poderoso rei da ilha de</p><p>Poseidonis se atribuísse ainda o vistoso título que pertencera a elas, não</p><p>seguia ele os métodos de governo que lhes haviam assegurado uma</p><p>estabilidade muito superior à das comuns instituições humanas. Contudo,</p><p>alguns séculos antes, os monarcas do país posteriormente chamado Peru,</p><p>haviam iniciado uma muito bem começada empresa de restaurar (por certo</p><p>num grau muito inferior) o antigo regime político, que por então estava em</p><p>plena vigência (talvez no limite de sua glória), e por muitos anos manteve</p><p>ainda a sua eficácia. É deste renascimento peruano que vamos tratar.</p><p>É um tanto difícil dar ideia do aspecto da Raça habitante no país, porque</p><p>não há na Terra hoje em dia nenhuma que se lhe pareça suficientemente</p><p>para estabelecer a comparação sem extraviar os leitores num ou noutro</p><p>sentido, já que os restos ainda subsistentes da magnífica terceira sub-raça da</p><p>Raça Atlante não são, por sua decadência e degeneração, comparáveis à</p><p>Raça em seu maior esplendor.</p><p>Nossos peruanos tinham as amplas mandíbulas e feição geral do rosto</p><p>que vemos nos tipos mais elevados dos índios peles-vermelhas, e contudo</p><p>apresentavam contornos que os tornavam mais arianos que atlantes. Sua</p><p>índole diferia fundamentalmente dos atuais peles-vermelhas, porque, no</p><p>geral, eram francos, alegres e bondosos, com acréscimo de agudo intelecto</p><p>e muita benevolência em suas classes superiores. A cor da pele era</p><p>bronzeado-vermelha, de matiz clara na aristocracia e escura na plebe, se</p><p>bem que a mistura de umas classes com outras dificultava a distinção.</p><p>O povo se mostrava em geral feliz, satisfeito e pacífico. Vigoravam</p><p>poucas leis, justas e bem aplicadas, pelo que todos eram naturalmente</p><p>disciplinados. O clima era agradável na maior parte do país, como que</p><p>adequado ao contentamento do povo e seu maior proveito da vida, pois lhe</p><p>permitia levar a cabo, sem excesso de fadiga, os trabalhos agrícolas,</p><p>compensados, após moderado esforço, com abundantes colheitas.</p><p>Evidentemente uma tal disposição de ânimo popular facilitava</p><p>notavelmente a tarefa dos governantes.</p><p>Como já dissemos, a monarquia era absoluta, e no entanto se</p><p>diferenciava tão completamente dos atuais regimes políticos, que o simples</p><p>nome não pode dar ideia do fato. A tônica do regime era a responsabilidade.</p><p>É certo que o monarca tinha poder absoluto; mas também lhe cabia absoluta</p><p>responsabilidade de todas as coisas, pois desde seus primeiros anos se lhe</p><p>havia ensinado que se em qualquer ponto de seu vasto império existisse um</p><p>homem desejoso de trabalhar, e não encontrasse ocupação conveniente, ou</p><p>se a uma criança doente lhe faltasse assistência, seria isso um descrédito</p><p>para o seu governo, uma mancha para o seu reinado e um desdouro de sua</p><p>honra pessoal.</p><p>Para ajudá-lo em seu trabalho, dispunha o monarca de uma ampla classe</p><p>governante, para cujas atribuições subdividia a vasta nação de uma maneira</p><p>precisa e sistemática. Primeiramente se dividia o império em províncias,</p><p>governadas, cada qual, por uma espécie de vice-rei, sob cujas ordens</p><p>estavam os que podemos chamar lugar-tenentes de províncias, e abaixo</p><p>destes vinham os governadores de cidades ou distritos menores.</p><p>Cada funcionário era diretamente responsável ante seu superior</p><p>imediato pelo bem-estar de todos os habitantes sob sua jurisdição. Essa</p><p>subdivisão de responsabilidades ia se fracionando cada vez mais até chegar</p><p>a uma espécie de centurião, ou um oficial que tinha sob seus cuidados cem</p><p>famílias, pelas quais era ele absolutamente responsável. Este era o menor</p><p>membro da classe governante; porém, usualmente ele nomeava, para ajudá-</p><p>lo em seu trabalho, uma pessoa dentre dez famílias como uma espécie de</p><p>assistente voluntário, para prestar-lhe as informações mais recentes sobre</p><p>algo necessário ou errado.67</p><p>Se algum oficial desta bem elaborada rede administrativa negligenciava</p><p>alguma parte de sua tarefa, bastava uma só palavra ao seu superior para</p><p>provocar uma imediata investigação, pois que a honra desse superior estava</p><p>implicada no perfeito contentamento e bem-estar de cada um de seus</p><p>administrados. Essa zelosa vigilância no cumprimento dos deveres oficiais</p><p>não era tanto imposta por lei (embora sem dúvida vigorasse a lei), como ao</p><p>sentimento universal dominante entre as classes dirigentes. Era idêntico ao</p><p>sentimento de honra do cavalheiro e mais poderoso que a sanção de</p><p>qualquer lei escrita, porque em verdade refletia a atuação superior da lei</p><p>interna, a regra do despertante Ego à sua personalidade sobre assuntos que</p><p>ele conhece.</p><p>No exposto deparamos com um regime político que sob todos os</p><p>aspectos era verdadeiramente a antítese de todas as ideias que se têm</p><p>atribuído o título de progresso moderno. O fator que tornou tão possível,</p><p>executável e radicado um tal governo, foi a existência entre todas as classes</p><p>da comunidade, de uma opinião pública esclarecida, tão forte e definida, e</p><p>tão profundamente compenetrada, que tornava praticamente impossível a</p><p>qualquer um deixar de cumprir seu dever para com o Estado. Quem quer</p><p>que houvesse se descuidado, teria sido encarado como um indivíduo incivil,</p><p>indigno do alto privilégio da cidadania nesse grande império dos “Filhos do</p><p>Sol”, como se intitulavam os primitivos peruanos. Teria sido olhado com o</p><p>mesmo horror e pesar com que se olhava uma pessoa excomungada na</p><p>Europa medieval.</p><p>Dessas condições sociais, tão afastadas de tudo que atualmente</p><p>concebemos, decorria outro fato igualmente difícil de se compreender.</p><p>Praticamente, no antigo Peru não havia leis escritas, e, consequentemente,</p><p>nenhuma prisão; com efeito, nosso sistema penal e penitenciário teria</p><p>parecido totalmente insensato para aquela nação. No conceito daquele povo,</p><p>a única coisa digna de viver era a vida de um cidadão do império; mas ali se</p><p>por mais que não tenhamos ainda conseguido o divino poder tão</p><p>elegantemente proclamado por Maomé nesta frase: “Ele somente lhe diz:</p><p>‘Sê’, e ele é”.3 Contudo, assim como o recém-nascido contém em si as</p><p>potencialidades de seu progenitor, assim também nós, frutos de Deus, temos</p><p>em nós mesmos as potencialidades da Divindade. Daí que, quando nos</p><p>determinamos a desapegar da Terra a nossa alma e converter sua atenção ao</p><p>Espírito de cuja substância é sombra no mundo da matéria, possa a alma</p><p>chegar à “Memória da Natureza”, ou seja, a incorporação no mundo</p><p>material dos pensamentos do LOGOS, o reflexo, por assim dizer, de Sua</p><p>Mente. Ali reside o passado em registros sempre vivos; ali reside também o</p><p>futuro, de mais fácil alcance para a Alma semievoluída, porque não está</p><p>totalmente manifestado e incorporado, ainda que seja completamente</p><p>“real”. A Alma que lê estas memórias pode transportá-las ao corpo e</p><p>imprimi-las no cérebro, até o ponto de registrá-las em palavras e escritos.</p><p>Quando a Alma se unifica com o Espírito, como no caso dos “homens</p><p>perfeitos”, d’Aqueles que completaram a sua evolução humana e</p><p>“libertaram” ou “salvaram”4 seu Espírito, o contato com a divina Memória é</p><p>imediato, direto, sempre valioso e infalível. Mas antes de chegar a este</p><p>ponto, o toque é imperfeito, dependente e exposto a erros de observação e</p><p>transmissão.</p><p>Os autores deste livro aprenderam o método de estabelecer o contato</p><p>imediato; mas como estão sujeitos às dificuldades próprias de sua evolução</p><p>incompleta, fizeram tudo quanto lhes coube para observar e transmitir,</p><p>ainda que seguramente saibam que muitas fraquezas mancham sua obra.</p><p>Os Irmãos Maiores lhes ajudaram eventualmente, ampliando o rascunho</p><p>em alguns pontos e lhes indicando as datas sempre que isso foi necessário.</p><p>Como no caso dos livros referidos, que a este precederam no</p><p>movimento teosófico, “o tesouro está em vasos terrenos”, e ao mesmo</p><p>tempo que agradecem o desinteressado auxílio recebido, os autores aceitam</p><p>por inteiro a responsabilidade dos erros.</p><p>CAPÍTULO 1</p><p>PRELIMINARES</p><p>De onde vem e para onde vai o homem? Nossa resposta completa só pode</p><p>ser: Como ser espiritual, o homem tem origem em Deus e a Deus retornará;</p><p>mas o De onde e Para onde aqui focalizados mostram limites muito mais</p><p>modestos. Não passam de uma simples página da história da vida humana,</p><p>aqui transcrita, contando o nascimento na densa matéria de alguns dos</p><p>Filhos do Homem – Que há além desse nascimento, ó impenetrada Noite? –</p><p>e seguindo seu curso de mundo em mundo até um ponto no próximo futuro,</p><p>daqui distante a apenas alguns séculos – Que há além dessa rubra névoa, ó</p><p>ainda não amanhecido Dia?</p><p>Contudo, o título não é de todo impróprio, porque o que tem origem em</p><p>Deus e volta a Deus não é precisamente o “Homem”. Aquele Raio do</p><p>divino Esplendor que emana da Divindade no Começo de uma</p><p>manifestação, aquela “partícula de Meu próprio Ser, transformada no</p><p>mundo de vida num Espírito imortal”,5 é muito mais que “Homem”. O</p><p>Homem não é senão uma etapa do seu desenvolvimento, e o mineral, o</p><p>vegetal e o animal não são mais nem menos que etapas de sua embrionária</p><p>vida na matriz da natureza, antes de nascer como Homem. O Homem é a</p><p>etapa em que o Espírito e a Matéria lutam entre si pelo predomínio, e</p><p>quando ao fim da luta se ergue o Espírito como senhor da Matéria, em dono</p><p>da vida e da morte, entra o Espírito em sua evolução super-humana e já não</p><p>é Homem, mas Super-Homem. Porém aqui temos que considerá-lo apenas</p><p>como Homem; temos de tratar do Homem em suas etapas embrionárias nos</p><p>reinos mineral, vegetal e animal; temos de observar o Homem durante seu</p><p>desenvolvimento no reino humano, o Homem e seus mundos, o Pensador e</p><p>seu campo de evolução.</p><p>A fim de poder melhor aproveitar o relato contido neste livro, é</p><p>necessário o leitor deter-se por uns minutos no conceito de um Sistema</p><p>Solar, tal qual o descreve a literatura teosófica,6 e nos capitais princípios da</p><p>evolução que ali se desenvolvem. Isto não oferece maior dificuldade de</p><p>compreensão do que a terminologia de uma ciência qualquer, ou do que as</p><p>demais descrições cósmicas da astronomia; e com um pouco de atenção o</p><p>estudante conseguirá dominá-lo. O leitor frívolo, a quem tudo isto pareça</p><p>palidamente fraco e queria passar-lhe por alto, se encontrará, como</p><p>consequência, em uma condição mental mais ou menos confusa e</p><p>extraviada, porque terá pretendido edificar uma casa sem alicerces, e será</p><p>forçado a reduzi-la continuamente. O leitor cuidadoso evitará ativamente</p><p>essas dificuldades, dominando-as de uma vez para sempre, e com o</p><p>conhecimento assim adquirido, prosseguirá facilmente, e os detalhes</p><p>posteriores serão prontamente assimilados em seus respectivos lugares.</p><p>Aqueles que preferirem não se deter no exame inicial a que nos referimos,</p><p>podem abrir mão deste capítulo e começar, desde logo, no segundo, mas os</p><p>leitores mais avisados dedicarão algum tempo em dominar o que segue.</p><p>O eminente sábio Platão, uma das mais poderosas inteligências do</p><p>mundo, cujas elevadas ideias têm dominado o pensamento europeu, declara</p><p>em fértil afirmação que “Deus geometriza”. Quanto melhor conhecemos a</p><p>Natureza, tanto mais nos convencemos desta verdade. As folhas das plantas</p><p>estão dispostas na ordenação definida de 1/2, 1/3, 2/5, 3/8, 5/13, e assim</p><p>sucessivamente. As vibrações das notas de uma escala podem representar-se</p><p>correspondentemente em série regular. Algumas enfermidades seguem o</p><p>seu curso num ciclo definido de dias em que o 7º, 14º e 21º assinalam as</p><p>crises, cujo resultado é ou a continuação da vida física ou a morte. Não há</p><p>necessidade de multiplicar os exemplos.</p><p>Assim, pois, não é estranho que na ordenação de nosso Sistema Solar</p><p>intervenha continuamente o número sete, que por esta razão se chama</p><p>“número sagrado”. Uma lunação se divide naturalmente em duas setenas de</p><p>crescente com outras duas de minguante, e os seus quartos nos dão a</p><p>semana de sete dias. Vemos que o sete é o número radical de nosso Sistema</p><p>Solar, cujos departamentos ou distritos são sete, que por sua vez se</p><p>subdividem noutros sete subalternos, e estes noutros sete, e assim</p><p>sucessivamente. O estudante de religião se recordará neste ponto dos sete</p><p>Ameshaspentas zoroastrianos e dos sete Espíritos diante do trono do</p><p>Senhor, segundo os cristãos. E o teósofo pensará no supremo e Trino Logos</p><p>do Sistema, rodeado de Seus Ministros, os “Governadores das sete</p><p>Cadeias”,7 cada um dos quais rege seu próprio departamento do Sistema,</p><p>como os vice-reis de um Imperador.</p><p>DIAGRAMA 1</p><p>Aqui só consideraremos em pormenor um departamento dos dez que</p><p>compreende o Sistema Solar, pois que ainda que radicados em sete,</p><p>desenvolvem-se em dez, e assim os místicos chamam este número de “o</p><p>número perfeito”. A estes departamentos Sinnett denominou “Esquemas de</p><p>Evolução”, em cada um dos quais evolui ou evoluirá uma humanidade. Nos</p><p>limitaremos agora ao nosso Esquema, embora sem esquecermos de que</p><p>também há outros e que de um a outro podem passar Inteligências</p><p>altamente evoluídas. Com efeito, tais visitantes vieram à nossa Terra em</p><p>determinada etapa de sua evolução, para servirem de guia e auxílio à nossa</p><p>recém-nascida humanidade.</p><p>Cada Esquema de Evolução passa por sete grandes etapas evolutivas,</p><p>chamadas Cadeias, por constar cada Cadeia de sete globos mutuamente</p><p>relacionados, de modo que cada globo é um dos sete elos da Cadeia. O</p><p>Diagrama I representa os sete Esquemas em torno do Sol central, de sorte</p><p>que em determinada época está em atividade, em cada Esquema, só uma</p><p>Cadeia composta de sete globos, que no diagrama não aparecem separados,</p><p>senão dispostos em anéis ou círculos concêntricos para poupar espaço.</p><p>No Diagrama II estão já esboçados os globos, de maneira que temos</p><p>claramente um Esquema com as sete etapas de sua evolução, isto é, com</p><p>suas sete Cadeias sucessivas e relacionadas com cinco das sete esferas ou</p><p>tipos de matéria existentes no Sistema Solar. A matéria de cada tipo está</p><p>composta de átomos de determinada espécie; e como todos os sólidos,</p><p>líquidos, gases e éteres de cada tipo de matéria são agregações de uma só</p><p>espécie de</p><p>compreendia muito bem que todo homem tem seu lugar na comunidade</p><p>somente com a condição de que ele cumpra os seus deveres. Se alguém</p><p>faltasse a eles (caso raríssimo ante o estado de opinião já exposto), o</p><p>governador lhe exigia explicações, e se, então, sua conduta fosse</p><p>censurável, seria repreendido por aquele oficial. No caso de reincidir na</p><p>negligência de seus deveres, isso seria considerado um crime tão</p><p>abominável como o roubo e o assassinato, e então havia uma única punição:</p><p>o exílio.</p><p>Esse regime jurídico se fundava numa teoria extremamente simples.</p><p>Para os peruanos o homem civilizado se diferenciava do selvagem</p><p>principalmente pela racional compreensão e inteligente cumprimento de</p><p>seus deveres para com o Estado, com o qual constituía uma unidade.</p><p>Portanto, se não cumpria tais deveres, era um perigo para o Estado,</p><p>demonstrava ser indigno de participar de seus benefícios, e era dali expulso</p><p>para que fosse viver entre as bárbaras tribos nos limites do império. Traço</p><p>característico dos peruanos neste particular é o designativo que davam a tais</p><p>tribos, cuja tradução literal é: “os sem lei”.</p><p>Mas raríssima vez era preciso recorrer-se à extrema providência do</p><p>desterro, porque na maioria dos casos bastava uma insinuação dos</p><p>funcionários governamentais, amados e reverenciados pelo povo, para que o</p><p>desencaminhado voltasse à senda do dever. Também não era perpétua a</p><p>pena de desterro, sendo que ao cabo de algum tempo, quando se mostrava</p><p>digno disso, permitia-se ao desterrado regressar, a título de prova, ao</p><p>convívio dos civilizados e desfrutar uma vez mais as vantagens da</p><p>cidadania.</p><p>Entre suas múltiplas funções os oficiais (ou “pais”, como o chamavam)</p><p>incluíam as de juízes, embora, como não houvesse praticamente nenhuma</p><p>lei, em nossa acepção do vocábulo, para aplicar, essas funções</p><p>correspondiam, talvez, mais de perto, à nossa ideia de árbitros. Todas as</p><p>disputas entre os homens eram submetidas aos citados oficiais, e em</p><p>qualquer caso a parte descontente poderia recorrer ao oficial superior</p><p>imediato, de modo que se o assunto era muito litigioso, tinha a</p><p>possibilidade de chegar à consideração do próprio rei.</p><p>As autoridades superiores empenhavam esforços para se tornarem</p><p>prontamente acessíveis a todos, e parte do plano organizado para atingir</p><p>este fim consistia num cuidadoso sistema de visitações. Uma vez a cada</p><p>sete anos o próprio rei percorria o império com esse propósito, e do mesmo</p><p>modo o governador de uma província tinha de percorrê-la anualmente. Ao</p><p>passo que os seus subordinados tinham de examinar pessoalmente se tudo</p><p>andava bem com os que se achavam a seu cargo, e dar a qualquer um a</p><p>oportunidade de consultá-los ou apelar para eles, se o desejasse. As</p><p>excursões reais e oficiais se revestiam de pomposa cerimônia, e sempre</p><p>davam ocasião a grande satisfação popular.</p><p>O regime administrativo tinha de comum com o de nossos tempos a</p><p>estatística e registros demográficos de nascimentos, matrimônios e mortes,</p><p>que se catalogavam com escrupulosa exatidão. Cada centurião conservava</p><p>uma lista nominal de todos os indivíduos a seu cargo, com uma curiosa</p><p>lousinha para cada um, na qual se anotavam os principais fatos relativos à</p><p>sua vida particular. Nas informações ao seu superior imediato, o centurião</p><p>não mencionava os nomes dos indivíduos, e sim, tantos doentes, tantos</p><p>sãos, tantos nascimentos, tantas mortes, etc. Estes pequenos informes eram</p><p>reunidos e somados à medida que subiam ao oficial hierarquicamente</p><p>superior, até que se fazia um extrato periódico deles, que era remetido ao</p><p>monarca, o qual desse modo obtinha uma espécie de censo contínuo de seu</p><p>império, sempre à sua mão.</p><p>Outro ponto de semelhança entre aquele antiquíssimo regime e o de</p><p>nossos dias, nos oferece o meticuloso cuidado com que se fazia o cadastro</p><p>das terras, sua divisão em lotes, e, sobretudo, sua análise química, com o</p><p>objetivo de se conhecer a exata constituição do solo em todas as partes do</p><p>país e semear as plantas mais apropriadas para obter melhor aproveitamento</p><p>possível da terra em geral. Verdadeiramente, pode-se afirmar, que davam</p><p>mais importância ao estudo da agronomia do que ao de outra qualquer</p><p>modalidade de trabalho.</p><p>Isto nos leva à consideração de, talvez, a mais notável de todas as</p><p>instituições dessa antiga raça: o seu sistema agrário. Tão excelentemente</p><p>adaptada ao país se achava essa organização única, que quando, milhares de</p><p>anos mais tarde, uma raça muito inferior venceu e escravizou os</p><p>degenerados peruanos, ela se esforçou por seguir o mesmo sistema agrário</p><p>tanto quanto pôde, e quando os espanhóis invadiram o país, admiraram os</p><p>vestígios que de tal sistema ainda se conservava em sua chegada. Pode-se</p><p>duvidar que um tal sistema teria o mesmo êxito em países menos férteis e</p><p>mais densamente populosos, mas de qualquer forma desempenhou papel</p><p>capital na época e lugar onde o encontramos em execução. Procuraremos</p><p>agora explicar esse sistema, primeiro em linhas gerais para maior clareza,</p><p>deixando alguns pontos de vital importância para serem abordados noutros</p><p>capítulos.</p><p>Cada cidade ou vila tinha assinalada, para seu cultivo, uma superfície de</p><p>terreno arável estritamente proporcional ao número de seus habitantes.</p><p>Dentre esses habitantes havia sempre um grande número de operários que</p><p>eram destacados para o cultivo desse terreno. Poderíamos considerá-los</p><p>como uma classe de trabalhadores especializados; não que os demais não</p><p>trabalhassem também, e sim, que os primeiros eram reservados para essa</p><p>espécie particular de trabalho. Posteriormente explicaremos como se</p><p>recrutavam esses operários; basta dizer, por agora, que todos eles eram</p><p>homens em plena virilidade, contando de vinte e cinco a quarenta anos de</p><p>idade, pois nem velhos, nem menores, nem doentes, nem débeis podiam ser</p><p>incluídos em suas fileiras.</p><p>O terreno assinalado a um povoado se dividia em duas partes iguais:</p><p>uma privada e outra pública. Os lavradores deviam cultivar uma e outra; em</p><p>seu proveito próprio e individual a primeira e em benefício da coletividade</p><p>a segunda, isto é, o cultivo do terreno público pode considerar-se</p><p>equivalente às contribuições e impostos dos Estados modernos. Ocorre</p><p>naturalmente o reparo de que era enormemente dispendiosa e injusta uma</p><p>contribuição cuja quantia alcançava a metade da renda individual, ou, em</p><p>outros termos, que consumia a metade do tempo e trabalho empregados</p><p>pelo produtor. Entretanto, antes de qualificá-lo como um imposto opressivo,</p><p>espere o leitor para saber que destino se dava aos impostos e o objetivo que</p><p>visavam na vida nacional. Saiba também que essa obrigação não era nada</p><p>penosa, pois o cultivo das terras públicas e privadas significava, em</p><p>conjunto, um trabalho muito menos duro do que a do aldeão europeu, já que</p><p>os peruanos trabalhavam duramente durante algumas semanas, de sol a sol,</p><p>pelo menos duas vezes por ano contavam com longos intervalos, em que</p><p>todo o trabalho requerido poderia ser facilmente feito em duas horas por</p><p>dia.</p><p>O terreno privado, de que trataremos em primeiro lugar, era repartido</p><p>entre os vizinhos com a mais escrupulosa integridade. Todos os anos,</p><p>depois de feita a colheita, concedia-se uma porção de terra a cada adulto,</p><p>homem ou mulher, embora o cultivo ficasse a exclusivo encargo dos</p><p>homens. Assim, a um casado sem filhos correspondia a dupla porção de um</p><p>solteiro; um viúvo com duas filhas solteiras tinha a tripla porção de um</p><p>solteiro, mas ao casar-se uma das filhas, levava ela consigo a sua porção,</p><p>retirando-a do lote do pai para adicioná-la ao do marido. Para cada filho</p><p>proveniente do matrimônio, acrescentava-se-lhe uma parcela adicional, cuja</p><p>área aumentava na proporção do crescimento da prole, com o natural</p><p>propósito de proporcionar a cada família o necessário para a sua</p><p>manutenção.</p><p>Qualquer um podia fazer absolutamente o que quisesse de seu terreno,</p><p>menos deixar de cultivá-lo. Uma ou outra colheita devia fazê-lo produzir, e</p><p>contanto que houvesse provido dele sua própria subsistência, o resto era</p><p>assunto seu. Por outro lado, os peritos agrônomos estavam sempre dispostos</p><p>a dar a todo cultivador</p><p>os seus melhores conselhos, para que ninguém</p><p>alegasse ignorância do que mais convinha às suas terras. Os cidadãos que</p><p>não pertenciam à classe lavradora, isto é, que ganhavam a vida de qualquer</p><p>outro modo, podiam cultivar o lote em seus lazeres, ou então contratar um</p><p>lavrador para que o cultivasse depois de cumprida a sua própria tarefa; mas</p><p>neste último caso o produto da terra não correspondia ao proprietário, e sim</p><p>ao colono. O que deste modo, todo voluntário podia fazer e com frequência</p><p>fazia o lavrador, é outra prova de que as fainas agrícolas atribuídas a cada</p><p>um eram em realidade muito leves.</p><p>É agradável poder registrar que se demonstravam muitos sentimentos</p><p>bons e altruístas com relação ao trabalho agrícola. Quem tinha uma família</p><p>grande, e, portanto, um vasto lote de terra podia sempre contar com o</p><p>generoso auxílio de seus vizinhos, uma vez terminada a tarefa de cada qual,</p><p>e quem por justo motivo necessitasse folgar em algum dia, teria sempre um</p><p>amigo que o substituiria em sua ausência. Nada dizemos dos casos de</p><p>enfermidade, por motivos que muito breve exporemos.</p><p>A respeito do destino da colheita, nunca surgia dificuldade alguma. A</p><p>maioria dos cidadãos cultivava cereais, hortaliças ou frutas para o consumo</p><p>doméstico, e vendia as sobras ou as trocava em roupas e outras</p><p>mercadorias. Em último caso, o governo estava sempre disposto a comprar</p><p>a quantidade de grãos que se lhe oferecessem, a um tipo fixo, muito pouco</p><p>inferior ao preço corrente com o fim de armazená-los em vastíssimos</p><p>celeiros, que invariavelmente estavam repletos para atender a casos de fome</p><p>ou qualquer outra contingência.</p><p>Mas, vejamos agora que destino se dava ao produto da outra metade das</p><p>terras cultivadas, ou seja, das que temos chamado terras públicas. Estas</p><p>estavam divididas em duas partes iguais (cada uma delas equivalente à</p><p>quarta parte do total de terras cultiváveis do país): uma chamada terra do</p><p>rei, e a outra, terra do Sol. Era de lei que a terra do Sol devia ser cultivada</p><p>antes que qualquer cidadão tocasse uma só nesga de seu lote individual.</p><p>Uma vez cultivada a terra do Sol, procedia-se ao cultivo da terra privada, e</p><p>terminada de todo esta tarefa, começava o cultivo da terra do rei. Assim é</p><p>que se o mau tempo retardasse as colheitas, o primeiro que sofria a perda</p><p>era o rei, e a menos que sobreviessem inclemências extraordinárias, não se</p><p>diminuía em nada a parte correspondente ao povo, ao passo que o Sol</p><p>ficava o mais possível a coberto das contingências adversas.</p><p>A respeito da questão da irrigação (importantíssima num país cujo solo</p><p>é em grande parte estéril), observavam-se as mesmas regras. Enquanto as</p><p>terras do Sol não estivessem perfeitamente regadas, não se conduzia nem</p><p>uma só gota do precioso líquido para as demais, e enquanto todos os lotes</p><p>privados não tivessem a água necessária, ficavam sem ela as terras do rei. A</p><p>razão dessas determinações se tornará evidente quando, mais adiante,</p><p>soubermos o destino dado ao produto de cada categoria de terras.</p><p>Assim veremos que uma quarta parte da riqueza total do país ia parar</p><p>diretamente nas mãos do rei, porque a mesma distribuição se fazia do</p><p>dinheiro procedente das indústrias fabris e mineiras, isto é, uma quarta parte</p><p>era para o Sol, duas quartas partes para o produtor e a quarta parte restante</p><p>para o rei. Mas em que empregava o rei tão vultosa renda?</p><p>Primeiramente, ele mantinha todo o maquinismo governamental a que</p><p>já nos referimos. Os salários de toda a classe de oficiais, desde os faustosos</p><p>vice-reis das grandes províncias até os relativamente humildes centuriões,</p><p>além dos gastos das várias viagens e visitas estatais de todos eles.</p><p>Em segundo lugar, com essas rendas custeava as grandiosas obras</p><p>públicas do império, cujas ruínas nos causam admiração ainda ao fim de</p><p>catorze mil anos. O tesouro real construía e conservava as admiráveis redes</p><p>rodoviárias que por todo o império ligavam umas cidades a outras através</p><p>de graníticas montanhas, com estupendas pontes estendidas sobre</p><p>intransponíveis correntes, assim como a esplêndida rede de aquedutos, não</p><p>inferiores aos de nossa época como obras de engenharia, para a distribuição</p><p>do referido líquido pelos mais longínquos rincões de um país</p><p>frequentemente árido.</p><p>Em terceiro lugar, o rei mantinha, sempre bem provida, uma série de</p><p>enormes silos situados a pequenos intervalos por todo o império, pois era</p><p>possível que sobreviesse a seca, e a fome ameaçasse os infelizes lavradores.</p><p>Em regra geral havia nos celeiros públicos reserva suficiente para manter</p><p>toda a nação durante dois anos, o que representa um estoque de que talvez</p><p>nenhuma outra raça do mundo jamais dispôs. Não obstante o colosso do</p><p>empreendimento, cumpria-se fielmente, apesar de todas as dificuldades,</p><p>embora para isso não bastasse o formidável poder do monarca peruano, não</p><p>fora o método de concentração alimentícia, descoberto pelos químicos e do</p><p>qual falaremos mais adiante.</p><p>Em quarto lugar, o tesouro real custeava o exército, cuja instrução era</p><p>excelente, e dele se servia o monarca para diferentes fins da guerra, que não</p><p>era muito frequente, porque as incultas tribos da fronteira conheciam e</p><p>respeitavam o poderio imperial.</p><p>Não convém deter-nos agora para descrever os serviços especiais do</p><p>exército, mas antes para completar nosso tosco rascunho político desse</p><p>antigo império, indicando as funções da grande comunidade de sacerdotes</p><p>do Sol, no referente à sua intervenção na vida cívica. Em que empregava</p><p>essa comunidade as suas vultosas rendas, iguais às do rei, quando as deste</p><p>não sofriam diminuição, e muito superiores por não serem afetadas em</p><p>tempo de carestia ou penúria? Verdadeiramente o rei fazia prodígios com a</p><p>sua parte da riqueza nacional, mas tudo quanto ele fazia empalidece em</p><p>comparação ao que realizavam os sacerdotes.</p><p>Primeiramente cuidavam eles dos magníficos templos do Sol,</p><p>distribuídos por todo o país, de modo que os santuários de muitas aldeias</p><p>tinham ornamentos e decorações de ouro, que hoje valeriam muitas</p><p>centenas de milhares, enquanto as catedrais das cidades populosas</p><p>resplandeciam com magnificência nunca desde então igualada em nenhum</p><p>ponto da Terra.</p><p>Em segundo lugar, educavam gratuitamente a infância e a juventude de</p><p>todo o país, não só nas etapas da educação primária, como também na</p><p>técnica e experimental até os vinte anos, e às vezes até mais. Desta</p><p>educação daremos pormenores mais adiante.</p><p>Em terceiro lugar (e esta parecerá talvez, a nossos leitores, a mais</p><p>curiosa função cívica do sacerdote peruano), tinham a seu cuidado os</p><p>doentes de todo o país. Não quer isto dizer que fossem simplesmente os</p><p>médicos da época (ainda que também o fossem), senão que desde o</p><p>momento em que um homem, uma mulher ou uma criança adoecessem de</p><p>qualquer moléstia, ficavam a cargo do sacerdote ou, como estes</p><p>elegantemente diziam, eram “hóspedes do Sol”. O doente ficava</p><p>dispensado, desde aquele instante, de todas as suas dívidas para com o</p><p>tesouro nacional e, durante a sua enfermidade, lhe proporcionavam</p><p>alimentos e medicamentos fornecidos pelo próximo templo do Sol; mas, se</p><p>a doença era grave, o transportavam para o mesmo templo, como para um</p><p>hospital, a fim de receber ali assistência mais cuidadosa. Se o doente era</p><p>chefe de família que ganhava o pão, sua mulher e filhos também se</p><p>convertiam em “hóspedes do Sol”, até a recuperação da saúde. Em nossos</p><p>tempos tal sistema se prestaria, certamente, à fraude e ao dolo, porque às</p><p>nações modernas falta a esclarecida e universalmente difundida opinião</p><p>pública que tornou possíveis estas coisas no antigo Peru.</p><p>Em quarto lugar (e talvez pareça ainda mais surpreendente) todos os</p><p>cidadãos de quarenta e cinco anos completos, exceto as classes oficiais,</p><p>eram também “hóspedes do Sol”, porque, segundo consideravam, um</p><p>homem que desde os vinte anos (idade em que começou a participar dos</p><p>encargos do Estado) havia estado trabalhando durante cinco quinquênios,</p><p>havia ganho bem um cômodo descanso para o resto de sua vida, ainda que</p><p>fosse muito longa. Assim é que todo cidadão, sem distinção de sexo, ao</p><p>completar os quarenta</p><p>e cinco anos, podia, segundo sua escolha, ligar-se a</p><p>um dos templos e seguir ali uma espécie de vida monástica de estudo, ou se</p><p>o preferisse, poderia ainda residir com seus parentes, como antes, e</p><p>empregar como lhe aprouvesse os seus lazeres. Mas em qualquer dos casos</p><p>estava ele isento de todo trabalho para o Estado, sendo sua manutenção</p><p>garantida pelos sacerdotes do Sol. Contudo, não lhe era proibido continuar</p><p>trabalhando em alguma ocupação a seu gosto, e assim a maioria dos varões</p><p>preferia empregar-se, ainda que fosse só para quebrar o ócio, em coisas de</p><p>sua inclinação particular. Desta maneira foi possível aos eméritos fazerem</p><p>valiosas descobertas e invenções. Pois como se achavam totalmente</p><p>desobrigados do trabalho, estavam em liberdade para realizar suas ideias e</p><p>fazer suas experiências, o que não seria possível a uma pessoa intensamente</p><p>ocupada.</p><p>Para os funcionários oficiais e os sacerdotes não havia aposentadoria</p><p>aos quarenta e cinco anos, salvo por motivo de doença. Em ambas essas</p><p>classes predominava o sentimento de que a experiência e sabedoria dos</p><p>anos eram demasiado valiosas para não serem aplicadas, e assim na maioria</p><p>dos casos os sacerdotes e oficiais morriam em serviço ativo.</p><p>Agora se compreenderá a importância do ministério sacerdotal e por</p><p>que as rendas do tesouro do Sol tinham prioridade em todas as partes, pois</p><p>delas dependia não só a religião do povo, como também a educação da</p><p>juventude e a assistência de doentes e anciãos.</p><p>Em resumo, mediante esse curioso regime da antiguidade qualquer</p><p>cidadão de um e de outro sexo tinha assegurada a sua educação, com todas</p><p>as oportunidades que pudessem favorecer o desenvolvimento de suas</p><p>aptidões peculiares. Depois, havia de trabalhar assiduamente durante vinte e</p><p>cinco anos, mas nunca em funções inconvenientes nem tampouco</p><p>excessivas, tendo a perspectiva de uma velhice cômoda e descansada,</p><p>totalmente livre de cuidados e ansiedades. É certo que existiam entre eles</p><p>famílias mais pobres que outras, mas não se conhecia o que nós chamamos</p><p>pobreza; era impossível o desamparo e não havia a criminalidade. Assim</p><p>não é de maravilhar que o desterro para fora do país fosse considerado</p><p>como a mais horrenda penalidade deste mundo, e que as bárbaras tribos</p><p>limítrofes se submetessem ao império tão logo se convencessem da</p><p>excelência do seu regime.</p><p>Interessa-nos examinar agora as ideias religiosas daquela remota gente.</p><p>Se tivéssemos de classificar suas crenças entre as que atualmente</p><p>conhecemos, diríamos que eram uma espécie de adoração ao Sol, embora</p><p>nem de leve pensassem jamais em adorar o Sol físico, senão que o</p><p>consideravam como algo muito superior a mero símbolo. Mas, se</p><p>expressássemos seus sentimentos em termos teosóficos, nos caberia dizer,</p><p>com muita aproximação da verdade, que consideravam o Sol como o corpo</p><p>físico do LOGOS. Mas a precisão desta ideia lhes teria parecido, talvez,</p><p>irreverente, e mais bem diriam, a quem lhes perguntasse, que adoravam o</p><p>Espírito do Sol, de quem tudo procede e a quem tudo há de retornar, o que</p><p>era pressentimento de uma poderosa verdade.</p><p>Não parece que tivessem qualquer concepção clara da doutrina da</p><p>reencarnação. Estavam completamente convencidos de que o homem era</p><p>imortal, e que seu destino era ir para o Espírito do Sol, talvez para</p><p>identificar-se com Ele, embora esta ideia não estivesse claramente definida</p><p>em seus ensinamentos. Sabiam que antes dessa meta final haviam de</p><p>sucederse longos períodos de existência, conquanto não tenhamos podido</p><p>descobrir se tinham certeza de que parte da futura vida havia de ser passada</p><p>de novo neste mundo.</p><p>A característica principal da religião era o gozo, e consideravam</p><p>absolutamente pernicioso e ingrato todo pesar e aflição, pois lhes</p><p>ensinavam que a Divindade queria ver felizes todos os Seus filhos e se</p><p>entristeceria de vê-los tristes. A morte não era para eles motivo de aflição,</p><p>senão, antes, de solene e reverente gozo, porque indicava que o Grande</p><p>Espírito havia considerado outro de Seus filhos como merecedor de ir para</p><p>mais perto d’Ele. Por outro lado, consequentes com esta ideia, tinham</p><p>profundo horror ao suicídio, como um ato da mais grosseira presunção.</p><p>Segundo eles, o suicida se introduzia, sem ser convidado, nos reinos</p><p>superiores, pois ainda não o havia julgado apto para isso a única Autoridade</p><p>que possuía o necessário conhecimento para decidir a questão. Contudo, na</p><p>época a que nos referimos, o suicídio era praticamente desconhecido,</p><p>porque a generalidade das pessoas estava muito satisfeita com a sua</p><p>condição.</p><p>Suas cerimônias religiosas públicas eram de caráter simplíssimo.</p><p>Louvavam diariamente o Espírito do Sol mas nunca lhe dirigiam preces,</p><p>pois se lhes ensinava que a Divindade sabia muito melhor que eles tudo</p><p>quanto necessitavam para seu bem-estar, doutrina essa que seria desejável</p><p>ver mais plenamente compreendida em nossa época. Nos templos se</p><p>ofereciam frutas e flores, mas não com a crença de que o Deus-Sol</p><p>desejasse tais oferendas, mas simplesmente em reconhecimento de que tudo</p><p>deviam a Ele, pois um dos principais artigos de sua fé era que toda luz, vida</p><p>e poder procediam do Sol, ensinamento esse cabalmente comprovado pelas</p><p>descobertas da ciência moderna. Nas festividades solenes se organizavam</p><p>brilhantes procissões, e os sacerdotes dirigiam ao povo exortações e</p><p>instruções adequadas; mas mesmo nesses sermões resplandecia a</p><p>simplicidade como característica fundamental, pois tudo lhes era</p><p>representado por meio de figuras e parábolas.</p><p>No decurso de nossas investigações sobre a vida de determinada pessoa,</p><p>ocorreu certa vez que a seguimos a uma dessas assembleias e escutamos</p><p>com ela o sermão pregado naquelas circunstâncias por um ancião sacerdote.</p><p>As poucas e simples palavras que pronunciou darão talvez melhor ideia do</p><p>espírito interno dessa antiga religião, do que tudo que pudéssemos</p><p>descrever. O pregador, revestido de uma espécie de capa dourada, que era o</p><p>símbolo de seu ofício, colocou-se no alto da escadaria do templo e deitou</p><p>um olhar amplo por seu auditório. Depois começou a falar aos assistentes</p><p>com voz suave mas potente, em estilo familiar, mais como um pai que relata</p><p>um conto a seus filhos, do que como pregador encarregado de pronunciar</p><p>um sermão.</p><p>Falou-lhes do Senhor do Sol, incitando-os a recordar que Ele lhes</p><p>proporcionava tudo o necessário para o seu bem-estar material, que sem a</p><p>Sua gloriosa luz e calor o mundo ficaria frio e morto, e toda a vida seria</p><p>impossível; que à sua ação se devia a produção das frutas e cereais que lhes</p><p>serviam de principal alimento, assim como a água fresca, que era o mais</p><p>precioso e necessário dos elementos. Explicou-lhes, depois, como os sábios</p><p>da antiguidade ensinaram, que após essa ação visível para todos, havia outra</p><p>ação visível ainda maior, porém que, no entanto, poderiam sentir todos os</p><p>que harmonizassem sua vida com a de seu Senhor. Acrescentou que do</p><p>mesmo modo que o Sol cumpria num aspecto pela vida de seus corpos,</p><p>realizava noutro aspecto ainda mais admirável pela vida de suas almas.</p><p>Mostrou que ambas as ações eram absolutamente contínuas, pois ainda que</p><p>às vezes o Sol ficasse oculto à vista de Seus filhos terrestres, a causa desse</p><p>temporário obscurecimento está na Terra e não no Sol, já que bastaria subir-</p><p>se a uma montanha muito alta para transpor as nuvens e descobrir que o</p><p>Senhor continua brilhando perpetuamente em toda a Sua glória, apesar do</p><p>véu que parece tão denso visto de baixo.</p><p>Ao pregador foi fácil aplicar a analogia ao abatimento espiritual e às</p><p>dúvidas que às vezes parece fechar a alma às influências superiores. Disse a</p><p>este propósito, com fervoroso convencimento, que não obstante as</p><p>aparências contrárias, tinha a similaridade perfeita aplicação neste caso,</p><p>pois as nuvens que empanavam o ânimo são sempre obra dos próprios</p><p>homens, e se estes elevassem suficientemente seu espírito, viriam a</p><p>imutabilidade do Senhor e a força espiritual de santidade fluindo d’Ele tão</p><p>constantemente como sempre. Assim, pois, o abatimento e a dúvida brotam</p><p>da ignorância e insensatez, e devem ser eliminados, por demonstrarem</p><p>ingratidão para com o Doador de todo o bem.</p><p>A segunda parte da homilia foi igualmente prática. O sacerdote</p><p>continuou dizendo que apenas aqueles que gozavam perfeita saúde podiam</p><p>aproveitar plenamente os benefícios da ação solar, e que o sinal de saúde</p><p>perfeita em todos os aspectos era a semelhança dos homens com o Senhor</p><p>do Sol. Assim como o homem de corpo plenamente são pode ser</p><p>comparado a um Sol menor que derrama força e vida ao seu redor, de modo</p><p>que fortalece o débil, alivia o doente e consola o triste, assim também o</p><p>homem de perfeita saúde de alma é um Sol espiritual que irradia amor,</p><p>pureza e santidade em todos quantos têm a felicidade de se pôr em contato</p><p>com ele. Acrescentou que o dever do homem é mostrar-se agradecido às</p><p>dádivas do Senhor, dispondo-se primeiramente para recebê-las em toda a</p><p>sua plenitude, para transmiti-las depois integralmente ao seu próximo.</p><p>Ambos os fins só se podem alcançar pela constante imitação da</p><p>benevolência do Espírito do Sol, que sempre atrai seus filhos para mais</p><p>perto d’Ele.</p><p>Tal foi este sermão de há quatorze mil anos, e ainda que simples, não</p><p>podemos deixar de reconhecer o caráter eminentemente teosófico de seus</p><p>ensinos, que em conhecimento da vida se avantaja aos mais eloquentes</p><p>sermões de hoje em dia. Notamos aqui e ali alguns pormenores de</p><p>significação especial, como, por exemplo, o exato conhecimento de que a</p><p>irradiação da vitalidade que resta num homem sadio, parece indicar a posse</p><p>da faculdade clarividente entre os antepassados de quem se originou a</p><p>tradição.</p><p>Se recordará que, além do ministério estritamente religioso, os</p><p>sacerdotes tinham a seu cargo a educação nacional, absolutamente gratuita,</p><p>e os seus cursos preliminares eram exatamente idênticos para todos e para</p><p>ambos os sexos. Desde tenra idade as crianças assistiam às aulas</p><p>preparatórias, reunidos ambos os sexos em classes mistas. As aulas</p><p>correspondiam algo ao que hoje concebemos como educação primária,</p><p>embora os assuntos ali abrangidos fossem consideravelmente diferentes dos</p><p>atuais. Ensinava-se leitura, escrita e algo de aritmética; cada aluno tinha que</p><p>dominar facilmente essas matérias, mas o plano docente incluía muitos</p><p>outros pontos, um tanto difíceis de classificar. Assemelhavam-se a um</p><p>conhecimento elementar e conciso de todas as regras gerais e interesses</p><p>comuns da vida, a fim de que nenhum menino ou menina de dez ou onze</p><p>anos completos pudesse ignorar o modo de atender às necessidades da vida</p><p>ou de fazer os serviços comuns. Eram extremamente carinhosas e afetivas</p><p>as relações dominantes entre professores e alunos, e não havia ali nada que</p><p>correspondesse ao insensato sistema de imposições e castigos, que ocupa</p><p>lugar tão superior e pernicioso na vida das escolas modernas.</p><p>Eram muitas as horas escolares, mas variavam tanto as ocupações e</p><p>incluíam tantas coisas que não reputaríamos trabalho escolar, que as</p><p>crianças nunca ficavam indevidamente fatigadas. Assim, por exemplo,</p><p>ensinavamlhes a preparar e cozinhar as refeições simples, a distinguir os</p><p>frutos sãos dos venenosos, a sustentar-se e proteger-se em caso de se</p><p>perderem na selva, a manejar as ferramentas mais simples de marcenaria,</p><p>pedreiro e arquitetura, a caminhar sem outro guia que a posição do Sol e das</p><p>estrelas, a pilotar uma canoa e a nadar, trepar e saltar com admirável</p><p>destreza. Também as instruíam na assistência a feridos e acidentados, bem</p><p>como no emprego de ervas medicinais. Todo esse variado e interessante</p><p>programa não era pura matéria teórica para os alunos, mas eram</p><p>constantemente impelidos a pô-lo em prática, de modo que, antes de saírem</p><p>da escola preparatória, fossem os meninos já extremamente hábeis e</p><p>capazes de agir por si mesmos, até certo ponto, em qualquer contingência</p><p>que lhes pudesse sobrevir.</p><p>Igualmente os instruíam cuidadosamente na constituição política de seu</p><p>país, e lhes explicavam a razão dos usos e costumes. Em troca, ignoravam</p><p>muitas coisas que aprendem as crianças europeias, pois não sabiam mais</p><p>idioma que o seu, que no entanto falavam com muita pureza e propriedade,</p><p>mercê dos esforços dos professores, que para tanto se valiam mais de</p><p>repetidos exercícios práticos do que do conhecimento de regras gramaticais.</p><p>Não sabiam álgebra nem geometria, nem história nem geografia além da de</p><p>seu país. Ao saírem da escola preparatória, os alunos seriam capazes de</p><p>edificar uma cômoda casa, mas não de a desenhar; nem tampouco</p><p>conheciam química, conquanto estivessem perfeitamente instruídos nos</p><p>princípios gerais de higiene prática.</p><p>Antes de deixarem a escola primária, tinham os alunos que alcançar</p><p>certo padrão definido em todas essas variadas qualificações para serem</p><p>bons cidadãos. A maioria deles alcançava facilmente esse nível ao atingir</p><p>doze anos de idade, mas uma minoria de menos inteligência precisava de</p><p>alguns anos mais. Nos diretores dessas escolas preparatórias recaía a séria</p><p>responsabilidade de determinar a futura carreira do aluno, ou antes, de</p><p>aconselhá-lo nesse sentido, pois nenhum deles era jamais forçado a dedicar-</p><p>se a uma atividade que não fosse de seu agrado. Mas de uma ou outra</p><p>maneira ele a tinha de escolher, e uma vez escolhida, o encaminhavam para</p><p>uma espécie de escola técnica, cujo objetivo especial era prepará-lo para o</p><p>gênero de vida de sua vocação. Ali permanecia os nove ou dez anos</p><p>restantes de seu período escolar, exercitando-se principalmente nos</p><p>trabalhos práticos da espécie a que havia de dedicar suas energias.</p><p>Essa característica predominava em todo o plano da instrução.</p><p>Relativamente havia pouco ensino teórico; depois de se lhes mostrar uma</p><p>coisa por diversas vezes, os meninos e meninas estavam sempre dispostos a</p><p>fazê-la por si mesmos, e faziam-na repetidamente até adquirir facilidade.</p><p>Havia muita elasticidade em todas essas normas. A um aluno, por</p><p>exemplo, que depois da experiência devida se sentisse desajeitado para o</p><p>trabalho especial que ele havia empreendido, se lhe permitia, com prévia</p><p>consulta a seus professores, escolher outra vocação e transferir-se para a</p><p>escola especializada para tal. No entanto, parece terem sido raras tais</p><p>transferências, pois na maioria dos casos o aluno, antes de deixar a sua</p><p>primeira escola, já havia demonstrado decidida aptidão para um ou outro</p><p>dos gêneros de vida a ele concedidos.</p><p>Toda criança, qualquer que fosse o seu berço, tinha a oportunidade de se</p><p>preparar para ingressar na classe governante de seu país, se o desejasse e</p><p>seu professor o aprovasse. A preparação para esta função honrosa era</p><p>entretanto tão severa, e tão elevadas as qualidades requeridas, que nunca era</p><p>excessivamente grande o número de tais aspirantes. Com efeito, os</p><p>instrutores estavam sempre vigilantes quanto às crianças de habilitação</p><p>supranormal, a fim de fazerem o possível para adaptá-las para essa honrosa</p><p>mas árdua posição, se quisessem adotá-la.</p><p>Além das profissões governamentais e sacerdotais, havia várias</p><p>vocações entre as quais podia um menino fazer a sua escolha. Existia muita</p><p>diversidade de manufaturas, algumas com amplas margens para o</p><p>desenvolvimento da faculdade artística em suas diferentes modalidades;</p><p>existiam várias linhas de trabalho em metais para fabricar e aperfeiçoar</p><p>maquinários, bem como de arquitetura de todos os estilos. Mas a principal</p><p>tendência de todo o país era para a agricultura científica.</p><p>Desta última dependia enormemente o bem-estar da nação, e por isso se</p><p>lhe devotava sempre o máximo interesse. Dependente de uma longa série de</p><p>experiências, realizadas em gerações sucessivas, haviamse determinado</p><p>com toda a certeza as possibilidades do variado solo do país, de maneira</p><p>que na época a que nos referimos já existia um grande conjunto de tradições</p><p>sobre esse particular. Os pormenorizados informes de tais experiências</p><p>eram conservados no que agora chamaríamos arquivos do Ministério da</p><p>Agricultura; mas os resultados práticos eram condensados, para instrução</p><p>do povo, numa série de breves máximas, dispostas de modo que os</p><p>estudantes as pudessem reter facilmente na memória.</p><p>Todavia, os que se dedicavam à profissão agrícola não eram obrigados</p><p>a</p><p>seguir as opiniões de seus antepassados, mas, pelo contrário, recebiam</p><p>estímulo para realizar novas experiências, e quem quer que inventasse um</p><p>novo e útil adubo, ou uma máquina aceleradora do trabalho, obtinha</p><p>honrosa recompensa do governo imperial. Espalhadas por todo o país, havia</p><p>grande número de fazendas-modelo do governo, onde os jovens eram</p><p>cuidadosamente instruídos, mais prática do que teoricamente, tal qual na</p><p>escola primária, e cada aluno aprendia a levar a cabo, por si mesmo, em</p><p>todos os detalhes, as obras que futuramente teria que dirigir.</p><p>Nessas fazendas preparatórias se realizavam, à custa do Estado, as</p><p>novas experiências. O inventor não tinha que passar pelo incômodo de se</p><p>socorrer de um protetor com capital para lhe assegurar o custeio das</p><p>experiências, o que atualmente constitui uma barreira ao seu sucesso.</p><p>Simplesmente expunha a ideia ao chefe de seu distrito, que quando</p><p>necessário, era assistido por um conselho de peritos, e se estes não</p><p>opunham alguma objeção evidente ao raciocínio do inventor, lhe eram</p><p>proporcionados os meios necessários para executar seu plano, ou construir</p><p>sob sua própria direção a máquina projetada, sem lhe impor qualquer</p><p>demora ou embaraço. Se as provas demonstravam a utilidade do invento,</p><p>era logo adotado pelo governo e empregado onde fosse aplicável.</p><p>Os agrônomos haviam elaborado teorias quanto à adaptação de várias</p><p>espécies de adubo aos diferentes tipos de solo. Não só empregavam o</p><p>material que para idêntica finalidade importamos atualmente daquele</p><p>mesmo país, como também recorriam a todos os meios de combinações</p><p>químicas, algumas das quais eram visivelmente eficazes. Dispunham de um</p><p>engenhoso, embora complicado, sistema de drenagem, que, no entanto, era</p><p>muito mais eficiente do que tudo quanto no gênero possuímos atualmente.</p><p>Haviam conseguido considerável progresso também na fabricação e</p><p>emprego de maquinários, embora muitos deles fossem mais simples e</p><p>rústicos do que os nossos, e nada tinham da extrema exatidão no</p><p>ajustamento das mínimas partes, que constitui a característica dominante de</p><p>nossa indústria moderna. Por outro lado, não obstante suas máquinas</p><p>fossem frequentemente enormes e embaraçosas, eram eficientes e não</p><p>estavam sujeitas a desarranjos. Observamos o curioso exemplo de uma</p><p>máquina semeadora cuja parte principal parecia ter sido modelada imitando</p><p>o desovador de um inseto. Tinha a forma de um carro largo e baixo, o qual,</p><p>ao rodar pelo campo, abria automaticamente dez linhas de buracos a</p><p>intervalos regulares, depositava uma semente em cada buraco, regava-a e</p><p>voltava a alisar a terra.</p><p>Sem dúvida tinham algum conhecimento de hidráulica, porque algumas</p><p>de suas máquinas eram acionadas pela pressão d’água, sobretudo as</p><p>extraordinariamente perfeitas e úteis que empregavam em seu bem acabado</p><p>sistema de irrigação. O território era em grande parte montanhoso e não</p><p>podia ser cultivado com proveito em seu estado natural; mas aqueles</p><p>antigos habitantes o abriam em patamares, tal qual se faz presentemente no</p><p>país montanhoso do Ceilão (atual Sri Lanka). Quem tenha viajado em</p><p>estrada de ferro de Kambukkana a Peradeniya não deixará de ter visto</p><p>muitos exemplos dessa classe de lavoura. No antigo Peru se cultivava com</p><p>escrupuloso cuidado todo pedaço de terra próximo dos grandes centros</p><p>populosos.</p><p>Possuíam muitos conhecimentos científicos, mas toda a sua ciência era</p><p>de natureza rigorosamente prática. Não tinham nenhuma ideia de um estudo</p><p>científico abstrato como o existente entre nós. Estudavam cuidadosamente a</p><p>Botânica, por exemplo, porém sem a mínima aproximação com o nosso</p><p>ponto de vista. Nada sabiam nem cogitavam da classificação das plantas em</p><p>exógenas e endógenas, nem do número de estames de uma flor, nem da</p><p>disposição das folhas no talo; em compensação, conheciam perfeitamente</p><p>suas virtudes medicinais, nutritivas ou de tingimento.</p><p>O mesmo se dava em química: ignoravam o número e disposição dos</p><p>átomos nas combinações carbônicas, nem tinham ideia dos átomos e</p><p>moléculas, ao menos até onde alcançou nossa investigação. Mas</p><p>interessavam-lhes as substâncias químicas de cuja combinação pudessem</p><p>resultar valiosos adubos agrícolas e produtos aproveitáveis nas manufaturas,</p><p>ou proporcionar-lhes uma bela tintura e útil ácido. Todo estudo científico</p><p>tinha determinada finalidade prática; toda investigação se encaminhava para</p><p>descobrir algo concretamente relacionado com a vida humana, e nunca com</p><p>o propósito de adquirir conhecimentos abstratos.</p><p>Sua maior aproximação da ciência abstrata era talvez o seu estudo de</p><p>astronomia, mas esse era encarado mais como um conhecimento religioso</p><p>do que meramente secular. Se diferenciava dos demais conhecimentos em</p><p>que era puramente tradicional e não se fazia nenhum esforço para aumentar</p><p>seu nível de informações neste sentido, o qual não era grande, mas bastante</p><p>exato para as suas finalidades. Compreendiam que os planetas eram</p><p>diferentes das estrelas restantes, e referiam-se a eles como irmãos da Terra</p><p>(pois reconheciam que a Terra era um deles) ou, às vezes, “os filhos do</p><p>Sol”. Também sabiam que a Terra era de forma globular, que o dia e a noite</p><p>se originavam da rotação desse planeta em torno de seu eixo, e as estações,</p><p>de sua volta anual em redor do Sol. Também não ignoravam que as estrelas</p><p>fixas estavam fora do Sistema Solar, e encaravam os cometas como</p><p>mensageiros que outros grandes Seres enviavam ao seu Senhor, o Sol. Mas</p><p>é duvidoso que tivessem alguma concepção adequada do verdadeiro</p><p>tamanho de qualquer dos corpos celestes.</p><p>Prediziam com perfeita exatidão os eclipses do Sol e da Lua, não por</p><p>cálculo direto, mas pelo uso de uma fórmula tradicional, e como</p><p>compreendiam sua causa, não lhes davam muita importância. Há provas</p><p>abundantes a demonstrar que os sábios de quem herdaram as tradições</p><p>astronômicas, foram capazes de fazer observações diretas, ou dotados de</p><p>faculdades clarividentes que tornassem desnecessárias tais observações;</p><p>mas de nenhuma dessas prerrogativas gozavam os peruanos da época a que</p><p>nos referimos. A única observação diretamente pessoal que se viu fazerem,</p><p>foi a determinação do momento exato da passagem do Sol pelo meridiano,</p><p>medindo cuidadosamente, para isso, uma alta coluna do templo e dispondo</p><p>um jogo de estaquinhas que se moviam ao longo de entalhes de pedra para</p><p>indicá-la com toda a exatidão. O mesmo aparato primitivo foi empregado</p><p>para determinar a data dos solstícios, relacionada com a celebração de</p><p>serviços religiosos especiais.</p><p>CAPÍTULO 12</p><p>DUAS CIVILIZAÇÕES ATLANTES</p><p>OS TOLTECAS NO ANTIGO PERU, 12000 A.C.</p><p>(Continuação)</p><p>A arquitetura desta antiga raça era diferente, em muitos aspectos, de todos</p><p>os estilos com que estamos familiarizados, e seu estudo seria de extremo</p><p>interesse para o clarividente que possuísse conhecimentos técnicos do</p><p>assunto. Nossa carência de tal conhecimento nos dificulta a exata descrição</p><p>de seus pormenores, embora esperemos poder sugerir algo da impressão</p><p>geral que à primeira vista causa aos observadores do nosso século.</p><p>Essa arquitetura era de proporções colossais, mas sem afetação alguma;</p><p>em muitos casos apresentava claros indícios de se lhe haverem empregado</p><p>anos de paciente trabalho, mas demonstrava evidentemente seu destino</p><p>mais utilitário do que ornamental. Muitos dos edifícios eram bastante</p><p>vastos, porém à observação moderna pareceriam, em sua maioria, algo</p><p>desproporcionados, estando os tetos quase sempre demasiado baixos em</p><p>relação ao tamanho dos cômodos. Por exemplo, não era incomum</p><p>encontrarem-se na casa de um governador diversos apartamentos com o</p><p>tamanho aproximado do salão de Westminster, e contudo nenhum deles</p><p>mediria mais do que três metros e meio de altura do piso ao teto. Ainda que</p><p>conhecessem as colunas, raramente as empregavam, e o que em nossa</p><p>arquitetura são graciosas colunatas, eram na peruana paredes com</p><p>sucessivas aberturas. Suas colunas eram maciças e com frequência</p><p>monolíticas.</p><p>Aparentemente não conheciam o verdadeiro arco de abóboda, embora</p><p>não estivesse fora da moda o emprego de janelas ou portas com sobrearcos</p><p>semicirculares.</p><p>Nos edifícios maiores colocavam um pesado semicírculo de</p><p>metal, fixo sobre os pilares laterais da abertura, porém geralmente</p><p>confiavam inteiramente no poderoso adesivo que empregavam em lugar de</p><p>argamassa. Não conhecemos a exata composição desse adesivo, mas era</p><p>realmente eficaz. Cortavam e dispunham os enormes blocos de pedra com</p><p>tanta exatidão, que dificilmente se lhes podiam ver as juntas, dissimuladas</p><p>exteriormente com argila, e depois lhes davam um banho de argamassa</p><p>quente para preencher os interstícios. Por menores que fossem os</p><p>interstícios entre as pedras, a argamassa assim fluida lhes penetrava e os</p><p>enchia, e depois de esfriada, assemelhava-se a sílex, com o qual, com efeito,</p><p>muito se parecia. Depois se raspava a argila, e a parede estava concluída,</p><p>com as juntas mais sólidas do que a própria pedra, a ponto de, com o passar</p><p>de séculos, aparecerem fendas na alvenaria, porém jamais em suas juntas.</p><p>A maior parte das casas aldeãs era construída do que podemos chamar</p><p>tijolos, por serem manufaturados da argila; mas os tais “tijolos” eram</p><p>grandes cubos, medindo talvez uns noventa centímetros de lado. A argila</p><p>não era cozida, senão que, depois de misturada com uma preparação</p><p>química, a deixavam endurecer ao ar livre durante alguns meses, de modo</p><p>que, por seu aspecto e consistência, pareciam mais blocos de cimento do</p><p>que tijolos, e as edificações feitas com eles eram pouca coisa inferiores às</p><p>de pedra.</p><p>As casas, desde as menores, eram todas construídas segundo o plano</p><p>clássico oriental do pátio central, e suas paredes tinham uma espessura que</p><p>hoje reputaríamos de enorme. As cabanas mais simples e pobres constavam</p><p>de quatro cômodos, um de cada lado do patiozinho para o qual se abriam, e</p><p>como esses cômodos careciam comumente de janelas, tornavase sombrio e</p><p>desnudo o aspecto exterior dessas casas. As ruas pobres das cidades ou</p><p>aldeias não ostentavam ornamentações arquitetônicas; apenas um friso, do</p><p>mesmo estilo em todas, quebrava a monotonia das fachadas.</p><p>A entrada se abria sempre num ângulo do edifício, e nos primitivos</p><p>tempos a porta consistia simplesmente de uma enorme lousa de pedra, que,</p><p>à maneira de rastrilho, se levantava e baixava corrediçamente em entalhes</p><p>laterais e por meio de contrapesos. Quando a porta estava fechada, podiam</p><p>desmontar-se os contrapesos e colocá-los em prateleiras, ficando então a</p><p>lousa como uma massa imóvel que, seguramente, teria desanimado os</p><p>ladrões, se houvesse tal gente num país tão bem organizado. Nas casas de</p><p>padrão melhor, a lousa da porta estava primorosamente esculpida, e em</p><p>tempos posteriores, foi substituída por uma grossa prancha metálica. No</p><p>entanto, pouco variou o método de fazê-la funcionar, embora tivéssemos</p><p>observado uns poucos exemplares de pesadas portas metálicas que giravam</p><p>em dobradiças.</p><p>As casas maiores foram a princípio edificadas com exata sujeição ao</p><p>plano das demais, ainda que com maiores elementos ornamentais, não só</p><p>quanto ao esculpido da pedra segundo modelos, mas também quanto à</p><p>aplicação de amplas faixas de metal em sua superfície. Num clima como o</p><p>do Peru, as casas tão maciçamente edificadas eram quase eternas, e a este</p><p>tipo arquitetônico pertencia a maioria das existentes na época focalizada por</p><p>nossas investigações. Algumas de época posterior (construídas, sem dúvida,</p><p>quando o povo já estava convencido da consolidação do regime político e</p><p>respeitava o poder dos legisladores), tinham uma dupla série de aposentos</p><p>ao redor do pátio, como se vê em algumas casas modernas. Uma série dava</p><p>para o pátio, convertido para tal em jardim, e a outra série se abria para a</p><p>parte exterior da casa, estando providos seus aposentos de amplas janelas,</p><p>ou melhor, de aberturas que se fechavam como as portas, pois ainda que</p><p>aqueles peruanos fabricassem diversidade de vidros, não os aplicavam às</p><p>janelas.</p><p>Vemos, portanto, que o estilo geral da arquitetura doméstica, tanto nas</p><p>grandes como nas pequenas casas, era algo severo e monótono, embora</p><p>admiravelmente adaptado ao clima do país. As coberturas eram na maioria</p><p>pesadas, um tanto chatas e quase que invariavelmente feitas de pedra ou</p><p>pranchas metálicas. Uma das mais notáveis características das edificações</p><p>consistia em não lhes empregarem nada de madeira, por ser inflamável, e</p><p>por essa razão nunca havia incêndios no antigo Peru.</p><p>O processo construtivo era muito peculiar. Não se valiam de andaimes,</p><p>mas à proporção que se ia erguendo o edifício, os iam enchendo de terra, e</p><p>ao atingirem as paredes a sua altura, a terra estava no mesmo nível delas.</p><p>Sobre essa terra se colocavam as pedras da cobertura, e entre elas se</p><p>derramava em seguida o cimento quente, como de costume. Uma vez feita</p><p>essa operação, retirava-se a terra, e à cobertura se confiava o suporte de seu</p><p>próprio peso, e graças ao poder daquele maravilhoso cimento, sempre se</p><p>mantinha com perfeita segurança. De fato, todo o edifício, paredes e</p><p>cobertura, uma vez terminados, qualquer que fosse o seu destino, formavam</p><p>um compacto bloco, como se houvesse sido escavado da rocha viva. Tal</p><p>processo, diga-se de passagem, tem sido adotado atualmente nas</p><p>construções erigidas nas encostas das montanhas, em alguns lugares.</p><p>A algumas das casas da capital foi superposto um primeiro andar, mas</p><p>tal inovação não logrou o favor popular, e foi muito rara ideia tão ousada.</p><p>Contudo, em alguns edifícios em que residiam os sacerdotes ou monges do</p><p>Sol, havia-se obtido, por processo curioso, o mesmo efeito de uma série de</p><p>andares superpostos, embora tal disposição nunca tivesse podido ser</p><p>adotada extensamente numa cidade populosa. Para isso, construía-se uma</p><p>vasta plataforma de terra de mil pés quadrados de superfície e cerca de</p><p>quinze ou dezoito pés de altura, junto à qual, mas a cinquenta pés para</p><p>dentro de cada lado, se levantava outra plataforma de novecentos pés; sobre</p><p>esta uma terceira de oitocentos pés de lado e a seguir outra de setecentos</p><p>pés de lado, e assim uma sobre outra, de dimensões progressivamente</p><p>decrescentes, até a décima plataforma de só cem pés de lado. No centro</p><p>desta plataforma final se levantava um santuário dedicado ao Sol.</p><p>O efeito do conjunto parecia-se um tanto com uma grande pirâmide</p><p>achatada, que se erguia em degraus largos e lisos, como uma espécie de</p><p>colina quebrada em terraços. Na frente perpendicular de cada uma destas</p><p>enormes plataformas se abriam os aposentos, ou melhor, as celas em que se</p><p>alojavam os monges e seus hóspedes. Cada cela tinha um aposento exterior</p><p>e outro interior, que recebia a luz do primeiro, aberto ao ar na fachada pelo</p><p>que somente tinha três paredes e teto. Ambos os aposentos estavam</p><p>revestidos e pavimentados com lousas de pedra, solidamente unidas, como</p><p>de costume, por meio de cimento. Os terraços dianteiros estavam dispostos</p><p>em forma de jardins e passeios, de maneira que a residência nas celas se</p><p>tornava extremamente agradável. Em alguns casos se aproveitava uma</p><p>elevação natural para cortá-la em terraços semelhantes a esses, mas era</p><p>artificialmente erguida a maioria de tais pirâmides. Frequentemente abriam</p><p>túneis no interior do terraço inferior, e ali construíam câmaras subterrâneas</p><p>para servirem de silos destinados a cereais e outras necessidades.</p><p>Além dessas notáveis pirâmides achatadas, havia os templos comuns do</p><p>Sol, alguns de grandes dimensões, abrangendo vasta superfície de terreno,</p><p>embora, segundo o conceito de um europeu, apresentassem o defeito de ser</p><p>demasiado baixos em proporção à sua extensão. Estavam sempre rodeados</p><p>de amenos jardins, sob cujas árvores se ministrava a maior parte dos</p><p>ensinamentos que tão merecidamente tornaram famosos esses templos.</p><p>Se o exterior dos templos era por vezes menos imponente do que o</p><p>desejável, de qualquer modo o seu interior compensava de muito todos os</p><p>possíveis defeitos. A abundância de metais preciosos empregados na</p><p>ornamentação constituía uma característica da vida peruana quando, mais</p><p>tarde, um punhado de espanhóis subjugou a relativamente degenerada raça</p><p>que sucedera aos costumes, objeto de nossa descrição. Na época a que se</p><p>refere nossa observação, os habitantes</p><p>do Peru não conheciam nossa arte de</p><p>douração, porém eram extremamente hábeis em forjar amplas e delgadas</p><p>pranchas de metal, pelo que não era raro estarem as paredes dos templos</p><p>completamente revestidas de placas de ouro e prata. A espessura dessas</p><p>chapas costumava ser de seis milímetros, e eram amoldadas aos delicados</p><p>relevos da pedra, como se fossem de papel, de modo que, para nosso atual</p><p>ponto de vista, um templo era frequentemente depósito de indizíveis</p><p>riquezas.</p><p>Mas a raça que construiu aqueles templos de maneira nenhuma</p><p>encarava as suas riquezas segundo o nosso conceito atual, senão,</p><p>simplesmente, como adequados elementos de ornamentação. Convém</p><p>recordar que não só ornavam dessa maneira os templos, mas toda casa de</p><p>alguma importância tinha as paredes revestidas de um ou outro metal, tal</p><p>qual o fazemos nós com papel pintado. E a casa que tinha nuas as paredes</p><p>era, entre eles, o mesmo que entre nós uma casa simplesmente caiada, isto</p><p>é, a falta de ornamentação se relegava às casas rústicas e rurais. No entanto,</p><p>unicamente os palácios do rei e governadores estavam ornamentados de</p><p>ouro puro como os templos, pois as demais classes sociais recorriam a toda</p><p>espécie de formosas e úteis combinações metálicas, com as quais, de custo</p><p>relativamente menor, obtinham efeitos riquíssimos.</p><p>Ao abordarmos a arquitetura dos antigos peruanos, não devemos</p><p>esquecer a cadeia de fortalezas, levantadas por ordem do rei nas fronteiras</p><p>de seu império, a fim de impor respeito às tribos bárbaras que habitavam</p><p>além. Também seria aqui necessária a intervenção de um perito para</p><p>descrever exatamente e julgar com acerto essas fortalezas; mas logo se vê</p><p>que, na maioria dos casos, estava admiravelmente escolhida a sua posição</p><p>estratégica, e que, na falta de artilharia, devem ter sido inexpugnáveis. A</p><p>altura e espessura de seus muros eram enormes em alguns casos, com a</p><p>peculiaridade (própria de todas as paredes de edificações rústicas) de que</p><p>tinham forma cônica, pois desde a base, de alguns pés de espessura, se iam</p><p>estreitando até diminuir-se perceptivelmente à altura de uns dezoito ou vinte</p><p>e sete metros. Na massa desses maravilhosos muros se abriam guaritas de</p><p>sentinelas e passadiços secretos, estando o interior do forte tão bem</p><p>distribuído e copiosamente abastecido que a guarnição teria podido resistir</p><p>sem privações durante longo cerco. Chamou-nos particularmente a atenção</p><p>o engenhoso artifício de uma série de portas, uma dentro da outra,</p><p>enlaçadas por estreitos e tortuosos corredores, que teriam posto os</p><p>assaltantes nas mãos dos defensores.</p><p>Mas, as admiráveis obras daquele povo singular foram, sem dúvida, as</p><p>rodovias, pontes e aquedutos. Estendiam-se as primeiras por centenas e</p><p>mesmo milhares de quilômetros por todo o território, vencendo qualquer</p><p>obstáculo natural com tão elegante atrevimento que admiraria os mais</p><p>audazes engenheiros de nosso tempo. Neste particular tudo se fazia</p><p>magnificamente, e ainda que em alguns casos tivessem de empregar</p><p>incalculável soma de trabalho, os resultados obtidos foram grandiosos e</p><p>permanentes. As rodovias eram pavimentadas de lajes em toda extensão,</p><p>como o estão hoje os passeios das ruas de Londres, e com árvores em</p><p>ambas as margens a projetar suas sombras, enquanto perfumados arbustos</p><p>impregnavam o ar com sua fragrância. Desta forma atravessava todo o</p><p>território uma rede de esplêndidas avenidas pavimentadas, pelas quais iam e</p><p>vinham diariamente os mensageiros do rei, que atuavam ao mesmo tempo</p><p>como mensageiros comuns, pois era um de seus deveres distribuir e coletar</p><p>gratuitamente a correspondência dos cidadãos.</p><p>Quando os construtores de rodovias deparavam com um rio ou torrente,</p><p>era então de ver em grau máximo a indomável perseverança e paciente</p><p>engenho daquela raça. Segundo dissemos, desconheciam o princípio</p><p>construtivo do arco; mas aproximavam-se dele na construção de pontes,</p><p>dando a cada fileira de colunas uma projeção mais saliente que a imediata</p><p>inferior, até encontrar o apoio de duas colunas. O maravilhoso cimento</p><p>endurecia depois, como compacta rocha, o conjunto da obra. Não</p><p>conheciam os diques nem secadouros, de forma que geralmente</p><p>empregavam incrível soma de trabalho para desviar o curso de um rio e</p><p>estender pontes. Às vezes levantavam uma barragem à corrente, até</p><p>alcançar o ponto onde haviam de assentar a coluna, e uma vez feita esta</p><p>operação, arrasavam a barragem levantada. Por causa dessas dificuldades,</p><p>preferiam, sempre que possível, as obras de aterramento às de pontes, e</p><p>assim faziam uma estrada ou aqueduto atravessar córregos ou rios de muita</p><p>profundidade por meio de um aterro com muitos canais, em vez de uma</p><p>ponte comum.</p><p>Seu sistema de irrigação era de admirável perfeição, e persistiu em</p><p>grande parte nos tempos da última raça, de modo que muitas zonas do país,</p><p>hoje áridas, foram verdejantes e férteis, até que o abastecimento de águas</p><p>caiu nas mãos ainda mais incompetentes dos conquistadores espanhóis.</p><p>Provavelmente nenhuma obra de engenharia do mundo superou em</p><p>magnitude as estradas e aquedutos do antigo Peru. E tudo isto não levavam</p><p>a cabo por trabalhos forçados de escravos ou cativos, mas por trabalho</p><p>assalariado de camponeses nacionais, com ajuda do exército.</p><p>O rei mantinha grande número de soldados, para estar sempre em</p><p>condições de enfrentar as tribos fronteiriças; mas como seu armamento era</p><p>simples, e, por outro lado, necessitavam de muito pouca instrução militar,</p><p>lhes sobrava muito tempo para a execução de serviços públicos e de outra</p><p>natureza. Tinham a seu cargo a reparação das obras públicas em geral e o</p><p>serviço de correios, informes oficiais, mensagens públicas e</p><p>correspondência privada, assim como a conservação das propriedades do</p><p>Estado; mas quando se precisava construir uma nova estrada ou levantar</p><p>outra fortaleza, tomavam-se operários assalariados, os necessários ao caso.</p><p>Por certo irrompia-se às vezes a guerra com as tribos vizinhas, embora</p><p>na época a que nos referimos, elas não suscitassem graves perturbações.</p><p>Suas incursões eram facilmente repelidas e se lhes impunham tributos, e</p><p>caso as considerassem em condições de receber maior cultura, era o seu</p><p>território anexado ao império, sob o regime das mesmas leis das demais</p><p>províncias. Naturalmente que no princípio aqueles novos cidadãos</p><p>promoviam algumas dificuldades, pois eram estranhos aos costumes e não</p><p>atinavam por que deviam adaptar-se a eles. Contudo, dentro de pouco, a</p><p>maioria se aclimatava ao novo ambiente social, e os incorrigíveis, que não o</p><p>quisessem, eram desterrados para outros países ainda não submetidos ao</p><p>império.</p><p>Aqueles peruanos eram bem humanitários nas guerras, e isso lhes era</p><p>relativamente fácil, porque saíam quase sempre vitoriosos em suas lutas</p><p>com as tribos. Tinham um adágio: “Nunca seja cruel com o teu inimigo,</p><p>porque amanhã será teu amigo”. Ao conquistarem o território de alguma</p><p>tribo vizinha, evitavam quanto lhes era possível a efusão de sangue, a fim</p><p>de que o povo ingressasse de boa vontade no império e fossem bons</p><p>cidadãos, com sentimentos fraternais para com seus conquistadores.</p><p>Suas armas principais eram a lança, a espada e o arco, assim como o</p><p>laço de bolas, ainda hoje usado pelos índios sul-americanos. Consiste em</p><p>duas bolas de pedra ou metal unidas por uma corda, que se lança contra as</p><p>pernas de um homem ou as patas de um cavalo para derrubá-lo ao solo. Na</p><p>defesa das fortalezas, faziam rolar enormes rochas sobre os assaltantes, pois</p><p>a disposição do recinto permitia tal meio defensivo. As espadas eram curtas,</p><p>mais parecendo facas compridas, e delas só se valiam no caso de se quebrar</p><p>a lança e ficar o combatente desarmado. Geralmente contavam desmoralizar</p><p>os inimigos acertando-lhes uma certeira saraivada de flechas, e depois</p><p>caíam sobre eles de lanças em riste, antes que recuperassem o ânimo.</p><p>As armas eram habilmente fabricadas por excelentes metalúrgicos.</p><p>Empregavam o ferro, se bem que não o soubessem converter em aço e lhes</p><p>fosse menos útil que o cobre, latão e bronze, que eles podiam endurecer</p><p>extraordinariamente com uma variedade de seu notável cimento,</p><p>ao passo</p><p>que o ferro não admitia tão perfeitamente a mistura. O resultado desse</p><p>método de endurecimento era muito valioso, pois mesmo no cobre duro,</p><p>ligado com o cimento, se podia dar um corte tão fino como em nosso</p><p>melhor aço, e não resta dúvida de que algumas misturas da metalurgia</p><p>peruana eram mais duras que qualquer metal que possamos obter em nossa</p><p>época.</p><p>Talvez a mais notável característica daquela metalurgia fosse a sua</p><p>excessiva finura e delicadeza. Algumas gravações em metal eram</p><p>verdadeiramente maravilhosas, e demasiado finas para serem vistas à</p><p>primeira vista, pelo menos tratando-se de nossa atual organização visual.</p><p>Melhor que tudo era, talvez, o seu maravilhoso trabalho manual de</p><p>filigrana, semelhante a pelugem, em que eram exímios, sendo-nos</p><p>impossível compreender como o podiam executar sem lentes de aumento.</p><p>Alguns desses trabalhos manuais eram tão indescritivelmente delicados que</p><p>não podiam limpar os objetos pelos meios comuns, pois se teriam quebrado</p><p>em raspálos ou escová-los, e por isso os limpavam, quando necessário, por</p><p>meio de uma espécie de maçarico.</p><p>A cerâmica era outra manufatura de sua especialidade. Por meio de um</p><p>ingrediente químico, davam à argila uma cor vermelha agradável e bela,</p><p>embutindo-a depois de ouro e prata, e assim produziam efeitos que jamais</p><p>vimos em nenhuma outra parte. Também aqui nos maravilhou a extrema</p><p>delicadeza do seu trabalho manual. Obtinham igualmente outras delicadas</p><p>cores; e uma outra modificação daquele sempre útil cimento vítreo, dava à</p><p>preparada argila uma transparência quase igual ao nosso mais limpo cristal.</p><p>Tinha também a vantagem de ser muito menos frágil e muito aproximado</p><p>ao cristal flexível, de que ouvimos falar como uma lenda medieval.</p><p>Indubitavelmente conheciam a arte de fabricar certa espécie de porcelana</p><p>fina, que podia dobrar-se sem se quebrar, como veremos ao tratar de suas</p><p>obras literárias.</p><p>Como não tinham o costume de empregar a madeira entre os materiais</p><p>fabris, abundavam os objetos de metal e louça, fabricados muito mais</p><p>habilmente do que se poderia esperar naquela época. Não há dúvida de que</p><p>os antigos peruanos descobriram, em suas constantes investigações</p><p>químicas, alguns processos que são ainda um segredo para nossos</p><p>industriais. Mas com o tempo serão redescobertos pelos químicos da quinta</p><p>Raça, e então as urgentes necessidades e a diligente rivalidade de nossa</p><p>época exigirão a adaptação de tais processos a toda classe de objetos, jamais</p><p>sonhados no antigo Peru.</p><p>A arte pictórica estava consideravelmente difundida, e a criança que</p><p>demonstrava aptidões especiais para o manejo do pincel via-se estimulada e</p><p>favorecida ao extremo. Contudo, os métodos correntes eram completamente</p><p>diferentes dos nossos, e por sua índole peculiar, agravaram enormemente a</p><p>dificuldade da obra, pois não pintavam em pano, papel nem tábua, mas em</p><p>finas lâminas de uma espécie de metal sílico, cuja composição nos é difícil</p><p>traçar, e cuja superfície se assemelhava a um delicado creme, estreitamente</p><p>parecido com a de uma delicada porcelana fosca. Não eram quebradiças, e</p><p>podiam dobrar-se como as de estanho; sua espessura proporcionada ao seu</p><p>tamanho, variando entre a de nossas folhas de recado e a de uma folha de</p><p>papelão.</p><p>Sobre essa superfície se aplicavam cores de brilho e pureza requintados,</p><p>com um pincel que a própria natureza oferecia, pois consistia simplesmente</p><p>de uma comprida lasca, recortada da haste triangular de uma planta fibrosa</p><p>comum. Moldava-se uma polegada mais ou menos da ponta dessa lasca, até</p><p>deixar exposta a fibra que, embora fina como um fio de cabelo, era firme</p><p>como um arame. A parte destecida servia de pincel, e a outra de cabo,</p><p>podendo renovar-se a brocha repetidas vezes até consumirse toda a lasca,</p><p>por um processo semelhante ao que hoje empregamos para renovar a ponta</p><p>dos lápis, pois bastava ao artista cortar a brocha gasta e destecer outra</p><p>polegada de cabo. A forma rigidamente triangular desse instrumento</p><p>capacitava para traçar uma linha fina ou uma larga camada de cor,</p><p>empregando no primeiro caso o vértice e no segundo a base do seu</p><p>triângulo.</p><p>No geral usavam as cores em pó, que misturavam como o desejavam,</p><p>não pela diluição com água ou óleo, mas com um ingrediente que secava</p><p>instantaneamente, de modo que uma vez dado o toque, era impossível</p><p>alterá-lo. Não faziam esboços antes de pintar; o artista tinha de dar no</p><p>mesmo instante a forma precisa e a cor exata, em toques rápidos e seguros,</p><p>ao estilo dos afrescos ou de algumas obras japonesas. As cores eram fixas e</p><p>de tonalidade extremamente luminosa, avantajando-se algumas delas em</p><p>pureza e finura às empregadas em nossos dias. Tinham um maravilhoso</p><p>azul mais límpido que o mais esquisito ultramar, e um violeta e um rosa</p><p>como ainda hoje não conhecemos. Delas se valiam para representar, muito</p><p>mais fielmente que os pintores atuais, as indescritíveis belezas de um pôr do</p><p>sol. Os adornos de ouro, prata, bronze e outro metal de intensa cor</p><p>vermelha, desconhecida da ciência atual, eram representados na pintura por</p><p>meio de pozinho do respectivo metal, ao estilo das iluminuras medievais.</p><p>Ainda que esse processo nos pareça estranho, não se pode negar que</p><p>produzia surpreendentes efeitos de exótica riqueza.</p><p>Os pintores peruanos tinham boa perspectiva e desenho preciso,</p><p>completamente livre da rústica crueza que caracterizou um período</p><p>posterior da arte das Américas Central e do Sul. Ainda que a pintura de</p><p>paisagens fosse aceitável na época que estamos considerando, não formava</p><p>especialidade distinta, mas a empregavam no fundo dos quadros de figura,</p><p>cujos motivos costumavam ser as procissões religiosas ou as cenas em que</p><p>o rei ou algum governador tomava parte principal.</p><p>Uma vez terminado o quadro (que os artistas práticos pintavam muito</p><p>rapidamente), se lhe dava com o pincel uma camada de verniz, que também</p><p>tinha a propriedade de secar rapidamente. A pintura ficava assim indelével,</p><p>e podiam-na expor ao sol e à chuva por longo tempo, sem prejuízo algum.</p><p>Intimamente relacionada com a arte do país estava a literatura, porque</p><p>escreviam, ou melhor, iluminavam os livros com o mesmo material e com a</p><p>mesma espécie de cores empregadas nos quadros. Compunha-se o livro de</p><p>certo número de folhas finas de metal, medindo habitualmente 18 x 6</p><p>polegadas, e estavam às vezes costuradas com arame, porém muito mais</p><p>frequentemente eram conservadas numa caixa de três a cinco polegadas de</p><p>profundidade. Essas caixas eram de vários materiais, e mais ou menos</p><p>ricamente ornamentadas, porém as mais comuns eram feitas de um material</p><p>semelhante à platina, e adornadas de haste esculpida algo fixa na superfície</p><p>metálica por algum processo de amolecimento, que a fazia aderir</p><p>firmemente, sem o uso de arrebites ou cimento.</p><p>Pelo que nos foi possível observar, não conheciam nada relativo à</p><p>imprensa, e o que mais se parecia com isso era o emprego de uma espécie</p><p>de folha de estêncil para produzir grande número de cópias dos</p><p>comunicados oficiais, que eram assim enviados rapidamente aos</p><p>governadores de província. Contudo, não observamos intenção alguma de</p><p>reprodução de livros por esse meio, e compreende-se que o considerariam</p><p>profanação, pois o país inteiro respeitava profundamente seus livros e os</p><p>tratava com tanto carinho como faria um monge medieval. A cópia de um</p><p>livro era para eles obra muito meritória, sendo que muitos exemplares</p><p>estavam belíssima e artisticamente escritos.</p><p>O campo de sua literatura era um tanto limitado. Havia uns poucos</p><p>tratados que poderiam ser classificados definitivamente como religiosos, ou</p><p>pelo menos como de ética, e seu texto não se diferenciava grande coisa do</p><p>sermão a que nos referimos no capítulo anterior. Dois ou três demonstravam</p><p>tendências místicas, mas esses eram menos lidos e não circulavam tanto</p><p>como os que pareciam ser de caráter mais diferentemente prático. O mais</p><p>interessante desses livros místicos era um muito parecido com o livro</p><p>chinês Clássico da Pureza, até o ponto de que, sem dúvida, este último</p><p>tenha sido uma versão daquele, com ligeiras variantes.</p><p>O conjunto da literatura</p><p>podia ser inicialmente dividido em duas partes:</p><p>informação científica e narrações exemplificativas. Todas as artes, ofícios e</p><p>indústrias cultivadas no país tinham seu respectivo manual, não escritos por</p><p>um só autor, mas compilados oficialmente pelo governo, com todos os</p><p>dados, informes e regras conhecidas sobre a matéria na época de sua</p><p>publicação. Continuamente se completavam esses manuais com apêndices</p><p>contendo todas as descobertas que iam se fazendo, ou ideias que iam se</p><p>retificando, e todo aquele que possuísse um exemplar o emendava e</p><p>ampliava para atualizá-lo. Como os governadores se encarregavam de</p><p>divulgar essas informações, eles podiam praticamente torná-las acessíveis</p><p>aos seus interessados. De modo que uma monografia peruana sobre</p><p>determinada matéria era um verdadeiro compêndio de conhecimentos úteis</p><p>a seu respeito, e proporcionava ao estudante, em forma condensada, o</p><p>resultado das experiências de seus predecessores naquela especialidade.</p><p>Os contos eram quase todos de um mesmo tipo geral, com distinta</p><p>finalidade. Em todos figurava, invariavelmente, como protagonista, um rei,</p><p>um governador ou um oficial subalterno, e se narrava a sua acertada ou</p><p>desacertada atuação nas diversas contingências ocorridas em suas</p><p>atividades. Muitas dessas narrações eram clássicas, e tão populares entre</p><p>eles, como entre nós o são as bíblicas, pois serviam para ilustrar as pessoas</p><p>e ensinar-lhes o que deviam ou não fazer na vida diária. Assim é que,</p><p>qualquer que fosse a sua categoria social, o homem achava nessas narrações</p><p>um modelo antecedente a que ajustar suas ações. Não sabemos com</p><p>segurança se todos aqueles relatos eram históricos de acontecimentos reais,</p><p>ou se alguns eram puras ficções, embora o certo seja que o povo os tinha</p><p>por verdadeiros.</p><p>Quando a ação de uma dessas narrações se desenvolvia numa província</p><p>fronteiriça, costumava estar salpicada de turbulentas aventuras; mas</p><p>(felizmente para nossos amigos peruanos), não havia ainda aparecido entre</p><p>eles o argumento amoroso, que é o tedioso espantalho do atual leitor de</p><p>romances. Às muitíssimas situações de tais relatos não faltava humorismo,</p><p>pois o povo era de índole alegre e amigo do riso, se bem que em sua</p><p>literatura não entrasse a novela declaradamente cômica. Outra lacuna, ainda</p><p>mais lamentável, era a completa carência de poesia propriamente dita.</p><p>Certas máximas e sentenças, expressas em vibrante e sonora frase, corriam</p><p>de boca em boca e eram frequentemente citadas, como nós fazemos com</p><p>determinados versos, ainda que, por muito poético que fosse o conceito, não</p><p>o expressavam em forma rítmica. Para que as crianças retivessem</p><p>facilmente na memória as máximas que se lhes ensinavam, recorriam ao</p><p>artifício mnemotécnico da alteração ou mudança das letras de uma palavra,</p><p>e nas cerimônias religiosas se cantavam certas frases com acompanhamento</p><p>de música, tal como hoje o é o canto gregoriano a cujo tom adaptamos a</p><p>letra dos salmos, sem compor, como nos hinos, a música adequada.</p><p>Isto nos leva a considerar a música daqueles antigos peruanos. Tinham</p><p>diversidade de instrumentos, entre os quais se via uma antiga clarineta e</p><p>uma espécie de harpa, de cujas cordas arrancavam doces, selváticas e</p><p>indefinidas melodias de vibração semelhante à eólica. Mas seu instrumento</p><p>principal e mais popular era um parecido com o harmônio, que soava pela</p><p>vibração de uma língua metálica, ferida pelo ar introduzido no instrumento</p><p>mediante um engenhoso dispositivo mecânico, em vez de pedais. Não</p><p>tinham claves ao estilo de nossos harmônios, mas um agrupamento em série</p><p>de pinos metálicos, cujas elevações sobressaíam à maneira de teclas, que o</p><p>músico dedilhava como os digitadores atualmente.</p><p>Com esse instrumento se obtinham sons de considerável intensidade e</p><p>muito bela expressão; mas como a escala musical dos antigos peruanos era</p><p>a mesma que a dos atlantes e radicalmente diferente da nossa, torna-se</p><p>quase impossível formarmos uma ideia dos efeitos obtidos por aquele</p><p>instrumento musical. Do observado se conclui que os antigos peruanos não</p><p>conheciam as que hoje chamamos peças de música, que se pudesse copiar e</p><p>reproduzir à vontade, de quem quer que fossem, mas cada executante</p><p>improvisava a sua composição, e a habilidade musical não consistia em</p><p>interpretar devidamente obras de mestres, mas na fecundidade e recursos</p><p>das improvisações.</p><p>A arquitetura foi uma arte muito bem florescente entre eles, embora</p><p>talvez se deva classificar seu estilo como mais audacioso, repentista e</p><p>utilitário do que eminentemente gracioso. Parece que quase todas as</p><p>estátuas eram de tamanho colossal, e algumas delas de estupendo lavor,</p><p>ainda que, aos olhos acostumados à arte grega, apresente certos traços de</p><p>aspereza a sólida consistência da antiga escultura peruana. Contudo,</p><p>esculpiam baixo-relevos de muito formosa lavra, quase sempre revestidos</p><p>de metal, porque o caráter daquele povo se inclinava especialmente para as</p><p>produções metálicas, em que se destacavam as mais esquisitas</p><p>ornamentações.</p><p>A respeito dos usos e costumes da vida social, há alguns pontos dignos</p><p>de atenção para os curiosos e interessados. Assim vemos que os costumes</p><p>matrimoniais tinham um caráter muito peculiar, pois só se celebravam as</p><p>bodas uma vez por ano. A opinião pública esperava que todo cidadão se</p><p>casasse, a menos que se tivessem poderosas razões em contrário, mas nada</p><p>havia que pudesse parecer coação neste particular. Era proibido o</p><p>matrimônio entre menores; mas ao chegarem os jovens à idade casadoura,</p><p>eram livres para escolher seu par, como o são entre nós. O enlace, no</p><p>entanto, só podia ser celebrado em dia assinalado para tal, quando o</p><p>governador do distrito ou cidade fazia uma visita formal. Então todos os</p><p>jovens que haviam atingido a idade de noivado, durante o ano anterior,</p><p>eram reunidos diante dele, e oficialmente notificados de que se achavam</p><p>agora livres para viver em estado matrimonial. Alguns pares haviam já</p><p>resolvido aproveitar-se da oportunidade; por isso se apresentavam diante do</p><p>governador e lhe expunham a sua vontade, e este após formular-lhes</p><p>algumas perguntas, por uma fórmula simples, os considerava marido e</p><p>mulher. Também decretava o governador a redistribuição da terra cabível</p><p>nas novas circunstâncias, pois os recém-casados deixavam de pertencer</p><p>desde aquele momento às suas respectivas famílias paternas e tinham que</p><p>constituir lar próprio. Portanto, o casado recebia duplo lote de terreno do de</p><p>solteiro, e ainda assim, rara vez achava excessivo o trabalho</p><p>consequentemente duplicado.</p><p>Observou-se uma particularidade em relação ao principal alimento do</p><p>país. Os alimentos eram diversos, como sucede hoje, e embora não</p><p>saibamos se estava proibido o pescado, era seguro que ninguém o comia na</p><p>época de nossa consideração. Cultivavam a batata e o inhame, e em seus</p><p>pratos entravam numerosas e diversas combinações de milho, arroz e leite.</p><p>Contudo, tinham um alimento curioso e altamente artificial, que bem</p><p>poderíamos chamar de alimento fundamental de sua vida, pois, como o pão</p><p>entre nós, esse acompanhava principalmente todo outro alimento. A base</p><p>desse alimento era a farinha de milho que, amassada com vários</p><p>ingredientes, era submetida a uma pressão enorme, até deixá-la tão dura e</p><p>compacta como uma torta. Os ingredientes químicos eram dosados de</p><p>maneira que a massa contivesse todos os princípios necessários à nutrição</p><p>do corpo no menor volume possível, e tão eficaz resultado lhes dava, que</p><p>uma delgada fatia continha o suficiente para todo o dia, podendo um</p><p>homem levar consigo, sem o menor inconveniente, a provisão necessária a</p><p>uma longa viagem.</p><p>A maneira mais simples de ingerir esse alimento, era a de chupá-lo</p><p>como a um caramelo; mas se o tempo o permitia, era cozido ou assado de</p><p>diversas maneiras, o que lhe aumentava o volume. Quase não tinha sabor,</p><p>mas era costume condimentá-lo com vários cheiros durante o seu preparo, e</p><p>a variedade de cheiros era indicada por diferentes cores. Assim, por</p><p>exemplo, uma torta vermelha era aromatizada com romã, uma azul com</p><p>baunilha, uma amarela com laranja, as listadas de vermelho e branco</p><p>com</p><p>goiaba, de modo a satisfazer a todos os paladares.</p><p>Essa pasta curiosamente comprimida era o alimento primordial do país,</p><p>e grande número de pessoas não tomava praticamente mais nenhum outro</p><p>alimento, ainda que houvesse muitos outros pratos a escolher.</p><p>Manufaturavam-no em quantidade tão grande, que era excessivamente</p><p>barato e estava ao alcance de qualquer bolsa, sendo notórias as suas</p><p>vantagens para a alimentação das classes operárias. Cultivavam muitos</p><p>frutos que, acompanhados da torta, comiam aqueles que os apreciavam, mas</p><p>tais suplementos alimentícios eram questão de paladar e não de</p><p>necessidade.</p><p>Toda a população era amante de animais domésticos de várias espécies,</p><p>e no decurso do tempo lhes adiantaram até alto grau a evolução específica.</p><p>Os mais favoritos eram monos pequenos e cães, dos quais haviam muitas e</p><p>bem fantásticas variedades, de casta quase tão distinta do tipo originário</p><p>como o são hoje as deformidades chamadas “dachshunds”.68 Gatos, os</p><p>tinham de estranhas cores, havendo conseguido criar alguns de bela e</p><p>brilhante pelagem azul, como não se encontra entre os quadrúpedes.</p><p>Também havia muita gente apegada aos pássaros, como era de se</p><p>esperar num continente onde havia aves de plumagem tão magnificamente</p><p>matizada; e não é de modo algum impossível que ao seu cuidado na seleção</p><p>devemos algumas das esplêndidas variedades ornitológicas que hoje</p><p>habitam os bosques do Amazonas. Algumas damas das mais ricas tinham</p><p>grandes aviários no pátio de sua casa, e dedicavam o tempo vago ao cultivo</p><p>da inteligência e afeto de seus alados favoritos.</p><p>O traje nacional, simples e modesto, consistia numa espécie de</p><p>vestimenta solta, não muito diferente da que hoje se usa no Oriente, embora</p><p>os antigos peruanos preferissem os tecidos coloridos aos brancos, contra o</p><p>gosto generalizado dos atuais hindus que preferem a cor branca. Valia a</p><p>pena ver um peruano em traje de festa, pelo brilhante de seu aspecto, e</p><p>acaso só encontra hoje termo de comparação entre os birmaneses. Regra</p><p>geral, as senhoras gostavam de vestidos azuis, e na época que descrevemos</p><p>era muito comum um azul muito parecido com o que os pintores medievais</p><p>costumavam representar a Virgem Maria. O tecido era no geral de algodão,</p><p>se bem que usavam algumas vezes a lã de lhama e vicunha. Fabricavam,</p><p>igualmente, um tecido muito forte com fibras de “maguey”, para esse fim</p><p>manipuladas quimicamente.</p><p>Tinha a nação toda a facilidade no emprego de métodos mecânicos de</p><p>cálculo rápido, que é tão característico da Raça Atlante. Empregavam um</p><p>ábaco, ou tabuleiro calculador, bastante semelhante ao utilizado hoje com</p><p>destreza pelos japoneses, e também se valiam, em lugar do tabuleiro, de um</p><p>aparato mais barato, formado de uma espécie de feixe de cordas nodosas,</p><p>que talvez seja o original do quipo, encontrado milhares de anos mais tarde</p><p>naquele país pelos espanhóis.</p><p>Ao estudar-se uma civilização antiga como essa, veem-se tantos pontos</p><p>interessantes por sua analogia com a vida de nossa época, que se torna</p><p>muito difícil acertar com o que se deve relatar ou o que se deve omitir. É-</p><p>nos impossível comunicar aos nossos leitores o sentimento da intensa</p><p>realidade que tudo isso infundiu em nós que o vimos; mas confiamos em</p><p>que, para alguns ao menos, não teremos fracassado de todo ao ressuscitar</p><p>momentaneamente aquele passado, morto há muitíssimo tempo. E nos</p><p>recordemos de que nós mesmos, muitos dos quais agora vivendo e atuando</p><p>na Sociedade Teosófica, nascemos naquela época entre os habitantes do</p><p>Peru antigo. Muitos amigos a quem agora conhecemos e amamos foram</p><p>também amigos e parentes naquele remotíssimo tempo, de sorte que a</p><p>recordação de tudo quanto temos tratado de descrever deve estar</p><p>adormecida no mais profundo corpo causal de alguns de nossos leitores, e</p><p>não será totalmente impossível que se lhes reavive a memória, se</p><p>sossegadamente meditarem na descrição. Se alguém o conseguir, verá o</p><p>quanto curiosa e interessante é a retrospecção àquelas há tanto tempo</p><p>esquecidas vidas, para nos apercebermos do que desde então temos ganhado</p><p>e deixado de ganhar.69</p><p>À primeira vista parece como se em muitos aspectos de importância</p><p>tivesse havido mais retrocesso do que progresso. A vida física, com todas as</p><p>suas circunstâncias estava sem dúvida muito melhor governada então, tanto</p><p>quanto sabemos, do que jamais o esteve daí em diante. As oportunidades ao</p><p>trabalho altruísta e a devoção ao dever, que eram então oferecidas à classe</p><p>governante, talvez jamais tenham sido superadas, devendo-se ainda admitir</p><p>que não era preciso as classes menos dotadas de inteligência atirar-se a</p><p>qualquer luta ou esforço mental, mas se o fizessem, seriam fartamente</p><p>compensadas.</p><p>Sem dúvida que atualmente o estado da opinião pública não é tão</p><p>elevado, nem o senso do dever tão forte, como o eram então. Mas a</p><p>comparação é em verdade pouco razoável. Somos uma Raça relativamente</p><p>ainda jovem, enquanto a do antigo Peru era um dos mais antigos rebentos</p><p>de uma Raça que há muitos séculos havia já transposto a sua juventude. Por</p><p>causa de nossa ignorância, estamos agora atravessando um período de</p><p>provas, tormentas e violências; mas com o tempo, quando tivermos um</p><p>pouco mais de bom-senso, entraremos numa era de êxito e sossego, e então,</p><p>pela lei da evolução, alcançaremos um nível mais elevado do que o deles.</p><p>Devemos nos lembrar que, apesar de sua bela religião, nada sabiam do</p><p>verdadeiro Ocultismo, nem tinham do grandioso Plano do universo o</p><p>vislumbre que têm todos os que se aproveitam privilegiadamente do estudo</p><p>da Teosofia. Quando a nossa quinta Raça Raiz chegar à mesma etapa da</p><p>vida dos antigos peruanos, poderemos ter a segura esperança de igualar as</p><p>condições físicas, tão excelentes como as suas, com o verdadeiro</p><p>ensinamento filosófico e com um desenvolvimento intelectual e espiritual</p><p>muito superior ao que nos teria sido possível quando, faz quatorze mil anos,</p><p>formávamos parte daquela esplêndida relíquia da civilização atlante.</p><p>CAPÍTULO 13</p><p>DUAS CIVILIZAÇÕES ATLANTES</p><p>A TURÂNIA NA CALDEIA, 19000 ANOS A.C.</p><p>Outra civilização que nos interessou por seu aspecto, quase tanto quanto a</p><p>do Peru, foi a que floresceu na região da Ásia posteriormente chamada</p><p>Babilônia ou Caldeia. Esses dois grandes antigos impérios apresentam um</p><p>curioso ponto em comum: cada um deles, no período de sua decadência,</p><p>muitos séculos depois do seu auge, em que é mais proveitoso estudá-los, foi</p><p>conquistado por um povo muito inferior em escala de civilização, o qual,</p><p>apesar disso, procurou adotar tanto quanto possível os costumes civis e</p><p>religiosos da raça subjugada. Da mesma sorte que o Peru descoberto por</p><p>Pizarro era em quase todos os aspectos um pálido reflexo do Peru antigo</p><p>que procuramos descobrir, assim também a Babilônia conhecida pelo</p><p>estudante de arqueologia é, em vários aspectos, uma espécie de degenerada</p><p>imitação do império anterior e maior.</p><p>Dizemos em vários aspectos, e não todos. É possível que no auge de sua</p><p>glória o segundo império sobrepujasse ao primeiro em poderio militar, em</p><p>extensão territorial e em atividade comercial, mas, em troca, a primeira raça</p><p>levou sem dúvida vantagem sobre a segunda na simplicidade de costumes,</p><p>ardorosa devoção aos dogmas da notável religião que professavam, e no</p><p>verdadeiro conhecimento dos fenômenos da natureza.</p><p>Dificilmente se poderia encontrar, entre dois países, contraste mais</p><p>significativo que o que se nota entre o Peru e a Babilônia. O primeiro tinha</p><p>por característica capital o seu notável sistema de governo, e sua religião</p><p>formava uma parte comparativamente menor da vida do povo, isto é, as</p><p>funções dos sacerdotes como professores, médicos e agentes do vasto plano</p><p>de previsão para a velhice eram, a seus olhos, muito mais importantes do</p><p>que o ministério eventual de pregação e oração relacionado com o serviço</p><p>dos templos. Pelo contrário, na Caldeia, o sistema de governo nada tinha de</p><p>excepcional, e o principal fator da vida era a religião, pois não se</p><p>empreendia empresa alguma sem sua referência especial. Assim é que a</p><p>religião do povo predominava e enchia a sua vida até um ponto talvez</p><p>átomos,8 esta matéria recebe a denominação correspondente à</p><p>modalidade de consciência a que responde, a saber: física, emocional,</p><p>mental, intuicional e espiritual.9 Na primeira Cadeia, os sete mundos, A, B,</p><p>C, D, E, F, G, estão dispostos como segue10: A, mundo-raiz, e G, mundo-</p><p>semente; estão no plano espiritual, porque tudo desce de cima para baixo,</p><p>do sutil para o denso, para tornar a subir ao superior, enriquecido dos frutos</p><p>da jornada, que têm de servir de semente à Cadeia sucessora. B e F estão no</p><p>plano intuicional; o primeiro é de colheita e o segundo de assimilação. C e</p><p>E estão igualmente relacionados no plano mental superior. D, ponto de</p><p>equilíbrio e conversão entre os arcos descendente e ascendente, está situado</p><p>na zona inferior do plano mental. Estes pares de globos se relacionam</p><p>intimamente em cada Cadeia; mas um deles é o tosco rascunho e o outro a</p><p>pintura concluída.</p><p>DIAGRAMA 2</p><p>Na segunda Cadeia, todos os globos desceram uma etapa e a D está no</p><p>plano emocional. Na terceira Cadeia desce uma etapa mais e D baixa até o</p><p>plano físico. A quarta Cadeia, a intermediária das sete, profundamente</p><p>sumida em densa matéria, é o ponto de conversão das Cadeias, como D o é</p><p>dos globos. Tão somente esta Cadeia tem situados três globos – C, D e E –</p><p>no plano físico. Na viagem de retorno, por assim dizer, a elevação parece</p><p>descida; nas Cadeias terceira e quinta há um só globo físico; nas segunda e</p><p>sexta o globo D é mental. No fim da sétima Cadeia fica cumprido o</p><p>esquema de evolução, cujo fruto se colhe.</p><p>Para facilitar a compreensão dos sete Esquemas evolucionários de nosso</p><p>Sistema Solar, podem denominar-se segundo os respectivos globos D, que</p><p>são os mais conhecidos, a saber: Vulcano, Vênus, Terra, Júpiter, Saturno,</p><p>Urano e Netuno.11 No Esquema a que pertence a Terra, a Cadeia precedente</p><p>à nossa foi a terceira da série, e seu único globo físico D, o planeta que hoje</p><p>chamamos Lua.</p><p>Por isso se dá o nome de Lunar à terceira Cadeia, ao passo que a</p><p>segunda e primeira se designam apenas numericamente. Nossa Cadeia, a</p><p>Terrestre, é a quarta na ordem de sucessão, e tem, portanto, fisicamente</p><p>manifestados, três de seus globos, que são: o quarto, D, a Terra; o terceiro,</p><p>C, Marte, e o quinto, E, Mercúrio.</p><p>O Esquema Netuniano tem, também, fisicamente manifestados, três de</p><p>seus globos, que são: Netuno, globo D, e dois planetas físicos C e E com ele</p><p>relacionados, cuja existência assinalou a Teosofia antes que a ciência os</p><p>descobrisse. Portanto, está na quarta Cadeia de sua própria série.</p><p>O Esquema Venusiano está no término de sua quinta Cadeia, e,</p><p>portanto, Vênus perdeu recentemente sua Lua ou globo D da Cadeia</p><p>precedente.12 É possível que Vulcano, descoberto por Herschel, mas</p><p>desaparecido depois da vista dos astrônomos, esteja atualmente em sua</p><p>sexta Cadeia, embora não tenhamos informação sobre esse particular, nem</p><p>direta nem indireta. Júpiter não está ainda habitado, mas em seus satélites</p><p>há seres de densos corpos físicos.</p><p>Os Diagramas III e IV representam a correspondência entre as sete</p><p>Cadeias de um mesmo Esquema, para demonstração do progresso evolutivo</p><p>de Cadeia em Cadeia.</p><p>Convém estudar primeiramente o Diagrama III, mera simplificação do</p><p>Diagrama IV, copiado por sua vez do desenho de um Mestre. Embora a</p><p>princípio pareça este Diagrama um tanto desconcertante, se tornará muito</p><p>instrutivo quando o estudante o compreender.</p><p>SUCESSIVAS ONDAS DE VIDA</p><p>DIAGRAMA 3</p><p>O Diagrama III dispõe as sete Cadeias de um Esquema em colunas</p><p>próximas, a fim de que o fluxo divino de Vida assinalado pelas flechas</p><p>possa ser indicado em ascensão de reino para reino. Cada seção de uma</p><p>coluna figura um dos sete reinos da natureza: três elementais, mineral,</p><p>vegetal, animal e humano.13</p><p>Seguindo a sétima Onda de Vida, única que passa no Esquema pelos</p><p>sete reinos, vemos que entra na primeira Cadeia pelo primeiro reino</p><p>elemental, que ali se desenvolve durante o período vital da Cadeia. Na</p><p>segunda Cadeia passa pelo segundo reino elemental, que igualmente se</p><p>desenvolve ali durante seu período vital. Na terceira Cadeia aparece no</p><p>terceiro reino elemental e na quarta entra no mineral. Depois atravessa</p><p>sucessivamente os reinos vegetal e animal nas quinta e sexta Cadeias, até</p><p>alcançar o reino humano na sétima. Assim temos que o Esquema em</p><p>conjunto proporciona um campo de evolução para a corrente de Vida</p><p>divina, desde sua incorporação na matéria até o homem.14 As correntes</p><p>restantes de Vida, ou começaram já em outro Esquema e entraram neste</p><p>pelo ponto de evolução ali alcançado, ou chegaram demasiado tarde para</p><p>alcançar nesse o reino humano.</p><p>No estudo do Diagrama IV, temos de notar antes de tudo que os círculos</p><p>de cor não são sete Cadeias de globos, como poderiam parecer, senão os</p><p>sete reinos da natureza em cada Cadeia sucessiva, e, portanto,</p><p>correspondem-se com as seções em coluna do Diagrama III. Aqui temos um</p><p>completo Esquema Evolucionário, com a situação de cada reino em cada</p><p>Cadeia. O estudante pode escolher uma linha qualquer de cor no primeiro</p><p>círculo e segui-la progressivamente.</p><p>Tomemos o círculo azul do extremo superior esquerdo, assinalado pela</p><p>flecha. Este círculo representa o primeiro reino elemental da primeira</p><p>Cadeia, e a sua corrente deixa essa primeira Cadeia para entrar na segunda</p><p>(o anel seguinte de círculos coloridos). No momento de entrar, a corrente</p><p>bifurca-se e sua porção menos avançada, que não está ainda disposta para</p><p>entrar no segundo reino elemental, se desvia da corrente principal para</p><p>entrar no primeiro reino elemental dessa segunda Cadeia, unindo-se à nova</p><p>corrente de Vida (de cor amarela e assinalada com uma flecha), a qual inicia</p><p>sua evolução nessa Cadeia. A principal corrente azul vai ao segundo reino</p><p>elemental dessa segunda Cadeia, recebendo em seu seio alguns retardados</p><p>do segundo reino elemental da primeira Cadeia, os quais assimila e leva</p><p>consigo. Convém atentar que só sai deste reino uma corrente azul, pois</p><p>todos os elementos estranhos foram completamente assimilados. A corrente</p><p>azul prossegue para a terceira Cadeia, onde se bifurca e deixa que seus</p><p>retardados continuem no segundo reino elemental da terceira Cadeia,</p><p>enquanto sua massa vai formar o terceiro reino elemental dessa terceira</p><p>Cadeia. Também recebe alguns retardados do terceiro reino elemental da</p><p>segunda Cadeia, e os assimila e leva consigo para entrar como não atenuada</p><p>corrente azul no reino mineral da quarta corrente. Igualmente deixa alguns</p><p>retardados, que se desenvolverão no terceiro reino elemental da quarta</p><p>Cadeia, e recebe outros do reino mineral da terceira Cadeia, assimilando-os</p><p>como antes. Neste ponto alcança o máximo de densidade na evolução, ou</p><p>seja, o reino mineral, e ao sair dele (seguindo ainda a linha azul), ascende</p><p>ao reino vegetal da quinta Cadeia, enviando seus retardados ao reino</p><p>mineral da mesma e recebendo os do reino vegetal da quarta. De novo</p><p>ascende até alcançar desta vez o reino animal da sexta Cadeia, deixando que</p><p>os vegetais retardados completem sua evolução no reino vegetal desta sexta</p><p>Cadeia e recebendo em seu próprio reino os animais retardados da quinta</p><p>Cadeia. Por fim, ao terminar sua evolução, entra no reino humano da sétima</p><p>Cadeia, deixando os animais retardados no reino animal desta sétima</p><p>Cadeia e recebendo alguns seres humanos do reino relativo ao homem da</p><p>sexta Cadeia, os quais leva consigo à sua esplêndida conclusão, onde se</p><p>aperfeiçoa a evolução humana nos seres super-humanos, ao longo de uma</p><p>das sete sendas, indicadas no comando azul do extremo final.</p><p>No Esquema seguinte de evolução, os retardados do reino animal da</p><p>sétima Cadeia do Esquema anterior aparecerão no reino humano da</p><p>primeira Cadeia, e ali chegarão a homens perfeitos. Estarão no círculo que</p><p>corresponde ao assinalado pelo comando cinzento-escuro, na primeira</p><p>Cadeia do Diagrama que estamos estudando.</p><p>De idêntica maneira se tem de seguir todas as linhas de reino a reino,</p><p>nas Cadeias sucessivas. O círculo alaranjado representa o segundo reino</p><p>elemental da primeira Cadeia, e, portanto, teve uma etapa de vida na Cadeia</p><p>precedente, isto</p><p>igualado somente entre os brâmanes da Índia.</p><p>Se terá em vista que o culto religioso dos peruanos era uma simples, se</p><p>bem que extremamente linda, forma de culto ao Sol, ou melhor, de adoração</p><p>ao Espírito do Sol. Tinham poucos e claros dogmas, cuja principal</p><p>característica era o júbilo que em tudo reinava. Na Caldeia a fé apresentava</p><p>aspecto mais severo e místico, com maior complexidade de ritual. Não só</p><p>adoravam o Sol, mas também as hostes dos céus, e a religião consistia num</p><p>muito bem ordenado culto aos Anjos das Estrelas, além de um completo e</p><p>perfeito sistema de astrologia para a regulamentação prática da vida</p><p>cotidiana.</p><p>Dispensemos, no momento, a descrição de seus magníficos templos e</p><p>seu pomposo ritual, para considerar primeiramente a influência dessa</p><p>estranha religião na vida do povo. Para compreender seu efeito, temos de</p><p>abranger antes de tudo o seu conceito da astrologia, que em conjunto</p><p>revelava, no nosso entender, muitíssimo senso comum, e poderia ser</p><p>vantajosamente aceito pelos atuais professos dessa ciência.</p><p>No período que estamos considerando, nem os sacerdotes, nem os</p><p>professores, nem mesmo a plebe, criam que os planetas físicos influíssem</p><p>por si nos negócios humanos. Aos sacerdotes se ensinava uma teoria muito</p><p>completa da matemática, transmitida, provavelmente, por continuada</p><p>tradição hereditária, desde os primeiros instrutores que obtiveram</p><p>conhecimentos diretos e pessoais dos grandes fenômenos da natureza. Não</p><p>é difícil de aceitar a ideia de seu plano em conjunto, mas é impossível</p><p>construir, apenas com nossas três dimensões, uma figura matemática que</p><p>satisfaça em todos os seus pormenores os requisitos de sua hipótese, ao</p><p>menos no estado atual de nosso conhecimento.</p><p>Consideravam todo o Sistema Solar, em toda a sua complexidade, como</p><p>um grande Ser, do qual cada um de seus componentes era uma expressão</p><p>parcial. Os elementos constitutivos de nossa natureza física, tais como o Sol</p><p>com sua maravilhosa coroa, e os planetas com seus satélites, seus oceanos,</p><p>suas atmosferas e a variedade de éteres circundante, eram coletivamente o</p><p>corpo físico do Ser, a manifestação desse Ser no plano físico.</p><p>Da mesma maneira, os coletivos mundos astrais (não somente as esferas</p><p>astrais dos planetas físicos, mas também os planetas puramente astrais de</p><p>todas as cadeias do Sistema, como, por exemplo, os globos B e F de nossa</p><p>Cadeia Terrestre) constituíam o Seu corpo astral, e os coletivos mundos do</p><p>plano mental formavam o Seu corpo mental, ou o veículo através do qual</p><p>Ele se manifestava nesse plano particular.</p><p>A ideia é clara e corresponde intimamente com a que se nos ensinou a</p><p>respeito do grande LOGOS de nosso Sistema.70 Suponhamos agora que</p><p>nesses “corpos” do LOGOS, em seus diversos níveis, haja certas classes ou</p><p>tipos de matéria igualmente distribuída por todo o Sistema. Esses tipos de</p><p>matéria não correspondem de maneira alguma às nossas usuais subdivisões</p><p>da matéria segundo seus graus de densidade, como, por exemplo, os</p><p>sólidos, líquidos, gases e éteres do mundo físico. Ao contrário, constituem</p><p>séries totalmente distantes de correspondentes divisões, cada uma das quais</p><p>contém matéria de todos aqueles diferentes graus, de maneira que se</p><p>assinalamos os vários tipos com números, teremos matéria sólida, líquida,</p><p>gasosa e etérica do primeiro tipo; matéria sólida, líquida, gasosa e etérica do</p><p>segundo tipo, e assim sucessivamente.</p><p>Isto ocorre em todos os níveis, mas, a bem da clareza, concentraremos</p><p>por ora nossa atenção a um só nível, por exemplo, ao astral, que talvez nos</p><p>permita compreender mais facilmente a ideia. Com frequência se tem dito</p><p>que o corpo astral de um homem contém matéria de cada um dos subplanos</p><p>astrais e que a proporção entre a mais densa e a mais sutil denota a</p><p>capacidade daquele corpo para responder aos desejos mais grosseiros ou</p><p>mais delicados, o que indica, até certo ponto, o seu grau de evolução.</p><p>Igualmente, em todo o corpo astral há matéria de cada um daqueles tipos ou</p><p>divisões equivalentes, cuja proporção demonstra o temperamento psíquico</p><p>do homem, isto é, se é pacífico ou excitável, sanguíneo ou impassível,</p><p>paciente ou irritável, etc.</p><p>Segundo a teoria caldaica, cada um desses tipos de matéria no corpo</p><p>astral do LOGOS, e em particular a massa de essência elemental atuante</p><p>através de cada tipo, constitui, de certo modo, um veículo separado (quase</p><p>uma entidade separada), com suas afinidades peculiares e capaz de vibrar</p><p>sob a influência que, provavelmente, não provocaria resposta nos demais</p><p>tipos. Diferem entre si esses tipos, porque sua matéria componente provém</p><p>de diferentes centros do LOGOS e se mantém em estreita simpatia com o</p><p>centro de origem, de forma que a mais leve alteração, de qualquer classe,</p><p>nas condições desse centro, se reflete instantaneamente, de um ou outro</p><p>modo, em toda a matéria do respectivo tipo.</p><p>Já que todo homem tem matéria de todos esses tipos, é evidente que</p><p>toda modificação ou atuação em qualquer desses grandes centros deve</p><p>afetar, mais ou menos, todos os seres do Sistema, e o grau em que cada</p><p>indivíduo é afetado dependerá da proporção que haja em seu corpo astral do</p><p>animado tipo de matéria. Isto significa que encontramos tantos tipos</p><p>distintos de homens como de matéria, e por causa da composição</p><p>constitutiva de seus corpos astrais, uns homens são mais receptivos a</p><p>determinadas influências, e outros homens o são a outras.</p><p>Quando, de um plano suficientemente elevado, observamos o Sistema</p><p>Solar, notamos estar ele constituído por esses grandes centros, rodeados,</p><p>cada um, por uma enorme esfera de influência, que assinala os limites</p><p>dentro dos quais está especialmente ativa a força difundida através dessa</p><p>esfera. Cada um desses centros tem uma espécie de mudança ou movimento</p><p>próprio, ordenado e periódico, correspondente talvez, num nível</p><p>infinitamente superior, à palpitação regular do coração físico humano. Mas</p><p>sendo muito mais rápidas que outras algumas dessas mudanças periódicas,</p><p>produz-se uma série curiosa e complicada de efeitos, e tem se observado</p><p>que o movimento dos planetas físicos em sua relação com outro, fornece</p><p>uma chave quanto à disposição dessas grandes esferas em qualquer dado</p><p>momento. Sustentavam os caldeus que ao condensar-se pouco a pouco a</p><p>inflamada nebulosa de que se originou o Sistema Planetário, ficou</p><p>determinada a posição dos planetas físicos pela formação de vórtices em</p><p>certos pontos de interseção dessas esferas entre si e com um plano dado.</p><p>Diferenciam-se amplamente em qualidade as influências inerentes a</p><p>essas esferas, e uma modalidade dessa diferença está em sua ação sobre a</p><p>essência elemental do homem e em volta dele. Tenha-se sempre em mente</p><p>que se supõe essa influência se exercendo em todos os planos, e não</p><p>somente no astral, embora neste momento, por simples facilidade,</p><p>estejamos concentrando nossa atenção ao plano astral. Com efeito, as</p><p>influências podem e certamente devem ter outras e mais importantes</p><p>modalidades de ação, hoje ainda desconhecidas; contudo, pelo menos é do</p><p>conhecimento do observador que cada uma dessas esferas produz seu</p><p>peculiar efeito especial sobre as múltiplas variedades da essência elemental.</p><p>Assim, por exemplo, uma dessas influências estimula poderosamente a</p><p>atividade e vitalidade daquelas classes de essência elemental peculiares do</p><p>centro de que se originam, enquanto refreiam e regulam as demais. A</p><p>influência de outra esfera se mostra poderosa sobre uma classe</p><p>completamente diferente de essências, pertencentes ao seu centro, sem no</p><p>entanto afetar no mínimo a classe anterior. A presença de outra provoca</p><p>todas as espécies de modificações e substituições dessas influências, sendo</p><p>em alguns casos enormemente intensificada a ação de uma delas, e em</p><p>outros, quase neutralizada.</p><p>Inevitavelmente nos perguntarão neste ponto se os sacerdotes caldeus</p><p>eram fatalistas, isto é, se por haverem descoberto e calculado os exatos</p><p>efeitos destas influências nos diversos tipos de seres humanos, criam que</p><p>tais efeitos eram inevitáveis e que a vontade humana não podia lhes resistir.</p><p>A isto respondiam resolutamente</p><p>os caldeus que as influências não tinham</p><p>poder algum para dominar a vontade humana; o que todas elas podiam</p><p>fazer, em alguns casos, era facilitar ou dificultar a ação dessa vontade em</p><p>certas direções. Estando os corpos astral e mental do homem compostos</p><p>praticamente de matéria viva e vivificada, que atualmente chamamos de</p><p>essência elemental, uma excitação extraordinária de qualquer classe dessa</p><p>essência, ou um súbito incremento de sua atividade, deve sem dúvida afetar</p><p>em alguma extensão tanto as suas emoções como a sua mente, ou a ambas.</p><p>É também intuitivo que essas influências devem atuar diferentemente em</p><p>homens diferentes, por causa das variedades de essência que lhes integram</p><p>a composição.</p><p>Mas os caldeus afirmavam explicitamente que em nenhum caso podia o</p><p>homem ser arrastado por essas influências a qualquer linha de conduta, a</p><p>não ser com o consentimento de sua própria vontade, embora pudessem, de</p><p>fato, ajudá-lo ou impedi-lo em qualquer de seus esforços. Ensinavam que o</p><p>homem realmente forte não havia de aborrecer-se pelas influências</p><p>planetárias que pudessem atingi-lo, mas que, no geral, para as pessoas</p><p>comuns não valia a pena saber em que momento se pode aplicar mais</p><p>vantajosamente uma ou outra força.</p><p>Explicavam meticulosamente que as influências não são por si nem</p><p>melhores nem piores que quaisquer outras forças da natureza, pois bem</p><p>sabemos que a eletricidade e demais energias primárias naturais podem</p><p>favorecer ou prejudicar segundo sua aplicação. E assim como nós dizemos</p><p>que certas experiências têm maiores probabilidades de êxito quando a</p><p>atmosfera está muito carregada de eletricidade, ao passo que outras</p><p>fracassarão em condições semelhantes, assim também diziam os sacerdotes</p><p>caldeus que todo esforço para utilizar as forças de nossa natureza mental ou</p><p>emocional atingirá mais ou menos facilmente o seu objetivo, conforme as</p><p>influências predominantes ao realizá-lo.</p><p>Portanto, deixaram bem entendido que esses fatores podiam ser</p><p>prescindidos como une quantité négligeable (uma quantidade indiferente)</p><p>pelo homem de férrea determinação ou o estudante de genuíno Ocultismo;</p><p>porém, como os seres humanos, em sua maioria, ainda se permitiam ser</p><p>joguetes das forças do desejo, e não havia ainda desenvolvido algo digno de</p><p>se chamar sua vontade própria, sua fraqueza permitia a essas influências</p><p>assumirem uma importância que intimamente não tinham.</p><p>O fato da atuação de uma influência particular jamais torna necessária a</p><p>ocorrência de determinado acontecimento, mas pode torná-lo mais</p><p>provável. Por exemplo, por meio do que na Astrologia moderna se chama</p><p>uma influência marciana, ativam-se na essência astral certas influências</p><p>tendentes à paixão. Podia-se, assim, predizer com segurança que um</p><p>homem, cuja natureza tivesse tendências passionais e sensuais, poderia</p><p>provavelmente cometer algum crime relacionado com a paixão ou a</p><p>sensualidade, quando essa influência estivesse predominantemente em</p><p>atividade. Não que ele fosse forçado a cometer o crime, mas apenas que ao</p><p>se manifestar essa condição, lhe seria mais difícil manter o equilíbrio. Pois</p><p>a atuação sobre ele é de duplo caráter; não só é a essência em seu interior</p><p>estimulada a uma maior atividade, como também a matéria correspondente</p><p>do plano exterior é igualmente excitada e reage sobre ele.</p><p>Costumavam apresentar o exemplo de que certa variedade de</p><p>influências determina eventualmente um estado de coisas que intensifica em</p><p>considerável grau toda espécie de excitação nervosa, resultando no</p><p>ambiente externo uma intensificação do sentimento de irritabilidade. Em</p><p>tais circunstâncias, surgem as disputas mais facilmente do que o comum,</p><p>mesmo sob os pretextos mais frívolos, e o grande número de pessoas que</p><p>está sempre a ponto de se alterar, descontrola-se por completo mesmo à</p><p>menor provocação.</p><p>Diziam, também, que algumas vezes as mencionadas influências,</p><p>atuando sobre o descontentamento dissimulado dos ignorantes invejosos,</p><p>determinavam uma erupção do frenesi popular, de que podiam seguir-se</p><p>tremendos desastres. Evidentemente que esta advertência, dada há milhares</p><p>de anos, não é menos necessária em nossa época, porque precisamente deste</p><p>modo se levantaram os ânimos dos parisienses quando, em 1870,</p><p>percorriam as ruas gritando: “A Berlim!” E assim também se têm levantado</p><p>mais de uma vez os furiosos uivos de “Din! din!”, em que tão facilmente</p><p>manifesta o insensato fanatismo de uma inculta multidão de muçulmanos.</p><p>A Astrologia dos sacerdotes caldeus teve por principal objetivo o</p><p>cálculo da posição e atuação dessas esferas de influência, de modo que mais</p><p>trataram de estabelecer regras de vida do que de profetizar o futuro. Pelo</p><p>menos, suas predições se referiam à inclinação dos indivíduos e não a</p><p>determinados acontecimentos, como é, precisamente, o caráter da</p><p>Astrologia moderna.</p><p>Contudo, não há dúvida de que os caldeus estavam certos ao afirmarem</p><p>o poder da vontade humana para modificar o destino cármico do indivíduo.</p><p>O carma pode colocar um homem em determinado ambiente, ou sob certas</p><p>influências, mas não pode impeli-lo a cometer um crime, ainda que nas</p><p>circunstâncias em que se veja necessitado de extrema resolução, de sua</p><p>parte, para não praticá-lo. Assim nos parece que, então, como agora, a</p><p>Astrologia não vai mais além de prevenir o homem das circunstâncias em</p><p>que terá de se encontrar em tal ou qual época. Mas a definida previsão de</p><p>sua conduta em tais circunstâncias só pode basear-se teoricamente em</p><p>probabilidades, ainda quando saibamos que essas probabilidades estão</p><p>muito próximas da certeza no caso do homem apático da rua.</p><p>Os cálculos dos antigos sacerdotes os capacitavam para publicar</p><p>anualmente uma espécie de almanaque oficial, que regulava com muita</p><p>amplitude a vida social. Assinalavam eles as épocas mais propícias ao bom</p><p>êxito dos trabalhos do campo e o momento melhor adequado à procriação</p><p>dos animais e plantas. Eram, paralelamente, médicos e professores do povo,</p><p>e sabiam perfeitamente sob que influências teriam que ministrar</p><p>medicamentos com maior eficácia.</p><p>Dividiam seus partidários em diversas classes, assinalando a cada uma</p><p>delas o que agora chamaríamos o seu planeta influente; e o calendário</p><p>continha multidão de advertências dirigidas às várias classes, por exemplo:</p><p>“No sétimo dia, os adoradores de Marte devem prevenir-se especialmente</p><p>contra a irritabilidade sem motivo”; ou “Do duodécimo ao décimo quinto</p><p>dia há incomum risco de rixas por questões afetivas, especialmente para os</p><p>adoradores de Vênus”. Não resta dúvida de que estas advertências eram</p><p>muito úteis para a massa popular, por muito estranho que hoje nos pareça</p><p>um tão acabado sistema de prevenção contra contingências de menor valia.</p><p>Dessa peculiar divisão do povo em classes, correspondentes aos</p><p>planetas que indicavam o centro de influência a que estava sujeita cada uma</p><p>delas, resultou uma muito curiosa organização do serviço público dos</p><p>templos, ao mesmo tempo que das devoções privadas dos fiéis. Todos</p><p>empregavam igualmente na oração certas horas do dia, reguladas segundo o</p><p>movimento aparente do Sol. À hora da aurora, ao meio-dia e no ocaso, os</p><p>sacerdotes cantavam nos templos uma espécie de antífonas ou versículos,</p><p>com assistência dos fiéis mais religiosos, que tomavam este ato por normal</p><p>obrigação; e aqueles que não podiam assistir convenientemente, recitavam</p><p>às mesmas horas algumas piedosas frases de louvor e oração.</p><p>Mas, completamente independente dessas práticas, que parece haverem</p><p>sido comuns a todos, cada pessoa tinha suas orações especiais para oferecer</p><p>à Divindade particular com a qual se achava ligada por nascimento, e sua</p><p>hora propícia variava constantemente com o movimento de seu planeta. O</p><p>momento em que este cruzava o meridiano parece ter sido considerado</p><p>como sendo o mais favorável para todos, e a seguir, poucos minutos após</p><p>seu despontar e imediatamente antes de seu ocaso. Contudo, podia ser</p><p>invocado a qualquer hora enquanto estivesse sobre o horizonte; e mesmo</p><p>enquanto estivesse oculto o planeta, sua Divindade não seria inacessível,</p><p>embora neste último caso só se</p><p>dirigiam a ela em contingências extremas.</p><p>Todas as cerimônias empregadas eram inteiramente diferentes.</p><p>Os calendários especiais, que os sacerdotes compunham para os devotos</p><p>de cada Divindade planetária, continham todos os pormenores relativos às</p><p>horas de oração, com os versículos apropriados à reza. Para cada planeta se</p><p>editava o que se poderia descrever como sendo uma espécie de livro de</p><p>orações periódicas, e todos os que estavam vinculados a esse planeta</p><p>cuidavam de prover-se de exemplares desse livro. Esses calendários eram,</p><p>com efeito, mais do que meros memoriais das horas de oração; eram</p><p>preparados sob condições estelares especiais (cada um sob a influência de</p><p>sua Divindade peculiar), e se lhes atribuíam várias propriedades</p><p>talismânicas, de modo que o devoto levava consigo o último calendário do</p><p>seu planeta particular.</p><p>Segue-se, então, que os homens religiosos da antiga Caldeia não tinham</p><p>um horário regular e invariável para suas orações ou culto, dia após dia,</p><p>como se faz agora; em vez disso, havia mobilidade em sua hora de</p><p>meditação e exercícios religiosos, ocorrendo umas vezes de manhã, outras à</p><p>tarde, ou mesmo à meia-noite. Jamais, porém, o deixavam de observar; por</p><p>incompatível que fosse a hora com o seu trabalho, seus prazeres ou seu</p><p>repouso, considerariam grave negligência deixar de observá-la. Tanto</p><p>quanto alcançam nossas investigações, parece que os caldeus não criam que</p><p>o Espírito do planeta pudesse se ressentir ou encolerizar pelo fato de algum</p><p>devoto omitir sua oração na hora devida. Ao contrário, acreditavam que</p><p>naquele momento a Divindade derramava sua bênção, e que seria loucura</p><p>ou ingratidão desperdiçar a oportunidade tão amorosamente oferecida.</p><p>Além destas devoções estritamente privativas do povo, celebravamse</p><p>magníficas e faustosas cerimônias públicas. Para cada planeta eram</p><p>assinaladas, durante o ano, pelo menos dois dias de grandes festividades, e</p><p>ao Sol e à Lua, muito mais de dois. Cada Espírito planetário tinha seu</p><p>respectivo templo em todas as povoações do país; comumente os devotos se</p><p>contentavam em visitar com assiduidade o mais próximo, mas nas festas</p><p>solenes se congregava enorme multidão numa vasta planície das imediações</p><p>de sua capital, onde havia um grupo de templos, absolutamente únicos em</p><p>seu esplendor.</p><p>Eram esses templos dignos de atenção como belos exemplares de um</p><p>estilo arquitetônico; porém, o fato mais interessante é estarem eles dispostos</p><p>com o evidente intento de reproduzir a ordenação do Sistema Solar, com tal</p><p>acerto compreendido, que demonstra, sem dúvida alguma, o profundo</p><p>conhecimento de seus autores sobre a matéria. O maior e mais esplêndido</p><p>era o Templo do Sol, que logo será necessário descrever com mais</p><p>pormenores. Os demais, erguidos a distâncias sucessivamente maiores</p><p>daquele, pareciam, à primeira vista, ter sido construídos segundo</p><p>simplesmente o ditou a conveniência e não obedecendo a um plano</p><p>estudado. Contudo, um exame mais atento mostrava que havia um plano, e</p><p>notável, pois não só as progressivas distâncias, que os separavam do</p><p>principal, tinham sua definida razão e significação, como, também, as</p><p>respectivas dimensões de algumas de suas partes importantes não eram</p><p>arbitrárias, porque representavam respectivamente as magnitudes dos</p><p>planetas e suas distâncias do orbe solar.</p><p>Ora, a quem conheça algo de Astronomia é evidente que estaria fadada</p><p>ao fracasso qualquer tentativa para construir em escala um modelo do</p><p>Sistema Solar em templos; quero dizer, se os templos se destinassem ao</p><p>culto no sentido ordinário. É tão imensa a diferença de magnitude entre o</p><p>Sol e os pequenos membros de sua família, e tão enormes as distâncias</p><p>entre eles, que, a menos que os edifícios fossem meras casas de bonecas,</p><p>não haveria país suficientemente vasto para conter todo o Sistema. Como,</p><p>então, venceram essas dificuldades os sábios caldeus que projetaram aquele</p><p>maravilhoso grupo de templos? Precisamente como o fazem os ilustradores</p><p>de nossos modernos livros de Astronomia, isto é, empregando duas escalas</p><p>distintas, mas conservando as relativas proporções no traçado de cada uma.</p><p>Naquele admirável monumento do antigo saber, não há prova alguma de</p><p>que seu projetista conhecesse as grandezas e distâncias absolutas dos</p><p>planetas, embora, por certo, lhe tivesse sido isso possível; o que é positivo é</p><p>que ele estava a par de suas magnitudes e distâncias relativas. Havia</p><p>aprendido, ou talvez descoberto por si, a Lei dos Augúrios; suas</p><p>construções nos permitem supor que eram bem adiantados os seus</p><p>conhecimentos, e que seu arquiteto devia, com toda a certeza, possuir</p><p>alguma informação quanto às grandezas planetárias, embora seus cálculos</p><p>das mesmas se diferenciassem em alguns pontos dos aceitos atualmente.</p><p>Os santuários dedicados aos planetas internos formavam uma espécie de</p><p>festão irregular, que parecia incrustado na barra das paredes do grande</p><p>Templo Solar, enquanto os correspondentes aos gigantescos membros da</p><p>família solar estavam espalhados sobre a nave, a intervalos sempre</p><p>crescentes, até quase desaparecer à distância o representante do longínquo</p><p>Netuno. Os edifícios divergiam no desenho, mas é pouco duvidoso que cada</p><p>variação correspondesse a um significado especial, mesmo porque em</p><p>muitos casos não podemos percebê-lo. Havia, entretanto, um traço comum a</p><p>todos: cada um deles possuía uma cúpula hemisférica central, que</p><p>evidentemente se relacionava de maneira especial com o globo que ela</p><p>representava.</p><p>Todos esses hemisférios estavam brilhantemente coloridos, e seus</p><p>matizes se ajustavam à tradição caldaica associada com o seu planeta</p><p>particular. O princípio em que se baseava a escolha dessas cores está muito</p><p>longe de ser claro; mas teremos de tratar novamente delas quando</p><p>examinarmos as cerimônias das grandes festividades. Tais cúpulas nem</p><p>sempre guardavam a devida proporção com as dimensões de seus</p><p>respectivos templos, ainda que comparadas umas com as outras notemos</p><p>que correspondiam intimamente à magnitude dos planetas que</p><p>simbolizavam. A respeito de Mercúrio, Vênus, Lua e Marte, as medições</p><p>caldaicas do respectivo tamanho correspondiam precisamente às nossas;</p><p>mas as de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, embora muitíssimo maiores do</p><p>que o grupo interno, eram contudo delicadamente menores do que se</p><p>houvessem sido construídas na mesma escala de nossos atuais cálculos.</p><p>Essa diferença pode provir do emprego de outro padrão para aqueles</p><p>enormes globos; mas parece-nos muito mais provável que as medições</p><p>caldaicas fossem exatas e que na Astronomia moderna se haja computado</p><p>exageradamente a magnitude dos planetas externos. Até agora não se</p><p>observou que a superfície visível em Júpiter e Saturno seja uma densa e</p><p>profunda atmosfera, e de maneira alguma o núcleo do planeta; e se isto é</p><p>assim, a representação caldeia é tão exata como o restante de seu plano.</p><p>Outro ponto favorável às nossas suposições é que, admitindo-as, se tornará</p><p>mais adequada à dos outros mundos, dentro de nosso alcance visual, a</p><p>extraordinariamente baixa densidade assinalada pelos modernos astrônomos</p><p>aos planetas externos.</p><p>Bom número de curiosos pormenores concorreu para demonstrarnos</p><p>que o projetista desses deslumbrantes santuários tinha plena compreensão</p><p>do Sistema. Vulcano, o planeta de permeio entre o Sol e Mercúrio, estava</p><p>devidamente representado, e no lugar correspondente à nossa Terra se</p><p>levantava o templo da Lua, de grandes dimensões, ainda que o hemisfério</p><p>que o coroava parecesse relativamente pequeno, construído exatamente na</p><p>mesma escala dos restantes. Próximo ao templo da Lua, erguia-se uma</p><p>isolada cúpula de mármore negro, sustentada por colunas, cujo tamanho</p><p>evidenciava o intento de representar a Terra, mas sem nenhum santuário</p><p>unido a ela.</p><p>No espaço (muito corretamente calculado) entre Marte e Júpiter, não</p><p>havia templo algum, e sim, certo número de colunas rematadas por uma</p><p>pequeníssima cúpula da usual configuração hemisférica, que, segundo</p><p>deduzimos, representavam os asteroides. Os planetas que possuem satélites,</p><p>tinham-nos cuidadosamente indicados por cúpulas subsidiárias</p><p>adequadamente</p><p>proporcionadas, dispostas ao redor da principal, e os anéis</p><p>de Saturno eram claramente demonstrados.</p><p>Nas festas magnas de qualquer dos planetas, todos os devotos das</p><p>Divindades correspondentes (ou como diríamos hoje, as pessoas nascidas</p><p>sob a influência de tais planetas) levavam sobre si, ou em lugar do traje</p><p>comum, um manto ou capa de chuva da cor consagrada ao planeta. Essas</p><p>cores eram de brilhantíssimo tom e o tecido usado tinha um brilho</p><p>semelhante ao do cetim, de modo que produzia um efeito surpreendente,</p><p>sobretudo pela variedade de matizes, como sucede com a que hoje</p><p>chamamos seda furta-cor. Não será demais enumerar essas cores, embora,</p><p>como já dissemos, não apareça sempre claro o motivo de sua escolha.</p><p>Os devotos do Sol usavam um formoso manto de fina seda entretecida</p><p>de fios de ouro, de modo que parecia toda ela feita deste metal, mas flexível</p><p>e dobrável como a musselina, em vez da rigidez e espessura de nossos</p><p>atuais tecidos de ouro.</p><p>A cor de Vulcano era vermelha ígnea, e muito intensa e brilhante, talvez</p><p>como símbolo de estar Vulcano extremamente próximo do Sol, e das</p><p>inflamadas condições físicas que daí lhe devem resultar.</p><p>Mercúrio estava simbolizado por um brilhante matiz alaranjado,</p><p>salpicado de cor de limão, nuances que habitualmente se veem nas auras de</p><p>seus devotos, como também em suas vestimentas. Mas ainda que em alguns</p><p>casos a cor predominante na aura parecesse determinar sua aplicação aos</p><p>trajes, noutros casos é difícil explicar a razão de sua escolha.</p><p>Os devotos de Vênus vestiam um tecido de formoso azul-celeste,</p><p>ligeiramente matizado de verde que, ao menor movimento da roupagem,</p><p>produzia um cintilante e reflexivo efeito.</p><p>A vestimenta da Lua era, por certo, branca, mas tão entretecida de fios</p><p>de prata, que parecia feita toda desse metal, como de ouro a do Sol.</p><p>Contudo, segundo a luz que nela incidia, mostrava essa tela formosas</p><p>gradações de violeta pálido, que lhe realçava o efeito.</p><p>Os fiéis de Marte vestiam-se adequadamente de brilhante e esplêndido</p><p>escarlate, matizado de outros tons de vermelho, que, sob certos pontos de</p><p>vista, dava seu tom à tela. Essa cor era inteiramente inconfundível e</p><p>totalmente distinta das de Vulcano e Mercúrio, podendo haver determinado</p><p>a sua adoção, já por predominar na aura, já pela luz vermelha do planeta</p><p>físico.</p><p>Júpiter vestia seus fiéis de fulgurante cor azul-violeta, salpicada de</p><p>prata. Não é fácil explicar-se a escolha desta cor, a não ser atribuindo-a a</p><p>combinações áureas.</p><p>Os partidários de Saturno usavam vestimentas verde-claras, com</p><p>reflexos de cinzento-pérola, enquanto os nascidos sob a influência de Urano</p><p>levavam um magnífico e rico azul-intenso, a inimaginável cor do Atlântico</p><p>meridional, só conhecida daqueles que a têm visto. A vestimenta adequada</p><p>a Netuno, a menos notável de todas, era de cor índigo-escuro e lisa, ainda</p><p>que diante de muita luz revelasse inesperada riqueza.</p><p>Nas festas magnas de qualquer desses planetas, seus fiéis se</p><p>apresentavam com traje completo e marchavam em procissão para o seu</p><p>templo, ornados de grinaldas de flores, hasteando estandartes e douradas</p><p>báculas e entoando harmoniosos hinos, cujo som enchia a atmosfera. Mas a</p><p>ostentação máxima tinha lugar numa das festividades promovidas ao Deus-</p><p>Sol, quando todo o povo se congregava, cada qual vestido com a magnífica</p><p>roupagem de sua Divindade tutelar, e toda a multidão executava a</p><p>circunvolução do Templo do Sol. Nesta festividade, os devotos do Sol</p><p>superlotavam o vasto edifício, enquanto rente às paredes marchavam os</p><p>fiéis de Vulcano, os de Mercúrio um pouco mais afastados, mais ainda os de</p><p>Vênus, e assim sucessivamente os dos demais planetas, segundo sua</p><p>posição em relação ao Sol. Disposta deste modo em anéis concêntricos, a</p><p>massa popular, trajada de brilhantes cores, contornava lentamente, mas com</p><p>passo firme, como uma enorme roda vivente, e iluminada pelas torrentes de</p><p>luz que fluíam do Sol tropical, constituía um espetáculo de esplendor tão</p><p>magnífico que o mundo talvez nunca mais tenha visto igual.</p><p>É necessário tentarmos descrever o traçado e a aparência do grandioso</p><p>Templo do Sol, a fim de poder relatar as ainda mais interessantes</p><p>cerimônias que ali se celebravam. Sua planta era cruciforme, com um vasto</p><p>espaço circular (coberto pela cúpula hemisférica), onde se interceptavam os</p><p>braços da cruz. O imaginaremos mais acertadamente se, em vez de</p><p>comparar a planta com a de nossas igrejas cruciformes comuns, com nave,</p><p>presbitério e cruzeiro, imaginarmos uma grande construção circular</p><p>cupulada, como o Salão de leitura do Museu Britânico, da qual saem quatro</p><p>enormes naves para os quatro pontos cardeais, pois os braços da cruz eram</p><p>todos de igual longitude. Fixada firmemente essa parte do quadro</p><p>imaginado, acrescentemos a seguir quatro outras grandes aberturas entre os</p><p>braços da cruz, que conduziam para dentro de espaçosos pátios, cujos</p><p>muros se encurvavam e se uniam em seus extremos, de forma a darem aos</p><p>seus respectivos pavimentos a configuração de uma imensa folha ou pétala</p><p>de uma flor. De fato, podemos descrever a planta do templo como sendo</p><p>uma cruz de braços iguais, estendida sobre uma flor quadripétala e com</p><p>seus braços estirados entre as pétalas.</p><p>Assim é que se um homem se postasse no centro sob a cúpula, poderia</p><p>estender a vista em todas as direções. Toda a estrutura estava</p><p>cuidadosamente orientada, de modo que os braços da cruz apontavam</p><p>exatamente para os pontos cardeais. A extremidade do sul permanecia</p><p>aberta e constituía a entrada principal, de frente para o altar-mor, que</p><p>ocupava a extremidade do braço do norte. Os braços oriental e ocidental</p><p>continham também altares, de enormes proporções para nosso ponto de</p><p>vista, porém muito menores que as do erigido na extremidade norte.</p><p>Os citados altares oriental e ocidental preenchiam algo da mesma</p><p>finalidade dos atualmente dedicados à Virgem Maria e a São José numa</p><p>catedral católica, pois um deles estava consagrado ao Sol e o outro à Lua, e</p><p>em ambos se celebravam alguns dos serviços religiosos diários relacionados</p><p>com esses dois luminares. No entanto, a multidão se congregava ao redor</p><p>do altar-mor do braço setentrional, onde se efetuavam as principais</p><p>cerimônias, e cuja disposição e ornamentos eram muito curiosos e</p><p>interessantes.</p><p>Da parede traseira e no lugar correspondente ao vitral oriental de uma</p><p>igreja comum (ainda que o do nosso caso era no lado norte) pendia um</p><p>enorme espelho côncavo, muito maior que todos os que vimos antes. Era de</p><p>metal, provavelmente todo de prata, e polido ao máximo grau. E</p><p>observamos que se considerava como um dos mais escrupulosos deveres</p><p>religiosos cuidar desse espelho, de modo a conservá-lo sempre brilhante e</p><p>sem nenhum pó. O perfeito recorte desse espelho e a sua invariável</p><p>configuração, apesar do seu enorme peso, são problemas que</p><p>impacientariam nossos modernos artífices, e que no entanto resolveram</p><p>satisfatoriamente aqueles homens da remota antiguidade.</p><p>Ao longo do telhado desse enorme braço setentrional, corria a céu</p><p>aberto uma estreita fenda, calculadamente disposta para que por ela entrasse</p><p>a luz de qualquer estrela, e se refletisse no espelho ao passar pelo</p><p>meridiano. Sabido é que os espelhos côncavos têm a propriedade de formar</p><p>no ar, em sua frente, à maneira de foco, a imagem refletida em sua</p><p>superfície; deste princípio se aproveitaram engenhosamente os sacerdotes</p><p>para, como provavelmente teriam em vista, captar e aplicar a influência de</p><p>cada planeta no momento de sua máxima intensidade.</p><p>No ponto do solo situado sob o foco do espelho, havia um pedestal com</p><p>um braseiro em cima; e ao passar o planeta pelo meridiano e penetrar sua</p><p>luz pela fenda do telhado, se queimava um punhado de aromático incenso</p><p>entre as ardentes brasas de carvão. Imediatamente subia uma coluna de</p><p>luminosa fumaça cinzenta, em cujo centro aparecia a brilhante imagem do</p><p>astro. Então os fiéis inclinavam a cabeça e ressoava o alegre cântico dos</p><p>sacerdotes. Esta cerimônia tinha certa semelhança com a elevação da hóstia</p><p>numa igreja católica.</p><p>Em caso de necessidade, punha-se em ação outro</p><p>mecanismo,</p><p>consistente de um espelho plano de forma circular, que do teto podia baixar-</p><p>se por meio de cordéis, até ocupar exatamente o foco do grande espelho</p><p>côncavo. Este reproduzia a imagem do planeta refletida, e pela difusão da</p><p>luz concentrada, o espelho côncavo podia projetar a imagem sobre certos</p><p>pontos do pavimento. Nestes pontos se colocavam de antemão os doentes,</p><p>para cuja cura se considerava necessária a particular influência do planeta,</p><p>enquanto os sacerdotes impetravam do Espírito Planetário que derramasse</p><p>saúde e vigor sobre os doentes. Sem dúvida a cura compensava</p><p>frequentemente seus esforços, embora se pudesse atribuir à fé grande parte</p><p>do resultado.</p><p>Quando o Sol passava pelo meridiano, acendiam-se os fogos sagrados</p><p>por meio do mesmo mecanismo, embora uma das mais interessantes</p><p>cerimônias dessa espécie fosse realizada sempre no altar do braço ocidental.</p><p>Nesse altar ardia perpetuamente o então chamado “fogo sagrado da Lua”,</p><p>que se deixava extinguir só uma vez por ano, na noite anterior ao equinócio</p><p>da primavera. Na manhã seguinte os raios solares, penetrando por um</p><p>orifício aberto em cima do altar oriental, incorriam diretamente sobre o</p><p>situado no extremo ocidental, e por meio de um globo de vidro cheio de</p><p>água, que permanecia suspenso em sua trajetória e servia de lente, o próprio</p><p>Sol acendia o sagrado fogo da Lua, que era então cuidadosamente velado e</p><p>mantido aceso durante todo o ano seguinte.</p><p>A superfície interna da grande cúpula representava em sua pintura a</p><p>noite estrelada, e graças a um complicado mecanismo, moviam-se as</p><p>principais constelações exatamente como as celestes, de sorte que a</p><p>qualquer hora do dia ou em noites nubladas, os fiéis podiam saber a posição</p><p>precisa de qualquer signo zodiacal e dos planetas relacionados com ele. Os</p><p>planetas eram representados por meio de corpos luminosos, e nos</p><p>primórdios dessa religião, assim como nos primitivos dias dos mistérios,</p><p>esses corpos foram verdadeiras materializações que, atualizadas pelos</p><p>instrutores Adeptos, se moviam livremente no espaço. Mas, posteriormente,</p><p>nos últimos tempos da religião e dos mistérios, quando homens menos</p><p>evoluídos ocuparam o lugar daqueles sublimes Seres, foi muito difícil ou</p><p>impossível conseguir que as materializações atuassem devidamente e, em</p><p>consequência, foram substituídas por engenhosos artifícios mecânicos, entre</p><p>os quais se achava uma espécie de planetário gigantesco. A superfície</p><p>externa da cúpula estava revestida de uma placa sutil de ouro, sendo de</p><p>notar os indecisos efeitos nela produzidos, com o evidente intento de</p><p>representar o que se chama “folhas de salgueiro” ou “grãos de arroz” do</p><p>Sol.</p><p>Outra característica interessante desse templo era uma cela subterrânea</p><p>ou cripta, reservada para o uso exclusivo dos sacerdotes, sem dúvida com o</p><p>propósito de se entregarem à meditação e ao aperfeiçoamento de si</p><p>mesmos. Esta cripta não recebia outra luz senão a que penetrava através de</p><p>grossas lâminas de uma substância de várias cores e semelhante a cristal,</p><p>embutidas no pavimento do Templo, mas com disposições tomadas para</p><p>refletir os raios solares só quando necessário. O sacerdote que praticava sua</p><p>meditação fazia essa luz incidir nos vários centros de seu corpo, às vezes no</p><p>localizado entre as sobrancelhas, outras sobre a base da espinha, e assim por</p><p>diante. Essa prática ajudava, evidentemente, o desenvolvimento do poder da</p><p>adivinhação, da clarividência e da intuição; e por certo a cor particular da</p><p>luz empregada dependia não somente do objetivo visado, mas também do</p><p>planeta ou tipo a que pertencia o sacerdote. Igualmente notamos que o tirso,</p><p>ou a varinha oca carregada de fogo elétrico ou vital, era ali utilizado,</p><p>exatamente como o foi nos Mistérios Gregos.</p><p>Uma parte interessante do estudo dessa religião do mundo antigo é uma</p><p>tentativa para compreender-se exatamente o que queriam significar os seus</p><p>instrutores ao falarem do Anjo Estelar, do Espírito de uma estrela. Uma</p><p>pequena investigação cuidadosa mostra que os termos, embora às vezes</p><p>sinônimos, não o são sempre, pois parecem haver incluído, pelo menos, três</p><p>concepções muito diferentes sob o mesmo título de “O Espírito de um</p><p>planeta”.</p><p>Em primeiro lugar, com cada planeta relacionavam a existência de uma</p><p>entidade semi-inteligente, e no entanto extremamente poderosa, que em</p><p>nossa terminologia teosófica poderemos chamar, quem sabe com maior</p><p>propriedade, a essência elemental coletiva do planeta, considerada como</p><p>uma enorme criatura. Sabemos que no homem a essência elemental de seu</p><p>corpo astral constitui, sob todos os pontos de vista, uma entidade à parte,</p><p>chamada, às vezes, desejo elemental. Sabemos também que as diversas</p><p>classes e tipos desta essência se combinam numa unidade temporária, capaz</p><p>de atuar definidamente em sua própria defesa, por exemplo, contra a sua</p><p>desintegração após a morte física. Se equivalentemente concebermos que a</p><p>totalidade dos reinos elementais de determinado planeta atuam</p><p>energicamente, como um todo, compreenderemos com plena exatidão a</p><p>teoria sustentada pelos antigos caldeus a respeito dessa primeira variedade</p><p>do Espírito planetário, à qual se enquadraria muito melhor o nome de</p><p>“elemental planetário”. Os sacerdotes caldeus focalizavam sobre os</p><p>doentes, ou sobre um talismã destinado a usos posteriores, a influência, ou</p><p>antes, o magnetismo desse elemental planetário.</p><p>Segundo os sacerdotes, os planetas físicos, que nos são visíveis, nos</p><p>servem de ponteiros para indicar a posição ou condições dos centros do</p><p>corpo do LOGOS, e através de cada um desses grandes centros fluía um dos</p><p>dez tipos de essência que diziam constituir todas as coisas. Cada um desses</p><p>tipos de essência, por si mesmo estava identificado com um planeta e era</p><p>também frequentemente chamado o Espírito do planeta, dando assim ao</p><p>termo uma acepção completamente diferente. Nesta acepção falavam do</p><p>Espírito do planeta como onipresente em todo o Sistema Solar, atuando no</p><p>interior de todo ser humano, revelando-se em suas ações e manifestando-se</p><p>por meio de certas plantas e minerais, aos quais comunicava as suas</p><p>propriedades específicas. Naturalmente era este “Espírito do planeta” no</p><p>interior do ser humano que podia ser influenciado por meio do grande</p><p>centro a que pertencia, e era referindo-se a esta particularidade que os</p><p>sacerdotes faziam as suas previsões astrológicas.</p><p>Todavia, quando os caldeus invocavam a bênção do Espírito de um</p><p>planeta, ou se esforçavam por elevar-se até Ele por fervorosa e ardente</p><p>meditação, aplicavam então a expressão ainda noutro sentido. Concebiam</p><p>cada um dos grandes centros como engendrando toda uma hierarquia de</p><p>grandes Espíritos, através da qual atuava, e que à testa de cada uma dessas</p><p>hierarquias se achava um excelso Ser, a que denominavam por excelência</p><p>“O Espírito do planeta”, ou mais frequentemente, o “Anjo Estelar”. Era Sua</p><p>bênção a requerida pelos que haviam nascido mais especialmente sob Sua</p><p>influência e que O tinham na mesma conta em que os devotos cristãos têm</p><p>atualmente os excelsos Arcanjos, os “sete Espíritos diante do trono de</p><p>Deus”, isto é, como um poderoso Ministro do divino poder do LOGOS, um</p><p>canal por cujo intermédio se manifesta aquele indizível esplendor.</p><p>Era crença popular que quando no templo principal se celebrava a festa</p><p>solene de um planeta, e no momento crítico a imagem da Estrela</p><p>resplandecia entre a nuvem de incenso, aqueles cujos olhos tinham sido</p><p>abertos por seu fervor devocional, viram às vezes a potente forma do Anjo</p><p>Estelar pairando debaixo do flamejante globo, de modo que este</p><p>resplandecia sobre sua fronte ao deitar ele suas bondosas vistas sobre os</p><p>fiéis a cuja evolução estava tão intimamente vinculado.</p><p>Um dos postulados dessa antiga fé dizia que, em casos raros, os homens</p><p>superiormente evoluídos, cheios de compenetrada devoção por seu Anjo,</p><p>podiam alçar-se até Ele por meio de uma prolongada e contínua meditação,</p><p>e mudar com isso seu curso evolutivo até o ponto de não mais renascer na</p><p>Terra, e sim, no planeta do Anjo de sua devoção. Os arquivos do templo</p><p>continham relatos de sacerdotes que</p><p>o haviam conseguido e assim</p><p>ultrapassaram a visão humana. Assegurava-se que por uma ou duas vezes</p><p>na história, sucedera o mesmo com respeito à categoria ainda mais elevada</p><p>de Divindades estelares, correspondentes às longínquas estrelas fixas,</p><p>situadas fora de nosso Sistema Solar. Mas estes últimos casos eram</p><p>considerados audaciosos voos no desconhecido, e sobre a sua conveniência</p><p>mesmo os sacerdotes mais graduados se mantinham silenciosos.</p><p>Por estranhos que nos pareçam agora esses métodos, e por mais que se</p><p>diferenciem de tudo que temos aprendido nos estudos teosóficos, seria</p><p>insensatez de nossa parte se os criticássemos, ou duvidássemos que não</p><p>tivessem tido para os que os adotaram a mesma eficácia que os nossos.</p><p>Sabemos que na grande Fraternidade Branca existem muitos Mestres, e que</p><p>se bem que para todos são as mesmas as qualidades requeridas pela sua</p><p>respectiva etapa da Senda, cada grande Instrutor adota, na instrução de Seus</p><p>discípulos, o método de preparação que julga mais conveniente para eles. E</p><p>como todos estes caminhos conduzem igualmente para o cume da</p><p>montanha, não é de nossa incumbência dizer qual é o mais curto ou melhor</p><p>para nosso próximo. Cada homem tem seu caminho mais curto, cuja</p><p>natureza depende, porém, de seu ponto de partida. Pretender que toda gente</p><p>se acomode ao nosso ponto de partida e siga por nosso próprio caminho nos</p><p>levaria à ilusão, nascida do preconceito e da ignorância, que obceca o</p><p>religioso fanático. É certo que não nos ensinaram a adorar os sublimes</p><p>Anjos Estelares, nem a representar-nos como meta a possibilidade de nos</p><p>incorporarmos à evolução dévica numa etapa relativamente prematura; mas</p><p>sempre teremos em conta que existem outras modalidades de Ocultismo,</p><p>além daquela em que a Teosofia nos introduziu e da qual ainda conhecemos</p><p>bem pouca coisa.</p><p>Talvez fosse preferível não empregarmos a palavra “adoração” para</p><p>definir os sentimentos dos caldeus a respeito dos Anjos Estelares, porque no</p><p>Ocidente essa palavra induz a erro, e o que eles sentiam era mais um</p><p>profundo afeto, veneração e lealdade para com os Mestres da Sabedoria.</p><p>A religião caldaica estava arraigada no coração do povo, em cuja</p><p>maioria inspirava realmente uma conduta bondosa e reta. Seus sacerdotes</p><p>revelavam notável erudição em determinadas matérias, a par de profundos</p><p>conhecimentos de história e astronomia; e reuniam consequentemente estas</p><p>duas ciências, classificando sempre os acontecimentos históricos segundo</p><p>sua suposta relação com vários ciclos astronômicos. Eram também muito</p><p>versados em química, alguns de cujos efeitos utilizavam em suas</p><p>cerimônias. Notamos o caso de um sacerdote71 que, de pé sobre o telhado</p><p>plano de um templo, invocava, em privado ato de devoção, um dos</p><p>Espíritos planetários. Tinha na mão um bastão embutido com uma</p><p>substância de aparência betuminosa, e começou sua invocação marcando</p><p>com o bastão o signo astrológico no pavimento em sua frente cujo traçado</p><p>deixou na superfície da pedra ou gesso uma fosforescência brilhante.</p><p>Em regra geral, cada sacerdote se dedicava com especialidade ao estudo</p><p>de determinada matéria. Uns chegavam a se sobressair em medicina pela</p><p>constante investigação das propriedades de várias ervas e drogas</p><p>confeccionadas sob tal ou qual combinação de influências planetárias;</p><p>outros se dedicavam exclusivamente à agricultura para determinar qual a</p><p>classe de terrenos mais apropriados a determinada espécie de colheita, e</p><p>como era possível melhorá-la, ao passo que cultivavam toda classe de</p><p>plantas úteis e obtinham novas variedades, experimentando a rapidez e</p><p>vigor de seu crescimento pela ação de vidros coloridos. O emprego de luz</p><p>matizada para favorecer o desenvolvimento vegetal foi comum a vários</p><p>povos atlantes e formou parte dos primitivos ensinamentos da raça. Outro</p><p>grupo de sacerdotes constituiu uma espécie de oficina meteorológica que</p><p>predizia com grande precisão as mudanças do tempo e suas alterações</p><p>extraordinárias, como tempestades, ciclones e tormentas. Posteriormente</p><p>isto se tornou uma espécie de Departamento do Estado, e os sacerdotes</p><p>cujas predições falhassem eram destituídos como incapazes.</p><p>Atribuía-se enorme importância às influências pré-natais, e as mães</p><p>eram levadas a retrair-se e a viver meio monasticamente alguns meses antes</p><p>e depois do parto. A educação pública não estava, como no Peru,</p><p>diretamente em mãos dos sacerdotes, ainda que estes determinassem,</p><p>segundo seus cálculos (auxiliados, sem dúvida, em alguns casos, pela</p><p>intuição clarividente), o planeta a que a criança pertencia. Os alunos</p><p>assistiam à escola de seu respectivo planeta e eram instruídos por</p><p>professores de seu mesmo tipo planetário, de sorte que os filhos de Saturno</p><p>não podiam assistir de modo algum a uma escola de Júpiter, nem os filhos</p><p>de Vênus ter como professor um adorador de Mercúrio. A educação</p><p>ministrada a cada tipo divergia consideravelmente, pois o propósito dos</p><p>professores era em todo o caso desenvolver as boas qualidades e contrariar</p><p>os vícios que a longa experiência dos professores os fazia esperar nos</p><p>alunos de cada tipo.</p><p>Para os caldeus, a finalidade quase exclusiva da educação era formar o</p><p>caráter, e a simples ministração de conhecimentos ocupava lugar</p><p>completamente secundário. A todos os meninos se ensinava a curiosa</p><p>escrita hieroglífica do país e os rudimentos do cálculo vulgar, sem nada</p><p>daquilo que agora temos como matéria de instrução. Os alunos aprendiam</p><p>de memória grande número de preceitos religiosos, ou melhor, morais, que</p><p>traçavam a norma de conduta exigível de um filho de Marte, Vênus ou o</p><p>planeta que fosse, em qualquer eventualidade ou contingência em que se</p><p>visse futuramente. A única literatura estudada era um volumoso comentário</p><p>destes preceitos, repleto de intermináveis relatos de aventuras e</p><p>contingências, cujos protagonistas se conduziam umas vezes sábia e outras</p><p>insensatamente. Ensinavam os alunos a expor seu critério sobre tais relatos,</p><p>e fundamentá-lo razoavelmente, declarando, além disso, como se teriam</p><p>portado eles em semelhantes circunstâncias.</p><p>Ainda que os meninos passassem muitos anos na escola, todo o seu</p><p>tempo era consumido em familiarizarem-se (não só teoricamente, mas</p><p>também praticamente) com os ensinamentos daquele volumoso Livro do</p><p>Dever, como se intitulava. A fim de fixar as lições na mente das crianças,</p><p>obrigavam-nas a representar, como num teatro, as diversas personagens dos</p><p>relatos. Todo jovem com manifesta inclinação para a história, matemática,</p><p>agricultura, química ou medicina, podia, ao sair da escola, ligar-se como</p><p>uma espécie de aprendiz a algum sacerdote que houvesse se especializado</p><p>em alguma dessas matérias. Mas os programas da escola primária não</p><p>continham nenhuma dessas matérias científicas nem preparavam alunos</p><p>para seu estudo, pois não iam além da educação geral que se julgava</p><p>conveniente a todos os alunos, fosse qual fosse a sua profissão futura.</p><p>A literatura do país não era muito extensa. Conservavam-se</p><p>cuidadosamente as crônicas oficiais, registrava-se a transmissão de bens de</p><p>raiz, e os decretos e proclamações eram colecionados para referência; mas</p><p>embora esses documentos oferecessem excelentes, embora algo áridos,</p><p>subsídios informativos para um historiador, não há indícios de que se</p><p>tivesse escrito uma história devidamente relacionada, pois se ensinava por</p><p>tradição oral e certos sucessos eram coordenados em relação com os ciclos</p><p>astronômicos. No entanto, esses registros eram meras tábuas cronológicas, e</p><p>não histórias no sentido que damos a esta palavra.</p><p>A poesia estava representada por uma série de livros sagrados que</p><p>continham relatos eminentemente simbólicos e figurativos da origem do</p><p>universo e do homem, além de uma porção de baladas ou sagas que</p><p>celebravam as façanhas dos heróis lendários, se bem que não se</p><p>transcreviam estas baladas, mas eram simplesmente transmitidas de um</p><p>cantor para outro. Como muitas raças orientais, o povo era muito amante de</p><p>ouvir e improvisar lendas, das quais a tradição secular tem conservado</p><p>grande número, correspondente a um remoto período de muito tosca</p><p>civilização.</p><p>Essas</p><p>antiquíssimas lendas permitem a reconstituição de um vasto</p><p>esboço da primitiva história da raça. A massa geral da população era</p><p>evidentemente do tronco turânio, pertencente à quarta sub-raça da Raça</p><p>Raiz Atlante. Constituíram, não resta dúvida, em sua origem, um grupo de</p><p>pequenas tribos em incessantes disputas, que se mantiveram do rudimentar</p><p>cultivo da terra, sem conhecer nada de arquitetura nem linhagem alguma de</p><p>civilização.72</p><p>Naquela época, 30000 anos a.C., quando ainda eram semisselvagens,</p><p>chegou até eles, do Oriente, um grande chefe, chamado Teodoro,</p><p>pertencente a outra raça, que depois da conquista da Pérsia e Mesopotâmia</p><p>pelos ários e do estabelecimento do governo do Manu naquelas regiões, foi</p><p>nomeado governador pelo Manu, sob o império de Seu neto Corona, que O</p><p>havia sucedido como rei da Pérsia.73</p><p>De Teodoro descendeu a dinastia da antiga Caldeia, cujos monarcas se</p><p>diferenciavam notavelmente de seus subordinados em aspecto físico, pois</p><p>eram de feições vigorosas, compleição bronzeada e olhos profundos e</p><p>brilhantes. As muito posteriores esculturas babilônicas, que hoje</p><p>conhecemos, dão uma débil ideia daquele tipo real, ainda que na época</p><p>correspondente a tais estátuas já se havia transmitido o sangue ário em</p><p>quase toda a raça, enquanto nos tempos a que nos referimos, havia apenas</p><p>começado a mistura.</p><p>Após um longo período de esplendor e prosperidade, o poderoso</p><p>império caldeu foi decaindo e se desmoronando lentamente, até que o</p><p>invadiu e desmembrou as hordas de bárbaros cujo fanatismo religioso,</p><p>aferrado com puritano fervor a uma fé rudimentar, e hostil a um sentimento</p><p>religioso mais nobre e belo que o seu, destruiu sem deixar vestígio os</p><p>gloriosos templos antes descritos, tão solicitamente erguidos pelos</p><p>adoradores dos Anjos Estelares que procuramos descrever. Aqueles</p><p>espoliadores foram por sua vez expulsos do país pelos acadianos</p><p>procedentes das montanhas setentrionais, e também atlantes, embora da</p><p>sexta sub-raça. Estes se misturaram gradualmente com os sobreviventes da</p><p>antiga raça e com outras tribos de tipo turânio, até constituir a nação</p><p>sumero-acadiana, de que posteriormente se originou o império babilônico.</p><p>Todavia, à medida que este cresceu, aumentou cada vez mais a mistura do</p><p>sangue ário, primeiramente da sub-raça árabe ou semítica, e depois da sub-</p><p>raça irânia, até que ao chegar aos tempos chamados comumente históricos,</p><p>pouco restava da antiga sub-raça turânia, segundo o demonstram as</p><p>esculturas e mosaicos da Assíria.</p><p>Esse último povo conservou, pelo menos em seus primórdios, uma forte</p><p>tradição de seu predecessor maior, e seus esforços sempre convergiram para</p><p>fazer reviver as condições e o culto do passado. Suas tentativas obtiveram</p><p>apenas êxitos parciais, pois tingido por uma fé estrangeira e emaranhado em</p><p>reminiscências de outra tradição mais recente que a predominante na</p><p>combinação, produziu apenas um apagado e adulterado exemplar do</p><p>magnífico culto dos Anjos Estelares, que floresceu na Idade Áurea que</p><p>tentamos descrever.</p><p>Por inacreditáveis e pálidas que sejam estas representações do passado,</p><p>exceto para os que as podem ver por observação direta, seu estudo é não só</p><p>de profundo interesse, senão também de extrema utilidade para o estudante</p><p>de ocultismo. Ajuda-o a ampliar seus conceitos, e de quando em quando lhe</p><p>permite vislumbrar passageiramente a atuação do vasto conjunto em que</p><p>tudo quanto nos cabe imaginar de evolução e progresso é qual diminuta</p><p>rodinha de enorme máquina, ou qual um soldado do poderoso exército real.</p><p>Igualmente servirá este estudo para estimulá-lo a conhecer algo da glória e</p><p>beleza que há um tempo existiram nesta nossa Terra, e convencer-se de que</p><p>é apenas tênue antecipação da glória e beleza do porvir.</p><p>Mas não devemos deixar este ligeiro esboço de duas vinhetas históricas</p><p>da passada Idade Áurea (intercaladas como um suplemento na vasta</p><p>descrição da história mundial), sem aludir a um pensamento que</p><p>inevitavelmente há de ocorrer a quem as estude. Aqueles de nós que amam</p><p>a humanidade e que, embora debilmente, se esforçam por ajudá-la em sua</p><p>penosa caminhada, podem ler sem dúvidas pessimistas as condições em que</p><p>os antigos caldeus e, talvez mais ainda, os antigos peruanos, viveram felizes</p><p>ao amparo da religião, livres do açoite da intemperança e dos horrores da</p><p>miséria? Ao vermos condições tais de existência social, não poderemos ser</p><p>assaltados pela dúvida e perguntar a nós mesmos: “Será que em realidade o</p><p>gênero humano está evoluindo? Será benéfico para a humanidade que,</p><p>depois das civilizações chegarem ao auge de seu esplendor, tenham de</p><p>desmoronar-se e desaparecer sem deixar vestígio? E não sucederá o mesmo</p><p>a nós?”</p><p>Sim; porque sabemos que a lei do progresso é uma lei de mudanças</p><p>cíclicas, sob cuja ação desaparecem personagens, raças, impérios e mundos</p><p>para não renascer jamais na mesma forma que tiveram, pois todas as</p><p>formas, por belas que sejam, hão de perecer a fim de que cresçam e se</p><p>propague a vida que nelas palpita. Sabemos que esta lei é a expressão de</p><p>uma Vontade, a Divina Vontade do LOGOS, e que, portanto, sua atuação</p><p>tem que ser em último grau benéfica para a nossa amada humanidade.</p><p>Ninguém amou tanto os homens como Ele os ama, pois Ele próprio se</p><p>sacrificou para que o homem pudesse existir. Ele tem presente, do princípio</p><p>ao fim, a evolução inteira, e nela se satisfaz. Em Sua mão, a mão que</p><p>bendiz, estão os destinos do homem. Há entre nós algum coração</p><p>descontente de deixar seu destino entregue na divina mão, não satisfeito em</p><p>seu mais íntimo de ouvir o LOGOS dizer, como certa vez disse um grande</p><p>Mestre a Seu discípulo: “Agora não sabes o que faço; mas o saberás mais</p><p>tarde?”</p><p>CAPÍTULO 14</p><p>PRIMÓRDIOS DA QUINTA RAÇA RAIZ</p><p>A afirmação feita em A Doutrina Secreta de que o início da quinta Raça</p><p>Raiz remonta a um milhão de anos, parece referir-se, como já dissemos, ao</p><p>começo da seleção de materiais pelo Senhor Vaivasvata, o Manu da Raça.</p><p>Era Ele um Senhor da Lua, que recebera o primeiro grau de Iniciação no</p><p>globo G da sétima Ronda, onde também obteve o Arhatado. Assim, há</p><p>cerca de um milhão de anos escolheu Vaivasvata, dentre o carregamento</p><p>que incluía o nosso grupo dos 1.200 anos, algumas pessoas que Ele</p><p>esperava modelar para a Sua Raça, e com as quais se manteve ligado.</p><p>Quatrocentos mil anos mais tarde Ele escolheu mais alguns outros</p><p>indivíduos. Esta seleção assemelhava-se à que os boiadeiros efetuam nos</p><p>rebanhos para escolher as reses mais convenientes, das quais muitas se</p><p>excluem depois, para ir depurando cada vez mais.</p><p>O isolamento de uma tribo da quinta sub-raça branca (a raça de cor de</p><p>lua, como poeticamente a denominam as Estâncias de Dziân), que habitava</p><p>nas montanhas setentrionais de Ruta, foi o primeiro passo decisivo dado no</p><p>estabelecimento da Raça, há cerca de 100000 anos a.C. Diremos de</p><p>passagem que a quinta sub-raça era geralmente montanhesa, e seus mais</p><p>genuínos representantes são atualmente as tribos nômades das Montanhas</p><p>de Atlas. Sua religião se diferenciava da dos toltecas da planície, e o Manu</p><p>se aproveitou dessa circunstância para isolar a sub-raça. Então o</p><p>Bodhisattva, Seu Irmão, que mais tarde foi o Senhor Gautama Buda, fundou</p><p>uma nova religião, e as pessoas que a aceitavam ficavam segregadas e</p><p>proibidas de se separarem para casar-se com as demais tribos. Os discípulos</p><p>do Bodhisattva partiram para outras terras e trouxeram uns tantos adeptos,</p><p>que mais tarde se incorporaram à massa principal. Foi-lhes dito que mais</p><p>tarde teriam de emigrar para uma terra muito longínqua, que seria para eles</p><p>“a terra prometida”, e que estariam sob o governo de um Senhor e Rei que</p><p>não conheceriam fisicamente. Deste modo seriam mantidos em estado de</p><p>preparação para o advento do excelso Ser que haveria de guiá-los para uma</p><p>paragem segura, onde se livrariam do futuro cataclismo, o de 75025 a.C.74</p><p>Parte da história de Israel se origina, provavelmente, desses fatos, ainda que</p><p>a seleção do povo hebreu haja ocorrido em época posterior, enquanto</p><p>aqueles seus antecessores, de quem falamos, foram realmente um “povo</p><p>escolhido” e posto à parte</p><p>com um elevado objetivo.</p><p>A causa imediata da emigração foi estar a sub-raça branca prestes a cair</p><p>sob o domínio do Governante Tenebroso, de cuja influência queria o Manu</p><p>subtrair o Seu povo. Consequentemente, no ano 79797 a.C. reuniu todos no</p><p>litoral, de onde, navegando, atravessaram o Mar de Sahara e prosseguiram</p><p>depois a pé, pelo sul do Egito, até a Arábia. Formou-se, para esse fim, uma</p><p>frota de trinta barcas, das quais a de maior lotação seria de umas 500</p><p>toneladas e três serviam tão somente para o transporte de provisões. Eram</p><p>barcas toscamente construídas, que obedeciam bem ao impulso do vento,</p><p>porém que manobravam muito mal. Estavam munidas de alguns remos,</p><p>além de velas, e nenhuma delas se achava em condições de suportar uma</p><p>longa viagem; mas só tinham que navegar nos baixios da boca do Sahara,</p><p>que era uma espécie de golfo corcovado em comunicação com o Atlântico.</p><p>Em cada viagem a frota conduziu umas duas mil e novecentas pessoas, para</p><p>desembarcá-las na costa oriental do Sahara e voltar ao ponto de partida, a</p><p>fim de embarcar outro contingente. Três viagens efetuou a frota até</p><p>transportar os nove mil homens, mulheres e crianças, a que, com os</p><p>seguidores de outras partes, ascendia a pequena nação, que dali empreendeu</p><p>a pé a marcha para o Oriente.75 Levaram consigo rebanhos de um animal</p><p>que parecia um cruzamento de búfalo e elefante com algo de porco, e lhes</p><p>servia de alimento quando escasseavam outras provisões, embora</p><p>comumente fosse considerado demasiado valioso para tal emprego. As</p><p>operações de embarque, desembarque, acampamento à espera dos</p><p>contingentes e preparativos da caminhada duraram alguns anos, findos os</p><p>quais o Chefe da Hierarquia enviou o Manu com outros oficiais superiores</p><p>para que os conduzissem ao planalto da Arábia, onde teriam que</p><p>permanecer durante algum tempo.</p><p>Por aquela época os atlantes dominavam o Egito, como seus</p><p>conquistadores, e haviam erigido as pirâmides a que Quéops deu seu nome</p><p>muitos milhares de anos depois. Quando, há uns 77.000 anos, o Egito ficou</p><p>inundado pelas águas diluviais, o povo tentou trepar nas pirâmides para</p><p>salvar-se das águas que subiam continuamente de nível, mas não conseguiu</p><p>devido à lisura da superfície de suas faces. Pereceu essa grande civilização</p><p>atlante, a que se seguiram o dilúvio, uma dominação de raça negra, outro</p><p>império atlante e um ário (13500 anos a.C.), todos eles precursores do que a</p><p>história conhece com o nome de povo egípcio. Mas não devemos entrar por</p><p>este fascinante desvio.</p><p>Basta dizer que florescia uma esplêndida civilização tolteca no Egito</p><p>quando nossos emigrantes passaram margeando suas fronteiras, e o</p><p>monarca egípcio, seguindo as tradições toltecas de que existiam outras raças</p><p>para ser exploradas por eles, procurou seduzi-los a permanecer em seu país.</p><p>Alguns sucumbiram à tentação; ficaram no baixo Egito, a despeito da</p><p>ordem em contrário do Manu, e se tornaram, um pouco mais tarde, escravos</p><p>dos toltecas dominantes.</p><p>Os restantes chegaram na Arábia pelo caminho que hoje é o Canal de</p><p>Suez, e ali os estabeleceu o Manu por grupos, nos diversos vales dos</p><p>grandes planaltos árabes. O país estava escassamente povoado por uma raça</p><p>negra, e seus vales eram férteis quando irrigados. Mas os imigrantes não</p><p>gostaram muito da nova terra, e enquanto a maioria, preparada por</p><p>Vaivasvata em Ruta, Lhe permanecia incondicionalmente dependente, os</p><p>mais jovens murmuravam, porque aquilo era um trabalho de castradores e</p><p>não uma viagem de recreio.</p><p>Nos vales encontramos grande número dos grupos dos 1.200 e 700</p><p>anos, inclusive muitos membros “da família”, cuja devoção resvalava para</p><p>o violento fanatismo. Propuseram eles o extermínio de todos os que não</p><p>fossem integralmente dedicados ao Manu e prepararam-se para atacar os</p><p>desertores que haviam se estabelecido comodamente no Egito. Isto atraiu</p><p>sobre eles a cólera dos egípcios, resultando daí uma grande matança, em</p><p>que nossos fanáticos foram completamente exterminados.</p><p>Marte e Corona resistiram intrepidamente ao ataque dos egípcios, ao</p><p>passo que outro contingente, no qual figurava um jovem solteiro chamado</p><p>Héracles, ficou aniquilado por não haver percebido bem a direção do</p><p>inimigo. Chegou então o Manu Vaivasvata com reforços e mudou a sorte</p><p>daquele dia, repelindo os egípcios. Outra coluna desses foi atacada por sua</p><p>vez por forças superiores, em cujas fileiras sobressaía Sírio, pai de</p><p>Héracles, que se enfureceu ao encontrar seu filho entre os mortos. Como os</p><p>de Sírio conheciam o país, encurralaram os egípcios numa depressão</p><p>parecida com uma cratera, em cujas dispostas bordas estavam espalhados</p><p>muitos penhascos soltos, que lançaram contra os cercados inimigos. Nessa</p><p>ocasião vimos pela última vez a Sírio, que rolava pelas encostas, entre uma</p><p>grande massa de pedras, brandindo a lança e entoando um cântido bélico de</p><p>teor não muito lisonjeiro, até confundir-se na ensanguentada massa de</p><p>pedras e cadáveres que enchiam o fundo da cratera.</p><p>Os poucos soldados egípcios que escaparam à matança foram</p><p>condenados sem demora à morte, ao chegarem à sua terra, por haverem</p><p>desonrado o exército com a sua derrota.</p><p>Depois disto os colonos desfrutaram algum tempo de paz, ocupados no</p><p>cultivo de seus vales, que eram muito frios no inverno e ardentes no verão.</p><p>Haviam trazido da Atlântida diversidade de sementes, que se aclimataram à</p><p>nova terra. Produziram alguns frutos insípidos semelhantes a maçãs, e nos</p><p>declives das partes mais quentes dos vales, colhiam uma fruta tão grande</p><p>como a cabeça de um homem, viscosa e pegajosa semelhante à tâmara.</p><p>Uma espécie de cratera, em cujo fundo as rochas refletiam os raios solares,</p><p>servia de estufa onde cultivavam outra fruta do tamanho do coco, da qual</p><p>pareciam estar extremamente orgulhosos, pois era nutritiva e ao ser fervida</p><p>deixava açúcar por evaporação d’água, ao passo que o resíduo dava uma</p><p>farinha com que faziam uma espécie de torta doce. Sírio levava duas destas</p><p>tortas, ao rodar pela encosta da morte.</p><p>Em encarnação posterior apareceu Héracles como uma alta, esbelta e</p><p>atraente jovem, que numa árvore semelhante ao tamarindo dependurava um</p><p>berço de cortiça em que estava seu irmãozinho Safo.</p><p>Os selecionados da quinta sub-raça atlante cresceram e se multiplicaram</p><p>extraordinariamente, tornando-se uma nação de vários milhões de</p><p>habitantes ao fim de cerca de dois mil anos. Em geral, estiveram</p><p>inteiramente isolados do resto do mundo por um cinturão de areia, que</p><p>podia ser atravessada somente pelas caravanas com abundante provisão</p><p>d’água e por um só caminho de oásis, perto do lugar onde se encontra</p><p>Meca. De vez em quando se desligavam do tronco principal grupos de</p><p>emigrantes que iam se estabelecer no sul da Palestina uns, e no sul do Egito</p><p>outros, sendo esses movimentos estimulados pelos representantes do Manu,</p><p>porque o tamanho da meseta não comportava tanta multidão. Eram</p><p>expedidos como imigrantes os tipos menos desejáveis, ao passo que os mais</p><p>promissores eram conservados dentro do cinturão do deserto. De quando</p><p>em quando, por sugestão do Manu, se formava uma caravana de emigrantes</p><p>que iam constituir uma colônia ou fundar uma cidade, e foi numa destas que</p><p>se desenvolveu o cavalo. Eventualmente se encarnava o próprio Manu, e</p><p>Seus descendentes formavam uma estirpe à parte, de tipo um tanto</p><p>melhorado; mas, no geral, Ele não se achava presente em corpo físico,</p><p>senão que governava o povo por meio de Seus lugar-tenentes, entre os quais</p><p>se destacavam Júpiter e Marte.</p><p>O povo se dedicava à agricultura e ao pastoreio, sem aglomerar-se em</p><p>grandes cidades; mas ao cabo de uns três mil anos estava a meseta tão</p><p>densamente povoada, que parecia uma só e enorme cidade. A fim de aliviar</p><p>a densidade de população no núcleo central, o Manu enviou grande número</p><p>de gente à África, para ali fundar uma populosa colônia que,</p><p>posteriormente, foi exterminada completamente.</p><p>Poucos anos antes da catástrofe do ano 75025 a.C., em obediência a</p><p>uma mensagem recebida do Chefe da Hierarquia, o Manu escolheu uns</p><p>setecentos de Seus próprios descendentes e os conduziu para o norte. Ele os</p><p>havia constituído numa</p><p>seita heterodoxa, de maior austeridade de conduta</p><p>do que seus vizinhos e por isso não eram apreciados pelos ortodoxos entre</p><p>os quais viviam. Em consequência, o Manu lhes preveniu que O seguissem</p><p>para uma terra distante alguns anos de viagem, onde, no entanto, poderiam</p><p>viver em paz e sem temor às perseguições dos ortodoxos. Nem sequer os</p><p>lugar-tenentes do Manu obtiveram Sua plena confiança, sendo meros</p><p>executores das ordens recebidas. Entre eles estavam vários que agora são</p><p>Mestres, e outros que já transcenderam a evolução terrestre.</p><p>Como não era muito grande o número de escolhidos, formaram uma só</p><p>caravana, e o Manu enviou uma mensagem ao monarca do império sumero-</p><p>acadiano pedindo-lhe permissão para atravessar o seu território, que na</p><p>ocasião compreendia a atual Turquia asiática, Pérsia e países seguintes. Sem</p><p>dificuldade chegou a caravana à fronteira do império, e mercê do passaporte</p><p>do imperador, que se portou amistosamente, alcançou em linha reta o</p><p>Turquestão, onde o Manu teve de tratar com uma confederação de Estados</p><p>turânios, súditos do império, em cujo território estava compreendido o atual</p><p>Tibete.</p><p>Ele passou entre cordilheiras de montanhas, inclusive a atual cordilheira</p><p>de Tianshan, que limitavam o mar de Gobi e se estendiam para o Oceano</p><p>Ártico. Em direção oblíqua para o norte, atravessou a Mesopotâmia e a</p><p>Babilônia, por não serem muito altas as montanhas que tinha de transpor. A</p><p>Confederação Turânia permitiu a Sua passagem, uma porque Seu povo não</p><p>era bastante numeroso para causar apreensões, e outra porque Ele declarava</p><p>que estava cumprindo uma missão de que O havia incumbido o Altíssimo.</p><p>Após alguns anos de peregrinação, chegou a caravana à costa do mar de</p><p>Gobi; mas em obediência às ordens recebidas não quis o Manu permanecer</p><p>na planície, senão que se internou pelas colinas para o norte, de onde um</p><p>vasto mar raso se dilatava até o Oceano Ártico e, portanto, até o Polo.</p><p>A Estrela Lemuriana estava muito desmembrada por essa ocasião e sua</p><p>ponta mais próxima estava no norte, a cerca de mil milhas. Ele instalou</p><p>alguns de Seus seguidores num promontório de frente para o nordeste, mas</p><p>a maioria se estabeleceu numa fértil baixada semelhante a uma cratera, algo</p><p>parecida com a Taça do Diabo de Surrey, ainda que muito maior. Esta</p><p>baixada se achava mais para o interior, porém de um pico adjacente se</p><p>poderia divisar o mar.</p><p>Do promontório, que era muito elevado, se distinguiam o mar de Gobi e</p><p>a terra que teriam de habitar depois de passado o cataclismo iminente. A</p><p>Ilha Branca estava no sudeste; não era visível do promontório, mas tornou-</p><p>se visível quando, posteriormente, ficou semeada de elevados templos.</p><p>Tanto o promontório como a terra contígua estavam formados de camadas</p><p>rochosas, que muito pouco sofreriam com os terremotos, a não ser que se</p><p>fendesse toda a terra. Ali haviam de permanecer o Manu e os Seus até que</p><p>passasse todo o perigo, e empregaram vários anos para se estabelecerem.</p><p>Alguns indivíduos morreram no caminho; outros, pouco depois da chegada,</p><p>e o próprio Manu se reencarnou para melhorar mais rapidamente o tipo</p><p>racial.</p><p>Como já dissemos, esse povo era da própria estirpe do Manu por serem</p><p>seus descendentes físicos, e segundo iam se extinguindo os corpos, Ele</p><p>infundia os Egos em outros novos e melhores.</p><p>Na Atlântida governava outra vez o Homem de Metal, sem que, pelo</p><p>visto, lhe houvessem aproveitado as anteriores experiências. Estava de</p><p>posse da Cidade das Portas de Ouro, e os atlantes de tipos mais nobres eram</p><p>muito oprimidos.</p><p>A Cidade foi subitamente destruída pela invasão das águas do mar,</p><p>através das enormes fendas abertas pela explosão de gases subterrâneos;</p><p>mas, ao contrário do ocorrido no cataclismo que submergiu, mais tarde, a</p><p>ilha de Poseidonis em vinte e quatro horas, aquelas convulsões se</p><p>prolongaram por dois anos. A cada explosão ocorrida, novas fendas se</p><p>abriam e terremotos sacudiam a terra, pois às explosões se seguiam efeitos</p><p>perturbadores. Os Himalaias subiram um pouco de altura e a Índia</p><p>meridional ficou submersa com todos os seus habitantes. O Egito ficou</p><p>inundado permanecendo apenas as pirâmides de pé, e desapareceu o istmo</p><p>que se estendia daquele país até os que hoje são Marrocos e Argélia, que</p><p>ficaram reduzidos a uma ilha, banhada pelo Mediterrâneo e Mar de Sahara.</p><p>O Mar de Gobi se tornou circular, e a terra hoje chamada Sibéria ficou</p><p>separada do Oceano Ártico; levantou-se a Ásia Central, e muitas torrentes</p><p>de água diluviais abriram profundas valas no fofo solo.</p><p>Enquanto prosseguiam essas perturbações sísmicas, a comunidade do</p><p>Manu não foi atingida pelas fendiduras ou alterações da superfície terrestre;</p><p>mas o povo se sentia constantemente aterrorizado com os repetidos</p><p>terremotos, e paralisado pelo temor de que o Sol, oculto durante um ano</p><p>atrás de massas de nuvens, formadas em sua maior parte por finíssimo pó,</p><p>houvesse desaparecido para sempre. As circunstâncias climatéricas</p><p>excediam a toda descrição. Caíam incessantemente terríveis aguaceiros, e</p><p>massas de vapor e nuvens de pó rodeavam a terra e obscureciam a</p><p>atmosfera. Nenhuma planta crescia convenientemente e o povo sofria</p><p>rigorosas privações; a comunidade, originariamente composta de setecentas</p><p>pessoas, que havia ascendido a um milhar, com essas atribulações ficou</p><p>reduzida a cerca de trezentas. Apenas sobreviveram os mais robustos; os</p><p>débeis sucumbiram.</p><p>Ao cabo de cinco anos já haviam se estabelecido novamente; a</p><p>depressão crateriana tornara-se um lago. Aos anos de perturbação</p><p>atmosférica se seguiram alguns de temperatura quente; muita terra virgem</p><p>havia surgido à superfície, e puderam cultivar o solo. O Manu estava já</p><p>envelhecido, quando recebeu uma ordem para conduzir Seu povo à Ilha</p><p>Branca. E ouvir era obedecer.</p><p>Ali, o próprio Chefe da Hierarquia Lhe mostrou o grande plano do</p><p>futuro, que se estendia por milhares de dezenas de milhares de anos. O povo</p><p>do Manu havia de habitar no continente, na costa do mar de Gobi, para</p><p>multiplicar-se e robustecer-se. A nova raça havia de nascer na Ilha Branca</p><p>e, depois de crescida, fundaria na costa oposta, para servir-lhe de habitação,</p><p>uma poderosa cidade cujo plano foi sugerido. Ao longo das praias do mar</p><p>de Gobi, à distância de vinte milhas, corria uma cordilheira de montanhas, e</p><p>dessa cordilheira se estendia uma série de colinas até a praia. Havia ali</p><p>quatro grandes vales, estendidos desde o interior da cordilheira até a praia,</p><p>inteiramente separados um do outro pelas interpostas colinas.</p><p>O Manu deveria instalar nesses vales algumas famílias escolhidas, para</p><p>desenvolver ali quatro distintas sub-raças e enviá-las oportunamente a</p><p>diferentes partes do mundo. Também enviaria alguns dos Seus a nascer</p><p>noutros países, e os restituiria depois à Ilha Branca, com o objetivo de</p><p>formar Novas misturas, pois teriam que se casar com membros de Sua</p><p>família, e quando o tipo estivesse pronto, Ele se encarnaria outra vez para</p><p>fixá-lo. A Raça Raiz necessitaria também de alguma mistura, porque o tipo</p><p>não era de todo satisfatório.</p><p>Deste modo se tinha de formar um tipo primordial e vários subtipos,</p><p>cujas diferenças se definissem nos primeiros dias, para obter cinco grupos</p><p>que se propagassem em distintos aspectos. Convém advertir que, depois de</p><p>refinar seu povo durante gerações e de proibir matrimônios com pessoas</p><p>estranhas, acreditou o Manu necessário, por último, misturar algo de sangue</p><p>estrangeiro e separar a sua descendência misturada.</p><p>Pelo ano 70000 a.C. passou a estabelecer o seu povo no continente,</p><p>ordenando-lhe que construísse suas vilas, onde cresceriam e se</p><p>multiplicariam durante milhares de anos. Não tiveram de iniciar a vida</p><p>como selvagens, pois já eram gente civilizada, e empregaram bom número</p><p>de máquinas poupadoras de trabalho. Numa das cidades crescidas mais</p><p>rapidamente ao longo da linha costeira, encontramos algumas caras</p><p>conhecidas. Marte, neto do Manu, era o chefe da comunidade, e com sua</p><p>esposa Mercúrio e seus filhos (entre os quais estavam Sírio e Alcione),</p><p>vivia numa alegre casa, rodeada de um vasto jardim com formosas</p><p>árvores76. Também vimos na cidade</p><p>Corona, bem como Orfeu, um ancião e</p><p>majestoso cavalheiro, muito digno e respeitado. Júpiter era o governador da</p><p>província,77 com autoridade delegada pelo Manu, o reconhecido Rei da</p><p>comunidade, residente em Shamballa.</p><p>Enquanto estávamos observando essa cidade, chegaram em tumultuoso</p><p>galope homens que, sem dúvida, regressavam de uma excursão. Montavam</p><p>animais de áspera aparência, semelhante a cavalos, e eram capitaneados por</p><p>Vajra, irmão de Marte, ante cuja casa se detiveram, para logo após</p><p>galoparem de novo, tão tumultuosamente como haviam chegado. Os</p><p>seguimos até outra cidade, também situada na praia de Gobi, onde</p><p>encontramos Viraj como Chefe. Seu filho, Héracles, integrava o grupo de</p><p>cavaleiros, entre os quais distinguimos também Ulisses.</p><p>Aqui deparamos com outras caras conhecidas. Ceteu e Ulisses estavam</p><p>brigados, porque primeiramente haviam discutido por causa de um animal</p><p>que ambos alegavam haver morto; depois por conta de um pedaço de terra</p><p>que um e outro necessitavam, e finalmente porque os dois disputavam uma</p><p>mesma mulher. Pólux e Héracles eram muito amigos, porque numa</p><p>excursão o primeiro havia salvo a vida do segundo com risco da sua</p><p>própria. Osíris, uma das filhas de Héracles, robusta e bela moça, nos</p><p>chamou a atenção, porque com a idade de quatorze anos levava nos braços</p><p>seu irmãozinho Fides, quando foi atacada por um enorme bode de grandes</p><p>chifres, granulados na base e pontiagudos nas extremidades. Mas ela não se</p><p>acovardou; segurou valorosamente o animal pelos cornos e o pôs de pé</p><p>sobre suas patas; depois, erguendo-o pelas patas traseiras, o atirou com toda</p><p>força no chão. O pequeno Fides parecia ser a criança mimada da família,</p><p>porque observamos que Héracles o carregava com frequência nos ombros.</p><p>Muita emoção foi mais tarde causada pelo Manu, que era então muito</p><p>idoso, ao chamar por Júpiter, Corona, Marte e Vajra. Obedecendo suas</p><p>ordens, na volta escolheram algumas crianças da colônia e as enviaram para</p><p>Shamballa. Estas crianças eram as melhores da comunidade, e desde então</p><p>se alçaram até a posição de Mestres. Eram filhos de Alcione, Urano e</p><p>Netuno, e suas filhas Súrya e Brhaspati. Saturno e Vulcano, meninos, e</p><p>Vênus, menina, foram igualmente escolhidos. Algumas mulheres os</p><p>acompanharam para cuidar das crianças, que foram educadas em</p><p>Shamballa. A seu devido tempo Saturno se casou com Súrya, e o</p><p>primogênito desse matrimônio foi o próprio Manu, que veio elevar mais o</p><p>nível da Raça.</p><p>Durante esse intervalo haviam ocorrido muitas transformações no</p><p>continente. Pouco depois da saída dos citados meninos, os turânios caíram</p><p>sobre a comunidade como uma devastadora inundação, pois esse era o</p><p>perigo de que o Manu havia advertido seus lugar-tenentes, e do qual se</p><p>salvaram os meninos. Os invasores foram valentemente repelidos várias</p><p>vezes; mas como após uma horda chegava outra, venceram enfim toda</p><p>resistência, e nenhum homem, mulher ou criança restou com vida na</p><p>matança geral. Nosso antigo conhecido Escorpião era o chefe de uma das</p><p>tribos, que outra vez renovou seu perpétuo conflito com Héracles.</p><p>Morreram muitas crianças que prometiam bastante; mas não teve grande</p><p>importância a sua morte, porque avós, pais e filhos deixaram no mesmo</p><p>tempo a vida terrestre e estiveram em condições de regressar quando o</p><p>Manu instituiu sua família. Marte foi o primeiro a retornar, tendo nascido</p><p>em Shamballa, como um irmão mais jovem do Manu, enquanto Viraj foi</p><p>sua irmã.</p><p>Repetiu-se então o ciclo em nível superior. Inventaram, ou melhor,</p><p>reinventaram muitas coisas úteis, e ao fim de alguns anos floresceu uma</p><p>populosa civilização, em cuja vanguarda figuravam nossos antigos amigos,</p><p>entre os quais Héracles era filho de Marte. Os do grupo de Servidores então</p><p>renascidos trabalhavam arduamente sob a direção de seus líderes, cuja</p><p>vontade eram solícitos em cumprir. Muitas vezes foram teimosos e tolos,</p><p>pelo que cometeram não poucos erros, mas sempre leais e sinceros, e essa</p><p>qualidade os unia estreitamente a quem eles serviam.</p><p>Construíram-se casas bem fortificadas bastante grandes para acomodar,</p><p>por diversas gerações, de fato, todos os membros de uma família, com uma</p><p>única entrada e com janelas que davam para um vasto pátio central, onde as</p><p>mulheres e crianças podiam estar seguras. Mais tarde circundaram as vilas e</p><p>cidades de poderosos muros, para reforçar a defesa, porque os selvagens</p><p>turânios rondavam continuamente os contornos da comunidade,</p><p>aterrorizando os habitantes com suas brutais depredações e repentinos</p><p>assaltos. As vilas fronteiriças andavam sob contínuo alarme, enquanto os</p><p>habitantes do litoral desfrutavam de maior tranquilidade.</p><p>Quando a Raça tomou novamente as proporções de uma pequena nação,</p><p>sobreveio outro ataque dos turânios com a consequente matança, da qual</p><p>apenas se salvaram umas tantas crianças, enviadas com suas aias a</p><p>Shamballa, onde foram criadas. Convém ressaltar que, apesar de sua sede</p><p>de sangue, os turânios não atacaram a Ilha Branca, pela qual nutriam</p><p>profunda veneração. Assim ficou sempre resguardada a Raça-tipo, apesar</p><p>de haver sido aniquilada por duas vezes a massa geral, que depois se</p><p>reencarnavam, o mais rápido possível, o Manu e Seus lugar-tenentes, e a</p><p>purificavam ainda mais, aproximando-a sempre do tipo que Ele tinha em</p><p>mira.</p><p>CAPÍTULO 15</p><p>A EDIFICAÇÃO DA GRANDE CIDADE</p><p>Depois do segundo extermínio, o Manu considerou necessário infundir mais</p><p>um pouco de sangue tolteca em Sua Raça, que, como devemos lembrar-nos,</p><p>tinha somente um duodécimo de sua hereditariedade. Para isso, mandou</p><p>Marte (morto no começo da última guerra) reencarnar-se na mais pura</p><p>família tolteca de Poseidonis, e chamou-o de volta à Sua nascente</p><p>comunidade ao completar vinte e cinco anos de idade. A Marte deu Manu</p><p>como esposa a melhor e mais bela de Suas filhas, Júpiter, que escapara do</p><p>segundo massacre em sua infância e desde longa data tinha sido amigo e</p><p>instrutor de seu agora esposo. Deste matrimônio nasceu Viraj, que reunia</p><p>em soberbo exemplar humano as mais relevantes qualidades das duas Raças</p><p>progenitoras. Viraj casou-se com Saturno, e o próprio Manu se reencarnou</p><p>de novo como filho do jovem casal. Nesse ponto (uns 60000 anos a.C.)</p><p>começou verdadeiramente a quinta Raça Raiz, ou Raça Ária, pois desde</p><p>então ela não sofreu novo extermínio. Da tênue semente brotou uma bela e</p><p>pura civilização e, segregada que foi do resto do mundo, floresceu</p><p>exuberantemente.</p><p>Os descendentes do Manu permaneceram na Ilha Branca até chegarem a</p><p>uma centena, pois o Manu lhes havia ordenado que quando atingissem este</p><p>número se encaminhassem para o continente, a fim de edificar a cidade que</p><p>Ele havia planejado para ser a futura capital de Sua Raça. O plano fora</p><p>elaborado de maneira completa, tal qual Ele a desejava quando terminada,</p><p>com todas as ruas marcadas, inclusive suas larguras, o tamanho dos</p><p>principais edifícios, e outros pormenores. A Ilha Branca era o centro para o</p><p>qual convergiam as grandes ruas principais, de modo que se atravessassem</p><p>o mar interposto, terminariam na Ilha. Do mar se erguiam baixos rochedos,</p><p>dos quais a terra subia gradualmente até as colinas alegremente purpúreas a</p><p>vinte milhas de distância. Era um esplêndido local para uma cidade, embora</p><p>exposta aos ventos frios do Norte. A cidade se espalhava em forma de leque</p><p>em volta da praia, estendendo-se pela rampa suave, e suas ruas principais</p><p>eram tão largas que de suas extremidades nas colinas se podia avistar a Ilha</p><p>Branca. Era esse o ponto culminante, que parecia dominar toda a vida da</p><p>cidade, depois de terminado todo o esplêndido plano.</p><p>A cidade foi construída mil anos antes de ser povoada, não tendo, por</p><p>isso, se desenvolvido desmembradamente, como Londres, e o pequeno</p><p>grupo de uma centena, constituído pelos filhos e netos do Manu, pareciam</p><p>absurdamente insuficientes para a imensa obra que tinham de iniciar e seus</p><p>descendentes de concluir. Construíram para sua residência bairros</p><p>provisórios, que não interferissem no plano geral, e tiveram, sem dúvida,</p><p>que cultivar a terra necessária para o seu sustento. Todo o tempo que tinham</p><p>disponível, além do aplicado em</p><p>é, entrou na corrente de evolução como primeiro reino</p><p>elemental da sétima Cadeia do Esquema anterior, como se pode ver pelo</p><p>círculo superior esquerdo, assinalado com flecha na sétima Cadeia de nosso</p><p>Diagrama. Alcança o reino humano na sexta Cadeia e continua adiante. A</p><p>vida no terceiro círculo, de cor púrpura, com dois reinos evoluídos no</p><p>Esquema precedente, alcança o reino do homem na quinta Cadeia e</p><p>prossegue adiante. A vida que no quarto círculo anima o reino mineral,</p><p>passa para a quarta Cadeia. A que anima o reino vegetal passa para a</p><p>terceira Cadeia; a do reino animal passa para a segunda, e a do reino</p><p>humano para a primeira.</p><p>O estudante que compreender todo este Diagrama, se achará de posse de</p><p>um plano de compartimentos de que poderá reunir bastantes pormenores,</p><p>sem, em meio de sua complexidade, perder de vista os princípios gerais da</p><p>evolução cônica.</p><p>Dois pontos restam por esclarecer: o subelemental e o super-humano. A</p><p>corrente de Vida procedente do LOGOS, anima primeiramente a matéria no</p><p>primeiro ou insignificante reino elemental; daí que, quando procedente da</p><p>primeira Cadeia, esta corrente penetra no segundo reino elemental da</p><p>segunda Cadeia, a matéria que há de constituir o primeiro reino elemental</p><p>desta segunda Cadeia, tem de ser animada por uma nova corrente de Vida</p><p>originária do LOGOS, e assim sucessivamente em cada uma das Cadeias</p><p>restantes.15</p><p>Logo que transpôs o reino humano, chega o homem ao início da vida</p><p>super-humana e é já um Espírito liberto, e ante ele se abrem sete sendas</p><p>para sua opção. Pode entrar na onisciência e onipotência bem-aventuradas</p><p>do Nirvana, cuja atuação transcende a tudo quanto conhecemos, com</p><p>possibilidade de chegar a ser, em algum futuro mundo, um Avatar ou</p><p>encarnação divina. A isso se costuma chamar “a vestimenta do</p><p>Dharmakâya”. Também pode entrar no “período espiritual”, frase que</p><p>encobre desconhecidos significados, entre eles, provavelmente, o de “tomar</p><p>a vestimenta de Sambhogakâya”. Igualmente pode tornar-se parte naquele</p><p>reservatório de poderes espirituais que os agentes do LOGOS extraem para</p><p>a Sua obra, “tomando a vestimenta de Nirmanakâya”. Pode ainda ser um</p><p>membro da Hierarquia Oculta, que governa e protege o mundo onde Ele</p><p>alcançou a perfeição. Por outra senda pode passar à Cadeia seguinte para</p><p>ajudar a construir suas formas. Da mesma maneira pode entrar na</p><p>esplêndida evolução angélica dos devas. Por último, pode consagrar-se ao</p><p>serviço imediato do LOGOS, em alguma parte do Sistema Solar, para ser</p><p>por ELE usado como Seu Ministro ou Mensageiro, que vive só para</p><p>cumprir Sua vontade e levar a cabo a Sua obra no conjunto do Sistema por</p><p>Ele governado. Assim como um general tem seu Estado-Maior, cujos</p><p>indivíduos transmitem suas ordens a todos os pontos do campo de batalha,</p><p>assim são esses Espíritos o Estado-Maior d’Aquele que a todos comanda,</p><p>“os Ministros que cumprem Seu consentimento”.16 Parece que esta Senda é</p><p>muito espinhosa, porque o Adepto tem de suportar ali grandes sacrifícios, e,</p><p>portanto, o diferenciam e consideram em extremo. Um indivíduo do</p><p>Estado-Maior geral não tem corpo físico; mas mediante o “poder criador”</p><p>(kriyâshakti), ele constrói um para si, com a matéria do globo ao qual é</p><p>enviado. No Estado-Maior há Seres de diversos graus de evolução, do de</p><p>Arhat17 em diante. Alguns alcançaram o Arhatado na Cadeia Lunar; outros</p><p>são Adeptos18 e também há os que já transcenderam este grau da evolução</p><p>humana.</p><p>A necessidade desse Estado-Maior se origina, provavelmente, entre</p><p>outras razões para nós desconhecidas, do fato de que as primitivas etapas de</p><p>evolução de uma Cadeia, e mais ainda se é do arco descendente, requererem</p><p>maior auxílio externo do que as etapas posteriores. Assim, por exemplo, na</p><p>primeira Cadeia de nosso Esquema, a primeira Grande Iniciação foi o ponto</p><p>máximo do nível humano; nenhum indivíduo daquela humanidade alcançou</p><p>o Adeptado, e muito menos a iluminação. Daí a necessidade de proceder do</p><p>exterior os funcionários superiores. Semelhante auxílio receberam as</p><p>Cadeias posteriores; e nossa Terra terá de dar ministros superiores às</p><p>primeiras Cadeias de outros Esquemas, assim como também os agentes</p><p>comuns para os últimos Globos e Rondas de nossa própria Cadeia. Segundo</p><p>sabemos, dois Seres de nossa Hierarquia Oculta deixaram já a Terra, talvez</p><p>para se reunirem ao Estado-Maior ou por terem sido enviados pelo Chefe de</p><p>nossa Hierarquia para capitanear algum outro Globo estranho ao nosso</p><p>Esquema.</p><p>Os seres humanos que numa Cadeia não chegam, ao fim de certo tempo,</p><p>ao máximo nível assinalado à humanidade daquela Cadeia, são</p><p>“fracassados”, podendo seu fracasso se originar de falta de tempo, falta de</p><p>atuação, etc. Mas qualquer que seja a causa, os que não alcançam o ponto</p><p>necessário para dali progredir de modo que antes do término da Cadeia</p><p>cheguem ao nível assinalado nela, ficam eliminados da evolução dessa</p><p>Cadeia antes de seu fim e se veem necessitados de entrar na Cadeia</p><p>seguinte, no ponto determinado pela etapa alcançada na precedente, a fim</p><p>de que possam completar sua carreira humana. Existem outros seres que</p><p>conseguem atravessar este ponto crucial, ou “Dia do Juízo” na Cadeia, e,</p><p>contudo, não progrediram com suficiente rapidez para alcançar o nível ante</p><p>o qual se abrem as sete Sendas.</p><p>Conquanto não sejam “fracassados”, também esses não triunfaram de</p><p>todo, e, portanto, passam do mesmo modo para a Cadeia seguinte e guiam</p><p>aquela humanidade, a que se incorporam quando essa humanidade chega a</p><p>uma etapa em que seus corpos estão suficientemente desenvolvidos para</p><p>lhes servir de veículos em seu progresso futuro. Em nosso estudo</p><p>encontraremos essas diversas classes de seres, pois agora só os examinamos</p><p>numa visão de pássaro; os pormenores nos serão mostrados mais</p><p>claramente. Apenas na primeira Cadeia vemos que não tem havido</p><p>fracassados excluídos de sua evolução. Houve alguns que não triunfaram,</p><p>mas não pudemos observar se essa primeira Cadeia teve seu “Dia do Juízo”.</p><p>Numa Cadeia, a onda de evolução se estende do Globo A ao G, que são,</p><p>em turno sucessivo, os campos de desenvolvimento. Esta passagem da onda</p><p>ao longo da Cadeia se chama Ronda, e a onda passa sete vezes ou sete</p><p>Rondas por todos os Globos, antes que termine a vida da Cadeia e fique</p><p>completa a sua obra. Então se colhem e armazenam seus frutos, que servem</p><p>de semente para a Cadeia seguinte, exceto Aqueles que, terminada Sua</p><p>carreira humana, chegam a ser Super-Homens e, entrando em outra das sete</p><p>Sendas, preferem empregar-se em funções distintas das de guiar o curso da</p><p>Cadeia seguinte.</p><p>Concluamos estas notas preliminares. Na esfera monádica, no plano</p><p>superespiritual, moram as Emanações divinas, os Filhos de Deus que têm de</p><p>tornar-se carne e converter-se em Filhos do Homem no universo futuro.</p><p>Perpetuamente contemplam a face do Pai e são a contraparte angélica. Este</p><p>divino Filho recebe em seu mundo peculiar o nome técnico de Mônada ou</p><p>Unidade. É aquilo que, como já dissemos, “se transforma no mundo de vida</p><p>num Espírito imortal”. O Espírito é a Mônada velada na matéria, e,</p><p>portanto, trina em seus aspectos de Vontade, Sabedoria e Atividade, que</p><p>chegará a ser a verdadeira Mônada depois de apropriar-se dos átomos de</p><p>matéria das esferas espiritual, intuicional e mental, que formarão seus</p><p>corpos. Na Mônada borbulha a inesgotável fonte de vida; o Espírito ou ela</p><p>mesma disfarçada, é sua manifestação num universo. À medida que o</p><p>Espírito adquire domínio sobre a matéria da esfera inferior, vai governando</p><p>com maior acerto a obra evolutiva, e a Vontade determina, a Sabedoria</p><p>conduz e a Atividade executa as grandes determinações que decidem o</p><p>destino do homem.</p><p>CAPÍTULO 2</p><p>PRIMEIRA E SEGUNDA CADEIAS</p><p>Temos agora de enfrentar a única dificuldade prática que nos é apresenta no</p><p>começo de nosso estudo: os ciclos evolutivos das primeira e segunda</p><p>Cadeias de nosso Esquema. Um Mestre dizia risonhamente sobre esse</p><p>particular: “Não duvido de que sejais capazes de vê-lo, mas, sim, de que</p><p>acerteis em descrevê-lo em linguagem tão inteligível que outros possam</p><p>compreendê-lo”. Com efeito, as condições</p><p>sua manutenção, o dedicavam à</p><p>preparação da obra. Mediam o terreno e traçavam as largas ruas segundo o</p><p>plano, derrubando muitas árvores, cuja madeira aproveitavam nos seus</p><p>bairros. Alguns foram depois enviados às colinas, à procura de metais e</p><p>pedras úteis à edificação, escavando minas e abrindo pedreiras, das quais</p><p>extraíram pedras brancas, cinzentas, vermelhas e verdes, parecidas com</p><p>mármore, mas ainda mais duras, se bem que talvez possuíssem, para</p><p>endurecê-las, algum segredo aprendido dos atlantes, onde a arquitetura</p><p>havia alcançado notável perfeição. Mais tarde penetraram mais no campo, e</p><p>encontraram mármore de magnífica cor purpurina, que utilizavam com</p><p>relevante efeito.</p><p>Era um curioso espetáculo contemplar-se a obra desses construtores de</p><p>uma futura cidade. Descendentes do Manu, semelhantes em educação e</p><p>hábitos, sentiam e agiam como uma família, mesmo depois de aumentado</p><p>seu número a milhares. Sem dúvida a presença do Manu e de Seus lugar-</p><p>tenentes mantinha vivo esse sentimento, e fez da comunidade uma</p><p>fraternidade real onde os membros se conheciam mutuamente. Trabalhavam</p><p>contentes porque cumpriam os desejos do Manu ao mesmo tempo seu Pai e</p><p>seu Rei. Nos campos cultivavam cereais (pois parece que tinham trigo,</p><p>centeio e aveia) e, além disso, cortavam e lavravam as enormes pedras</p><p>extraídas das colinas. Faziam tudo alegremente, como um dever religioso e</p><p>meritório, e assumindo voluntariamente qualquer tarefa.</p><p>O estilo arquitetônico era colossal, com enormes pedras, muito maiores</p><p>ainda que as de Karnak. Serviam-se de máquinas e deslizavam volumosas</p><p>pedras sobre rolos; às vezes, nas dificuldades o Manu dava instruções que</p><p>tornavam o trabalho mais fácil, talvez por meio de processos de</p><p>magnetização. Era-lhes permitido empregar suas forças e engenho máximos</p><p>para lidar com essas imensas pedras, de uns cinquenta metros de</p><p>comprimento, que conseguiam arrastar pelas estradas. Mas para erguê-las</p><p>até os seus lugares destinados, o Manu e Seus lugar-tenentes lhes</p><p>ensinavam processos ocultos. Alguns desses lugar-tenentes, acima do grau</p><p>de Mestre, eram os Senhores Lunares, que se tornaram Cohans de Raios.</p><p>Andavam entre o povo inspecionando-lhe o trabalho. e eram geralmente</p><p>denominados Maharishis. Alguns de seus nomes próprios pareciam muito</p><p>guturais, como Rhudhra, e outro nome ouvido foi Vasukhya.78</p><p>Os edifícios eram de proporções semelhantes às que depois tiveram os</p><p>do Egito, mas de aspecto muito mais elegante e leve, como sucedia nos</p><p>edifícios da Ilha Branca, cujas cúpulas não eram de forma esférica, mas</p><p>bulbosa, isto é, grossas na base para irem se afinando suavemente até</p><p>terminar em ponta, tal qual um botão de lótus, cujas folhas fechadas</p><p>houvessem se retorcido. Pareciam duas hélices superpostas, uma à direita e</p><p>outra à esquerda, cujos filetes se cruzassem sobre o arredondado bulbo. Os</p><p>alicerces dos grandes edifícios eram tremendamente sólidos, e sustentavam</p><p>um conjunto de minaretes e arcos de curvas peculiares e graciosas,</p><p>concluído pela cúpula em forma de botão de lótus.</p><p>Toda a edificação levou muitos séculos, mas a Ilha Branca, depois de</p><p>concluída, foi uma verdadeira maravilha. A Ilha em si tinha uma forma algo</p><p>cônica, de que os construtores souberam se aproveitar. Edificaram ali</p><p>esplêndidos templos, todos de mármore branco com incrustações de ouro,</p><p>que cobriam a Ilha inteira, convertendo-a numa singular Cidade Sagrada.</p><p>Alteavam-se voltados para o vasto Templo central, coroado pelos minaretes</p><p>e arcos antes referidos, com a cúpula em forma de botão de lótus no meio.</p><p>A cúpula cobria o grande Salão, onde os Quatro Kumaras apareciam em</p><p>ocasiões especiais, como as solenes festas religiosas, e as cerimônias de</p><p>importância nacional.79</p><p>Vista do extremo de uma das ruas, a umas dez milhas de distância,</p><p>causava muito belo e emocionante efeito a vista da branca e dourada Ilha,</p><p>com uma branquíssima cúpula caída em meio do mar azul de Gobi,80 pois</p><p>todos os edifícios pareciam saltar na serena atmosfera em direção ao centro,</p><p>como ansiando ser coroados pela linda cúpula. Levantando-nos sobre ela no</p><p>ar, como um balão, e contemplando-a de lá, veríamos a Ilha Branca</p><p>semelhante a um círculo dividido por uma cruz, pois as ruas estavam</p><p>dispostas como quatro raios coincidentes no Templo central. Contemplada</p><p>do noroeste, do promontório da primitiva colônia, produzia-se um efeito</p><p>extraordinário, que dificilmente podia ser casual. O conjunto figurava o</p><p>Olho simbólico do rito maçônico, numa perspectiva em que as curvas se</p><p>tornavam cilíndricas e as linhas mais escuras da cidade formavam o arcoíris</p><p>sobre o continente.</p><p>Tanto o interior como o exterior dos templos da Ilha Branca estavam</p><p>adornados de esculturas. Grande número deles continha símbolos</p><p>maçônicos, pois a Maçonaria herdou seus símbolos dos Mistérios, e todos</p><p>os Mistérios arianos se originaram desse antigo centro de Iniciação. Numa</p><p>sala próxima ao Templo central aparentemente destinada à instrução, havia</p><p>uma série de esculturas começando com o átomo físico e prosseguindo até</p><p>os átomos químicos, dispostos em ordem, e com linhas explicativas</p><p>marcando as várias combinações. Verdadeiramente, não há nada de novo</p><p>sob o Sol.81</p><p>Numa outra sala havia muitos modelos, num dos quais estão</p><p>reciprocamente atravessadas as lemniscatas de Crookes, de forma a</p><p>constituir um átomo com uma rosa quádrupla. Muitas coisas se achavam</p><p>modeladas em alto-relevo, como o átomo prânico, a cobra de oxigênio, o</p><p>globo de nitrogênio.</p><p>É lamentável que o cataclismo final houvesse destruído esses</p><p>monumentais edifícios! Não fora isso e poderiam ter durado muitos</p><p>milhares de anos.</p><p>A Cidade do continente foi edificada com pedras de diversas cores</p><p>extraídas das pedreiras de cantaria da montanha, e alguns dos edifícios</p><p>muito se realçavam pela combinação do cinzento com o vermelho. O</p><p>vermelho e verde era outra combinação predileta, com surpreendentes</p><p>efeitos produzidos por toques de mármore violeta.</p><p>Prolongando nossa observação por vários séculos, vimos que a</p><p>edificação ainda prosseguia, embora com muito mais operários, até que ao</p><p>fim de mil anos atingiu sua plena magnificência, como capital do futuro</p><p>império. À proporção que crescia o número de operários, iam se</p><p>expandindo cada vez mais e cultivando mais terras muito férteis, para a sua</p><p>manutenção, trabalhando ora nos campos ora em seus grandiosos templos.</p><p>De século em século continuou essa expansão ao longo das praias do Mar</p><p>de Gobi e pelo grande aclive em direção das colinas, mas obedecendo</p><p>sempre ao plano original do Manu.</p><p>Havia nas colinas minas de ouro e pedras preciosas de todas as espécies.</p><p>O ouro era muito aplicado nas edificações, especialmente nas construídas</p><p>de mármore branco, e seu efeito era de extraordinária e nítida riqueza. As</p><p>pedras preciosas também entravam abundantemente nas decorações,</p><p>incrustadas como pontos brilhantes em quadros de cor. Os desenhos</p><p>decorativos tinham por elemento a sílica microcristalina polida, e os</p><p>modelos eram de uma pedra preciosa parecida com o ônix mexicano. Um</p><p>dos mais prediletos e formosos motivos ornamentais dos edifícios públicos,</p><p>consistia na combinação de jade verde-escuro e mármore violeta.</p><p>As esculturas eram profusamente empregadas, tanto fora como dentro</p><p>dos edifícios, mas não se viam pinturas murais nem desenhos com</p><p>perspectivas. Grandes frisos representavam procissões em altos-relevos,</p><p>com todas as figuras do mesmo tamanho, sem dar ideia alguma da distância</p><p>ou do espaço, pois não se viam árvores nem nuvens no fundo. Esses frisos</p><p>recordavam os mármores de Elgin e pareciam excelentemente esculpidos</p><p>com certa imitação do natural. Nos mesmos frisos se viam algumas figuras</p><p>pintadas, assim como estátuas soltas nas vias públicas e casas particulares.</p><p>Ficou a Cidade ligada à Ilha Branca por meio de uma ponte maciça e</p><p>magnífica, uma estrutura tão notável que deu seu nome à Cidade, chamada,</p><p>por isso, a Cidade da Ponte.82 Era uma ponte em formato de S invertido, de</p><p>forma muito graciosa, lavrada de espirais maciças e decorada com grandes</p><p>grupos de estatuária, e com suas extremidades apoiadas no rochedo</p><p>são tão diferentes de tudo quanto</p><p>conhecemos; as formas são tão frágeis, sutis e mutáveis; a matéria é tão por</p><p>completo “o material de que se formam os sonhos” que se torna quase</p><p>impossível descrever claramente as coisas observadas. Contudo, por</p><p>imperfeita que seja a descrição, alguma temos de dar para representar</p><p>compreensivelmente a remotíssima evolução, pois por pálida que seja,</p><p>valerá mais do que se não déssemos nenhuma.</p><p>Não é possível achar um verdadeiro “começo”. Na Cadeia sem fim dos</p><p>seres viventes podemos estudar satisfatoriamente um elo; mas o metal que o</p><p>forma foi extraído do seio da terra, escavado do fundo de alguma mina,</p><p>derretido em algum forno, forjado em alguma oficina e modelado por</p><p>alguma mão, antes que aparecesse como elo de uma Cadeia. Assim sucede</p><p>com o nosso Esquema, que sem outros Esquemas precedentes não poderia</p><p>existir, pois seus habitantes mais adiantados não começaram nele a sua</p><p>evolução. Basta partir daquele ponto em que algumas partículas da</p><p>Divindade, eternos Espíritos (que em outro lugar haviam passado pelo arco</p><p>descendente, involuindo em cada vez mais densa matéria através dos reinos</p><p>elementais), chegam ao seu nível mais baixo e começam no reino mineral,</p><p>nessa primeira Cadeia, a sua longa ascensão e desenvolvimento da matéria</p><p>sempre em evolução. No reino mineral dessa Cadeia a atual humanidade</p><p>aprendeu suas primeiras lições de evolução. Esta consciência é a que nos</p><p>propomos a investigar desde sua vida nos minerais da primeira Cadeia até a</p><p>sua vida nos homens da quarta. Formando, como formamos, parte da</p><p>humanidade terrestre, nos será mais fácil investigar esta consciência que</p><p>outra estranha a nós, pois da Eterna Memória evocaremos cenas em que</p><p>tivemos nossa parte, com as quais estamos inseparavelmente ligados e que,</p><p>portanto, podemos alcançar com maior facilidade.</p><p>Na primeira Cadeia se veem sete centros, dos quais o primeiro e o</p><p>sétimo, segundo já foi dito, estão no nível espiritual (nirvânico); o segundo</p><p>e o sexto no intuicional (búdico); o terceiro e o quinto no mental superior; e</p><p>o quarto no mental inferior. Nós os denominaremos, como fizemos com os</p><p>Globos A e G, B e F, C e E; no centro, D, ponto de conversão do ciclo.</p><p>O comentário oculto citado em A Doutrina Secreta diz que na primeira</p><p>Ronda da quarta Cadeia (de certo modo uma tosca imitação da primeira</p><p>Cadeia), a Terra era um feto na matriz do espaço. Esta semelhança nos vem</p><p>à mente ao tratarmos desta Cadeia, equivalente aos futuros mundos na</p><p>matriz do pensamento, isto é, os mundos que posteriormente hão de nascer</p><p>em matéria mais compacta. Mal podemos chamar “globos” a estes centros,</p><p>pois são como centros de luz num mar de luz, focos de luz dos quais a luz</p><p>irradia da mesma substância de luz e unicamente luz, modificada pelo fluxo</p><p>de luz originada dos focos. São como vórtices anulares, anéis de luz</p><p>somente distinguíveis por seu remoinho e pela diferença de seu movimento,</p><p>de sorte que à semelhança de molinetes d’água no meio da água, são</p><p>molinetes de luz em meio da luz.</p><p>Os centros primeiro e sétimo são modificações da matéria espiritual, o</p><p>sétimo é o completo aperfeiçoamento do tosco esboço visível no primeiro, a</p><p>acabada pintura do denso rascunho do divino Artista. Há ali uma</p><p>humanidade, uma humanidade muito glorificada, produto de alguma</p><p>evolução precedente, que tem de completar seu curso humano nesta</p><p>Cadeia,19 onde cada entidade tomará (no quarto globo de cada Ronda), seu</p><p>insignificante corpo, isto é, o corpo de matéria mental, ou seja, o mais</p><p>denso que essa Cadeia puder subministrar.</p><p>A primeira Grande Iniciação (ou o seu equivalente ali) é o nível</p><p>assinalado nesta Cadeia, e quem não a alcança há de renascer por</p><p>necessidade na seguinte.</p><p>Do que temos podido investigar, conclui-se que nesta primeira Cadeia</p><p>não houve fracassados, e alguns seres (como também, segundo parece,</p><p>ocorreu em Cadeias posteriores) transpuseram o nível assinalado. Os</p><p>membros daquela humanidade, que na sétima Ronda alcançaram a</p><p>Iniciação, escolheram uma das sete Sendas que antes mencionamos.</p><p>Nessa primeira Cadeia aparecem todas as etapas da evolução do ego;</p><p>mas a carência dos níveis inferiores de matéria a que estamos acostumados,</p><p>assinala notável diferença nos métodos evolutivos que surpreendem o</p><p>observador. Ali todas as coisas não só surgem de cima, mas que progridem</p><p>para cima, pois não há baixo nem forma no sentido comum da palavra, e</p><p>sim, unicamente, centros de vida, seres viventes sem forma estável. Não há</p><p>mundo emocional nem físico20 dos quais possam brotar impulsos a que</p><p>respondam os centros superiores, descendo para utilizar e animar as formas</p><p>já existentes nos níveis inferiores.</p><p>O campo mais próximo para esta ação é o globo D, onde as formas</p><p>mentais de configuração animal se dirigem para cima e chamam a atenção</p><p>dos centros sutis que flutuam sobre elas. Então a vida do Espírito palpita</p><p>intensamente nos centros que se infundem nas formas mentais, e as animam</p><p>e humanizam.</p><p>É muito difícil discernir as Rondas sucessivas, pois parece que umas se</p><p>desvanecem em outras como ondas desfeitas,21 e só se distinguem por leves</p><p>aumentos e diminuições de luz. O progresso é muito lento e traz à memória</p><p>a idade Satya das Escrituras hinduístas, em que a vida permanece alguns</p><p>milhares de anos sem mudança apreciável.22 As entidades se desenvolvem</p><p>muito lentamente à medida que as ferem os raios de uma luz magnetizada.</p><p>É como uma gestação, como o crescimento de um ovo ou de um casulo</p><p>dentro de seus invólucros.</p><p>O principal interesse da Cadeia está na evolução dos seres brilhantes</p><p>(devas ou anjos) que habitualmente moram naqueles níveis superiores,</p><p>enquanto as evoluções inferiores parecem desempenhar uma parte</p><p>subalterna. A humanidade está ali muito influída pelos devas, geralmente</p><p>por sua mera presença e pela atmosfera que formam; mas às vezes se vê um</p><p>deva tomar um ser como se fosse um brinquedo ou cordeirinho mimado.</p><p>Por sua própria existência, a vasta evolução angélica auxilia a humanidade.</p><p>As vibrações estabelecidas por esses gloriosos Espíritos atuam nos mais</p><p>insignificantes tipos humanos, e os fortalecem e vivificam. Observando a</p><p>Cadeia em conjunto, a vemos como um campo primordialmente destinado</p><p>ao reino angélico e apenas secundariamente à humanidade; mas não deixa</p><p>de causar estranheza, porque os homens estão acostumados a encarar o</p><p>mundo como exclusivamente seu.</p><p>No quarto globo se vê de vez em quando que um deva auxilia</p><p>deliberadamente um ser humano, transferindo matéria de seu próprio corpo</p><p>para aumentar a receptividade e capacidade de resposta do corpo daquele.</p><p>Estes auxiliadores pertencem à classe de anjos corpóreos (rupa-devas) ou</p><p>com forma, que habitualmente residem no mundo mental inferior.</p><p>Voltando ao reino mineral, encontramo-nos entre aqueles dos quais</p><p>alguns serão homens na Cadeia Lunar e outros na Cadeia Terrestre. A</p><p>consciência adormecida nestes minerais tem de ir se despertando</p><p>gradualmente e de se desenvolver através de longas etapas no reino</p><p>humano.</p><p>O reino vegetal está um tanto mais desperto, embora ainda muito</p><p>insensível e sonolento. O progresso normal neste reino transportará a</p><p>animada consciência ao reino animal da segunda Cadeia e ao humano na</p><p>terceira.</p><p>Ainda que não seja necessário dar a esses reinos as denominações de</p><p>mineral e vegetal, convém notar que na realidade estão constituídos por</p><p>simples formas mentais, isto é, por formas de pensamentos de minerais e de</p><p>vegetais, com as Mônadas que, por assim dizer, sonham nelas e sobre elas</p><p>flutuam, e lhes enviam leves pulsações de vida. Parece como se estas</p><p>Mônadas se vissem precisadas de quando em quando de dirigir sua atenção</p><p>àquelas formas aéreas, e sentir e experimentar por meio delas as impressões</p><p>transmitidas pelos contatos exteriores. Essas formas mentais estão à</p><p>maneira de modelos na mente do Governador das sete Cadeias, o qual,</p><p>como produto de Sua meditação, vive num mundo de ideias e pensamentos.</p><p>Vemos que as Mônadas, que em precedentes Esquemas de evolução</p><p>adquiriram átomos permanentes, aderem às formas mentais sobre as quais</p><p>flutuam, e nelas e por</p><p>meio delas chegam a ser vagamente conscientes. Mas</p><p>não obstante o estado vago dessa consciência, se lhe observam graus</p><p>distintos, dos quais o inferior plano se pode chamar consciência, pois a vida</p><p>anima formas mentais de tipo semelhante ao que agora chamamos terra,</p><p>rochas e pedras.</p><p>Das Mônadas em contato com essas formas, dificilmente se pode</p><p>afirmar que por sua meditação percebam alguma sensação, exceto a do</p><p>contato pressionante que, em resistência à pressão, extrai delas uma</p><p>apagada comoção de vida, diferente da ainda mais apagada vida das</p><p>moléculas químicas não aderidas às Mônadas e insensíveis à pressão. No</p><p>grau imediato correspondente às formas de pensamento idênticas às que</p><p>agora chamamos mentais, o sentido do contato pressionante é mais agudo, e</p><p>algo mais definida a resistência à pressão, pois é quase a reação expansiva</p><p>do esforço para repeli-la. Quando esta reação subconsciente atua em várias</p><p>direções, fica formado o pensamento-modelo de um cristal. Observamos</p><p>que quando nossa consciência estava no mineral, sentimos somente a reação</p><p>subconsciente; porém mais adiante, ao tentarmos perceber a reação do</p><p>exterior, apresentava-se em nossa consciência como vago desgosto da</p><p>pressão e um frouxamente penoso esforço para resistir-lhe e repeli-la. Um</p><p>de nós manifestou que em suas observações “sentia uma espécie de</p><p>minerais desgostosos”. Provavelmente, a vida monádica, ansiosa por</p><p>expressão, sentiu vago desgosto ao não encontrá-la, e isto sentimos nós</p><p>quando saímos do mineral, tal qual o sentimos na parte de nossa</p><p>consciência, que então estava fora da rígida forma.</p><p>Se brevemente observarmos mais adiante, veremos que as Mônadas</p><p>aderidas aos cristais não entram na Cadeia seguinte pelas inferiores senão</p><p>pelas superiores formas de vida vegetal, por meio das quais passam para a</p><p>Cadeia Lunar, em cujo ponto médio entram como mamíferos e ali se</p><p>individualizam para tomar nascimento humano em sua quinta Ronda.</p><p>Um dos fatos mais desconcertantes para os observadores é que esses</p><p>“pensamentos de minerais” não permaneçam imóveis, mas tenham</p><p>movimento. Assim, por exemplo, uma colina que parece estar fixa, dá</p><p>voltas ou flutua daqui para ali, ou muda de forma de maneira que não há</p><p>terra firme, senão indistinto panorama. Não é necessário que a fé mova</p><p>essas montanhas, porque elas próprias se movem.</p><p>Ao término dessa primeira Cadeia, todos os que alcançaram o nível</p><p>superior nela estabelecido, isto é, aquele que, como já dissemos,</p><p>corresponde à nossa primeira Iniciação, entram em qualquer das sete</p><p>Sendas, uma das quais conduz a colaborar na obra da segunda Cadeia,</p><p>como construtores das formas de sua humanidade, desempenhando nessa</p><p>segunda Cadeia funções idênticas às que, mais tarde, desempenharam em</p><p>nossa Cadeia Terrestre os “Senhores da Lua”.23 Blavatsky chama Asuras,24</p><p>que significa “seres viventes”, às entidades que, cumprida a sua evolução na</p><p>primeira Cadeia, passaram a colaborar na segunda. As entidades que não</p><p>conseguiram alcançar o nível próprio da primeira Cadeia entraram pelo</p><p>ponto médio na segunda Cadeia, para prosseguir nela a sua própria</p><p>evolução, e guiaram a humanidade dessa mesma Cadeia, a cujo término</p><p>alcançaram a Liberação e adquiriram a categoria de “Senhores” da Cadeia,</p><p>e alguns deles, por sua vez, colaboram na terceira Cadeia, cujas formas</p><p>humanas construíram.25 A primitiva humanidade da segunda Cadeia foi</p><p>selecionada do reino animal da primeira; e os reinos animal e vegetal da</p><p>segunda Cadeia derivaram respectivamente dos reinos vegetal e mineral da</p><p>primeira. Os três reinos elementais do arco descendente da primeira Cadeia</p><p>passaram semelhantemente à segunda para formar o reino mineral e dois</p><p>reinos elementais, ao passo que um novo impulso de vida do LOGOS forma</p><p>o primeiro reino elementaI. Na segunda Cadeia, a descida posterior na</p><p>matéria produz um globo no plano emocional, isto é, nos dá um globo</p><p>astral, no qual a então mais compacta matéria plasma formas algo mais</p><p>coerentes e perceptíveis. Nesta segunda Cadeia, os globos A e C estão no</p><p>plano intuicional; B e F no plano mental superior; C e E no mental inferior,</p><p>e D no emocional. Neste globo D as formas já são mais parecidas com as</p><p>que estamos acostumados a ver, embora ainda muito estranhas e indistintas.</p><p>Assim, por exemplo, as formas de aparência vegetal se movem de um lado</p><p>para outro, tão livremente como se fossem animais, ainda que, por certo,</p><p>com escassa ou nenhuma sensibilidade. Não chegaram ainda à matéria</p><p>física, daí sua grande mobilidade. As jovens entidades humanas viveram</p><p>aqui em íntimo contato com os seres radiantes que ainda dominavam o</p><p>campo da evolução, e também influíram naquela humanidade os anjos</p><p>corpóreos (rupa-devas) e os anjos emotivos (kama-devas).</p><p>Manifestou-se a paixão em muitas entidades que então tiveram corpo</p><p>emocional no globo D, e os germes da paixão foram visíveis nos animais.</p><p>Passou-se a notar diferenças na capacidade para responder às vibrações</p><p>enviadas, já consciente, já inconscientemente, pelos devas, ainda que fosse</p><p>muito gradual a mutabilidade e lento o progresso. Mais tarde, ao</p><p>desenvolver-se a consciência intuicional, estabeleceu-se comunicação entre</p><p>este Esquema e o de que agora Vênus é globo físico.</p><p>Este Esquema está numa Cadeia dianteira da nossa, e dali vieram alguns</p><p>para a nossa segunda Cadeia; mas não podemos dizer se os que vieram</p><p>pertenciam à humanidade de Vênus ou se eram membros do Estado-Maior.</p><p>Rasgo característico do globo D na primeira Ronda desta segunda</p><p>Cadeia, foram umas grandes e ondulantes nuvens de matéria</p><p>esplendidamente matizada, que na Ronda seguinte se coloriram com maior</p><p>brilho e responderam com mais facilidade às vibrações que as plasmaram</p><p>em formas, não sabemos bem seguramente se vegetais ou animais. Grande</p><p>parte do trabalho prosseguiu nos planos superiores, vitalizando matéria para</p><p>fins posteriores, mas com escassos efeitos nas formas inferiores. Assim</p><p>como agora serve a essência elemental para construir corpos emocionais e</p><p>mentais, semelhantemente, então os rupa-devas e kama-devas procuravam</p><p>diferenciar-se mais distintamente, utilizando aquelas nuvens de matéria para</p><p>viver nelas. Desciam subplano após subplano para matéria mais densa,</p><p>ainda que sem empregar nesta o reino humano. Ainda atualmente, um deva</p><p>pode animar todo um distrito de determinado país, o que era ação muito</p><p>frequente naquela época. Os indistintos e misturados corpos desses devas</p><p>estavam constituídos por matéria emocional e mental inferior e às vezes,</p><p>nos corpos desses devas, se arraigavam, cresciam e se desenvolviam átomos</p><p>permanentes de vegetais, minerais e mesmo animais. Mas os devas não</p><p>pareciam mostrar particular interesse pelos átomos permanentes, da mesma</p><p>sorte que nós não nos preocupamos com a evolução dos micróbios viventes</p><p>em nosso corpo. Contudo, de quando em quando se interessavam um tanto</p><p>por um animal, cuja capacidade de resposta crescia rapidamente em tais</p><p>condições.</p><p>Ao estudar a consciência vegetal na segunda Cadeia (onde os homens</p><p>de hoje viviam no reino vegetal), achamos atuando nela uma confusa</p><p>manifestação de forças e certa tendência para o desenvolvimento. Alguns</p><p>vegetais sentiam a necessidade e desejo de crescer, e a propósito disto</p><p>exclamou um dos investigadores: “Estou me esforçando para florescer”.</p><p>Noutros vegetais havia uma leve resistência à modalidade fixa de</p><p>crescimento, e uma vaga tendência de seguir outra direção espontaneamente</p><p>escolhida. Alguns outros pareciam como que tratar de utilizar as forças</p><p>postas em contato com eles, e sua consciência embrionária lhes</p><p>representava como existente para eles tudo quanto os circundava. Alguns se</p><p>esforçavam por tomar a direção que os atraía, e ao verem frustrado o seu</p><p>intento, experimentavam um vago desgosto. Assim vemos embaraçado em</p><p>seu próprio impulso um vegetal que formava parte do corpo de um deva,</p><p>pois como é lógico, dispunha este as coisas segundo sua conveniência e não</p><p>segundo a dos constituintes de seu corpo. Por outro lado, do obscuro ponto</p><p>de vista do vegetal, o proceder do deva lhe era tão incompreensível e</p><p>incômodo como para</p><p>nós o são as tempestades em nossos dias.</p><p>Para o fim da Cadeia, os vegetais mais desenvolvidos manifestaram um</p><p>pouco de mentalidade de índole infantil, e reconheceram ao redor de si a</p><p>existência de animais, gostando da vizinhança de uns e repugnandolhe a de</p><p>outros. Sobrevieram anseios de maior coesão, como resultado, sem dúvida,</p><p>do impulso descendente para a matéria mais densa, pois a Vontade operava</p><p>na natureza no sentido de descer a níveis mais densos. Como ainda não</p><p>haviam ancorado na matéria física, as formas emocionais eram muito</p><p>instáveis e propendiam a flutuar vagamente aqui para ali, sem propósito</p><p>definido.</p><p>Na sétima Ronda desta Cadeia ficou excluído de sua humanidade um</p><p>número considerável de fracassados que se atrasaram muito mais que o</p><p>necessário para encontrar formas adequadas, e posteriormente continuaram</p><p>como homens na terceira Cadeia, a Lunar. Outras entidades alcançaram o</p><p>nível agora assinalado para a terceira Iniciação, ou seja, o nível próprio do</p><p>êxito na segunda Cadeia, e entraram em uma ou outra das sete Sendas, entre</p><p>as quais está, segundo já se disse, a que conduz à obra de cooperação na</p><p>Cadeia seguinte. Os que não fracassaram, mas que tampouco obtiveram</p><p>êxito, entraram na terceira Cadeia ao chegar esta à Ronda compatível com o</p><p>grau de evolução que aquelas haviam previamente conseguido.</p><p>As primeiras categorias do reino animal se individualizaram na segunda</p><p>Cadeia, e começaram a sua evolução humana na Cadeia Lunar, passando</p><p>muito rapidamente pelos seus reinos inferiores e tornando-se humanas.</p><p>Depois guiaram a evolução naquela Cadeia, até que as entidades antes</p><p>mencionadas (os fracassados primeiro e depois os que não alcançaram</p><p>pleno êxito), excluídos na segunda Cadeia, se tornaram sucessivamente os</p><p>guias.</p><p>As primeiras categorias do reino vegetal da segunda Cadeia ingressam</p><p>como mamíferos no reino animal da Cadeia Lunar, quando esta chega à</p><p>quarta Ronda, mas sem passarem pelos tipos inferiores de animais (ciliados,</p><p>peixes e répteis), pois as categorias restantes do reino vegetal da segunda</p><p>Cadeia constituem esses tipos inferiores do reino animal da terceira Cadeia,</p><p>em que ingressam pela primeira Ronda. A consciência do reino mineral da</p><p>segunda Cadeia se transmitiu ao reino vegetal da Cadeia Lunar, cujo reino</p><p>mineral foi ocupado pelo superior reino elemental da segunda Cadeia.</p><p>Como na série anterior, o primeiro reino elemental da terceira Cadeia foi</p><p>constituído por uma nova onda de vida do LOGOS.</p><p>Convém expor agora um princípio importante. Cada subplano dos sete</p><p>que formam um plano, se subdivide por sua vez em sete subdivisões; e,</p><p>portanto, o corpo que contiver matéria de todas as subdivisões de um</p><p>subplano, manifestará unicamente sua atividade nas subdivisões</p><p>correspondentes ao número de Cadeias ou Rondas, pelas quais já passou ou</p><p>está passando. Assim, por exemplo, um homem que atue na segunda Ronda</p><p>da segunda Cadeia, só será capaz de empregar em seus corpos emocional e</p><p>mental a matéria correspondente às primeira e segunda subdivisões de cada</p><p>subplano dos planos astral e mental. Na terceira Ronda terá capacidade para</p><p>o emprego da matéria correspondente às subdivisões primeira, segunda e</p><p>terceira de cada subplano dos citados planos astral e mental. Mas no que se</p><p>refere à matéria da terceira subdivisão, não a poderá utilizar tão</p><p>satisfatoriamente como quando mais tarde atuar na terceira Ronda da</p><p>terceira Cadeia.</p><p>Assim também, por exemplo, na segunda Ronda de nossa Cadeia</p><p>terrestre, o homem atuou plenamente nas primeira e segunda subdivisões de</p><p>cada subplano, mas muito debilmente na terceira e quarta enquanto esteve</p><p>na quarta Cadeia. De modo que, se bem que houvesse em seu corpo matéria</p><p>de todos os subplanos, só estavam plenamente ativas nas duas subdivisões</p><p>inferiores dos dois subplanos inferiores, e apenas através destes podia a sua</p><p>consciência atuar plenamente.</p><p>Até a sétima Raça de nossa sétima Ronda, o homem não possuirá o</p><p>esplendente corpo, cujas partículas responderão cada qual com presteza e,</p><p>ainda assim, não tão perfeitamente como nas Cadeias posteriores.</p><p>CAPÍTULO 3</p><p>TEMPOS PRIMITIVOS DA CADEIA LUNAR</p><p>Na Cadeia Lunar, terceira em sucessão, ocorre uma inversão mais profunda</p><p>na matéria. Os globos A e G estão no mental superior; B e F no mental</p><p>inferior; C e E no emocional, e D no físico. Esse globo intermediário,</p><p>cenário da máxima atividade na Cadeia, subsiste ainda, pois é a Lua,</p><p>embora tenha perdido muita matéria e só reste dele o núcleo interior,</p><p>digamos assim, após a desintegração da crosta, resultando um globo muito</p><p>diminuído de tamanho, um verdadeiro cadáver que aguarda sua</p><p>desintegração total.</p><p>Prosseguindo a observação das evolucionantes consciências que vimos</p><p>como minerais na primeira Cadeia e como vegetais na segunda, notamos</p><p>que a crista da avançante onda que nos conduz em seu bojo entra na terceira</p><p>Cadeia, em seu ponto médio como mamíferos, aparecendo no globo D, a</p><p>Lua, na quarta Ronda. Estes mamíferos são curiosas criaturas, pequenas,</p><p>mas extremamente ativas. Os mais adiantados têm forma simiesca e dão</p><p>enormes saltos. As criaturas da quarta Ronda apresentam, no geral, a pele</p><p>primeiro escamosa e depois parecida com a da rã. Os tipos superiores</p><p>pontas agudas, que formam uma pele áspera e grosseira. O ar, inteiramente</p><p>distinto do de nossa atual atmosfera, é pesado e sufocante como vapor</p><p>d’água, mas evidentemente adequado aos habitantes da Lua. As</p><p>consciências que vimos observando se infundem nos corpos de pequenos</p><p>mamíferos, de tronco grosso, extremidades curtas e configuração</p><p>semelhante a uma mistura de doninha, lemuriano e cão silvestre, com uma</p><p>cauda curta, desleixada, espessa e deselegante. Têm os olhos encarnados,</p><p>cuja visão atravessa a escuridão de suas tocas, e ao saírem delas, erguemse</p><p>sobre as patas traseiras, que com a forte e curta cauda, formam um trípode,</p><p>e fungam movendo a cabeça de um lado para outro. São animais fracamente</p><p>inteligentes, e suas relações com os homens, pelo menos nesta região,</p><p>parecem mais amistosas que as dos homens de nossa Terra com os animais</p><p>selvagens, pois ainda que aqueles não estejam domesticados, não fogem à</p><p>presença do homem lunar. Mas em outras regiões, onde os homens são</p><p>meros selvagens e devoram os inimigos que caem em suas mãos, e os</p><p>animais quando não dispõem de carne humana, as criaturas selvagens são</p><p>tímidas e evitam a vizinhança do homem.</p><p>Após esta primeira etapa da vida animal, aparecem umas criaturas que</p><p>costumavam viver nas árvores; têm as pernas duplamente articuladas, os</p><p>pés almofadados e curiosamente munidos de uma espécie de polegar em</p><p>ângulo reto com a pata, à maneira de espora de galo, armado de uma garra</p><p>curva que lhe serve para suster-se ao trepar rapidamente ao longo dos</p><p>ramos, sem necessidade de se valer do resto do pé. Mas quando andam pelo</p><p>solo, apoiam-se nas almofadinhas e a espora fica sobre o nível do terreno,</p><p>sem embaraçar-lhes os passos.</p><p>Outros animais muito mais desenvolvidos e inteligentes que esses têm</p><p>forma simiesca e vivem habitualmente nos acampamentos dos homens aos</p><p>quais estão muito ligados e lhes servem de diversas maneiras. Estes se</p><p>individualizaram no globo D, em sua quarta Ronda, e nos globos E, F e G</p><p>desenvolveram os corpos humanos emocional e mental; mas o causal,</p><p>embora já plenamente formado, mostrou desenvolvimento muito escasso.</p><p>Deixaram a Cadeia Lunar no meio da sétima Ronda, segundo veremos, e,</p><p>portanto, desenvolveram-se como homens durante três Rondas da Cadeia</p><p>Lunar. Entre eles, individualizados numa pequena comunidade residente no</p><p>campo, observamos os atuais Mestres Marte e Mercúrio, que presentemente</p><p>se encontram à frente da Sociedade Teosófica26 e serão o Manu e o</p><p>Bodhisattva27 da sexta Raça Raiz de nossa Terra, na presente quarta Ronda</p><p>da Cadeia Terrestre.</p><p>Depois da morte de seus últimos corpos no globo D, a consciência dos</p><p>animais que estamos considerando ficou adormecida durante o resto da</p><p>quarta Ronda e nos três primeiros globos na quinta. Como perderam o</p><p>corpo emocional e o incipiente mental pouco depois da morte do corpo</p><p>físico, e não tinham o causal,</p><p>permaneceram adormecidos numa espécie de</p><p>céu, com agradáveis sonhos e sem contato com os mundos manifestados,</p><p>pois sobre o abismo entre estes e eles não havia nenhuma ponte. Na quinta</p><p>Ronda encarnaram-se de novo em corpos físicos de aparência simiesca e</p><p>tamanho grande, de modo que davam saltos de doze metros e se</p><p>compraziam em lançar-se ao ar até tremendas alturas. Na época da quarta</p><p>Raça humana deste globo D, foram animais domésticos e serviram para</p><p>guardar as propriedades de seus amos e entreter brincalhonamente as</p><p>crianças das casas com maior fidelidade que hoje os cães guardiães, pois</p><p>levavam os pequenos nos braços ou nas costas e sentiam muito carinho por</p><p>seus irmãos donos. As crianças lhes acariciavam deleitosamente a espessa e</p><p>branda pele, e gozavam com os enormes saltos de seus fiéis guardiães. Uma</p><p>cena servirá de exemplo típico da individualização desses animais.</p><p>Numa choça habitava um homem lunar com sua esposa e filhos, aos</p><p>quais posteriormente conhecemos pelos nomes de Marte, Mercúrio,</p><p>Mahaguru e Súrya.28 Alguns desses animais vivem ao redor da choça e</p><p>servem a seus amos com o devotamento de fiéis cães. Entre eles estão os</p><p>futuros Sírio, Héracles, Alcione e Mizar, aos quais já podemos dar estes</p><p>nomes com o fim de designá-los, embora não sejam ainda homens. Seus</p><p>corpos astral e mental se desenvolveram ao influxo da inteligência humana</p><p>de seus donos, como sob o da nossa se desenvolvem agora os dos animais</p><p>domésticos. Sírio demonstra predileção especial por Mercúrio; Héracles por</p><p>Marte, e Alcione e Mizar são apaixonados servidores do Mahaguru e Súrya.</p><p>Uma noite houve alarme. Os selvagens cercaram a choça, trazendo consigo</p><p>robustos e ferozes animais domesticados, semelhantes a peludos lagartos e</p><p>crocodilos. Os fiéis guardiães se lançam em torno da choça de seus amos e</p><p>lutam desesperadamente para defendê-la. Sai Marte e repele os assaltantes</p><p>com armas de que estes careciam; mas, enquanto isso, um dos lagartos</p><p>desliza por detrás dele para dentro da choça, e arrebatando a menina Súrya</p><p>a leva consigo. Sírio se lança contra o raptor, derruba-o e entrega a menina</p><p>a Alcione, que a restitui à choça enquanto Sírio continua agarrado ao</p><p>lagarto e após desesperada luta o mata, mas caindo ferido e sem sentidos</p><p>sobre o cadáver. Enquanto isto ocorre, um selvagem se aproxima por detrás</p><p>de Marte e vai feri-lo nas costas; mas Héracles se interpõe num salto entre</p><p>seu dono e a arma cujo golpe recebe em meio do peito, e cai moribundo. Os</p><p>selvagens fogem então em todas as direções, e como Marte percebe que</p><p>alguém caíra atrás de si, recupera-se vacilantemente para voltar-se,</p><p>reconhece seu fiel defensor, sobre cujo corpo se inclina, e lhe recolhe a</p><p>cabeça em seu colo. O pobre mono levanta os olhos cheios de intenso afeto</p><p>para seu amo, e cumprido o ato de serviço com apaixonado anelo de o</p><p>salvar, atrai com ardorosa força uma corrente de resposta do aspecto</p><p>Vontade da Mônada. No exato momento de morrer, o mono se individualiza</p><p>e expira feito homem.</p><p>O mono Sírio ficou gravemente estropiado pelo lagarto inimigo; mas</p><p>como ainda respirava, o transportaram para a choça, onde ainda viveu longo</p><p>tempo, se bem que muito aleijado e com extrema dificuldade de</p><p>movimentos. É comovedor vê-lo tão fielmente apegado à sua ama e segui-la</p><p>com a vista aonde quer que ela fosse. De sua parte, a menina Súrya cuidava</p><p>carinhosamente dele, e seus outros companheiros, Alcione e Mizar, se</p><p>colocavam ao redor. Pouco a pouco se desenvolveu vigorosamente a</p><p>inteligência de Sírio, alimentada pelo amor, até que a mente inferior</p><p>conseguiu atrair resposta da superior, e seu corpo causal relampejou em seu</p><p>ser pouco antes de sua morte. Alcione e Mizar sobreviveram por algum</p><p>tempo, sendo sua principal característica a inteira adesão ao Mahaguru e a</p><p>Súrya, até que o corpo emocional, movido por esse puro ardor, atraiu uma</p><p>resposta do Plano Intuicional, e também alcançaram a individualização ao</p><p>morrerem.</p><p>Estes casos são adequados exemplos dos três grandes tipos de</p><p>individualização,29 em cada um dos quais o fluxo descendente da vida</p><p>superior passa através de um dos aspectos do trino Espírito: da Vontade, da</p><p>Sabedoria ou da ativa Inteligência. A Ação alcança e atrai a Vontade; o</p><p>Amor alcança e atrai a Sabedoria; a Mente alcança e atrai a Inteligência.</p><p>Estes são os três “meios normais” de individualização. Há outros, que logo</p><p>examinaremos, reflexos daquele na matéria densa; mas são “meios</p><p>anormais” e ocasionam muita tristeza.</p><p>De agora em diante essas consciências, que de modo especial vimos</p><p>observando, são já definitivamente humanas, e possuem os mesmos corpos</p><p>causais que ainda usam. Estão no globo E como seres humanos, embora não</p><p>tomem parte concreta em sua vida comum, mas flutuam em sua atmosfera</p><p>como os peixes na água, porque não estão suficientemente avançados para</p><p>intervir nas atividades normais desse globo. O novo corpo emocional no</p><p>globo E está constituído por uma espécie de saliência formada ao redor do</p><p>átomo emocional permanente. As entidades recém-individualizadas não</p><p>nascem como filhos dos habitantes do globo E (os quais, diga-se de</p><p>passagem, carecem de aparência notável), e seu verdadeiro progresso como</p><p>seres humanos não começa até que de novo voltem ao globo D na sexta</p><p>Ronda. Contudo, alguma coisa se consolida e melhora no corpo emocional,</p><p>que flutua na atmosfera do globo E, no corpo mental, que equivalentemente</p><p>flutua no globo F, e no causal, que está na mesma situação no globo G. Este</p><p>melhoramento se manifesta na descida através das atmosferas dos globos A,</p><p>B e C na sexta Ronda, onde a matéria constitutiva de cada corpo é a melhor</p><p>e a mais coerente de sua classe. Mas, segundo temos dito, o progresso</p><p>efetivo eles realizam no globo D, onde dispõem uma vez mais de matéria.</p><p>Entre os animais avançados desta quinta Ronda, que vivem em contato</p><p>com os primitivos seres humanos, há alguns interessantes, porque mais</p><p>tarde são agrupados num tipo baseado numa similaridade do método de</p><p>individualização. Individualizam-se por um dos “meios anormais” a que</p><p>antes aludimos. Estes animais tratam de imitar os seres humanos com os</p><p>quais convivem, a fim de adquirir fama de superioridade entre os demais</p><p>animais da sua espécie, em cuja presença se requebram transbordantes de</p><p>vaidade e ostentação. Têm também configuração simiesca muito parecida</p><p>com a dos anteriormente observados, mas com maior astúcia e imaginação,</p><p>ou pela faculdade imitativa, e se divertem fingindo-se de homens, como as</p><p>criancinhas brincam de pessoas maiores. Esta intensa vaidade os</p><p>individualiza, pois estimula em grau anormal a faculdade imitativa e</p><p>determina um veemente sentimento de separação, fortalecendo o insensato</p><p>eu do animal, até que o esforço para distinguir-se dos demais atrai uma</p><p>resposta dos níveis superiores e forma-se o Ego. Mas esse esforço para se</p><p>avantajarem a seus companheiros, sem admiração nem amor por ninguém</p><p>superior a eles, os exalta de modo tal que só podem olhar para baixo, sem</p><p>transmutar as paixões animais em emoções humanas, nem assentar os</p><p>fundamentos para o desenvolvimento posterior e harmônico das naturezas</p><p>emocional e intelectual. Os animais assim humanizados são independentes,</p><p>egoístas, presunçosos, e cada qual pensa unicamente em si mesmo, sem</p><p>deter sua mente na cooperativa missão para um propósito comum. Ao</p><p>morrerem, depois de individualizados, ficam adormecidos durante o</p><p>intervalo entre a morte e o renascimento no globo D, na sexta Ronda,</p><p>equivalentemente aos já descritos animais individualizados, mas com a</p><p>diferença, importantíssima no relativo ao desenvolvimento, de que nos</p><p>casos anteriormente expostos, os novos seres humanos tinham a mente</p><p>focalizada com amor em seus dourados possuidores do globo D, e por isso</p><p>fortaleceram para melhor as suas emoções, enquanto os individualizados</p><p>por vaidade converteram suas mentes apenas para si mesmos e suas</p><p>próprias excelências, pelo que não houve neles desenvolvimento emocional</p><p>do amor.</p><p>Outro grupo de animais se individualiza por admiração pelos seres</p><p>humanos com os quais se põe em contato, e também trata de imitá-los,</p>
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